
O retorno de Tsubasa Fukuchi, o penúltimo capítulo de Komi-san e o encerramento do absoluto gigante Maiko-san Chi no Makanai-san.
TOC Weekly Shonen Sunday #08 (22/01/2024)
Capa e Página Colorida de Estreia: Parashoppers
02 – Detective Conan c1137
03 – Tonikaku Kawaii c301
Sora e… c02 (Página Colorida)
05 – Mikadono Sanshimai wa Angai, Choroi c145
06 – Te no Geka c72
Komi-san wa, Komyushou desu c496, 497 e 498 (Página Colorida – Penúltimo Capítulo)
08 – MAO c260
09 – Ryuu to Ichigo c224
10 – Maou-jou de Oyasumi c389
Maiko-san Chi no Makanai-san c327 (Página Colorida de Encerramento)
12 – Momose Akira no Hatsukoi Hatanchuu c23
13 – Shite no Hana – Nougakushi Haga Kotarou no Sakikata c11
14 – Utsuranin desu c39
15 – Tatari c79
16 – Red Blue c138
17 – Kaiten no Albus c34
18 – Aozakura: Bouei Daigakukou Monogatari c367
19 – Strand c19
20 – Mizuporo c52
21 – Rock a Rock c39
22 – Himeru Kokoro no zen himitsu c33
23 – Ichika Bachika c19
24 – Tokachi Hitoribocchi Nōen c339
Ausentes: Sousou no Frieren, Major 2nd, Ogami Tsumiki to Kinichijou, Shibuya Near Family, Magic Kaito (hiato), Ad Astra Per Aspera (hiato).
Saudações, caros leitores! Estamos de volta para mais uma semana de estreias, despedidas e reencontros. Sentimentos mistos, notícias animadoras e perspectivas apocalípticas… apenas mais um dia normal na nossa auspiciosa e acolhedora Weekly Shonen Sunday. Esta provavelmente será a maior edição que já publiquei no site, graças a uma história que me é muito querida. Espero que aguentem ler até o final. Vamos para a TOC!
Página Colorida de Estreia de Parashoppers
Na capa e na posição de destaque da revista, temos o segundo estreante da primeira leva do ano: Parashoppers. O mangá é escrito e desenhado por um nome já conhecido da casa, Tsubasa Fukuchi. O maior sucesso de Fukuchi aconteceu justamente no início de sua carreira, foi o mangá Ueki no Housoku que o colocou no mapa da Sunday.
Mas isso foi na virada do século, no ano 2000. Desde então, Fukuchi enfrentou muitas dificuldades para conquistar sucessos equivalentes. Ele publicou boas histórias, como Saike Mata Shite mo e Ponkotsu-chan Kenshouchuu, mas também acumulou alguns flops lamentáveis, como Takkoku!!! e GOLDEN SPIRAL. Nenhuma dessas obras conseguiu sequer arranhar o sucesso de seu primeiro projeto. Será que esse persistente autor finalmente conseguirá retomar a antiga glória?
O mangá conta a história do colegial Amaragi Mitsuda, um jovem comum e extremamente otimista. Mitsuda é um rapaz enxerido e extrovertido, sempre se envolvendo em conversas e opinando sobre tudo. Seu maior charme é sua sinceridade e sua habilidade de enxergar o lado bom da vida. Ele elogia o baixinho da turma, a garota de cabelo desgrenhado, puxa o saco do professor de barba rala e levanta a bola do colega com sobrancelhas grossas demais. Tudo é motivo para ele encontrar uma forma de aumentar a autoestima da rapaziada. Chega ser suspeito um cara tão gente boa assim, mas pelo primeiro capítulo, a construção foi genuína e conseguimos reconhecer em Mitsuda um verdadeiro camarada.
Saindo da escola, nosso protagonista percebe um aplicativo estranho instalado no seu celular, bem no estilo Persona 5. Um aplicativo chamado Parashoppers, um jogo que lhe oferece uma série de poderes em trocas de créditos. Desconfiado da situação, ele tenta excluir o aplicativo, mas, ao esbarrar em dois desconhecidos que passavam na rua, acaba acidentalmente comprando uma habilidade, sendo forçado a entrar nesse misterioso jogo.
Para tornar a situação ainda mais caótica, surge um verdadeiro lunático querendo atacá-lo, sem motivo aparente. Trata-se de um inimigo mortal e misterioso que possui duas habilidades: o poder de disparar elásticos de silicone e o de causar cãibras.
Páginas de Parashoppers
Desesperado e sem entender muito da situação, nosso protagonista foge do local e corre em direção à delegacia mais próxima. No entanto, ele rapidamente percebe que fugir não será uma solução viável por muito tempo. Sem escolha, decide lutar. Para isso, ele compra a primeira habilidade disponível em seu celular: o poder de controlar livremente um único pedaço de palha.
Não vou descrever os detalhes da batalha, creio ter contado o suficiente para deixar você curioso. Basicamente, Parashoppers é um grande battle royale de poderes aparentemente inúteis, potencializados pela criatividade humana. E, para um protagonista que enxerga o lado bom de tudo, esse tipo de recurso pode se tornar uma poderosa arma.
Quem conhece Ueki no Housoku deve ter sentido uma imensa familiaridade, já que Parashoppers é, essencialmente, uma obra com o mesmo espírito. Em Ueki, o protagonista tinha o poder de transformar lixo em árvores, enquanto outros personagens exibiam habilidades igualmente peculiares, como transformar toalhas em ferro (desde que estivessem segurando a respiração).
Página de Parashoppers
Talvez a melhor definição seja chamá-lo de um JoJo menos estilizado. A série estreou com força, registrando um número impressionante de comentários e curtidas. Em apenas três dias, já dobrou os números de Sora e. É sem sombra de dúvidas uma estreia excelente. Estou ansioso pela progressão da história, que se apresenta como um poço de criatividade infinita, liderada por um autor competente e destemido, que não tem medo de se arriscar. Será que Fukuchi vai finalmente deslanchar pela segunda vez?
Na segunda posição, retornando com mais um caso, temos ele, Detective Conan. A série comemora seus 31 anos de existência no dia 7 de fevereiro, na edição #10, onde receberá mais uma vez a capa da revista. O caso da semana terminou com um cliffhanger interessante; adoro esses mistérios envolvendo combustão instantânea. Estou curioso pelo próximo capítulo.
Na terceira posição, temos Tonikaku Kawaii. O mangá atingiu a marca de 300 capítulos na edição #06, e, como não tive tempo de escrever sobre a edição, acabei negligenciando meu querido Kenjirou Hata. Como pedido de desculpas, deixo com vocês a belíssima capa da edição #06, celebrando a existência desta divertida série.
Capa da edição #06 da Weekly Shonen Sunday
Com a segunda página colorida da edição, temos o novato Sora e… Enquanto nosso protagonista segue explorando o mundo da superfície em busca de um emprego, aproveitei para dar uma olhada na recepção do mangá. As notícias não são ruins, mas estão longe de ser boas. A série segue bem elogiada pelos fãs de longa data do escritor, mas o nível de engajamento continua bem baixo. Números fracos e poucas menções para um estreante que recebeu capa na edição passada. Não é um começo muito empolgante.
Na posição seguinte temos Mikadono Sanshimai wa Angai, Choroi. É a primeira vez depois de muito tempo que vejo a série gastando tantos capítulos desenvolvendo outros personagens que não o quarteto principal. Continua divertido porque tudo nessa história é divertido, então sem reclamações por aqui. Enquanto o anime não sai, a enrolação vai tomar conta.
E na sexta posição temos… Te no Geka? A série aparece de penetra no início da TOC sem grandes motivos aparentes. A posição sinaliza o óbvio, que o mangá não corre o risco de encerramento por agora. É o mesmo papo de sempre, uma história com zero potencial comercial, mas com uma moral grande com a revista, então, segue ali na vida boa.
Página Colorida de Sora e…
Na sétima posição temos o(s) penúltimo(s) capítulo(s) de Komi-san wa, Komyushou desu. Eu comentei na edição passada o quão criminoso seria encerrar Komi-san com 497 capítulos, e parece que fui escutado pelo Tomohito Oda, já que o pilantra resolveu simplesmente dividir o capítulo em 3 partes, para o bem da humanidade.
Mas isso não livra toda minha preocupação, já que precisamos de mais uma divisão de capítulos na semana que vem, porque se for pra terminar a série em 499 capítulos, aí teríamos um insulto muito mais grave. Espero de verdade que esse crime hediondo não seja executado.
Gracinhas à parte, na semana que vem a lendária série vai se despedir da revista após quase 9 anos de serialização. É inegável a influência que Komi-san teve, não só para a revista, mas também para toda uma geração de histórias que buscaram emular suas qualidades. Não vou antecipar minhas despedidas, então, na próxima semana, comentaremos, pela última vez, um pouco mais sobre essa inesquecível obra.
Página Colorida de Komi-san wa, Komyushou desu – a mesma capa do último volume lançado. Nosso mano Oda está exausto.
Na oitava colocação temos o bom e velho MAO, que segue acompanhado de Ryuu to Ichigo, ambos sem muitas novidades para a semana, estáveis como sempre. E a mesma informação se repete para Maou-jou de Oyasumi, que continua tranquilo ali na meiuca da revista.
Se despedindo da Sunday, temos o meu amado Maiko-san Chi no Makanai-san. Não vou comentar sobre a série agora, pois, devido ao meu imenso favoritismo, resolvi escrever uma review sobre sua história. Esta é uma série pessoalmente muito importante para mim, de longe a que mais me divertiu ao longo dos últimos meses, então, não poderia fazer de outra forma. É a minha humilde colaboração pelo seu legado. Espero vocês na parte final do texto.
Na décima segunda colocação temos Momose Akira no Hatsukoi Hatanchuu, que segue rasgando corações. A constância do mangá segue assustadora, números cada vez maiores para a principal estreia de 2024. Pelo andar da carruagem, tudo aponta para que no seu segundo volume o mangá venda o mesmo tanto ou até mais que Ogami Tsumiki, uma perspectiva que certamente deve animar muito tanto o público quanto a equipe editorial da Sunday.
Na sequência, temos o modesto Shite no Hana – Nougakushi Haga Kotarou no Sakikata. A série acabou se estagnando muito rápido, com um número baixo de leitores e comentaristas. Não é o fim do mundo, já que, apesar de um engajamento abaixo do desejável, ainda supera as principais desgraças da revista. Prefiro não citar nomes, mas vocês sabem de quem estou falando…
Tudo indica para que a série seja mais um Ryuu to Ichigo da vida. Vai durar por muito tempo, vai ter seu pequeno público acompanhando, mas seguirá misteriosa para o olhar ocidental, já que nunca verá a luz do dia por aqui.
Na décima quarta posição temos o meu novo xodó, Utsuranin desu. Seu terceiro volume já está no forno, com data de lançamento para o dia 18 de fevereiro. Mais uma vez, chega acompanhado das indicações de Junji Ito, Yusuke Murata e Yama Wayama.
Capa do volume #3 de Utsuranin desu
Na décima quinta colocação temos Tatari, que resolveu sair da masmorra para tomar um leve banho de sol. A série também lança seu novo volume no dia 18 do mês que vem, então é provável que receba alguma página colorida lá pela edição #11 ou #12.
Nas posições seguintes temos Red Blue, Kaiten no Albus e Aozakura: Bouei Daigakukou Monogatari, todos sem grandes novidades para a edição. Preciso ficar em dia com os dois primeiros para comentar um pouco mais sobre sua narrativa. Quem sabe na semana que vem. Ou na outra.
Na posição seguinte temos Strand, que apesar da posição ruim, não parece ter sido totalmente abandonado. A série recebe mais uma página colorida daqui duas edições, para divulgar seu segundo volume.
O mangá vai lançar seu primeiro e segundo volume em um espaço de tempo muito curto, talvez isso indique a falta de esperança quanto ao futuro da série. A página colorida não é um grande indicativo de muita coisa, mais me parece formalidade do que uma promoção real.
Após o lançamento do seu segundo volume, que com toda a certeza do mundo terá um desempenho terrível, a série deve sofrer um gradual abandono, até se estabilizar no final das TOCs. Na sequência temos Mizuporo, com uma posição atípica, mas comum para histórias de comédia. Ocupa o lugar de Shibuya Near Family, que tirou a semana de folga. Sem muitas preocupações por enquanto.
O trio final já é previsível, Rock a Rock, Himeru Kokoro no zen himitsu e Ichika Bachika. Todos os três se encontrando na mesma situação desesperadora, rezando para que o departamento editorial não encontre novas histórias para serem publicadas. Porque quando a nova leva surgir, vocês já sabem quem serão os escolhidos para se despedir da revista. Bem, creio que seja isso. Terminamos mais uma edição. Encontro vocês na semana que vem, para mais uma super edição desta revista maravilhosa.
Página Colorida de Encerramento de Maiko-san Chi no Makanai-san.
Antes de me despedir, deixo também minha review de Maiko-san Chi no Makanai-san. Como já deixei claro inúmeras vezes, foi por muito tempo a minha história favorita da revista, foi também um mangá importantíssimo para a história da Sunday, mais de 29 volumes, 8 anos de história, 4 milhões de cópias em circulação; live-action, anime, alguns prêmios, uma infinidade de conquistas.
Um legado intocável de uma das maiores e mais criativas histórias que a revista teve o prazer de publicar. Mas no final do dia, o que sobra não são os números, são as boas histórias, e Maiko-san com toda a certeza do mundo foi uma delas. Será que consigo provar isso?
Aceitação e propósito: O caminho inevitável da vida.
Capa do Volume #1 de Maiko-san Chi no Makanai-san.
Na narrativa de Maiko-san, a resposta alcançada é sempre curta e direta: problemas resolvidos o mais rápido possível, geralmente dentro do mesmo capítulo. Quando problemas longos e difíceis de resolver surgem, a história muitas vezes os omite deliberadamente para manter o status quo de sua premissa, que valoriza uma paz totalmente inabalável.
Estamos falando de uma história onde só a paz tem lugar, uma eterna e irresoluta paz, e para que o equilíbrio seja mantido, para o sustentar dessa fábula totalmente inimaginável, mais irreal do que um mundo com carros voadores e animais falantes, a existência de dois personagens semi-divinos é necessária: Kiyo-chan e Sumire-chan.
Kiyo-chan é nossa protagonista principal, ela é quem conduz a história, é quem move sua estrutura, principalmente, mas não exclusivamente. É ela quem estampa as capas, é ela quem inicia a narrativa, é ela quem dá cor ao incolor. Vemos nela uma jovem que deixou sua cidade natal, Aomori, em busca de seu sonho: tornar-se uma Maiko na cidade de Kyoto.
O mangá começa sua jornada a partir de sua conclusão, onde descobrimos que a atrapalhada Kiyo-chan falhou em sua principal missão, não conseguiu se tornar uma Maiko, não realizou seu sonho, ao invés disso, acabou se tornando a cozinheira do estabelecimento que abriga as Maikos em treinamento. Em contraste, temos Sumire-chan, sua melhor amiga, que também se mudou para Kyoto com o mesmo sonho de se tornar uma Maiko. Ao contrário de Kiyo, Sumire é espetacular em tudo o que se propõe a fazer, uma personagem criada para ser totalmente habilidosa e dedicada, um talento puro.
Desde o início, Kiyo-chan é apresentada em um cenário claramente dramático: a vida de uma jovem que deixou sua cidade natal em busca de um sonho, que foi completamente desmantelado por sua falta de habilidades, restando-lhe apenas observar sua melhor amiga viver, sozinha, aquilo que ela sonhara, mas jamais conseguiu alcançar.
Isso é o que o imaginário de um homem perverso e eternamente atormentado por conflitos construiu de início, a potencialidade de um drama. Mas, para minha agradável surpresa, eu não poderia estar mais errado e mais distante do propósito do mangá. A malícia do meu coração perturbado não foi capaz de sequer arranhar a imensa e tenaz pureza da narrativa de Maiko-san Chi no Makanai-san.
Sempre calma e serena, com a mente constantemente inocente, os pensamentos que circulam na cabecinha de Kiyo são inteiramente voltados ao bem-estar dos outros. No mundo dos mangás, Kiyo Nozuki é a personagem mais próxima de alcançar o status de Buda. Ela não sente inveja, se orgulha das conquistas de seus amigos, não reclama de nada; sua felicidade está em fazer os outros felizes, pura e simplesmente. Além disso, ela é super fofa. Uma deusa entre mortais.
Página de Maiko-san Chi no Makanai-san.
Dentro de um ambiente hostil que poderia tê-la devorado completamente, Kiyo escolheu abraçá-lo e amá-lo, descobrindo uma nova e perfeita aptidão para sua própria vida.
E o que mais me impressiona, e o que destaca a qualidade da história de uma maneira sutilmente especial, é como o mundo ao seu redor e seus personagens não fazem questão de destacar a situação de Kiyo-chan; pelo contrário, tudo é naturalizado, não se fala sobre isso, não há uma exaltação sobre o caso, tudo passa batido e normalizado – de maneira sempre consciente -, o que apenas evidencia ainda mais o desprendimento da protagonista e sua felicidade encontrada na simplicidade da vida.
Não há espaço para lamentar o que foi perdido quando há algo muito melhor a ser celebrado.
Do outro lado da moeda, temos sua melhor amiga, Sumire Herai. Se em Kiyo-chan encontramos a força do amor, da aceitação, da ternura e da empatia, em Sumire encontramos todo o peso desse mesmo amor, suas consequências, demonstradas pela resiliência, persistência e obsessão com a perfeição da personagem. Sumire é alguém obcecada com sua própria arte; a melhor de sua geração é, justamente, a artista mais trabalhadora e fanática, que preenche sua mente com apenas uma coisa: aperfeiçoar-se. Além disso, ela também é super fofa.
Enquanto Kiyo distribui seu carinho e amor, Sumire carrega o peso das expectativas, tanto das outras pessoas quanto de si mesma, entregando-se completamente ao que sempre sonhou e que agora carrega tanto por si quanto por sua melhor amiga. Kiyo é a bainha; Sumire, a espada. A deusa do afeto e a deusa do esforço se complementam, sobrevivendo por meio do amor uma da outra.
Página de Maiko-san Chi no Makanai-san.
Histórias de superação e de nunca desistir de seus sonhos são incontáveis, e eu estou cansado delas. Agora, quantas histórias encontramos sobre abrir mão de um sonho e encontrar algo mais gratificante do que ele? Será que tudo precisa ser tão absoluto? Um sonho destruído é o final da vida?
Bem, Maiko-san Chi no Makanai não vai te entregar a resposta, já que não é uma história sobre aceitação, nem uma história sobre perseverança. É mais uma mistura das duas coisas, com um poderoso fermento que solidifica a massa de ambas, ajudando-a a crescer, um fermento chamado “vida cotidiana”, o bom e velho Slice of Life.
Há também o que é mais óbvio: a linda história de compartilhar experiências, de aproveitar os melhores momentos da vida ao lado de um parceiro que te valoriza. Trata-se de encontrar alegria em tudo o que é feito em comunhão com o próximo, a alegria de fazer algo por outra pessoa. Mas essa parte é simples, você absorve logo no começo. Vamos continuar falando sobre o que não é tão explícito.
Abordei duas personagens centrais da história: Kiyo Nozuki, a deusa do amor, da compaixão e da paciência; e Sumire Herai, a deusa do esforço, da perseverança e da resiliência. Além das duas, há um terceiro protagonista, um personagem central para o funcionamento da história, que serve para conectar a trama, tanto visível quanto invisível. Não estou falando de você, meu querido Kenta; você tem sua importância, mas não para minha análise.
Mais importante do que você, no entanto, é a Cozinha. Não o ambiente da cozinha como um espaço físico e material, mas como um “espaço histórico”, que só existe por meio das interações de seus personagens.
Página de Maiko-san Chi no Makanai-san.
A Cozinha é onde tudo acontece, onde as belas receitas ganham forma, nos pratos suculentos e apetitosos que te deixam salivando a cada capítulo. É nesse espaço que vemos o processo de criação, o amor que Kiyo coloca em cada refeição preparada, os resultados do seu trabalho manifestados, em uma refeição que não é apenas comida, mas a manifestação do seu esforço em benefício de outra pessoa, a felicidade encontrada apenas em compartilhar algo com os outros.
A Cozinha serve para sintetizar a perfeição da vida cotidiana, que nos obriga a baixar a guarda, esquecer nossos problemas e nos agarrar a uma história tão mundana que não depende de nada além da simples e direta mediocridade da nossa rotina. Durante minha leitura de Maiko-san, meu maior prazer era sempre ler o mangá antes de dormir. Eu não lia extensivamente e com pressa; lia apenas ao final do meu dia, porque sabia que seria a maneira mais prazerosa de aproveitar a história, tanto pela sua qualidade quanto como um benefício pessoal, garantindo uma excelente noite de sono. Maiko-san Chi no Makanai se tornou minha bíblia.
A Cozinha, esse espaço que é mais imaterial do que material, onde o banal ganha forma, é o que dá a essa maravilhosa história sua beleza e qualidade. A trama não permite nenhuma mancha em sua paz interminável. Suas estruturas não se abalam porque não se permitem abalar; elas não podem e não devem ser perturbadas. A utopia de sua narrativa funciona porque é utópica, é utópica porque é ideal, é ideal porque é desejável, e é desejável porque é perfeita.O mundo de Maiko-san precisa ser inabalável para exaltar a beleza da normalidade. E, em sua busca por uma normalidade eternamente perfeita, é onde encontramos a total anormalidade, fruto desse mundo absurdamente inatingível.
Um mundo onde você sempre dá o seu melhor, onde você sempre tem alguém para te apoiar, alguém que te motiva a ir atrás do que você está destinado a conquistar. Com duas protagonistas quase alienígenas, dotadas de qualidades humanas imensamente desejadas e raramente alcançadas, que servem como inspiração e motivação para carregar nossa existência.
Uma inspiração não apenas para realizar atividades desafiadoras e complexas, mas para simplesmente conduzir nossas vidas da melhor forma possível, nas conquistas mais triviais, nas realizações mais medíocres, banais e apaixonadas possíveis. Tudo isso, apenas por mais um dia, um dia comum da nossa pequena vida.