O mercado brasileiro de mangás enfrenta há anos dificuldades para atingir um público amplo. Autores, obras e editoras surgem constantemente, mas a realidade é que a construção de um mercado sólido e autosuficiente ainda está distante. Nos últimos anos, todavia, algumas obras têm despontado, trazendo nova esperança de que, talvez um dia, milhares de autores brasileiros possam viver exclusivamente de suas criações.
A última obra do “momento” é Betiger, escrita e desenhada por Hataoh, cujo primeiro volume será lançado pela editora MPEG. Apesar de contar até o momento com apenas dois capítulos, o mangá alcançou números impressionantes, consolidando-se rapidamente como um dos principais títulos brasileiros da atualidade.
O QUE É BETIGER
Betiger narra a história de Caio, um garoto invejado por todos devido à sua extrema sorte. Apesar disso, ele nutre uma profunda aversão a jogos de azar por motivos pessoais. Sua vida muda ao descobrir o verdadeiro preço desses jogos e como, literalmente, o “tigrinho” pode destruir completamente a vida de uma pessoa.
A obra combina exploração dos jogos de azar, comédia e cenas de ação frenética, típicas do battle-shounen (Shonen de lutinha), entregando um primeiro capítulo completo e envolvente. Se fosse apenas sobre crítica a jogos de apostas, talvez não chamasse tanta atenção, mas ao incluir combates eletrizantes e monstros inspirados nesses “joguinhos”, Betiger se adequa uma temática séria ao gosto de adolescentes e jovens adultos.
A arte dinâmica, com personagens expressivos e cenários detalhados, também conquistou os leitores, contribuindo para que o mangá se tornasse viral já em seu primeiro capítulo. Sem dúvida, Betiger é um dos mangás brasileiros mais promissores dos últimos dois anos.
VIRAL
Com apenas um capítulo, Betiger alcançou resultados notáveis, destacando-se tanto no X (antigo Twitter) quanto no Fliptru. Foram 295 mil visualizações e mais de cinco mil curtidas no X, além de quase 9 mil leituras no Fliptru, tornando-se a terceira obra mais lida da plataforma atualmente.
A decisão de lançar o primeiro capítulo no X foi uma jogada de marketing estratégica: em vez de restringir o alcance, Hataoh ampliou a visibilidade de sua obra, sacrificando lucro imediato em prol de ganhos futuros com os próximos capítulos. A estratégia lembra o lançamento do anime Kaiju No.8, cujo primeiro episódio também foi disponibilizado gratuitamente no “X”.
O objetivo é gerar viralização, transformando a obra em fenômeno (no nicho ou de forma mais ampla) e estimular o boca a boca (WOM, word of mouth). Quanto mais pessoas alcançadas, maior a chance de recomendações se espalharem, criando uma rede de divulgação natural. Estudos apontam que 92% dos consumidores confiam mais em recomendações de amigos e familiares do que em outras formas de publicidade (Brandee Johnson, 2024).
Essa abordagem faz sentido para o mercado brasileiro, onde o poder aquisitivo é limitado e o mangá nacional ainda não é um produto de massa. Preços acessíveis, como a gratuidade do primeiro capítulo de Betiger, combinados à máxima exposição, potencializam o boca a boca e aumentam as chances de venda dos volumes subsequentes.
No entanto, o sucesso da obra não se deve apenas ao marketing. Hataoh escolheu temas que ressoam com o público brasileiro, como jogos de aposta, e combinou com arte moderna, lutas bem desenhadas e personagens carismáticos, criando uma fórmula de sucesso desde o início.
SINAIS PARA O FUTURO
Betiger demonstra que qualidade, escolha temática adequada, estratégias de marketing e acessibilidade são elementos cruciais para destacar uma obra em um mercado saturado, no qual autores brasileiros competem não apenas entre si, mas também com décadas de experiência de autores japoneses, europeus e americanos .
Inserir-se nesse cenário não é fácil, mas Hataoh mostrou sinais claros de estratégia bem-sucedida, que, somados a uma pitada de sorte — como a de seu protagonista — podem impulsionar ainda mais a obra.
Os próximos passos incluem ações conjuntas com a MPEG, que tem dado visibilidade aos mangás nacionais. Está confirmado o lançamento do volume 1 impresso de Betiger (sem data definida, pois a série conta com apenas dois capítulos) e também merchandising variado, fortalecendo o crescimento da indústria nacional de mangás.
O trabalho da MPEG, aliado ao talento de autores como Hataoh, tem se mostrado essencial para que os mangás brasileiros conquistem um espaço consolidado nas estantes do público local.
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