Após alguns percalços volto para falar da Weekly Shonen Magazine e os desafios modernos da segunda maior revista shonen do Japão. Vamos falar um pouco dos erros e acertos dos editores sobre vários gêneros diferentes na revista, além das situações atuais de cada série, começando pela TOC:
- Mayonaka Heart Tune (Primeiras Páginas Coloridas) Ch. 53
- Blue Lock Ch. 282
- Amagami san Chi no Enmusubi Ch. 159
- Kanan sama wa Akumade Choroi (Página Colorida) Ch. 118
- Hajime no Ippo Ch. 1476
- Akabane Honeko no Bodyguard Ch, 101
- Shangri-La Frontier ~Kusoge Hunter, Kamige ni Idoman to su Ch. 199
- Ao no Miburo Ch. 149
- Kakkou no linazuke Ch. 227
- Kaijin Fugeki Ch. 20
- Kanojo, Okarishimasu Ch. 352
- Banjou no Orion Ch. 37
- GALAXIAS Ch. 11
- Fumetsu no Anata e Ch. 192-3
- Sentai Daishikkaku Ch. 160
- Megami no Café Terrace Ch. 174
- Gachiakuta Ch. 116
- Irozuku Monochrome Ch. 12
- Yumene Connect Ch. 11
- Kuroiwa Medaka ni Watashi no Kawaii ga Tsujinai Ch. 155
- Love Forty Ch. 20
- Yowayowa Sensei Ch. 96
- Batchiri Scratch! Ch. 18
Ausências: Seitokai ni mo ana wa aru! Ch. 112, Mokushiroku no Yonkishi Ch. 169, Ahiru no Sora Ch. 618 (Hiato)
Após uma modelo de capa, a abertura dos mangás é de Mayonaka Heart Tune, recebendo página colorida celebrando um ano de publicação. Um dos focos do texto na semana é discutir, o que a Magazine faz de certo com suas romcom para atrair esse público e essa página de Mayonaka é um bom exemplo de alguns fatores.
Primeiramente, após o sucesso colossal de Gotoubun no Hanayome, o público fã de romcom começou a comprar mais da Magazine a ponto de se tornar parte da identidade da revista, tanto pro lado positivo quanto negativo. Positivamente, a revista domina um dos gêneros mais populares da indústrias, mas negativamente rola um afastamento de gente que associa a Magazine exclusivamente com romcom e que tem mais interesse em outros gêneros, muitos inclusive sendo fãs de gêneros que já dominaram mais a revista, como o de delinquentes.
Dito isso, Mayonaka Heart Tune apela justamente para esse público fã de Gotoubun. Existe um mistério que envolve a história, de achar a heroína “perdida” do passado, e um foco em rodar histórias pelas quatro garotas, enquanto o protagonista é mais proativo e parte do desenvolvimento delas.
O público gosta de como a obra trata as interações entre os personagens, o bom humor e obviamente o excelente traço do autor Igarashi — capaz de excelentes variações de expressão facial e linhas mais grossas que dão destaque a esses personagens. Nessa semana mesmo o capítulo foi muito divertido por causa dessa arte. Porém Mayonaka Heart Tune é apenas um sucesso médio por enquanto, com vendas próximas aos 15K, assim dependendo de um anime para alçar voos maiores.
O vice da semana é Blue Lock, um dos mais populares mangás do mercado e um dos grandes sucessos dessa temporada atual de anime apesar da fraca animação.
Como o Nicolin bem explicou no texto anterior, precimosa falar desse anime por duas vertentes aqui no site. Uma é a artística, que claramente é de decepção com a qualidade da produção, prazos apertados e de ver animadores profissionais não podendo explorar seus talentos nessa condições. E a outra é a de mercado, de entender que o anime de Blue Lock sair tão rápido assim permitiu que a franquia mantivesse viva na mente do público, conseguindo com que os leitores que estavam perdendo interesse na série voltassem a comprar novos volumes. O público geral do anime em si não se importa apenas com a animação, então ter focado numa direção visual e de som excitante manteve uma satisfação desses fãs.
Acredito que o maior problema foi o filme no meio, que poderia ter sido deixado para 2025 e mantido a produção focada na segunda temporada. Seria um meio termo entre esses dois lados. O que acham?
Amagami-san fecha o pódio, com assim mais um anime da temporada sendo promovido. Mas infelizmente a situação não está boa para a obra, a recepção no Japão está bem morna.
No ranking do Nicolive, aonde os espectadores podem votar num episódio após assistir no streaming do site, Amagami-san está continuamente entre as cinco piores notas da temporada. Esse público é nicho, mais otaku, e não representa a totalidade da recepção de séries mainstream, o problema é que esse é exatamente o público que Amagami-san corteja…
O começo do mangá é mais clichê e o anime não ter pulado ou acelerado esse começo fez com que os espectadores perdessem interesse por ser “mais do mesmo”. Os arcos que os leitores mais gostam são os sobrenaturais, que demoram um certo tempo para aparecer e dão o tom único de Amagami-san. Uma boa adaptação e fiel é a causa da falta de qualquer boost para o mangá, por incrível que pareça.
Na quarta colocação, temos Kanan-sama, com uma arte colorida promovendo seu novo volume em Novembro. Essa página em si é provavelmente mais planejada do que parece, já que coincidiu com o debut de uma nova geração de vtubers do Hololive, um dos grupos mais populares na cultura otaku japonesa.
Mas qual a relação? É simples: Nonco, autor da série, fez o design de uma das novas garotas (Kikirara Vivi). Isso é uma grande oportunidade já que artistas de vtubers populares costumam ganhar um boost de seguidores e fama grande, só para dar dimensão, mais de 150 mil pessoas viram ao vivo a estréia da vtuber. Isso é ainda maior para Nonco, que não teve algum anime ainda. Tanto autor quanto a página oficial de Kanan usaram a oportunidade para promover o mangá, então existe uma chance de algum crescimento agora.
Os pontos fortes de Kanan são seu mix de ecchi e comédia com arcos narrativos longos e mais centrados, algo raro para o gênero. A série vende 10 mil no físico, mas faz um sucesso maior do que o comum no digital, assim a Magazine o promove bastante regularmente. É provável que o anúncio de um anime aconteça em 2025.
O quinto colocado é o clássico Hajime no Ippo, há alguns meses numa das longas lutas da série. O mangá é ESSENCIAL para a Magazine não só por suas vendas e imagem de mascote, mas para manter uma série central que não é uma romcom.
Ippo é um mangá de boxe, uma combinação basicamente de esporte e battle, e traz a atenção de leitores de longa data da revista; um final de Ippo inevitavelmente causaria uma debandada de leitores que não enxergam mais obras similares na linha da Magazine. Dito isso, o mangá está muito longe de um final, para a sorte do time editorial que precisa pensar nisso daqui uns bons anos.
Na sexta colocação, Akabane Honeko só está fazendo sua volta celebratória enquanto chega ao seu final. O autor fazendo tudo certinho como está, é bem possível de não demorar muito a voltar para a Magazine, talvez com alguma obra de mais popularidade inicial que Akabane Honeko, que lutou por sua sobrevivência no começo.
O sétimo lugar é Shangri-la Frontier, que apesar de ótimo anime e bom momento no mangá, não está recebendo boosts. Eu acredito que ter estreado a primeira temporada em Outubro de 2023 foi um erro, já que a série ficou bem atrás da popularidade anormal e massiva de Frieren e Kusuriya no Hitorigoto. Agora em Outubro de 2024, Shangri-la Frontier tem uma boa base de 100 mil leitores, mas seu anime não consegue atrair novos fãs, que precisam do contexto da temporada anterior.
Ao no Miburo, nosso oitavo colocado, é um caso curioso de uma animação estática de um mangá que vende pouco e… mesmo assim é um dos anime de maiores audiências da temporada. Só fica atrás das séries infantis clássicas como Sazae-san e afins, assim está conquistando audiência MAIOR que obras como Dragon Ball Daima.
Como isso se explica? Bom, quem leu as análises anteriores deve saber disso, mas Ao no Miburo é um mangá histórico do Shinsengumi que adota um tom similar aos dramas clássicos japoneses sobre o mesmo (popular) grupo. Ou seja, o tom mais realista e cinza da história apela para um público mais mainstream e também para um grande público feminino, que adora obras sobre o Shinsengumi.
Essa excelente audiência, ajudada pelo horário de TV que é o mesmo de Hero Academia, não está traduzindo num imenso hit para o mangá, mas justifica a presença da obra na Magazine ao apelar para uma demografia diferente. As romcom primariamente são lidas por homens, mas o maior sucesso atual da revista, Blue Lock, tem um grande público feminino. Obras como Ao no Miburo são importantes justamente para manter essa variedade demográfica.
A nona colocação é de Kakkou no Iinazuke. Essa romcom teve um começo explosivo e seu ápice de vendas veio ali e não durante o anime, como é comum.
O motivo da popularidade eram as boas interações e humor entre os protagonistas Nagi e Erika, os dois tem uma dinâmica que eles conseguem provocar, brincar um com o outro, mas mesmo assim passar uma impressão de proximidade e amizade. A adição de mais heroínas não é algo ruim por si, mas os leitores foram aos poucos perdendo interesse no mangá, que mesmo assim vende muito bem para o mercado.
O capítulo da semana é um que volta à premissa inicial da história, das famílias trocadas, e apela a esse público do começo. Porém mesmo com a segunda temporada do anime vindo, é difícil imaginar que Kakkou no Iinazuke volte a crescer de novo.
Kaijin Fugeki é décimo lugar. O maior sucesso da Magazine em 2024 anda numa crescente de boa recepção e a revista está aproveitando para promovê-lo mais ainda, com o próximo volume recebendo promoções nas estações de metrô de Tóquio.
Por ser uma série de batalha e de um autor veterano, Kaijin Fugeki é importante para dois aspectos diferentes: 1. atrair e manter leitores de battle manga na Magazine, tão vista como revista de romcom e; 2. manter leitores antigos lendo a revista, querem que aqueles que liam Air Gear e Bakemonogatari continuem no ambiente Weekly Shonen Magazine para ler a nova obra de Oh Great! Agora é importante, e plenamente possível, que o volume 2 continue crescendo quando sair.
O famigerado Kanojo, Okarishimasu é o décimo primeiro colocado. O capítulo dessa edição começou o arco do encontro, que foi hypado por mais um de ano, e pode (ressalto, PODE) ser o arco final ou o penúltimo da história.
O mangá não é odiado no Japão igual em círculos do Ocidente, porém é inegável que o público simplesmente está cansando do mangá, bem longe do seu ápice de vendas. Creio que isso se deve mais ao tamanho do mangá, séries de muitos volumes eventualmente perdem um número significativo de leitores ao longo do tempo após seu ápice.
As decisões criativas poderiam ajudar a estancar essa perda natural, mas parecem estar contribuindo mais para que leitores deixem a série. Ainda num bom nível para o mercado, acho que um encerramento em 2025 junto da nova temporada do anime seria ideal para extrair um pouco mais de suco dessa laranja.
Banjou no Orion é décimo segundo da TOC e continua variando entre drama e as partidas de shogi. É um verdadeiro spokon e seu número atual (15k) é decente, mas pode crescer se continuar agradando o público nesses dois aspectos. Mas com outra partida começando já no capítulo, mostra-se bem mais spokon do que algo como Sangatsu no Lion, um grande hit sobre shogi também.
Décimo terceiro lugar, GALAXIAS é outro exemplo de uma investida em variar a lineup da Shonen Magazine. Um mangá de batalha e aventura de sucesso é importante demais para uma revista que já teve sucessos do tipo como Fairy Tail.
A Magazine promove Galaxias bastante para isso, porém esse início de mangá foi conturbado, com mudanças em relação ao oneshot e paradas constantes esfriando o hype que a série tinha no Japão. A boa notícia é que Galaxias vendeu mais mil volumes numa semana e “empatou” com Irozuku Monochrome em vendas. O problema é que Irozuku estava fora de estoque já em poucos dias, enquanto Galaxias nunca precisou de mais volumes nas lojas — implicando assim que a demanda foi abaixo do esperado.
Com 5 mil volumes, ao menos não será cancelado de cara e Galaxias ainda tem tempo de reverter a situação, mas o autor precisará focar em agradar aqueles leitores que se encantaram com o oneshot, mas não tiveram interesse no mangá, enquanto faz uma aventura interessante a ponto de agradar leitores de Hiro Mashima e Suzuki Nakaba que ainda compram a Weekly Shonen Magazine.
O décimo quarto dessa TOC é Fumetsu no Anata e. O mangá às veze sobe um pouco do seu ranking habitual de fim de revista para lembras aos outros leitores que existe. Parece ser o caso aqui. Mas sabe o que não existe? Informações da tal terceira temporada de seu anime, anunciada anos atrás…
Na decima quinta posição, Sentai Daishikkaku é sempre uma incógnita em relação ao seu fim. O mangá não tem vendas grandiosas, mas possui um anime em produção para segunda temporada e Negi Haruba tem liberdade total na revista, após ter iniciado A Nova Era das Romcom da Magazine.
Dito isso, desenvolvimentos da história tem tons de arco final, mas a natureza imprevisível de Sentai Daishikkaku, tão focado em plots twists, sempre deixa difícil de cravar se esse é o rumo mesmo do mangá.
O décimo sexto lugar é Megami no Café Terrace. Se há uma romcom da Magazine que eu diria ter recepção ampla e positiva atualmente, seria essa.
Embora o romance não avance tão rápido, os personagens serem mais maduros e abertamente interessado uns nos outros dá um tom único numa revista tão focada em romances escolares. Personagens de Megami Café são adultos em suas posições mesmo, isso contrasta com a comédia-quase-absurda do mangá e gera um efeito hilário.
Durante a segunda temporada do anime, o mangá até esboçou a idéia de tornar-se a romcom que mais vende atualmente na Magazine, mas seus números já voltaram a ficar atrás de seu concorrente principal (Kanojo Okarishimasu).
Gachiakuta é o décimo sétimo lugar e tudo que falei para Galaxias vale para ele também. Sua importância de gênero e variedade é grande, porém tem uma pequena diferença: Gachiakuta já é uma obra consolidade de dois anos e anime em produção, assim sem risco algum de cancelamento.
Talvez os volumes não voltem a crescer mesmo no Japão, o mangá está vendendo um pouco mais de 20 mil por volume, mas sua presença internacional para fãs battle leva o nome da Shonen Magazine para outras demografias enquanto sua expansão digital e internacional tenta dar passos para chegar perto do sucesso do Mangaplus da Shueisha.
Em décimo oitavo na TOC, Irozuku Monochrome é o que falei ali antes. Vendeu tudo que tinha, então é difícil de dizer o patamar real de popularidade dessa nova romcom ecchi enquanto um volume 2 não sair.
Fico até surpreso que as lojas não pediram uma remessa inicial maior considerando o quão elogiada é online. Dá para imaginar que sabem da natureza mais nicho de um ecchi do tipo e preferiram um número mais conservador. Seguiremos atentos aos futuro do mangá, mas por enquanto não demonstra problemas.
Yumene Connect, o décimo nono lugar, deve receber mais volumes de cara por receber atenção maior dos leitores. O volume 1 está para lançar esse mês e a torcida é grande para ir bem logo de cara por causa dessa boa recepção.
Mas algo curioso da série é que o autor adicionou um elemento battle no capítulo mais recente da obra. Se isso se tornar algo persistente, Yumene pode ainda não ter mostrado seu potencial real, possivelmente tornando-se algo mais similar a To Love-ru Darkness do que o To Love-ru original.
Vigésimo, Kuroiwa Medaka é outro que diria que conta com uma recepção geral bem positiva com os leitores semanais.
A diferença dessa obra para as outras romcom é que a protagonista é a heroína Mona, e não o garoto Medaka. O ponto de vista do leitor é de Mona primariamente, as rivais são tratadas mais como obstáculos para Mona superar, e a comédia vem justamente dela como uma protagonista tsundere enquanto o Medaka tem reações frias para quase tudo.
O anime estreia em Janeiro e acredito que possa ter mais chance ali do que Amagami teve agora, assim o superando em vendas.
Antepenúltimo, Love Forty é uma tentativa de conquistar o público perdido de spokon clássico, de obras como Baby Steps. O problema é que ninguém realmente está lendo o mangá desde o começo.
Pode ser o design não chamativo do protagonista ou a estrutura extremamente técnica do tênis no mangá, mas o público realmente não deu nenhuma chance. Será cancelado.
Yowayowa é penúltimo, aparecendo mais perto do fim com certa presença, mas também ganhando muitas páginas coloridas. Agrada a um nicho e a revista o trata dessa forma também. O capítulo da semana teve um grande desenvolvimento e movimentará o status quo do mangá.
Em último lugar, Batchiri Scratch iniciou um roteiro sobre as garotas treinarem para uma apresentação de rap no festival escolar. Isso pode servir para duas funções diferentes; uma é tentar impulsionar o mangá, que com pré vendas baixas, precisa atrair um público mais padrão da revista que pode se interessar mais por uma meta, e o outro é criar um arco que possivelmente seja o final em caso de cancelamento. Assim foi a decisão ideal do autor, mesmo que seja muito provável que o mangá será um dos cancelados numa próxima leva.
Como podem ver, existe variedade na lineup de mangás da Shonen Magazine, mas os sucessos não romcom ou ecchi estão raros e difíceis de conquistar, sendo Blue Lock e Shangri-la Frontier os dois últimos do tipo. E isso ressalta o problema, Blue Lock é de 2018 e Shangri-la Frontier foi uma franquia garimpada (eles merecem créditos por isso, mas também mostra a dificuldade dos editores de encontrar novos sucessos).
Ao mesmo tempo é possível elogiar a facilidade da Magazine de encontrar e gerir romcoms tão bem a ponto de se tonar referência do gênero, é importante que os editores de outros gêneros façam um trabalho tão bom quanto para impedir uma caída na circulação da Weekly Shonen Magazine, que perde mais % por ano que suas principais rivais de mercado.