Serei sincero e não esconderei de vocês: ler esse capítulo me deu preguiça de escrever as primeiras impressões. Eu queria ter lido e escrito uma matéria complexa explicando as qualidades e defeitos de Shinobigoto, comemorando inclusive o retorno da dupla Ippon & Santa, que muitos já estavam zombando por terem criado o Ame no Furu, um mangá que não é bom, mas também não é tão ruim quanto muitos comentam.
Mas Shinobigoto é tão medíocre que me transmitiu tédio. Contudo, antes de começar uma enxurrada de críticas à sua mediocridade, quero fazer dois elogios: acredito que algumas piadas funcionam, como a da garota desastrada, enquanto outras já soam cansativas na metade do capítulo (como a personalidade do protagonista), mas ao menos consegui dar algumas risadas. Além disso, outro ponto positivo é a arte: não é espetacular, mas é uma evolução em comparação a Ame no Furu. O desenhista demonstra boas habilidades em desenhar cenas de ação mais detalhadas.
Os problemas começam pelo próprio conceito: um shinobi que precisa se infiltrar em uma escola para proteger uma garota rica, mas que não é muito bom em se relacionar com seus colegas, resultando em situações divertidas e ao mesmo tempo perigosas. O nosso odiado Kill Ao tinha uma premissa semelhante e, mesmo que as duas obras sigam caminhos diferentes (ao menos eu espero), esse primeiro capítulo não escapa de comparações diretas.
O problema é que, mesmo com seus defeitos evidentes, Kill Blue teve um primeiro capítulo melhor por dois motivos: o adversário era tão ridículo que chamava a atenção, e o gancho dele ser um assassino adulto no corpo de uma criança infiltrado em uma escola era mais interessante que o gancho de Shinobigoto, que é… um assassino antissocial se infiltrando em uma escola. Aliás, mesmo sendo uma premissa mais velha do que eu, não há grandes sucessos de vendas na revista atual que justifiquem insistir nessa premissa do “BODYGUARD”.
No entanto, uma história genérica pode sobreviver pelo carisma de seus personagens: a garota até me arrancou uma risada, mas (isso é uma opinião mais pessoal) achei a personalidade do protagonista irritante. O autor dedica tantos quadros para reafirmar a incapacidade dele em dialogar e seu medo, que, em vez de ser engraçado, acaba sendo repetitivo e irritante. Como eu não abandono nenhum mangá da Weekly Shonen Jump, suportar a personalidade dele será um ato de masoquismo.
Shinobigoto também não se destaca pela estrutura do capítulo: é construído de maneira tão “de manual como fazer um mangá” que acaba apresentando mais do mesmo. Você consegue prever cada página do mangá e, pior, consegue prever até o que será dito em cada balão. O vilão mesmo solta aquelas frases banais de adversário fraco sendo revelado. Acredito que capítulos manuais podem funcionar quando inseridos em um contexto interessante.
Mas Shinobigoto carece completamente de qualquer elemento que desperte um mínimo de interesse, e eu até tenho dificuldade em encontrar palavras para que essas primeiras impressões cheguem a dez parágrafos. Às vezes, penso que alguns autores deveriam investir mais na criação de ambientações diferenciadas para suas obras, a fim de retirá-las da mediocridade.
Uma boa ambientação não salva um roteiro ruim, como é o caso de Do Retry, mas eleva um roteiro medíocre a algo bom, ou até transforma um bom roteiro em uma obra popular, como aconteceu com Kagurabachi. Se Shinobigoto fosse ambientado, por exemplo, no pós-guerra, com o governo japonês secretamente reabrindo o departamento de ninjas para caçar a Yakuza, que estava ganhando poder, e o protagonista tivesse que proteger uma garota rica do ensino médio que perdeu os pais na guerra, a ambientação tornaria a história mais rica, mesmo com o mesmo roteiro.
Repito, a história por si só não salva um mangá, mas eleva um roteiro medíocre a algo bom, e é exatamente disso que Shinobigoto precisa. Para soar mais interessante, a obra precisa de elementos que a distingam das demais na revista, evitando que pareça uma cópia barata. Até mesmo Nue no Onmyouji, com seu capítulo genérico, conseguiu chamar a atenção dos japoneses por causa do personagem Zenno, que virou meme, e depois por se tornar um harém sem ecchi, algo que muitos leitores estavam sentindo falta.
Shinobigoto não apela para nenhum nicho, não apresenta um primeiro capítulo bem escrito, e não possui nenhum elemento que o destaque em sua premissa ou narrativa. É uma obra que parece ter sido feita seguindo um manual de “COMO FAZER MANGÁ”, e não há nada mais chato e entediante do que ler um mangá feito a partir de um manual. Para minha sorte (e esperança) é que essa dupla é muito criativa, e pode vir transformar esse primeiro capítulo genérico em algo de único nos próximos capítulos, algo que me dê vontade de ler. Pode ser uma ilusão que estou criando para mim mesmo, mas é o que irá me manter lendo Shinobigoto.