A Weekly Shonen Magazine é uma das maiores revistas Shonen da história, responsável por lançar vários sucessos gigantescos. Contudo, nos últimos três anos, tem enfrentado uma estranha escassez de novos êxitos. Enquanto os mangás de ecchi e comédias românticas continuam a se destacar no mercado, os novos títulos de esporte, aventura, battle-shounen e dramas não têm conseguido chamar a atenção, fazendo a revista depender ainda mais das obras lançadas entre 2016 e 2020.
É nesse contexto que a Weekly Shonen Magazine decidiu estrear um novo mangá de aventura chamado GALAXIAS, do(a) autor(a) novato Hatesaka Ao. Avaliarei aqui os cinco primeiros capítulos, que compõem o volume um. A obra conta a história de uma garota que sonha em conhecer o mundo, mas cujo pai nunca a deixa sair da própria ilha. Sua vida muda quando um garoto sem memórias, mas com poderes incríveis, chega à ilha. Ele é um “Dragonfolk”.
O conceito de Galaxias segue o tradicional enredo de protagonista (Jio) de uma cidade pequena que acaba explorando o mundo. Contudo, em vez de ser uma garota completamente inocente, a protagonista demonstra bastante conhecimento adquirido por meio de vários livros lidos – já o outro protagonista (Neraid), que perdeu a memória, torna-se útil para a história, pois a autora o usa para explicar os conceitos básicos do mundo. Mas quão bem elaborado é esse conceito e o mundo?
Usar um conceito tão clichê não é necessariamente negativo, desde que se apresente um mundo realmente interessante a ser explorado, e acredito que Galaxias conseguiu, nos primeiros cinco capítulos, criar um mundo vívido e envolvente. Com cidades que exalam alegria e simplicidade, perfeitas para transmitir a sensação de aventura, Hatesaka Ao entrega cenários que lembram a geografia das cidades costeiras italianas (principalmente Costa Almafitana), misturadas com um design arquitetônico mais próximo das favelas coreanas, como podemos perceber na imagem abaixo:
Os céus, ricos em nuvens que brilham nas águas, mesmo cinzentas, transmitem uma sensação de azul pacífico, combinando com a personalidade eufórica dos personagens, reforçando ainda mais essa explosão de aventura que senti lendo o primeiro volume da obra. Uma sensação que me lembrou o início de Fairy Tail (obra também lançada na própria Shonen Magazine), e até aquele sentimento positivo e radiante que tínhamos ao ler o começo de One Piece. Em um ambiente onde as obras de battle-shounen estão cada vez mais sombrias, esse “AR REFRESCANTE” que Galaxias traz me arrancou um sincero sorriso.
Mas não é só de sensações que um mangá é feito: sua história, por enquanto, se mantém bem básica. O autor está propositalmente tomando seu tempo para desenvolver cada aspecto do mundo, seguindo a abordagem dos anos 90 e início dos anos 2000, ao dividir os primeiros capítulos em pequenos arcos que parecem mais “Casos e Problemas” que os protagonistas devem resolver em cidades diferentes. Essa narração era muito útil nos anos 90 e 2000 para escapar do cancelamento – entregar arcos que podem ser encerrados rapidamente em caso de má recepção era essencial para o autor tentar reverter a situação sem estar preso a um arco contínuo.
Esses “Casos” até agora foram bem simples: o do primeiro capítulo conseguiu apresentar bem um dos mistérios da história (a identidade do pai de Jio, um clichê praticamente obrigatório nos mangás Shonen) e também a presença de um governo que está à caça da garota protagonista. No entanto, acho que é no segundo capítulo, mesmo sem cenas de ação, que a série brilha, pois apresenta uma situação complexa que o autor resolve de maneira simples e eficaz.
O primeiro capítulo até tem uma cena de ação dinâmica e muito bem desenhada, em que o autor utiliza quadros de impacto e soluções criativas para a protagonista vencer o vilão. Porém, acredito que meu capítulo preferido seja o segundo, mais centrado no desenvolvimento dos personagens e da situação. Até mesmo os diálogos, que considero o ponto mais fraco da série, funcionam muito bem no segundo capítulo.
Sim, os diálogos são de longe o ponto mais fraco da série – antes de ir mais a fundo nisso, gostaria de dizer que Galaxias, no geral, sofre com a falta de inovação: é praticamente uma coleção competente de todos os clichês de mangás de aventura. O autor amarra vários conceitos já conhecidos pelo público e entrega uma história sólida, com bons momentos nesses cinco primeiros capítulos. No entanto, ao mesmo tempo que isso é uma qualidade, também considero um defeito.
Os diálogos exemplificam esse conceito: o autor constantemente utiliza frases de efeito que já foram vistas à exaustão em outras obras. O modo como Neraid convence a garota a sair da ilha é aquela clássica situação em que o protagonista grita frases insultantes e, em menos de três páginas, isso é suficiente para fazê-la mudar de ideia. Quando Neraid é possuído, a situação é apresentada de maneira muito clichê, com frases que já conhecemos. Assim, às vezes, os personagens parecem dois produtos pré-fabricados que dizem frases banais que correspondem ao arquétipo pensado pelo autor.
Para mim uma obra Shonen não precisa ser profunda, mas precisa ter diálogos naturais. O capítulo 2 é o único onde percebi diálogos mais bem construídos e naturais, por isso vejo potencial para melhoria nesse aspecto. E eu acredito que o segundo capítulo funciona melhor, pois ele tenta apresentar o mundo sem ir para aquela estrada repetitiva do mistério do pai procurado-assassinado pelo governo mundial que vemos em tantas séries… Essa necessidade de tudo ser algo mais grandiosos nos Battle-Shounen cansa. A beleza que eu encontrei em Galaxia foi justamente a aventura tão bem desenhada e representada pelo autor. Esses elementos cansativos acabam só diminuindo justamente os aspectos leves e aventuresco da série.
Talvez esses diálogos e clichês, junto com a sensação constante de estar lendo algo já visto, tenham sido os verdadeiros “GATEKEEP” que me bloquearam de sentir maior interesse por esses primeiros capítulos. Realmente, não estou muito curioso para ler os próximos capítulos de Galaxias, mesmo que eu sei que a tendência é o mangá só melhorar – se tivesse que comprar os volumes, provavelmente esperaria o lançamento de um anime para decidir se voltaria a comprá-los -. Então, mesmo entregando uma sensação de leveza e aventura que lembra obras mais antigas, Galaxias não me oferece nada que me instigue a continuar lendo além desses cinco capítulos.
Por isso, não posso considerar este um incrível primeiro volume, mas é realmente uma série de boa qualidade.
Nota: 6.5 / 10