O novo ecchi de sucesso da Jump!
Voltamos com as “O Vale a Pena Ler”, dessa vez de Ayakashi Triangle, a nova obra ecchi de Kentaro Yabuki. A crítica, porém, não será referente somente ao primeiro volume, mas aos dois primeiros volumes da série (por isso, os primeiros 16 capítulos). Para quem não sabe, Ayakashi Triangle é um novo mangá lançado na Weekly Shonen Jump e parece ter tido uma boa recepção, porém, será que vale a pena dar uma chance para essa nova obra? Ou é melhor evitá-la? Bem, eu irei responder nessa análise.
QUEM É O AUTOR?
Ayakashi Triangle é escrito e desenhado por Kentaro Yabuki: Autor de Black Cat (Weekly Shonen Jump) e ilustrador de To Love Ru (Weekly Shonen Jump e Jump SQ) e Darling in the Franxxx (Jump Plus), por isso, podemos dizer que Kentaro Yabuki é um autor veterano, que já desenhou várias séries de ação e ecchi. Porém, era desde 2004, quando terminou Black Cat, que não escrevia uma série. O autor nesse período ilustrou várias séries e lançou dois One Shots: Trans Boy (2004) e Futagami Double (2010).
A primeira série citada é muito importante, pois serviu de base justamente para Ayakashi Triangle: Isso mesmo, o One-Shot que originou esse novo mangá foi lançado 16 anos atrás e tinha uma arte totalmente diferente. O autor nesses 16 anos modernizou a sua arte e se tornou um dos mangakás mais conhecidos no mundo do ecchi. Os dois elementos que mais caracterizaram Black Cat, única obra escrita por Yabuki, era justamente o bom humor, leve ecchi e cenas de ação bem desenhadas. Por isso não podemos dizer que trazer o autor de volta para a revista era simplesmente uma estratégia para ocupar o espaço deixado em aberto por Yuragi-Sou no Yuuna-San; Kentaro Yabuki não é um autor que escreve somente ecchi, mas tem a habilidade de escrever bons B-Shounen.
A HISTÓRIA É BOA?
Ayakashi Triangle segue um garoto (ninja exorcista) que tenta proteger a sua amiga de infância de diversos espíritos (Ayakashi’s). A sua amiga, Suzu é uma médium, por isso tem a capacidade de ver e dialogar com espíritos, porém, ao mesmo tempo, o seu grande poder espiritual, acaba atraindo muitos Ayakashis malignos, que querem se alimentar da sua alma. Um dia, Suzu é atacada pelo rei dos Ayakashi Triangle, e o protagonista, Matsuri se vê obrigado a selar esse inimigo – porém essa magia nesse combate, Matsuri acaba sendo amaldiçoado e se torna uma mulher.
O protagonista poderia retornar a ser um homem, mas o rei dos Ayakashi teria que ser liberado, em compensação -. Matsuri assim se torna uma garota e se vê obrigado a manter essa forma, para que o rei dos Ayakashis continue selado.
Na história seguimos principalmente três personagens: Matsuri que tenta se acostumar a ser uma garota, no mesmo tempo que deve defender Suzu dos espíritos e também controlar o seu amor (e desejos) por ela. Também seguimos, obviamente Suzu, uma garota simples e de ótimo coração, que também tem um sentimento por Matsuri. O terceiro “protagonista” da história é o rei dos Ayakashi, Shirogane, que tem como objetivo reconquistar seus poderes (Selados por Matsuri) e comer Suzu. O mangá une algumas cenas esporádicas de ação, com um ecchi leve constantemente presente, romance e muito humor.
A história de Ayakashi Triangle, ao longo desses primeiros 16 capítulos, vai se expandindo muito lentamente: O autor apresenta novos ninjas exorcistas, apresenta novos inimigos e também novas personagens femininas (amigas de Suzu) que servem justamente para que a história tenha mais ecchi e mais Fanservice. É importante dizer que todas as personagens são pré-adolescentes ou adolescentes. Sim, estamos entrando naquela velha polêmica da sexualização de crianças e adolescentes no mercado japonês, porém irei comentar sobre esses pontos mais tarde. O autor, além de apresentar novos personagens, também está desenvolvendo o universo bem lentamente. Ainda não sabemos qual é o real objetivo dessa história, mas dá para entender que a questão entre espiritos e Suzu se tornará cada vez mais colossal.
Porém a história é realmente boa? Então, ela não é ruim, mas também não apresenta nada de realmente novo. As dinâmicas escolares já foram vistas várias vezes, os personagens são recortes de personagens já conhecidos e os inimigos não tem um design novo. O fato da arte de Kentaro Yabuki ser muito boa, ajuda a história a ter um toque especial: O autor sabe desenhar personagens “fofos” e saber muito bem adicionar o ecchi nas cenas, não é por nada que é um dos maiores autores do gênero, mas de certo modo, consigo também entender o motivo pelo qual, nos últimos 16 anos, o autor não trabalhou mais como roteirista: Não é um grande escritor.
É importante dizer que Ayakashi Triangle não é escrito mal, muito pelo contrário, tem uma escrita autossuficiente, que consegue desenvolver de modo lento e eficaz a própria história, porém em nenhum momento realmente me deixou animado ou emocionado: A leitura de Ayakashi Triangle é frívola, sem nenhum peso dramático e que não me desperta interesse algum em saber o que irá acontecer no próximo capítulo, mas também não é uma leitura chata. Na verdade, o que sustenta Ayakashi Triangle não é o seu universo, não são as cenas de ação ou a história, mas unicamente a personalidade dos personagens.
Nesse quesito, devo dizer que Kentaro Yabuki continua sendo o ótimo roteirista que vimos em Black Cat: Sobre as personagens; Então, mesmo tendo não sendo criativas, as personagens são simpáticas e os leitores conseguem criar uma empatia em relação a Matsuri, em relação ao gato rei dos demônios e principalmente a Suzu, que deve estar conquistando o coração de muitos adolescentes e, infelizmente, também de adultos que que gostam de ver crianças de 12 anos sendo sexualizadas. O gato entrega bons elementos de comédia, além de ser ótimo para vendas de produtos relacionado a série, como pelúcias, já que é “gordinho”.
Os personagens secundários, por enquanto, não são nada demais. O autor está cada vez cada três ou quatro capítulos, apresentando novos personagens, que estão populando a série, esses personagens que em alguns casos podem parecer vilões nos seus primeiros capítulos, estão ajudando o roteiro a progredir: Temos o ninja antisocial, o pintor, as amigas de Suzu, são todos personagens que claramente terão uma importância no futuro, mas por enquanto só ajudaram a progredir pequenos pontos dos mangás. Como por exemplo, explicar como Suzu pode se tornar uma médium perigosa e potente. A grande maioria desses personagens não tem um background ou são realmente interessante, entretanto não importa, a dinâmica entre os três personagens protagonistas já é o suficiente para deixar Ayakashi Triangle “interessante”.
COMO É O ECCHI?
É o momento de comentar sobre o elefante na sala (Elephant in The Room): Eu me lembro que em 2015 ou 2016, eu havia escrito um texto que me arrependo de não ter sido mais direto: Expliquei a história do ecchi, escapei totalmente do discurso sobre sexualização de adolescente e crianças (Quis comentar sobre o ecchi de mulheres adultas) e disse que era importante aceitar opiniões diferentes sobre a tematica. Dessa vez, eu serei mais sincero, direi o que penso sobre o ecchi e principalmente sobre a sexualização de personagens que claramente aparentam ter menos de 18 anos de idade.
Não aprovo e não gosto de obras que sexualizam personagens que aparentam ter menos de 18 anos. Eu entendo, que muitos mangás ecchi tem como o público alvo adolescentes – É normal para um adolescente de 14 ou 15 anos, ter pensamentos mais “quentes” sobre a sua companheira de sala bonita, é natural, mas infelizmente, essas obras não agradam somente os adolescentes, acabam agradando também muitas pessoas adultas, que sentem prazer em ver personagens com 12 anos de calcinha ou com seus peitos sendo apalpados. Na minha opinião, obras como Ayakashi Triangle estimulam e NATURALIZAM a sexualização de crianças e adolescentes. É algo que na minha opinião deve ser combatido.
Eu não critico o ecchi como um todo: Eu acho que é possível realizar um ecchi de personagens adultas que não seja ofensivo para as mulheres e que agrade os homens. Ter desejos sexuais é natural (Homens e mulheres tem desejos sexuais) e gostar de ver algo mais “sexual” também é natural. Porém, eu acho que o ecchi deveria ser feito somente com personagens adultas – e que aparentam ser adultas; Essa história de personagens com mil anos, mas que parecem ter 8 anos, é só uma desculpa para não ter a própria bussola moral agredida. Obras com adolescentes ou crianças sendo sexualizadas, não deviam ser permitidas. É útopico pensar que obras como Ayakashi Triangle serão usufruidas somente pelo seu público alvo: Adolescentes que PODEM se sentir atraídos por adolescentes.
O maior problema de Ayakashi Triangle nem é a intensidade do ecchi (que é bem leve), mas a idade dos personagens que tem entre 11 e 12 anos. De qualquer modo, quando o assunto é exagero do ecchi, Ayakashi Triangle é dos males, um dos menores. Dizem que no volume o ecchi da série é bem mais explicito, mas serei sincero, não irei comprar os volumes de Ayakashi Triangle. Acho que no mercado japonês tem obras bem piores. O que não torna o ecchi de Ayakashi Triangle aceitável mesmo assim.
COMO FOI A RECEPÇÃO?
A recepção de Ayakashi Triangle acabou sendo muito positiva: A série vendeu 33 mil cópias em 3 dias, chegando a vender mais de MASHLE e Undead Unluck, por isso, eu diria que não deve ser cancelado em breve. Além disso, a série parece ter tido uma boa constância na segunda semana de vendas, garantido a sua presença no Ranking Oricon por duas semanas consecutivas. É realmente um ótimo resultado.
O sucesso de Ayakashi Triangle é importante para a Weekly Shonen Jump, que esse ano já encontrou quatro novos sucessos: Undead Unluck, Mashle, Burn The Witch e Ayakashi Triangle. E pelo que tudo indica, teremos também um quinto sucesso chegando: Honomieru Shounen, porém ter uma obra que possa agradar o público adolescente masculino, sempre teve uma importância história na revista. Ayakashi Triangle é uma leitura segura e não corre risco de ser cancelado.
CONCLUSÃO:
Então, Ayakashi Triangle não é uma obra espetacular; Nesses dois primeiros volumes apresentou simplesmente o básico, porém seus personagens são realmente simpáticos. Eu não digo que é uma leitura obrigatória, muito pelo contrário, não mudará em nada a sua vida. Porém, mesmo assim, quando o assunto é a sua história, não é um mangá mal escrito. Sinceramente tem potencial para construir grandes cenas de ação e também batalhas épicas.
O ecchi é claramente um problema: Se você quer uma obra ecchi, e é um adolescente, tem 12 à 14 anos, eu acho que o ecchi pode te agradar muito. Se você tem mais de 18 anos, recomendo procurar uma obra que entrega um ecchi que corresponde a tua idade. De qualquer modo, vendo a obra como um todo (e não só como uma obra que entrega um triste ecchi com crianças e adolescentes) eu acho que Ayakashi Triangle é uma obra que ainda tem muito espaço para melhorar: O autor não parece estar com pressa, por isso irá desenvolver todos os elementos com muita calma. Pouco a pouco vamos conhecer o universo que circunda a obra e também iremos conhecer novas qualidades (Ao menos eu espero, pois por enquanto não tivemos tantas qualidades).
Eu diria que Ayakashi Triangle é uma obra mediocre, com certos pontos positivos, porém grandes pontos negativos. Sucesso merecido? Não sei, porém, não é ruim. Passa de ano. É uma leitura aceitável se tu tem entre 12 e 14 anos. Acredito que temos no mercado leituras melhores, mas, caso você queira uma obra ecchi com as caracteristica já citadas OU queira ler todas as obras atuais da Weekly Shonen Jump, dê uma chance para Ayakashi Triangle. Caso queira uma obra com um roteiro único ou um Shounen com grandes batalhas, melhor procurar um outro mangá.
Nota: 5.5