Nada pior do que limpar tripas de Kaiju.
Ultimamente a Jump Plus está lançando várias obras interessantes, todas de autores que por algum motivo não lançaram as suas novas séries na Weekly Shonen Jump. Um desses novos lançamentos foi Kaiju No.8, de Naoya Matsumoto, um autor não muito conhecido, que já lançou duas séries na Jump Plus – Os editores para essa nova série do autor, decidiram investir pesado na publicidade, convidando autores veteranos para desenharem os personagens da série. O resultado acabou sendo muito positivo, e o primeiro capítulo da série conseguiu superar a marca de 2 milhões de leituras em pouquíssimo tempo.
Porém, sabemos muito bem que divulgação não salva uma obra ruim, a série para ter um sucesso precisa SEMPRE entregar capítulos bem articulados e com elementos atrativos. Será que Kaiju No. 8 conseguiu este feito? Nessa “Primeiras Impressões” eu irei dizer minha visão em relação aos seus três primeiros capítulos: Não é exatamente uma crítica ou um “Vale a Pena Ler”, já que para realizar uma crítica mais completa sobre uma série é necessário ler mais capítulos – É somente uma impressão minha sobre o inicio da história – Tentarei ser mais critico e imparcial possível.
Se você já estiver interessado em ler a série: Você pode encontrá-la em Espanhol na Manga Plus, mas caso você tenha dificuldade com a língua, recomendo procurar a versão traduzida pela Gravity Scans – Eu li o primeiro capítulo traduzido por eles, e digo que tinha uma qualidade absurda. A tradução era coerente e as imagens bem claras. É certamente uma scan que tem como objetivo entregar uma tradução de alta qualidade. Por isso, se vocês querem ler a série em português, recomendo mesmo dar lida. Por fim, minha análise irá detalhar o primeiro capítulo da série e com menos detalhes o segundo e terceiro capítulo, por isso se preparem para spoilers desses três primeiros capítulos.
O primeiro capítulo de Kaiju No.8 nos apresenta um personagem curioso: Kafka, um “limpador” de corpos de Kaiju. No universo criado no mangá, as invasões dessas criaturas se tornaram normais, e justamente por essa razão, o governo criou uma equipe especial, que tem como objetivo exterminar esses monstros. Porém o que acontece depois que essas criaturas são mortas? Chegam os “limpadores”, um time especializado em limpar as estradas desses grandes cadaveres.
Devo ser sincero que imediatamente me interessei pelo ambiente da série. Este interesse veem justamente pela obra ser centrada nessa classe meio ignorada: “Os lixeiros de Kaijus”. E não nos “comuns heróis” que vemos em várias obras. É como fosse um lado B de World Trigger. Não é uma ideia totalmente criativa, mas mesmo assim pouco explorada no mundo dos mangás. Existem várias séries que pegam elementos repetidos (como o protagonista predestinado ou o grande grupo de heróis) e conseguem, através de uma boa construção de personagem e um desenvolvimento de arco bem articulado, criar séries realmente populares: Boku no Hero Academia é um grande exemplo, porém quando um autor consegue entregar já nos primeiros capítulos, elementos únicos e atrativos, o sucesso se torna bem mais provável. Naoya Matsumoto pega um universo já bem explorados por várias obras e entrega algo diferente, que poucas obras exploraram, e isto dá algo de especial à obra.
Nas páginas seguintes, o autor, continuou desenvolvendo principalmente o personagem principal: Kafka. Descobrimos que ele tem uma amiga de infância, Mina Ashiro, que entrou na “Tropa de Defesa contra os Kaiju”, e é uma das maiores defensoras do Japão. Descobrimos também que ambos sonhavam em se tornar defensores, porém por algum motivo, Kafka não conseguiu se tornar um. O autor com essa decisão de roteiro vai adicionando, de modo muito leve, uma profundidade ao personagem. Foi inteligente não utilizar um grande “Flashback” imediatamente; ir apresentando as informações aos poucos faz com que os leitores criem, lentamente, uma expectativa. Nesse caso específico, se cria uma expectativa para entender a relação entre o protagonista Kafka e Mina Ashiro, além de preparar o terreno para uma série que está por vir.
Após apresentar rapidamente esse elemento, o desenvolvimento continua com a apresentação de um novo personagem: Reno Ichikawa, de 18 anos. Nesse momento começamos a ver um “pequeno confronto geracional”, entre o jovem que quer utilizar esse emprego como um degrau para alcançar uma vaga na equipe de defensa; e o protagonista que por ter já se acostumado com a sua condição de simples trabalhador, aceitou que não se tornará um defensor. Todos esses elementos são apresentados com várias cenas cômicas. Unir ação com comédia que é uma caracteristica contínua nos primeiros três capítulos de Kaiju 8. Em nenhum momento a série parece pesada, te dá realmente a sensação de ler um mangá que poderia estar na Shonen Jump.
Os dois personagens vão conversando sobre essa temática (Sobre o “sonho” de se tornar um defensor), enquanto trabalham em limpar as tripas de mais um Kaiju. Tudo muda quando, do nada, uma dessas criaturas ataca Reno Ichikawa, e o protagonista Kafka decide defendê-lo, disposto a sacrificar a sua própria vida para salvar o jovem Reno. É muito interessante como o autor construiu essa semana, adicionando vários Flashbacks que dão uma intensidade dramática maior para o combate, que no geral, é bem simples – Se não fosse pelos Flashbacks seria totalmente esquecível. Mas sobre o que foram esses “Flashbacks” dessa vez? Bem, lembra do “Flashback” apresentado antes, no qual ele vê na TV que a sua melhor amiga de infância se tornou uma defensora, fazendo-o se lembrar da promessa que fez para ela?
O autor dessa vez o desenvolve ainda mais esse passado do protagonista. Enquanto Kafka arrisca sua vida, ele vai lembrando de como prometeu proteger todo mundo dos Kaijus, e ainda mais, ele vai lembrando, de todas as vezes que falhou no teste de admissão para se tornar um defensor. Por isso foi tão importante apresentar antes já a relação desses dois personagens e como o protagonista sofre por não ter conseguido se tornar um herói, pois se não fosse apresentado, pareceria ao leitor uma informação “jogada do nada”. Como já sabemos que de modo superficial o “Background” do personagem, quando o autor decidiu desenvolvê-lo em um momento extremamente dramático, soou tudo natural e interessante. É importante dizer que obviamente essa estratégia não é revolucionária, muito pelo contrário, é a base de uma construção de história coesa, porém, que muitos autores ignorem e acabam criando histórias vazias e caóticas.
A cena termina com a aparição justamente da sua amiga de infância que salva ambos, Rena e Kafka, que acabam mesmo assim no hospital. Não vemos uma interação entre Kafka e Mina Ashiro. No hospital, Kafka promete que vai tentar entrar no time dos defensores mais uma vez. Nesse momento temos um grande Plotwist: Uma criatura “verminoide” invade o Hospital e infecta Kafka, transformando-o imediatamente em um monstro. Nesse momento entendemos o motivo pelo qual o protagonista tem o nome do famoso autor de Metamorfose (que infelizmente é lembrando somente por esse conto, mesmo tendo outros contos e livros tão geniais quanto). O capítulo termina com esse “Cliffhanger”, que sinceramente não me agradou muito, principalmente por ser uma referência já batida e exaustiva ao conto. Mesmo assim, terminei a leitura gostando muito do primeiro capítulo.
Eu devo realizar algumas críticas a certos desenvolvimentos de personagem: Enquanto Kafka, por exemplo, me despertou curiosidade, Reno Ichikawa não me transmitiu nada demais. É um personagem totalmente vazio que serviu somente para fazer o roteiro seguir em frente – Porém, sabemos que é um personagem importante, por isso terminei o capítulo esperando nos próximos capítulos um melhor desenvolvimento deste personagem.
A arte da série também me agradou bastante nesse primeiro capítulo: Não é espetacular, mas o autor tem uma arte bem limpa e bem detalhada, que deixa as cenas bem fáceis de serem lidas. Os quadros e balões são bem organizados e tanto o tradutor da Gravity Scans quanto o editor, conseguiram deixar a versão brasileira com uma qualidade similar da versão original: Eu sempre digo que para conseguir aproveitar bem uma obra, temos que ter um autor que sabe organizar bem os balões e quadros, e também uma Scan que no momento da tradução, consiga manter essa qualidade e boa organização. Isto é essencial para que o leitor tenha uma leitura extremamente fluída e não caótica. A Gravity Scans conseguiu entregar um ótimo trabalho.
O que me deixa surpreso é que todo peso existencial que o personagem sentia ao longo do primeiro capítulo acabou sendo perdido. Não era algo estilo Oyasumo Punpun, mas para uma obra Shounen era um bom desenvolvimento. Eu não estou brincando quando digo que o primeiro capítulo de Kaiju 8, em comparação ao segundo, parece ser de um outro mangá. Não parece ser a mesma obra, é como tivessem mudado o autor. E talvez o que mais me deixou triste é que todo o arco dos “lixeiros de Kaiju” foi esquecido, foi jogado no lixo. Era um dos elementos mais interessantes da série.
Contudo, o segundo capítulo ainda tem elementos positivos: A comédia aumenta de intensidade, o que resulta em um capítulo bem divertido de se ler. O autor tem claramente um bom “timing” para a comédia, e consegue criar cenas bem engraçadas e dinâmica, que ajudam a série a se tornar uma leitura agradável. É justamente por isso que o segundo capítulo, mesmo com defeitos mais evidentes, ainda tem seus pontos positivos. E nesse capítulo também temos algo muito interessante, uma página colorida no meio do capítulo, para intensificar uma cena especifica. É algo muito inteligente de se fazer e mais autores na Jump Plus deveriam copiar essa estratégia.
No terceiro capítulo, vemos um salto temporal e o surgimento de uma solução praticamente “do nada” para a problemática da simbiose que Kafka está sofrendo. Eu me senti totalmente desconectado com todos os personagens da série nesse capítulo, por causa do descaso que tivemos em relação ao desenvolvimento de Kafa e Reno. E a nova personagem apresentada no terceiro capítulo também não é interessante o suficiente para compensar desse descaso. Deixar para o lado o elemento que deixava a série mais única, também deu a sensação, nos capítulos seguintes que eu estava lendo uma série generica, sem nada de especial – É aquela coisa, o roteiro de Kaiju 8 era bem construído e tinha um elemento diferenciado, os limpadores, mas outros elementos eram reutilizados de outras séries (como toda a questão dos defensores). Quando o autor retirou o elemento de diferenciação, deu a sensação que eu estava lendo um mangá já visto.
Eu acho que de certo modo entendi o motivo pelo qual os editores não aceitaram Kaiju 8 na Weekly Shonen Jump, se o primeiro capítulo é muito bom, os dois seguintes tem uma qualidade muito inferior. Porém, o autor tem potencial e eu acredito que podemos ver da sua parte um desenvolvimento de personagens interessante. Não podemos esquecer que o primeiro capítulo foi bem construído. Recomendo mesmo dar uma lida no mangá, assim inclusive você forma a tua própria opinião.
Pudemos ver que a série tem várias qualidades e se o autor dar uma respirada e voltar a desenvolver a série com calma, utilizando as técnicas de escritura do primeiro capítulo, Kaiju 8 pode se tornar uma grandíssima série. Eu vou continuar acompanhando essa série, justamente por esse ótimo primeiro capítulo e pelo ótimo potencial que a série tem. E se você tiver gostado do primeiro capítulo, como eu, recomendo realmente continuar seguindo a série para ver se o autor se recupera. Eu acredito que mesmo com os erros do segundo e terceiro capítulo, podemos estar vendo o nascimento de um novo grande sucesso da Shueisha. A única coisa que Naoya Matsumoto precisa fazer é respirar e recuperar os pontos positivos do primeiro capítulo.
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Aniversariante do dia: EYESHIELD 21
Lançada em 22 de Julho de 2003, na Edição #34, Eyeshield 21 é um clássico dos mangás de esporte e conseguiu conquistar tanto o público da Shonen Jump quanto o mundo inteiro. Durou 37 volumes.
Quem já leu esse fantástico mangá de esporte? pic.twitter.com/RCLFhp1iDc
— Leonardo Nicolin (@AnyoneNico) July 22, 2020