O mais novo mangá de exorcismo.
Demorei, mas chegou o momento de avaliar o segundo mangá da leva de março da Weekly Shonen Jump: Mês passado escrevi o Vale a Pena Ler de Shinrin Ouja Moriking, e essa semana irei escrever de Bone Collection, me baseando principalmente nos sete primeiros capítulos da série (mesmo que essa análise também, indiretamente, tenha validade para todos os seus 12 capítulos lançados até então, pois não vimos tanta mudança na série).
Bone Collection é um mangá de aventura com uma grande quantidade de comédia e cenas de ação. A série também adiciona no seu roteiro um pseudo-romance entre o protagonista e a personagem secundária. A série atualmente tem 12 capítulos lançados e vocês podem ler a série em inglês na Manga Plus. Em português temos também os doze capítulos lançados até agora. Foram traduzidos pela Explore Scans que parece estar fazendo um bom trabalho com a tradução (Como leio a versão em inglês, dei somente uma rápida olhada na versão brasileira).
Diferente dos demais “Vale a Pena Ler”, dessa vez não irei reservar um parágrafo para a “Premissa” da série, pois eu acredito que Bone Collection tenha uma premissa muito simples, que eu posso explicar na introdução da sessão “Roteiro”. Irei dividir a análise em quatro partes então: Roteiro, Arte, Recepção do Público e Conclusão. Lembrando que eu tento ser mais imparcial possível, porém, eu não tenho a verdade absoluta em minhas mãos, e você pode ter uma opinião diferente. Sinta-se livre se comentar como você se sentiu lendo a série, para assim pudermos trocar opiniões.
Roteiro
Bone Collection conta a história de um exorcista sem habilidade alguma, que conseguiu esse emprego por nepotismo (É filho de um grande exorcista). A sua vida medíocre continuava a mesma: Ia para a escola, tentava salvar seus colegas de demônios e voltava para casa. Um dia voltando para a casa acabou se encontrando com uma estranha garota que caiu dos céus – Inicialmente o protagonista não repara que essa garota é um demônio, mas depois repara, mas não decide “matá-la”, muito pelo contrário, decide ajudá-la a tornar o seu sonho real: Se tornar um ser humano. Assim começa a divertida aventura desse “casal” improvável.
O primeiro capítulo da série, por mais que seja eficiente em apresentar a temática da série, não consegue transmitir muito emoção. Primeiro, quando vi pela milésima vez a temática de exorcismo, uma sensação de “preguiça” me dominou – Era inevitável o comentário que me veio em mente: “De novo ?!?”. Os editores lançam continuamente séries que gira em torno do exorcismo, e sejamos sinceros, chegamos já na saturação: É o momento de apostar em novas temáticas. Quem sabe a volta dos ninjas ou samurais não seja uma boa ideia.
E quando uma série decide se ambientar em um universo já explorado, para dar certo o autor deve optar por duas estradas: Revolucionar esse gênero com uma abordagem totalmente diferente OU apresenta o feijão com arroz, porém sabendo desenvolver muito bem os elementos que compõe esse feijão com arroz. Se fosse para utilizar a linguagem culinária, o autor deve saber temperar bem a comida.
E como funciona temperar uma série bem básica? Criando um protagonista muito carismático, cenas de lutas bem desenvolvidas e muito bem desenhadas e criando personagens que tragam uma diversificação no dinamismo da série. É um trabalho que pouquíssimos autores conseguiram: Black Clover, Kimetsu no Yaiba e Boku no Hero Academia são alguns dos exemplos. Já outros autores, como a criadora de Jujutsu Kaisen, optaram por viajar nesse universo clichê. Vimos justamente em Jujutsu Kaisen, a autora adicionando constantemente surpresas aos leitores, como a morte de personagens extremamente importantes já nos primeiros capítulos.
Bone Collection, no primeiro capítulo e também nos capítulos seguintes não consegue dar esse tempero que deixa os leitores encantados pelo feijão com arroz apresentado, muito pelo contrário, a série soa sem sal e sem pimenta. O protagonista talvez seja um dos elementos que mais funciona na série, pois é realmente simpático e suas expressões são divertidas, porém, os demais personagens não são carismáticos. A narração também não é tão atraente, os casos que vemos o exorcista resolvendo não são interessantes o suficiente para criar uma tensão ao leitor. É importante dizer que a série não te dá um gosto amargo, simplesmente não tem gosto algum.
Por exemplo, entre o quarto e sétimo capítulo da série, vemos um mini-arco, com um vilão e várias cenas de combate. Eu não digo que são ruins essas cenas, mas são todas bem simples. De certo modo me lembram um pouco os mangás da Rumiko Takahashi, autor de Ramna 1/2 e Kyoukai no Rinne. A diferença é que a Rumiko é uma mestre em criar mangás leves que misturam comédia e ação, Jun Kirarazaka é ainda muito inexperiente. O resultado são cenas sem emoção alguma, no qual vemos o herói utilizando seus golpes com a espada contra o vilão, mas sem ter uma cena graficamente realmente bonita.
Talvez o que Bone Collection precisa é justamente de mais tensão na sua história, um roteiro que leve os leitores a se preocuparem realmente pelos personagens que circundam o mangá. Atualmente nada realmente parece me preocupar, nada parece despertar a minha atenção. Falta algo mais dramático para dar intensidade a série. Aliás todo o desenvolvimento de Bone Collection é extremamente leve, sempre com uma grande quantidade de comédia. E é justamente por isso que não gosto de referir a série como um Battle Shounen (Ou a sigla que inventei em 2014, B-Shounen), mas sim como uma leve série de aventura com boas pitadas de ação.
É importante repetir que Bone Collection não é um mangá ruim, eu realmente acho que é uma série agradável, mas que não adiciona nada a revista. Por isso, tu pode inclusive gostar de Bone Collection, pois a série tem elementos positivos: O protagonista é carismático e sua comédia leve, é agradável. A série é boazinha como uma leitura descompromissada e que não te adiciona absolutamente nada. Eu serei sincero que em certos momentos dei uma risadinha com Bone Collection. O autor consegue te entregar algumas cenas bem legais, principalmente no campo da comédia.
Entretanto, você pode até gostar da série, porém é bem mais provável que após ler Bone Collection, você sinta um pequeno vazio, como não tivesse lido nada de substancial, tivesse lido uma obra que não te transmite muitos sentimentos: Nem alegria, nem tristeza, nem desgosto e nem prazer. Uma obra não precisa mudar sua vida, mas quando lemos um mangá esperamos ter sensações fortes: Emoções na cena de luta, tristeza nas cenas tristes, aflito em cenas mais preocupantes. São sentimentos que os autores precisam criar nos leitores. A série de Jun Kirarazaka não consegue criar muito bem essas sensações, mesmo entregando uma obra legalzinha. Talvez o único elemento que funciona bem neste novo mangá da Jump é a comédia, vejo o Kirarazaka com um bom potencial no gênero. Bone Collection precisa realmente de mais identidade e mais intensidade.
Arte
Novamente, Bone Collection também sofre com uma arte realmente normal. O autor adota traços mais simples, que em algumas séries mais reflexivas funcionam muito bem, porém em um mangá que se propõe a criar cenas de ação, se tornam realmente decepcionantes. O autor não consegue passar um senso de grandiosidade em várias cenas que compõe a série. Tudo resta, novamente, sem intensidade. Você lê o quatro e vai para o sucessivo imediatamente. Não tem uma cena em Bone Collection que você pára para apreciar a arte do autor – ao menos no meu caso, não teve realmente nenhuma cena que aconteceu isto.
Vou dar um pequeno exemplo: O autor de Sesuji wo Pin! to, Takuma Yokota tem uma arte extremamente simples e infantil, porém, nas obras que ele decide criar, essa arte realmente funciona. Talvez em Shuudan não tanto, mas em Sesuji wo Pin! to e suas obras anteriores, que não foram publicadas na Weekly Shonen Jump, eram realmente agradáveis. Isso acontecia, pois o autor utilizava a sua arte simples em obras que combinavam: Não estava tentando criar uma grande aventura Shounen. Jun Kirarazaka tem uma arte agradável, simples (Aliás, simples como o roteiro do mangá), que não está funcionando muito bem na obra.
Recepção do Público:
Então, vamos logo ao ponto: Bone Collection será cancelado, provavelmente muito em breve. É possível que o cancelamento chegue nessa leva de Agosto ou chegue na leva de Outubro ou Novembro, mas será cancelado, é muito improvável que a série sobreviva. Uma série para sobreviver na Weekly Shonen Jump não pode ser simplesmente “mediano”, precisa realmente ter algo a mais. Bone Collection é uma série nota 5, está no meio da estrada para se tornar um sucesso, mas ainda falta muitos elementos para conseguir cativar realmente os leitores da revista, que anseiam por uma obra que seja impactante.
Eu digo que tem realmente poucas pessoas que odeiam Bone Collection, por exemplo, vimos séries com recepções bem mais negativas nos últimos anos, porém, quando o assunto é possibilidade de sobrevivência, seja uma série ruim ou uma série mediana, na Weekly Shonen Jump, ambas terminam canceladas igualmente. Talvez a segunda tenha uma venda melhor, mas nada que mude o seu destino: O cancelamento.
Então, se você quiser ler Bone Collection, deve ir sabendo que não verás uma série que irá durar muitos volumes, provavelmente será encerrado com dois ou três volumes mesmo. Ainda acho, que porém, a série terá um encerramento bem quadrato. Vejo tranquilamente o autor conseguindo concluir a maioria das pontas da série em 3 ou 4 capítulos, por isso, não acredito que veremos Bone Collection se tornando um cancelamento precoce com um encerramento terrível.
Vale a Pena Ler Bone Collection?
Eu acho que ao longo da análise deu para perceber qual é a tonalidade de Bone Collection e os problemas que circundam essa série, que parece que vai ser cancelada muito em breve. Sabendo deste modo problemas, eu acredito que talvez não vale realmente a pena ler Bone Collection. Se você é uma pessoa que quer conhecer todas as obras da Weekly Shonen Jump, obviamente você deve dar uma chance para Bone Collection. Se você é uma pessoa que gosta de mangás bem levinhos, com uma história boba (não no sentido pejorativo), porém divertida, e não se importa muito se a série é cancelada ou não, não recomendo a leitura de Bone Collection, mas você pode gostar da série mesmo assim. Eu quero deixar claro que a obra não é ruim, somente mediana.
Porém se você procura uma leitura mais completa, que te traga grandes emoções, eu não acredito que Bone Collection seja uma boa escolha. Recomendo procurar novatos de outras revistas ou mangás mais antigos da Weekly Shonen Jump. Bone Collection é uma série mediana, com uma história clichê, porém com um protagonista carismático. É um mangá que apresenta até capítulos divertidos, mas não consegue ir muito além disto. Falta tempero, falta intensidade, falta emoção.
Nota: 4.5 / 10