Mediocridade pura.
Tokyo Shinobi Squad é o quarto e último mangá da leva de Maio/Junho, que nos entregou dois B-Shounen (Sendo um Samurai 8 de Kishimoto) e dois mangás de esportes. Uma escolha interessante e muito equilibrada. Ser o último mangá da leva sempre é muito complicado, pois o público talvez já tenha se apaixonado pelas séries anteriores e não estão realmente dispostos a votar pelo seu mangá, mesmo que tenha uma boa qualidade… Mesmo que tenha uma boa qualidade: É nesse momento que para mim Tokyo Shinobi Squad trava. A série, mesmo tendo um mundo “interessante”, não consegue entregar uma história realmente original ou que desperte curiosidade.
O mangá foi lançado pela WSJ sem grande pretensão e publicidade, já que os holofotes eram centrados em Samurai 8, mas a série, mesmo assim conseguiu se destacar. O detalhe é a série não se destacou bons motivos: Se alguns mangás da leva chamaram atenção por uma história de altíssima qualidade, a maioria só está comentando sobre Tokyo, por causa da sua história xenofóbica. O mangá se tornou um exemplo de série preconceituosa e racista. Deste modo, se destacou por motivos errados, porém, devo dizer uma coisa: O público se prendeu tanto em discutir quanto é moralmente correta a história do primeiro capítulo, se o mangá realmente é xenofóbico, preconceituoso e racista, que esqueceram o motivo principal pelo qual a série não deveria estar na revista: É ruim pra caramba. Tokyo Shinobi Squad teve um primeiro capítulo medíocre, com uma narração sem graça e ainda por cima, que tenta dar uma crítica social “diferente”, mas que se bloqueia na limitação dos dois autores. Sejamos sinceros: Não acrescenta nada a revista.
Porém, dizer frases negativas sobre a série sem apresentar pontos para confirmar meu pensamento, é simplesmente atirar ao céu e dizer que derrubei um avião. Por isso, sem mais delongas, vamos analisar o primeiro capítulo de TSS:
O mangá começa já mostrando sua mensagem principal: A globalização trouxe “criminalidade” e “caos” ao Japão – O rotierista tem como objetivo claro trazer uma critica social interessante, sobre como a humanidade está indo para a estrada errada. É muito comum nas obras Cyberpunk, apresentar uma razão pelo qual o mundo se tornou o “caos” que é: O grande avanço da tecnologia, uma ditadura militar, a ganância das grandes corporações capitalistas. São todas temáticas já tratadas em várias obras do mesmo gênero. O idealizador desta história escolheu a Globalização como a grande culpada. O Japão com o objetivo de alcançar o Standard globais, decidiu se conectar diretamente a China, EUA e Rússia, e esses países só levaram ao Japão: Criminalidade, terroristas, e muito violência. Deste modo, o Japão tão organizada e moralmente correto, sem nenhum problema social grave, se tornou um grande reduto de criminais. É um conceito interessante, se desenvolvido de maneira imparcial e inteligente, sem cair nas vários banalidades populistas que esse tema comporta. Existem pontos negativos e positivos da globalização.
Mas sejamos sinceros: Eu, como cidadão italiano, que vive em um país governado por governadores xenófobos (Matteo Salvini – que fechou os portos, deixando os imigrantes morrerem nos mares, por isso, posso deixar claro que vivo em um país que atualmente está lutando contra a globalização), sinto essa retórica a mais de cinco anos. É repetitiva e muito clichê. É a mesma retórica que conseguiu levar muitos governantes populistas ao poder, e é uma retórica COMUM no Japão, que é um dos países mais racistas e preconceituosos do mundo. E não é por nada que o Japão é um dos países mais odiados da Ásia (Tirando pelo fato de terem invadido, massacrado e estuprado vários povos asiáticos na segunda guerra mundial, utilizando uma retorica ultranacionalista e fascista). O Japão ainda está evoluindo e melhorando como país, esquecendo esse passado obscuro de massacres e racismo, se abrindo tanto no quesito mercado (que vem trazendo grandes frutos econômicos ao Japão – Maldita Globalização -) quanto no quesito social, como a criminalização da pedofilia, que é um conceito muito novo para os japoneses, já que só veio ser criminalizada em 2014. Porém, sua população ainda carrega todos esses preconceitos da sua época “fascista” e da sua época fechada comercialmente aos demais países.
Então, o roteirista trazer a globalização como ponto negativo, não é algo extrememente novo: É algo que se discute já nas aulas de Geografia na quinta série do ensino fundamental. E essa visão extremamente nacionalista e tradicionalista de uma nação, sempre existirá enquanto as pessoas carregaram seus velhos preconceitos e mentes fechadas, não aceitando a diversidade como um ponto positivo. Não é errado mostrar as consequências de uma possível mistura cultural causado por uma gigantesca globalização. Realmente veríamos uma migração em massa que poderia trazer vários problemas sociais, como por exemplo uma possível aumento de criminalidade (PS: não desse jeito exagerado como mostrar a série), por isso para mim o grande problema é de como o roteirista trata essa história, um pensamento extremamente parcial e ideologico, sem mostrar, por exemplos, os lados positivos. É simplesmente uma prédica vazia contra a globalização (que pode mudar nos próximos capítulos, obviamente), comum nessa sociedade que se dividiu em dois extremos políticos e que só sabe glorificar políticos (e acusar os outros de serem marxistas ou fascistas), e que não conseguem discutir certas temáticas com a delicadez que merecem.
Voltando para a história; para combater esse aumento de criminalidade, foram oficializadas organizações compostas da mercenários clandestinos, chamados de Shinobis, que já exisitam no passado, mas eram escondidas / ilegais. Por isso, temos um protagonista extremamente forte e honrado, que está pronto para combater a criminalidade trazida pelos malditos estrangeiros. Do mesmo modo que a crítica social da série não vai além de uma visão superficial, mas tenta se vender como algo de inteligente, a personalidade do protagonista também não vai além de um simples genérico protagonista Shounen. O contra-ponto do homem honrado para combater a criminalidade é muito utilizada. Para piorar, o roteirista não sabe apresentar esses elementos honrados de maneira realmente criativa, continua caindo nas estratégias banais que cercam toda sua obra. Adivinhem como ele decidiu convencer o leitor que o protagonista é realmente honrado? Mostrando que ele trabalha sem aceitar dinheiro. Escolha preguiçosa.
Com o passar das páginas, os dois autores vão apresentando vários outros elementos: Conhecemos o companheiro de aventura do protagonista (que já nas primeiras páginas resta claro que se tornará um membro da gang, mas isso não é exatamente um problema. Existem várias histórias extremamente previsíveis que são interessantes mesmo assim). Conhecemos um pouco mais do vilão, também clichê, desse primeiro capítulo. É nesse momento que para mim, tem a pior cena de todo o capítulo, que de tão ruim, acabou me fazendo cair na gargalhada. A garota sexy decide tocar o cabelo do vilão psicologicamente instável, que se de quando ainda era careca e sofria bullying por isso, e assim, de maneira cruel e irracional, decide matar a garota. Genial, maravilhoso, incrível, um exemplo de um roteiro bem escrito.
Também nessa sequência conhecemos os pergaminhos ninpo, que se bem lidos, podem trazer poderes sobrenaturais aos seus utilizadores. É frustrante, quando um roeirista escolhe uma temática cyberpunk para sua história, e só utiliza no seu primeiro capítulo a magia, ao invés da tecnologia. Demonstra sua incapacidade de criar elementos coesos com a temática da própria série. Aliás, tirando o design dos carros (também extremamente sem criatividade) e a tela touch-screen móvel, os autores não aproveita quase EM NADA as possibilidades de estar criando a história em um futuro distópico. É de uma incapacidade criativa que chega a me surpreender. É como decidir criar uma história Steam-Punk, e utilizar uma versão genérica de um Zepelim, nada mais. Vemos Black Clover, por exemplo, que mesmo tendo vários elementos clichês, conseguiu desde o seu primeiro capítulo, apresentar tantos elementos do seu mundo mágico-medieval. Samurai 8, que mesmo tendo muitos defeitos, em seus primeiras 70 páginas, entrega dez vezes (exageração) mais elementos cyber-punks e criativos, que Tokyo Wonder… Tokyo Shinobi Squad.
Não é um problema juntar Cyberpunk e magia, tem vários mangás que realizaram essa união de maneira bem inteligente, mas qual é o sentido de ambientar a história em um período futuristico, se tu não sabe criar um mundo futuristico realmente interessante? Qual é o sentido de utilizar uma crítica social sobre a globalização, se tu não tem capacidade de desenvolver essa crítica de maneira inteligente, restando no superficial? Qual é o sentido de escolher elementos que tu não tem controle e conhecimento? Nenhum. Deixando claro que esse elemento é uma culpa tanto do roteirista quanto do artista. A história continua de maneira superficial, apresentando outros personagens secundários, também desinteressantes. Tokyo Shinobi Squad é uma leitura dolorosa de tão ruim e chata.
O desenvolvimento continua péssimo até o momento no qual descobrimos que o protagonista é Sasuke e sabe utilizar o Raikiri, no qual, em minha opinião o mangá consegue sair um pouco da sua derradeira mediocridade. Toda a cena de combate que é desenvolvido entre a página de 36 e 51, quase 1/3 do capítulo, no qual também temos a revelação que o protagonista é um Shinobi lendário, que faz parte de uma organização de beneficência, no qual não procure dinheiro ou influência, mas sim ajudar a humanidade com honra. A lógica dos poderes utilizados no combate foram bem casuais, tendo pouca de relação com seus pergaminhos, mas não respeitando uma lei da física ou uma verdadeira lógica, que não fosse um espetáculo visual minimamente interessante. Mas devo assumir que não foi tão ruim quanto todo o desenvolvimento da história, ao menos o desenhista conseguiu entregar quadros dinâmicos e bem desenhados.
Se é para comentar um outro fator positivo do primeiro capítulo é a arte do desenhista; se o roteirista falha miseravelmente em criar um mundo interessante, as páginas coloridas entregues pelo desenhista são de ótima qualidade. Tivemos ao longo da história, principalmente nos momentos de ação, vários quadros também bem desenhados, com vários detalhes (por exemplo, quando os Shinobis invadem o apartamento ou quando o protagonista solta o Kamekameha). É importante deixar claro que a arte também não é das mais únicas que temos na revista, diferente por exemplo de ONE PIECE, Black Clover, Yakusoku no Neverland ou Naruto, que conseguimos reconhecer os autores pela arte. Já Tokyo Shinobi Squad tem um traço muito bonito, limpo e de qualidade, mas que não passa realmente uma personalidade. Mesmo assim, uma bela arte, sempre será um bom positivo.
Tokyo Shinobi Squad é simplesmente um mangá medíocre, como muitos que já surgiram na revista nesses longos anos de vida. A xenofóbia é só um detalhe em um conjunto disfuncional. O protagonista tem uma personalidade comum. A ambientação da série não é desenvolvida (tirando a apresentação nas primeiras páginas). Os cenários tem um design sem graça, que mesmo sendo cyberpunk, em vários momentos parecem ser simplesmente ambietados na atualidade. O combate mesmo sendo o melhor ponto do primeiro capítulo, continua não tendo nada realmente memorável (Eu sinceramente não lembro grande parte das cenas). Sim, este é somente o primeiro capítulo, e o roteirista ainda tem espaço para desenvolver melhor essa idéia. Porém, vendo quanto esse primeiro capítulo é limitado e sem criatividade, acredito que não veremos isto acontecer. Tokyo Shinobi Squad é somente um mangá que vai ser esquecido antes mesmo de ser cancelado, como… como…
Vários mangás do ano passado que nem consigo mais lembrar o nome.
Nota: 4.5