A grandiosa Yamagata.
Depois da “Primeira Impressões de David-Kun”, voltamos para analisar o segundo e último mangá da leva. Lembrando que tanto David-Kun quanto Jimoto Ga Japan estrearam na mesma revista, mas enquanto o primeiro mangá abriu a edição #42 da Weekly Shonen Jump, Jimoto Ga Japan acabou sendo responsável pelo encerramento da revista (e pelo que indica, será sempre o mangá que encerra a revista). Isto pode acabar dificultando a avaliação da popularidade da série através da TOC (será praticamente impossível), mas podemos tentar deduzir a recepção da série utilizando como bases os fóruns japoneses, e obviamente, a qualidade dos capítulos. Por isso, devo sempre fazer aquela famosa pergunta da coluna, “Jimoto Ga Japan entregou um capítulo bom o suficiente?”.
Então, antes de dar uma resposta concreta. Quem é o autor de Jimoto Ga Japan? Seiji Hayashi, por mais que não seja nem um pouco conhecido, conseguiu ganhar essa vaga na Weekly Shonen Jump por merito. O autor lançou previamente um One-Shot de comédia intitulado “Oidemase Yamaguchi” que acabou sendo bem recepcionado. O autor também lançou uma mini-série na Jump Plus, intitulada “Chikyuu Ningen Terra-Chan”, outra comédia que também teve uma boa recepção por parte do público. O sucesso dessas duas obras acabaram abrindo as portas da revista para o autor, que recebe a honra de produzir o mangá que a encerra a revista. Uma regalia que poucos autores tiveram.
Porém, essa não é a única regalia que o autor recebeu por parte dos editores. O seu primeiro capítulo, mesmo estando na última colocação, acabou tendo mais “presentes” que David-Kun, a série além da sua página dupla de estréia, também acabou recebendo uma página colorida individual, que Seiji Hayashi utilizou para já apresentar o protagonista da história, que acaba de chegar em sua nova escola – para imediatamente depois na página dupla, apresentar também o segundo protagonista -. O humor escolhido pelo autor nessa cena é dar aquela falsa sensação de dramaticidade, o famoso “EXAGERO” que pode levar os leitores a cair na risada. É uma técnica muito utilizada por vários autores: Em Ansatsu Kyoushitsu e PSI Kusuo Saiki era uma técnica constante e que pode acabar funcionamento muito bem, principalmente quando você já tem conhecimento dos personagens da história.
Logo após as páginas coloridas, o autor deu continuidade a cena, no qual vemos Japan Hinomoto perseguindo o novo habitante de Tóquio, que se chama ironicamente Tokio Abiko. Depois de duas páginas (quatro se contarmos as duas páginas coloridas inciais) que essa situação se prolungar, Tókio decide reagir e dá um grande soco no rosto do seu perseguidor. Toda cena mantém esse clima extremamente exagerado com cenas que parece que os participantes estão gritando desesperados, é uma escolha de humor muito simples que pode acabar agradando o público de toda a idade. A verdade é que chega a ser hilário ver Tokio Abiko correndo desesperado desse louco que continua perguntando de qual cidade ele vem, piada que com certeza pode acabar tendo mais efeito com quem é japonês.
Depois de entregar essa introdução bem dinâmica, frenética e exagerada, que nos ajuda principalmente a conhecer essa personalidade explosiva do segundo protagonista, Japan Hinomoto. O autor decide continuar utilizando a questão das cidades japoneses para desenvolver a história: Tokio Abiko após se apresentar para toda sua sala, percebe que ninguém conhece sua cidade natal (Yamagata), mesmo sendo famosa por causa das cerejas, deste modo para provar como os cidadãos e sua cidade são fortes e relevantes, ele decide desafiar o mais forte membro da sala, que não está na sala de aula, mas sim no clube de luta da escola. Deste modo, Tokio Abiko decide ir procurar esse “clube” para poder desafiar esse tal estudante, que obviamente, sem nenhuma surpresa, acaba sendo Japan Hinomoto, o garoto que o perseguiu e assediou no início do mangá.
O autor nessa sequência mantém o clima debochado da comédia, porém conta muitas poucas piadas, justamente por estar tentando construir o cenário correto para as piadas que estão a vir – Utilizou a estratégia de poucas piadas, mas bem construídas -. Seiji Hayashi, deste modo, faz justamente o contrário que o autor de David-Kun fez, que preferiu adotar a estratégia de contar várias piadas consecutivas, com muitas dando erradas e algumas dando certo. O problema da estratégia de Seiji Hayashi é que, se a piada, mesmo bem construída, acabe não agradando o público, a série terá tido muitas poucas piadas e o público terá passado várias páginas sem dar uma risada. Já a estratégia do autor David-Kun resulta em vários momentos que o leitor se sente desconfortável por não ter gostado de uma piada (principalmente se for várias seguidas), mas pelo menos, estará rindo de ao menos a cada duas ou três páginas.
Após esse momento de transição, sem grandes piadas, o protagonista Tokio Abiko se encontra novamente com Japan Hinomoto em seu clube de luta – E o autor novamente retorna a utilizar as piadas das regiões japoneses, já que esse tal clube é decorado com várias objetos que remetem a vilas, prefeituras e regiões do país Japonês. Descobrimos logo após que o motivo pelo qual o Japan é tão apaixonado pelos estados não é por nada, enquanto viajava por várias cidades diferentes, ele foi coletando as técnicas de arte marciais de cada uma das 47 de prefeituras do Japão, produzindo assim seu estilo de batalha Todofu-Ken. Novamente, nos mantemos em piadas regionais que acabam sendo muito complicadas de serem entendidas pelos não-ocidentais, mas que podem acabar fazendo até os mais ignorantes em geografia japonesa (como eu) rirem, por causa do modo em qual os personagens se comunicam e o modo no qual essa ideia, criativa, é apresentada ao público leitor.
A explicação do seu estilo de luta acaba não convencendo o protagonista, Tokio Abiko, que desiste de lutar contra Japan Hinomoto, considerando-o simplesmente um “louco otaku da geografia” (Lembrando que Otaku no Japão é um modo pejorativo para se referir a qualquer pessoa extremamente fanática por algo). Porém, ao sair do clube, Tokio acaba se deparando com um bombadão racista xenofobo de Tóquio que odeia todos aqueles que vem de fora da cidade, principalmente se essa pessoa vem do interior de Yamagata, cidade natal do protagonista desta história. Imediatamente começa uma luta entre os dois personagens, o protagonsita e o recém apresentado vilão da história (que aliás é desenhado como fosse um personagem dos anos 80, uma piada interessante por parte do autor). O problema é que o valentão acaba chamando também chamando seus colegas, e juntos vão empancando o nosso herói, que pouco a pouco vai perdendo a consciência.
Quando a situação parecia estar totalmente perdida, reaparece Japan Hinomoto, que ataca o vilão e deixa claro que ninguém deve descriminar as pessoas por causa da sua região. E para provar quanto Yamagata é um local maravilhoso, Japan começa utilizar em seus ataques as habilidades que ele aprendeu naquela região. A primeira é uma dança local baseada em uma música também local, intitulada “Hanagasa Ondo” – Outra piada interna -. Essa habilidade obriga as pessoas a dançarem essa “famosa canção” de Yamagata, que representa justamente a tradição em dança folclorica da região Yagamata. Logo após, o autor utiliza, para mim, a melhor piada do capítulo: Japan Hinomoto utiliza as forças do mais famoso autor de Yamagata, Yoshihiro Togashi-Sensei, para dar um golpe vindo de Yu Yu Hakusho no vilão, que acaba caindo no chão derrotado. Por fim, para terminar Japan Hinomoto se vira para o protagonista Tokio Akibo, mostrando seus musculos e uma cicatriz, que lembra a forma do Japão – uma segunda piada que acabou também me agradando -. Grato e inspirado pela grande demostração de força de Hinomoto, o nosso protagonista perde para entrar no seu clube, terminando assim o primeiro capítulo da história, que promete nos apresentar várias outras piadas regionais que podem ser hilárias.
Antes de tudo, é muito importante entender que muitas das piadas de Jimoto Ga Japan não são direcionadas à nós, leitores brasileiros – Como comentei no Podcast sobre Gintama, que recomendo todo mundo ouvir (está sendo um sucesso de audiência) -. O humor é um fator muito regional, crescemos com um determinado humor e desenvolvemos, muitas vezes, o nosso gosto a piadas e a expressões humoristicas baseado nessas obras que previamente já consumimos, muitas vezes por toda nossa infância e adolescencia, que também é uma fase no qual acabamos sendo modificados pelos elementos externos. Deste modo, é muito comum não conseguirmos rir de muitas piadas vindas do Japão, que tem um estilo de humor totalmente diferente do nosso. Esse fator é intensificado pela diferença de conhecimento de um japonês e de um ocidental – Piadas relacionadas a região ou aspectos históricos japonês (como no caso de Isobe Isobee Monogatari) acabam soando forçadas e sem sentido para nós, ocidentais (principalmente nós latinos, que somos ainda mais diferente culturamente que os ocidentais europeus).
Deste modo, Jimoto ga Japan acaba entregando um primeiro capítulo interessante, dinâmico, com várias piadas colocadas em momentos corretos e com personagens que passam longe de ser antipáticos. Eu serei sincero, por todo o capítulo eu consegui dar risada somente de duas piadas, justamente aquelas que eu tenha mais familiaridade (Togashi e Mapa do Japão), mas ao mesmo tempo devo assumir que mesmo o mangá não me fazendo rir (que seria o proposito de uma comédia), o capítulo acabou soando para mim mais interessante que o capítulo de David-Kun, justamente por ser mais didático e poder acrescentar algo ao meu conhecimento. Eu anteriormente, no podcast, disse que tinha gostado mais de David-Kun, porém analisando mais detalhadamente a obra de Jimoto Ga Japan, acabei mudando de ideia, pois vi um espaço nessa série para eu aprender de maneira humorada e descontraída mais sobre as regiões japoneses, sua cultura e seus costumes, e isso não serve somente para mim, este mangá pode acabar educando também tantos outras pessoas, inclusive próprios japoneses. Eu não estou dizendo que Jimoto Ga Japan seja uma obra extremamente educativa, é uma comédia muito boba, mas que porém, te dá a oportunidade de aprender ao menos algo.
As suas chances de sucesso não podem ser calculadas utilizando somente quanto eu gostei da série. Eu me baseando somente em meu senso de humor, eu não votaria na série, PORÉM, eu não sou o público alvo da história: não estou japonês e nem comprador da Weekly Shonen Jump (eu era antigamente, mas atualmente não sou mais), para analisar ser uma série tem possibilidade de se tornar um sucesso, não posso utilizar somente o meu ponto de vista, devo utilizar o ponto de vista daqueles que realmente contam, os japoneses, e acredito que essa série tem chance de ser um sucesso, SE, unicamente SE, os japoneses tiverem achado interessante essas piadas com as suas regiões – É importante lembrar que piadas sobre as regiões do seu próprio país acabam funciona na maioria dos países modernos: Estados Unidos, Brasil, Itália, Inglaterra, França e etc -. É muito simples, toda a série se baseia nesse humor, e caso esse humor seja o que público quer e goste, eu acredito que sim, veremos Jimoto ga Japan dando certo, porém se essas piadas não forem algo funcione no Japão (talvez eles não gostem de piadas sobre diferenças regionais), a série acabará sendo cancelado com dois ou três volumes – Eu não acredito na possibilidade de um cancelamento precoce -.
NOTA: 7.5 / 10