Mogli?
Como a análise já atrasou um pouco, utilizarei esse espaço para também comentar sobre a possibilidade da série ter uma boa classificação na próxima semana. Deste modo, indo além do “comum” comentário de primeiras impressões sobre o primeiro capítulo da série. E acredito que seja necessário no caso de BOZEBEATS ir além, pois a série apresenta vários conceitos interessante e que podem acabar dando muito certo na WSJ, mas que ao mesmo tempo, dependendo da familiaridade do público com outras revistas e animes, pode acabar não dando certo.
Para sabermos bem se a série irá conseguir dar certo, devemos começar com a situação atual da revista: Os editores se encontram em uma situação relativamente complicada. A revista é cheia de novos sucessos, e mesmo assim o público quer ver novas séries estreando, entretanto, não séries qualquer, mas mangás de qualidade que sejam no MINIMO, tão interessantes quanto aqueles que já estão na revista. BOZEBEATS que é escrito e desenhado por um autor novato, estreia com um peso muito grande na coluna (peso que pode até ser avaliado pelo fato da nova leva não ter dado certo, mas que continua sendo muito pesado).
Autores novatos tendem a ter mais dificuldade em lançar séries de sucesso, pois não conhecem muito bem como funciona a revista, não são acostumado ao ritmo pesado de uma série semanal, ainda estão aprendendo a guiar uma história e principalmente carregam no roteiro, vários vícios dos autores novatos, como por exemplo: exagerar no drama emocional no primeiro capítulo, apresentar muitos personagens e elementos de uma vez só, colocar cenas de ação em qualquer lugar, e muitos outros defeitos que vários autores novatos (vide Golem Hearts) cometeram. Por isso, querendo ou não, Ryouji Hirano tinha vários elementos que indicavam que BOZEBEATS poderia ser o primeiro fracasso da sua carreira. Será que o primeiro capítulo realmente dá sinal vermelho pra série?
O mangá começa com uma página colorida realmente muito bonita, que deve ter deixado os amantes de “arte” de boca aberta (tem um grupo de leitores, não muito expressivo, que prioriza sempre a arte do mangá ao invés da história e com certeza Bozebeats conquistou este público). Em minha opinião, a página foi muito bem articulada, mesmo que não tenha sido perfeita. O autor coloriu digitalmente muito bem cada elemento, deixando a cena clara por causa da “luz” que emane do dragão, e ao mesmo tempo dá a sensação ao leitor que a batalha acontece de noite (a noite tende a dar uma sensação de seriedade). A expressão do personagem e o quadro inferior que mostra uma explosão no centro urbano também ajudam a dar a sensação de combate intenso ao leitor: assim mesmo não entendendo o contexto, o leitor sabe que pelo menos aquela luta será um momento importante para o mangá.
É importante que essa página colorida tenha sido bem articulada, pois ela serve como antítese do próprio primeiro capítulo e dar uma prévia ao leitor de como a série poderá se tornar épica e dramática, mesmo que os primeiros capítulos não sejam. É uma estratégia inteligente, utilizada por algumas séries, mais recentemente na WSJ, tivemos Kagamigami (que tem uma página colorida inicial extremamente melancólica).
O mangá inicia realmente com a sua primeira página em preto e branco, no qual apresenta imediatamente o protagonista da história e dá uma degustação sobre o seu passado. O autor decide adicionar já um elemento dramático que pode ser desenvolvido no futuro, um possível personagem que tem uma ligação emocional com a origem do protagonista: a cena passa em branco e não acaba sendo problemática. Ao mesmo tempo, o autor adiciona uma segunda cena que será já importante no primeiro capítulo, a relação entre o lobo e Mogli, quis dizer, Madoka. Essa seguna cena (página) já é muito mais importante e não soa nem um pouco dramática, pois serve como base para o desenvolvimento do primeiro capítulo.
Logo após tivemos a introdução do protagonista do One-Shot da série, o personagem que servirá de “mestre” para o protagonista, outra cena muito rápida, que tem como um objetivo começar a criar uma suspense sobre a personalidade desse “monge”. Os primeiros quadros que não mostram bem o rosto do personagem, o mistério em relação a mala, o respeito no qual o personagem tem pela forca encontrada na floresta e o modo calmo que o mesmo “conversa” com o urso ajudam a criar uma imagem respeitosa e misteriosa, que obviamente será “quebrada” assim que o personagem sacar as suas armas para combater o vilão do primeiro capítulo.
Esse desenvolvimento continuará nas páginas seguintes, contudo será simultâneo ao desenvolvimento do protagonista, já que depois da cena do urso, aparece o Madoka, o menino lobo. A sua aparição é interessante, mas em nenhum momento chocante. A verdade é que já estamos acostumados com esta narrativa. Temos livros, histórias mitologicas, desenhos animados, mangás, filmes live-action de drama, terror, comédia (todos os estilos possíveis), peças teatrais que já trataram do tema: “menino abandonado na floresta que é criado por um animal selvagem”. Se analisarmos bem, a própria história da construção de Roma, tem como base, dois irmãos que são criados por lobos. “O Livro da Selva” de Rudyard Kipling é uma obra que tem como protagonista um menino criado por lobos.
Mesmo não chocando a aparição do personagem e nem as cenas seguintes no qual o conhecemos mais – já que como eu disse anteriormente, todos esses elementos já foram visto no passado -, no meu ponto de vista, o autor a partir da aparição de Madoka consegue realizar um trabalho competente, guiando a história em um sistema triangular, no qual desenvolve três elementos simultaneamente: mostra mais do protagonista (o seu passado, personalidade selvagem e sua relação com a natureza), continua a desenvolver o mestre (a cena no qual ele se revela vegetariano é genial), e por fim, o autor desenvolveu a relação entre os dois personagens, importante para o clímax do capítulo, que é quando o monstro aparece.
Quando o espectro aparece, todo o desenvolvimento que durou cerca de 25 páginas, culmina em um combatimento dramático. O mestre revela sua verdadeira personalidade e força, retirando uma grande metralhadora. E juntamente com o lobo (que irá morrer, mas isso era óbvio) o protagonista começa a lutar contra essa criatura. O combatimento, como eu disse anteriormente é muito dramático e o autor utiliza de várias cenas metafóricas para deixar toda a batalha mais emocional. Uma estratégia que não me incomodou, mas pode soar um pouco exagerado para algumas pessoas. Exagerar na dramaticidade e emocional no primeiro capítulo é um erro muito comum dos autores. O drama só funciona quando os leitores criaram uma ligação com os personagens, o que é muito incomum em um primeiro capítulo.
Talvez o que ajudou toda essa dramaticidade não ter ficado muito pesada e insuportável, como acontece em alguns mangás são dois elementos: o primeiro é a arte fantástica do autor. Todo o primeiro capítulo entregou quadros belíssimos e esse combatimento não foi diferente. O design do espectro, mesmo não sendo original, acaba sendo muito bonito e convence o leitor. O segundo elemento foi o tipo de dramaticidade utilizada: o autor não apostou em um drama meloso ou muito triste, muito pelo contrário, apostou em uma reação mágica do protagonista, que entrou em um estado de raiva e “shock”, irreal, mas com a suspensão de descrença que criamos ao ler um mangá do gênero, se torna totalmente natural e aceitável.
Após um combatimento exagerado, mas que na minha experiência pessoal com a série acabou não soando pesado, o autor encerra o mangá, mostrando o respeito do protagonista a sua “mãe” e dando um pequeno time-skip que mostra o protagonista um pouco mais velho, no tempo atual (no qual o mangá será ambientado). Estratégia que poderia ser utilizada nas primeiras páginas do segundo capítulo ou nas últimas páginas do primeiro capítulo, o autor decidiu optar pela segunda opção.
BOZEBEATS em si, não apresentou um primeiro capítulo inovador ou com um roteiro de tirar o chapéu, como aconteceu com Yakusoku no Neverland, porém, apresentou um roteiro coeso, com uma arte espetacular e com personagens carismáticos. A situação da série é muito complicada, e além disso a série pega muitos elementos das séries de exorcismo, não adicionando nada de muito novo (nem mesmo o fato dos exorcistas utilizarem armas modernas é novo, mesmo que seja vendido como um diferencial da série). Para mim, o fato que o autor conseguiu mostrar uma competência em escrever uma história boa, sem ter muitos erros, vai ser um grande diferencial para a sobrevivência da série, pois não criará uma rejeição imediata por parte dos leitores, como aconteceu mais recentemente com Golem Hearts. BOZEBEATS apresentou um primeiro capítulo de qualidade.
A sua sobrevivência dependerá da qualidade dos capítulos seguintes, quanto os leitores estão saturados de séries de exorcista (isso dependerá muito de quanto os leitores lêem outras revistas que tratam do tema. Certamente os leitores da Jump SQ não devem ter gostado tanto assim de BOZEBEATS, por exemplo). Querendo ou não, a série tem seus pontos positivos, falta somente elementos de originalidade, como comentei ao longo de toda a análise: os temas tratados pelo autor já foram exaustivamente desenvolvido por outras séries. Por isso, mesmo o autor sendo muito competente, para sobreviver ele precisa atrair os votos dos leitores, e será que a sua arte e uma história bem construída (porém, não original) será o suficiente? Pode ser, já que estamos em uma revista no qual parte do público é muito jovem e sem uma opinião crítica alta, mas também pode ser que o que a série apresentou não seja o suficiente nem para este público.
Por isso acredito que possa acontecer duas coisas com a série: Os primeiros capítulos ranqueados serão colocados em posições intermediárias, com no máximo um capítulo entre os cinco primeiros colocados (ou ao invés de colocar no TOP 5, deem uma página colorida), para que após o seu décimo primeiro ou décimo segundo capítulo, a série seja classificada na sua posição real, que pode ser entre os primeiros, zona intermediárias ou últimos colocados. Ou a série irá ser classificada entre os últimos, não recebendo imediatamente uma classificação ruim, e os editores esperarão até o décimo ou décimo primeiro capítulo para decidir se realmente irão classificar mal a série. Eu não acredito em uma recepção positiva imediata por parte da série, mas posso estar errado. BOZEBEATS por sua falta de originalidade está pendendo ao cancelamento, mas sua arte de altíssima qualidade e seu roteiro coeso e bem articulado, pode transformar-la em um sucesso.