Problemas Estruturais
Se torna negativo, quando o autor não consegue combinar essa personalidade clichê com um roteiro interessante, bem desenvolvido e único, e talvez esse seja o principal problema de Golem Hearts nos três primeiros capítulos: são vários personagens clichês em um universo mal desenvolvido, pelo motivos já explicado no quarto paragrafo. Usamos por exemplo Black Clover, que realmente tem um primeiro capítulo clichê, mas principalmente um protagonista que não traz nada de novo. O que realmente eu vi como positivo na série assim que li o primeiro capítulo? O seu universo e arte, esses dois elementos me atraíram tanto que me estimularam a continuar a série, mesmo vendo tantos elementos clichês que irritaram. Black Clover era uma série com problemas, mas com muito potencial. Golem Hearts até tem potencial, mas não consegue demonstrar isto nos três primeiros capítulos.
Este dois problemas reunidos comporta em um suicídio não-consciente por parte do autor. Acreditando que seus personagens são carismáticos e que a história está sendo muito bem desenvolvidas, o autor aposta na estratégia do “protagonista que é odiado por todos”, e acaba, através a sua bondade, comprovando que merece ser amado. Estratégia que por exemplo, Kishimoto utilizou em TODA, mas realmente TODA a série de Naruto, foi um desenvolvimento que começou do primeiro capítulo e só foi ser encerrado quando Naruto se tornou Hokage. O autor de Golem Hearts utilizou o mesmo arco narrativo em 50 páginas – o que poderia até mesmo funcionar, se a série não tivesse os dois defeitos que já citei anteriormente -. O que acontece, como eu disse é um suicídio não-consciente. O autor aposta em cenas extremamente dramáticas, que acabam soando bregas, ao invés de emocionante, pois o público simplesmente não tem simpatia o suficiente pelos personagens. Eu não me importei nem um pouco que Noah e seu criador conseguiu provar que são boas pessoas a população, e acredito que a grande maioria dos leitores realmente não se importaram.
O segundo capítulo da série intensifica esse problema, pois praticamente o autor dobra a intensidade do drama, desnecessariamente. Faz com que Noah seja capturado por um membro do governo, fazendo que a integridade do seu criador seja colocado a prova (com a cena de o criador, caso entregue Noah, vai poder trabalhar para o governo militarista). O motivo pelo qual o autor criou toda essa cena era para demonstrar que o criador realmente amava seu “filho”, que nunca vai trabalhar para um governo militar que suprime sua população, mesmo que isso resulte em sua morte. Por isso, mostrar como o personagem é integro e fiel as suas ideologias. Uma estratégia
interessante, SE simplesmente o público se importasse realmente com o personagem. O resultado acaba sendo um drama que ao invés de soar emocionante, acaba entediando o leitor.
Logo após o personagem acaba sendo quase morto pelo militar que sequestrou Noah, acendendo as chamas internas do protagonista e liberando o seu lado mais agressivo. Outro elemento normal de um B-Shounen, que porém, por não ser bem desenvolvido e nem ter um apelo visual bonito, acaba não chocando ninguém (o apelo visual nessas cenas são de extrema importância). Talvez um terceiro grande problema da série é a ausência de uma arte realmente surpreendente. O autor entrega cenas de ação que não conseguem te deslumbrar. Por mais que não sejam mal desenhadas, são bem contidas, e com um roteiro que não ajude a deixa-las mais emocionante, se tornam morna, como o mangá como um todo. Os cenários que compõe cada quadro não acabam surpreendendo, o uso de cores é “ok” e o traço dos personagens também não são nada demais.
Para encerrar com a cereja estragada no topo do bolo, o autor não teve a coragem de matar o cientista (talvez tenha planos sensatos para o personagem, por isso seja válida sua sobrevivência), o que acabou diminuindo muito o drama do segundo capítulo, mas pelo menos serviu para que a série possa pegar um novo rumo. Para mim, por exemplo se matasse o cientista e logo após aparecesse a nova personagem explicando quem ela é, e como em homenagem e respeito
ao seu amigo, iria ajudar Noah (mesmo ela não querendo fazer isto, deste modo mantendo sua “personalidade” de durona), seria muito mais interessante, e evitaria o drama de “estou preste a me separar do meu pai”, que foi desnecessário e muito entediante (por motivos já explicados anteriormente). Contudo, mesmo com essa mudança, a série continuaria extremamente dramática e com vários problemas já citados anteriormente. Talvez mesmo com a morte, o capítulo continuaria soando desnecessariamente dramática (talvez até mais).
Golem Hearts tem um grandíssimo problema estrutural, que não pode ser resolvido mudando algumas cenas. Em muitas outras análises digo como eu acreditaria que “X” cena poderia ser melhorada, realçando a qualidade de um mangá, com Golem Hearts o problema é tão profundo que deveriam ser mudadas tantas coisas, uma simples alteração de duas ou três cenas, não seria o suficiente. Pelo menos o terceiro capítulo prometeu uma mudança completa na narrativa da série, adicionando uma nova personagem e um novo rumo ao protagonista. Para uma série tão morna e com tantos problemas, essa revolução já no terceiro capítulo, é um “fio” de esperança para aqueles que ainda esperam que o mangá se torne um sucesso, algo, que para mim, com a qualidade atual apresentada nos três primeiros capítulos, é quase impossível.