Alunos Rebeldes.
Hoje tivemos a estréia na TOC de um dos mangás dessa leva que chegou para mudar a Shonen Jump. Infelizmente a série não estreou com boas colocações, e o autor já se encontra em grandes apuros, com chances reais de sua série acabar sendo cancelada com menos de 19 capítulos (olha a ironia do destino – podemos dizer que U19 significa Under 19), mas mesmo que os japoneses provavelmente não tenham gostado da obra, não podemos dizer que obrigatoriamente é ruim, existe uma possibilidade, de que nos olhos ocidentais, a obra seja considerada mediana ou boa. Por isso, nessa minha análise, irei ver vários pontos técnicos, e tentar concluir se o primeiro capítulo de U19 entregou um bom produto ou NÃO.
As séries tem três modos principais para iniciar o seu mangá; o primeiro é apresentando o universo atual que a série se encontra (por exemplo, mostrando personagens secundários ou situações que dão uma demonstração do universo), o segundo é apresentando ao leitor unicamente o protagonista (por exemplo, revelando um dado do seu passado), e o terceiro, é mostrando um acontecimento do passado ou uma personalidade que mesmo não sendo a imagem do mundo atual da série, servirá como base para o decorrer do mangá, como são as páginas coloridas de Naruto e ONE PIECE. Existe outras maneiras? Sim, mas essas são as três mais usadas. U19 decidiu iniciar utilizando a primeira estratégia, no caso, utilizou uma situação “revoltante” para dar uma demonstração ao público de como o mundo da série é cruel e opressivo.
A primeira demonstração desse elemento que percorrerá todo o primeiro capítulo da série é quando, o professor obriga a aluna a cortar o cabelo, algo que antigamente era muito comum, tanto no Japão quanto no mundo ocidental. Aliás, vemos nas páginas seguintes que o autor constantemente utiliza de frases e citações famosos dos adultos mais conservadores e rígidos, como objetivo de denunciar como essas frases são ridículas – logicamente o autor utiliza de constantes hipérboles, tanto no discurso escrito quanto no desenho, para escancarar essa “denúncia”. E de certo modo, essa didática que o autor utiliza pode soar até mesmo um pouco irritante para o público mais crescido, contudo, levando em conta o bom número de compradores de doze à dezesseis anos, acredito que a estratégia utilizada seja correta. –
Se não dá, pelas primeiras páginas, criticar a exposição exageradas das regras, por dois motivos (é um elemento que encaixa muito bem na série e que serve para fazer o público mais jovem entender), tenho que criticar imediatamente a escolha preguiçosa de apresentar o universo da série. Muitos mangás, preferem utilizar de vários capítulos para ir apresentando o universo, para assim não sobrecarregar o primeiro capítulo de informações. É possível sobrecarregar o primeiro capítulo de informação de maneira fluída e que não pese na série? Sim, mas U19 nas primeiras páginas não conseguiu isso. O autor utilizou uma estratégia preguiça, e totalmente sem sentido para explicar o mundo; fazer com que o professor explicasse aos alunos os mínimos detalhes do mundo que os circunda, e para logo apresentar o protagonista, fez com que ele parecesse o rebelde sem causa que fosse de contra esse sistema.
Tudo bem, devemos adotar uma suspensão de descrença, mas tudo tem seu limite – Esses garotos que já devem ter quinze ou dezesseis anos de vida, por algum milagre, não sabiam NADA do que o professor falava? Seriamente? Eles vivem em um mundo que as regras devem ser respeitadas ao máximo, e chegam a essa idade não sabendo o minimo sobre as notas? Ah, eles sabem disso, o professor estava simplesmente explicando os leitores. O autor ignorou explicação que o discurso teve nenhum contexto lógico no ambiente que se encontrava – É como o professor parar para explicar aos alunos de dezesseis anos de que se tem que tirar seis para passar de ano. Logicamente, eu não estou lendo U19 com a mesma mentalidade e suspensão de descrença que quando leio Death Note, mas repetindo tudo tem seu limite.
Deste modo, na minha opinião o autor poderia utilizar maneiras mais fluídas de apresentar tal universo, ao invés de ser extremamente didático – essa dialogo relacionado as notas poderia ser discutido de maneira muito mais simples com um dialogo entre o protagonista e seu pai, por exemplo. O autor poderia fazer o professor gritar dizendo que com aquele comportamento o protagonista pegaria um “D” (assim o protagonista responde sobre o seu pai), e no retorno para casa, o seu pai conversa sobre como o mundo mudou, como a educação era agora para todos, e como ele gostaria que seu filho fosse um aluno “A” para assim ter várias vantagens (sem precisar explicar o B e C nesse capítulo, pois se deduziria automaticamente que o “D” era o mais baixo, e o “A” o mais alto). Esse desenvolvimento seria ótimo por dois motivos; o primeiro é que desenvolveria de maneira eficaz a relação do protagonista com sua família, e o segundo motivo é um desenvolvimento bem mais fluído do universo da série.
Mas não, o autor preferiu adotar a estratégia já explicada, e para piorar, quando o protagonista vai dialogar com o seu pai, praticamente repetiu as mesmas informações que o professor disse – sendo que, com dois simples quadrados poderia mostrar, sem algum problema, a comoção do pai em relação ao “Partido Adulto” (por exemplo, mostrando uma publicidade de exaltação do partido na televisão, e depois fazer o pai comentar a publicidade, glorificando a existência do Partido). Mas não, toda a narração desse primeiro capítulo foi extremamente e irritadamente expositiva, o autor não se preocupou em nenhum momento em entregar diálogos que entrassem suavemente nas orelhas dos leitores. A criação do mundo, pode até ter sido bem criativa, e devo assumir, sendo um grande fã de 1984 (que é o meu livro preferido), tenho uma grande simpatia por histórias desse gênero, principalmente se tem como objetivo desconstruir o conceito conservadores que atrasam a nossa sociedade, contudo, o modo em que Kimura Yuuji expõe os elementos que circundam essa sociedade opressiva, é realmente decepcionante.
Entretanto, a série não é somente pontos negativos, e teve várias cenas que achei bem interessante; primeiramente a sua proposta como B-Shounen é única e consegue chamar atenção; realmente me interessei em ver os personagens lutando contra o partido adulto. A relação entre Kudou e Tukino também me pareceu muito promissora, e mesmo entrando nos clichês dos mangás Shonen, acredito ser um clichê bem saudável para a série. E para mim, as últimas páginas foram realmente o melhor momento da série; se quase todos os diálogos foram exageradamente didáticos, a sequência dos testes genético acabaram sendo bem interessantes, principalmente com o “plot twist” que Tukino tem uma grandíssima resistência à vírus, que teve como consequência o transferimento da personagem para uma outra escola.
O primeiro capítulo de U19 tem um grandíssimo problema narrativo que me incomodou muito, como vocês puderam ler na análise, contudo, a série tem seus pontos positivos. A má recepção de U19 pode ser devido a várias razões diferentes; a sua narração didática, o público não conseguindo se simpatizar com o protagonista, o discurso da série também pode não ter agradado os leitores mais conservadores, a história pode não ter agradado. Tem muitos motivos, e acredito que seja necessário, para analisar o mal rendimento da série, pegar em consideração os cinco primeiros capítulos, ao invés de analisar somente o primeiro capítulo, por isso, farei essa análise nas TOCs. Aqui digo o motivo pelo qual eu não gostei do primeiro capítulo, e a razão pelo qual não gostei, para mim é muito clara; as escolhas narrativas do autor.
Nota: 4.5 / 10.