E chegamos ao último mangá dessa leva (mesmo que não seja a minha última primeiras impressões dessa leva, pois ainda tenho que analisar outras três obras), Robot x Laserbeam, que é a nova série do criador de Kuroko no Basket, Tadatoshi Fujimaki. O mangá vem recebendo uma grandíssima publicidade por parte da Shueisha. Os editores aproveitaram o novo filme de Kuroko no Basket para lançar na mesma semana Robot, e ainda por cima, colocaram posters da série (com a frase que coloquei como legenda desse artigo) espalhados por várias localidades do Japão.
Logicamente o retorno de Fujimaki à Shounen Jump, também despertou interesse nos leitores da revista. Kuroko no Basket tinha vários seguidores fanáticos, e estes leitores estavam ansiosos para verem um novo material do autor. E mesmo que muitos estavam torcendo para a sua nova obra fosse mais direcionada ao B-Shounen (como o seu One-Shot do caçador com Arco-Flecha), vê-lo lançando mais um novo mangá de esporte deve ter deixado a maioria muito satisfeito. Mas será que esse primeiro capítulo manterá essa satisfação e conseguirá fazer com que a nova série do autor seja um sucesso?
A obra começa do modo mais clichê possível para um mangá do seu gênero, mas de certo modo adotar essa estratégia é muito funciona. Fujimaki utiliza as primeiras páginas para apresentar o esporte, que será o fio condutor da trama – que no caso de Robot x Laserbeam, estamos falando de um dos esportes mais bem pagos do mundo, o GOLF. Essa estratégia de apresentar o esporte aos leitores nas minhas páginas é para já situar e ao mesmo tempo exaltar o “sport” escolhido para centralizar a obra. Assim o público já começa a criar um pequeno “hype” pelas jogadas que os jogadores poderão realizar já no primeiro capítulo – O Laserbeam de Robot nas últimas páginas foi construído ao longo das páginas.
Após as primeiras três páginas de apresentação do Golf, o autor começa a desenvolver o segundo mais importante elemento de uma obra do gênero, o protagonista. Fujimaki introduz o personagem principal mostrando inicialmente a sua personalidade excêntrica, Roboto Hatohara é um garoto que não consegue demonstrar nenhuma emoção, e por causa das suas expressões apáticas, o personagem constantemente sofre bullying e é excluídos pelos seus companheiros de sala (mas, em nenhum momento essa característica do personagem se tornou um motivo de grande dramaticidade, muito pelo contrário, na grande maioria das vezes o autor a utilizou para dar um pouco de humor para a história, como acontece já nas duas primeiras páginas preta e brancas da série. Aliás, essa cena, com Robot tocando o pandeiro é simplesmente hilária, e deu um fantástico ponta pé inicial na obra.
A personalidade do protagonista também é explicada com palavras; o narrador (que mesmo se comunicando com o público de maneira “pessoal”, não fica claro qual é a sua identidade) diz que Robot é estupidamente honesto, irritantemente metódico, rigoroso, nunca se impressiona e é sempre inexpressivo. Essas características são confirmadas ao longo da página. Em seguida foi apresentando outro personagem importantíssimo, Tomoya Nakata – se de certo modo Robot não entra em um clichê (mesmo não sendo totalmente original), o seu companheiro entra em um gigantesco. Tomoya é claramente aquele amigo que é muito ruim, mas esforçado, e pouco a pouco vai melhorando. Inclusive no primeiro ou segundo torneio deve conseguir ir um pouco longe, mas será eliminado e esnobado (por ser um esporte de pontos corridos, não será eliminado em um confronto direto, logicamente) pelo vilão daquele torneio, e deste modo, Robot tentará se vingar (podendo falhar, para assim ter mais um arco que Robot se esforça para melhorar e superar o vilão, ou pode ganhar mesmo, concluindo esse arco). Mas mesmo que a história caia nesse clichês de mangás de esporte, sejamos sinceros, NÓS GOSTAMOS DESSA PREVISIBILIDADE.
Fujimaki não perdeu tempo, e utilizou toda a sequência de apresentação (que vai dá página 4 até a página 13) desses dois personagens para também introduzir ainda mais sobre o Golf aos leitores do mangá, sem que de nenhum modo fique pesado (mesmo que tenha sido bastante didático), Ao mesmo tempo que explicou algumas regras, o autor também exaltou a obra, para assim soar para os leitores mais emocionante as cenas de golfe que estão a vir – E olha, explicação não se tornou pesado justamente pelas piadas que Fujimaki colocou após “x” número de diálogos. Grande parte das piadas foram baseadas em; comentários sinceros de Robot e as reações de Tomoya – combinação que foi mantida por quase todo o capítulo e deve continuar sendo mantida pelos próximos capítulos, pois é uma interação que une os personagens (fazendo o público vê-los como verdadeiros amigos) ao mesmo tempo que dá uma boa carga dramática que a série, como um mangá B-Shounen precisa.
Assim chegamos a um outro personagem que parece que será muito importante, o universitário Youzan Miura, que está no seu primeiro ano de Golfe, mas já vem se demonstrando um gigantesco talento. Esse personagem deve ser entre 3 à 4 anos mais velhos que Robot e Tomoya, deste modo acredito que veremos o personagem sendo um saudável concorrente de Robot, mesmo assim a sua função ainda está muito em aberto – devo dizer que sua semelhança com certos personagens de Kuroko no Basket me incomoda um pouco – aliás, aproveitando que toquei nesse assunto, devo assumir que a arte de Fujimaki me passou sentimentos mistos; enquanto devo dizer que a leitura do mangá, visualmente, é muito agradável, e tem pouco elementos para serem criticados, quando o assunto é originalidade nos personagens, para quem já leu centenas de capítulos de Kuroko no Basket, esse é um fator que incomoda. Conhecemos autores que conseguem evitar essa sensação de “deja vú” entre um mangá e outro, mas infelizmente Robot x Laserbeam não é um caso. O lado positivo é que com o tempo, tem uma grande possibilidade que esquecemos tal similidade (pois de tanto vê o novo personagem, nos acostumamos).
O momento mais importante do primeiro capítulo chegou justamente após a sequência de apresentação de Miura – Estou falando do momento em que o protagonista tem o seu primeiro contato com o esporte – Em grandes partes dos mangás, de algum modo, o personagem principal consegue fazer algo muito surpreendente, mesmo que não jogue particularmente bem, e em Robot x Laserbeam a história não foi diferente, mas antes que comentamos sobre as grandes jogadas do protagonista neste primeiro capítulo, recapitulamos a problemática que levou Robot a decidir “tentar” joga Golf; o seu amigo Tomoya é ruim demais no esporte, mas continuar tentando a se tornar um bom jogador. Para isso comprou um novo taco, mas quando foi treinar (com Robot observando, já que Tomoya quis que seu melhor amigo o acompanhasse). Acontece que mesmo com o novo taco, Tomoya continua muito ruim, e dois jogadores semi-profissionais, o vendo jogar, foram rir da cara do pobre garoto, dizendo que ele nunca teria chances de se tornar um profissional.
Deste modo, para defender o seu amigo, Robot decidiu fazer uma aposta com os dois jogadores que o estavam importunando (na verdade, os dois jogadores que propuseram o desafio, mas tudo bem); a aposta é bem simples, Robot deveria acertar a jarda de 150 metros, para assim os dois importunadores pedirem desculpas. O que viria todo mundo já sabia por antecedência, sejamos sinceros, esse primeiro capítulo não tentou ser inovador de nenhum modo, muito pelo contrário, foi bem linear e previsível – O que vimos foi Robot lançando um espetacular Laserbeam, e surpreendendo todo mundo, mas para deixar os outros personagens ainda mais surpresos, Robot lançou vários outros laserbeams seguidamente.
Para alguns poderia até soar forçado esses milagres de Robot, mas vindo de Fujimaki, era o que eu esperava ver. O autor em Kuroko no Basket constantemente adotou cenas que iam além do “humano” e “racional”, e com esse novo mangá de golfe parece que essa característica não vai ser alterada. Quando tu lê uma obra do autor é necessário fazer uma grande suspensão de descrença, e mesmo achando exagerado devemos, deste modo, ver alguns aspectos positivos dessa cena “exagerada”, que no caso é o bom desenvolvimento para que a cena ao menos tivesse sentido para os leitores; Fujimaki apresentou o laserbeam nas páginas iniciais, para assim já deixar na mente dos leitores a noção de “quanto é complicado” realizar essa jogada. Para assim, no ápice do primeiro capítulo, poder fazer com que Robot realizasse tal jogada, surpreendendo a todos os personagens ao seu redor.
Robot x Laserbeam apresento um primeiro capítulo sólido, porém, com muita pouca originalidade. Podemos dizer que ao mesmo tempo que a série apresentou uma narração sólida, com personagens que criam uma empatia do público, ótimas piadas com um timing correto, uma boa apresentação para o esporte, Fujimaki também entregou uma narração previsível, personagens que não são originais (tanto no traço quanto na personalidade), uma dramaticidade que não intensificou o “clímax”, e uma resolução para o ápice da história, que não deve animar nem aqueles que gostam do esporte, de tão previsível que foi. Robot x Laserbeam deste modo não é um mangá ruim, muito pelo contrário, eu continuarei a ler, e sinceramente, esse primeiro capítulo cumpre a sua função, já que é uma série que tem como objetivo entregar um primeiro capítulo sólido, não esperando arrebatar votos imediatamente – muitos mangás de veteranos usam essa estratégia -. Não posso dar uma nota alta para a série, pois não vimos nada de especial nesse primeiro capítulo, mas tenho boas esperanças para o rumo que essa história irá tomar.
Nota: 6.0 / 10