E quem disse que não pode existir Adão e Ivo? Dr.Stone não é um mangá qualquer, é um grande tapa na cara da família tradicional japonesa. Agora é só aprender a tecnologia para se realizar uma inseminação artificial, e colocar o esperma de um dos dois, em uma das mulheres de pedra, e deste modo, o casal vai poder se reproduzir sem nenhum problema. Dr.Stone não é nada mais, nada menos, da história de dois rapazes que através da técnica inseminação em pedra (por isso, Doutor Pedra) conseguem repopular toda a humanidade. Uma história de ficção cientifica sem precedentes, uma lagoa azul pós-apocalíptica – Tenho certeza que o Live-Action dessa história passará todos os dias na Sessão da Tarde.
Brincadeiras à parte, Dr.Stone é o quinto, dos seis mangás que integram a leva do mês de fevereiro e março da Weekly Shonen Jump – Talvez esse era um dos mangás mais aguardados, por unir dois autores veteranos muito talentosos: Inagaki Riichiro e Boichi. O problema de uma história com muito “hype”, é que ela carrega em suas costas uma grande responsabilidade, e vimos com Gakkyuu Houttei (de Obata) e Stealth Symphony (de Narita) como o “hype” muitas vezes não se traduz em uma série de sucesso. Deste modo é importante acima de tudo entregar uma história que consiga conquistar o público. Será que Dr.Stone conseguirá alcançar esse feito? Bem, vamos ver se esse primeiro capítulo nos dá algumas respostas. Já avisando que essa análise contém spoilers do primeiro capítulo (somente do primeiro capítulo), deste modo, caso queira ler o primeiro capítulo, muito bem traduzido pela PROJECT, clique AQUI.
A história começa do modo correto, entregando uma página colorida muito bonita, que consegue atrair os leitores assim que abrem a revista. Sejamos sinceros, Boichi consegue entregar uma arte espetacular, e esse primeiro capítulo é a comprovação das suas capacidades. Logicamente, lançando duas séries semanais, tem o pequeno (mas real) risco da sua arte piorar um pouco nos próximos capítulos (Boichi inclusive declarou que nunca lançou duas séries semanais ao mesmo tempo e deveria ver se conseguiria manter o ritmo. Esperamos que a qualidade desse primeiro capítulo seja mantido após os três capítulos iniciais (lembrando que normalmente os autores entregam os três primeiros capítulos aos editores, por isso só saberemos o traço semanal de Boichi a partir do quarto capítulo), a ajuda dos assistentes será essencial para que o traço não piore.
Após a página colorida inicial, Inagaki Riichiro já começa desenvolvendo o protagonista e seu principal objetivo; nas histórias de mangás é constantemente usado uma estratégia muito útil para passar ao público japonês a “determinação” do protagonista. O povo japonês, mesmo que esteja perdendo essa característica com a globalização e a visão jovial e mentalmente bem mais aberta dos jovens adultos, tem um aspecto muito marcante; acreditam que cada pessoa deve ter claro os seus objetivos, e deve ser esforçar até não suportar mais para alcançar esse objetivo (é inaceitável uma pessoa ter dúvidas); deste modo, não desistir nunca. Logicamente, tal aspecto traz péssimas consequências socialmente, como vimos o caso da japonesa que suicídio após trabalhar exaustivamente. Deste modo, demonstrar imediatamente que o protagonista ter um sonho MUITO BEM CLARO, e que está disposto a mover o mundo para alcança-lo, faz com que o público facilmente consiga entender a razão de vida do personagem, que será essencial para a sua sobrevivência nas páginas seguintes.
Ao mesmo tempo que Inagaki Riichiro decide apresentar imediatamente a determinação de Kukuku (o protagonista), também faz o mesmo com o personagem secundário, Senkuu; com discursos relativamente forçados (sobre a porção do amor e a aposta no qual ele não será rejeitado), o roteirista demonstra ao leitor que o melhor amigo do protagonista, o conhece muito bem, e acima de tudo, reserva uma grande confiança à sua pessoa, conjuntamente o roteirsta de certo modo apresenta eficientemente a inteligência do . Os balões reservados a apresentar esses elementos fazem um paralelo direto à dois momentos; o primeiro é obviamente, no mundo pós-apocalíptico, quando mostra a capacidade dele de manter a concentração, contando os dias, e também sua capacidade em construir vários instrumentos e objetos, do zero – como a casa de madeira e suas armas para a caça. O segundo é quando Senkuu deixa explica o motivo pelo qual estava esperando Kukuku chegar, comentando que tinha mais de 1 milhão % de certeza que o seu amigo se libertaria da prisão.
A verdade é que Inagaki Riichiro apresenta esses elementos citados no primeiro capítulo de maneira exagerada, aliás, praticamente todo o primeiro capítulo tem um estilo narrativo muito óbvio; o roteirista utiliza de bordões, situações, personalidades, e o desenhista de expressões faciais, representações gráficas, que remetem a um exagero irrealista, contudo, isso é uma característica da própria obra, e por mais que tenhamos o direito de não gostar ou mesmo não aprovar, por questões pessoas e particulares, não podemos considerar um elemento negativo objetivo, e sim subjetivo. É mais do que óbvio que a história progredirá com essa narrativa escrachada e cheia de absurdos; Kukuku continuará sendo o personagem extremamente honrado, determinado e com uma força fisica comparada ao incrível Hulk, enquanto Senkuu continuará sendo aquele personagem extremamente inteligente, que utiliza constantemente o seu bordão de percentuais gigantescas e irreais, para demonstrar quanto acredita na sua própria tese. Esses elementos devem acabar agradando muitas pessoas, e desagradando algumas outras. Sejamos sinceros, em uma combinação entre Inagaki Riichiro e Boichi, não poderíamos esperar nada super “tímido”.
Após toda a sequência de apresentação, no qual vemos a personalidade dos dois personagens principais, e também percebemos que a garota no qual Kukuku é apaixonado tinha chances reais de aceita-lo, o roteirista faz com que um evento inexplicável (por enquanto) atinja toda a humanidade, transformando assim todos os cidadãos em pedras. Esse é um outro momento que a habilidade técnica de Boichi brilha, e vemos uma sequência de quadros visualmente espetaculares. Em relação ao roteiro, nessa sequência de páginas vemos as pessoas sofrendo e perdendo lentamente suas consciências – tal cenas são importantes por dois motivos; o primeiro, e mais óbvio, é entregar ao público cenas emotivas, gerando uma comoção por ver todas essas pessoas sendo petrificadas. A segunda, e para mim, a mais importante é dar um contraponto à resistência de Kukuku e Senkuu, que conseguem lutar, com estratégia diferentes, contra a própria morte cerebral. Provavelmente outras pessoas devem conseguir recuperar a sua personalidade ao longo dos capítulos, sem precisar da ajuda dos protagonista (acredito que um desses deve ser o estudante mais forte, citado em um dos quadros).
Quando o protagonista finalmente consegue se liberar, milênios de anos depois, ele (genialmente) decide seguir o rio até chegar na árvore no qual sua amada foi deixada, e ao notar que continua inteira, decide que irá encontrar um modo de salva-la. Nesse momento, reaparece o seu melhor amigo, Senkuu que explica que já estava esperando_o (por 6 meses), e também explica como conseguiu sobreviver, contando os dias por longos milênios (novamente o autor utiliza de estratégias exageradas para demonstrar a inteligência fantástica do personagem – sabemos que seria impossível uma pessoa normal conseguir passar mais de 3000 anos contando os dias. Psicologicamente isso é enlouquecedor -. E em um dialogo eufórico e baseado nos gritos, os dois decidem que irão reconstruir a civilização e encontrar um modo de salvar todas essas pessoas, e utilizando referências científicas (a idade da pedra) e também cristãs (com Adão e Eva), Inagaki Riichiro e Boichi, encerram o interessante e introdutivo, primeiro capítulo.
O próximo capítulo deve focado na sobrevivência, com uma boa dosagem de humor. por isso não deve prosseguir tanto assim com a história (Talvez as páginas finais, com eles encontrando alguma construção, pessoa ou objeto misterioso). De qualquer modo esse primeiro capítulo não serviu exatamente para apresentar um claro rumo que a história seguirá, como algumas história fazem, mas sim serve para apresentar os dois personagens principais, suas personalidades, qualidades e objetivos. Mostrar o mundo que estão vivendo, e de certo, despertar uma curiosidade ao público sobre o que aconteceu com a humanidade (infelizmente, no meu caso, não me despertou uma curiosidade sobre as causas da petrificação, mesmo que eu esteja curioso em saber o rumo da história). Deste modo, como comentei, com um capítulo extremamente introdutivo, que não deixa claro quais serão as verdadeiras características da série; não sabemos se será um B-Shounen com lutas gigantes, com batalhas simples, ou até mesmo sem algum combatimento, o que acho improvável, os dois autores entregaram de maneira eficiente, um primeiro capítulo que serve para apresentar o universo e os dois protagonista, apresentando somente uma característica da sua narração: o absurdo.
Nota (levando em conta seu gênero): 7.0 / 10 Leitor Online na Central de Mangás: Dr.Stone.