Lançar um mangá de esporte na Shonen Jump é sempre um grandíssimo desafio, principalmente se esse esporte for o famigerado “futebol” – Mesmo sabendo da dificuldade em fazer uma série do gênero se tornar um sucesso na Weekly Shonen Jump, o promissor novato Moue Takamasa decidiu apostar no estilo. É inegável que o autor conseguiu agradar o público com o One-Shot “Galaxy Gangs”, mas será que apresentou um primeiro capítulo bom o suficiente para conseguir atrair o público para essa sua nova aposta? Vamos ver.
Sempre se deve iniciar do básico, por isso o primeiro passo que se deve tomar, é no primeiro capítulo, apresenta o protagonista e sua personalidade – Furudate fez isso com Haikyuu!! por exemplo, focando todo o primeiro episódio no “background” e sonhos de Hinata – E Moue Takamasa decide se manter nesse básico, e já nas primeiras páginas começa a apresentar Banba, o personagem principal de Ole Golazo. A sua personalidade também fica muito clara nas primeiras páginas; percebemos que será um personagem com um grande foco no humor, e que faz constantemente várias caras e bocas, lembrando bastante o protagonista de Magi.
O desenvolvimento do protagonista continua ao longo de todas as páginas do primeiro capítulo (decisão mais do que correta, no meu ponto de vista). Só que esse desenvolvimento não foi simplesmente mostrar a personalidade de Banba, mas também as problemáticas que o cerca – O primeiro problema é justamente a sua “desocupação” – Após uma agressão no campeonato, o protagonista foi proibido de participar de qualquer torneio formal de Taekwondo, por um período de três anos, que equivaleria a toda sua passagem pelo ensino médio. Banba ainda poderia cursar Taekwondo no colégio, provavelmente, mas o fato de não poder participar de nenhum torneio formal, o desestimulou a continuar praticando qualquer esporte.
A decisão de abraçar o seu lado sedentário, e simplesmente não fazer nenhuma atividade esporte, podemos considerar muito extremista, mas também prevísivel: É normal quando uma pessoa é privada do seu sonho ou objetivo primário, simplesmente desistir de tudo ou mesmo procurar novos objetivos que sejam totalmente o contrário do sonho que foi destruído – não é uma regra, mas muitas pessoas agem desse modo – Banba decidiu mudar totalmente de ambiente/objetivo, e chegou a conclusão que usaria esses três anos para se tornar um aluno exemplar, com notas altíssimas (o autor apresenta esse seu novo lado com uma cena de comédia muito simpática). É nesse momento que a personagem feminina principal da série aparece, e entrega o formulário sobre qual clube ele gostaria de participar. Infelizmente ele não escolheu o Sket Dance, preferindo ficar “sem-clube”.
Banba logo após começa a curtir sua vida de “cidadão sem-clube-algum”, mas logo o autor decide demonstrar que na verdade ele não é feito para uma vida como esta – enquanto caminhava para casa, o protagonista vê algumas crianças que jogam futebol treinando corrida – assim se lembrou da época que estava ensinando Taekwondo para seus companheiros de time. Só que mesmo com treinamento infernal, os seus companheiros não conseguiram alcançar um nível bom o suficiente ao ponto de vencerem o campeonato, assim, após uma derrota chorarem, e os demais competidores zombaram deles justamente por estarem chorando – Banba, revoltado com a ação dos concorrentes, começou a espancar-los, resultando assim no seu banimento do esporte. O autor foi muito inteligente em usar essa situação para apresentar mais uma personalidade de Banba: um jovem esforçado e muito honrado, que não suporta ver seus companheiros serem humilhados. Uma personalidade que deve ser muito bem focada pelo autor, pois é de muito agrado ao público japonês; os japoneses amam personagens honrados e ao mesmo tempo divertidos.
Atrás do grupo de meninos que treinavam, vêem de bicicleta a garota que, na escola, havia entregue o formulário para o nosso querido protagonista. Se aproximando dele, ela imediatamente analisa a postura do seu corpo, a versalidade muscular e as pernas bem desenvolvidas do ex praticamente de Taekwondo. E ela acaba concluindo a sua analise, dizendo: “é como se seu corpo tivesse sido aperfeiçoada para chutar”. Esse momento é muito importante, pois a base dos dilemas que surgirão nas páginas consecutivas se sustentam na resposta ambígua de Banba. O protagonista responde para a garota, que mais tarde se revelará a gerente do clube de futebol. que na verdade ele é um campeão nacional e o homem que foi escolhido para representar o Japão – O problema é que Banba se estava referindo ao esporte Takewondo, mas a garota entendeu que ele era um representante japonês no campo do futebol, deste modo acaba convidando-o ao clube, e ele sem jeito acaba aceitando.
Quando volta pra casa, ele começa a pensar no dilema que se meteu, e assim nasce o segundo problema das problemáticas que corroem o primeiro capítulo da série. De maneira bem humorada, Banba começa a se questionar se vale a pena ou não ir para o clube no dia seguinte, como havia prometido para a garota. Após minutos pensando, chega a conclusão que ele é um esportista nato, e que não haverá nenhuma dificuldade nesse “novo” esporte. O autor vem levando a história de maneira muito bem humorada, e as trinta primeiras páginas tem várias piadas, praticamente uma por página. Moue Takamasa decidiu focar muito pouco no futebol, deixando esse drama mais para as últimas páginas (e mesmo assim manteve o humor, e não entrou nas questões técnicas do esporte, como muitas séries preferem já entrar no primeiro capítulo). A decisão para mim foi acertada, pois fez as trinta primeiras páginas muito divertidas de se ler, e o protagonista, mesmo que não tenha sido de agrado para os japoneses (acharam muito vazio), consegui criar um pequeno legame. Para mim, essas primeiras páginas funcionaram bastante.
Assim entramos na segunda parte, que são as vinte páginas consecutivas, na qual, continuando com o seu clima muito bem humorado, Banba deve resolver mais dois outros problemas; o primeiro que é entender como funciona o esporte (ele não conhece o termo “roubar”, ou mesmo o que deve fazer com quando a bola chega perto dele) – Aliás, quando a bola finalmente alcança o pé do protagonista, ele dá um chute tão forte, que a bola vai parar em uma outra parte da cidade, caindo em cima do carro de um homem super rico (e destruindo-o), produzindo, na minha opinião, a cena mais engraçada desse início de série. O problema que a imobilidade do personagem principal começa a gerar desconfiança no público e no treinador. Muitos vieram assistir o treino, pois anunciaram que havia um representante nacional (de futebol) no treino, que no caso seria Banba, mas vendo-o jogar, perceberam que na verdade. por mais que sua físico fosse realmente ótimo, os seus vestidos e sua locomoção, claramente era de um jogador amador. Quando a gerente decide procurar no celular quem era realmente esse “Banba” repara que ele na verdade era representante nacional de Taekwondo, e não futebol como ela havia entendido, e explica isso ao técnico do time.
Para encerrar o capítulo, tivemos uma breve explicação da movimentação em campo, e o autor conclui o capítulo, dando continuidade a página colorida de início (muitos autores utilizam essa estratégia), fazendo assim a bola cair nos pés de Banba de novo – neste momento surge o último problema, que é ele conseguir chutar bem a bola -, e para alegria da nação, dessa vez, o ex atleta de Taekwondo dá um chute potentíssimo em direção ao gol, marcando o seu primeiro “golaço” (o autor aproveita e explica como um golaço, por isso, um gol bonito e impressionante, consegue revigorar tanta a torcida quanto os jogadores do time, além de desmoralizar os jogadores do time inimigo, MAS, principalmente um golaço pode mudar toda a vida de um jogador, como aconteceu com vencedor do “Puska”,Wendell Lira). Ver todo mundo comemorando, trás uma sensação fantástica a Banba, que finalmente, consegue entender quanto é bom e prazeroso jogar bola.
O primeiro capítulo de Ole Golazo, na minha opinião, apresentou um conteúdo bem interessante, e com um humor realmente prazeroso. A série em nenhum momento soou muito dramática, mesmo que, alguns momentos, como o próprio encerramento, na minha opinião, não conseguiram trazer a emoção que o autor esperava que trouxesse – a verdade é que a partida foi muito pouco desenvolvida para conseguir dar uma real emoção – e isso pode acabar se tornando o calo no pé da série, pois realmente os japoneses não conseguiram gostar tanto assim do primeiro capítulo (mesmo que o segundo, que ainda não li, tenha agrado muito mais). Devemos ver para onde a série irá levar, na minha opinião, os dois personagens principais são bem simpáticos (Banba e a gerente), agora, para dar certo o autor deve apostar em dois pontos: primeiro desenvolver melhor os demais jogadores do time, que simplesmente não foram apresentados (não é um problema, muitas séries só apresentam os demais jogadores a partir do segundo capítulo) e logicamente, conseguir entregar uma partida de “soccer” realmente emocionante. Eu vejo potencial em Ole Golazo, e gostei muito do material, mas ao mesmo tempo ainda é muito cedo para dizer se funcionará ou não.