Acredito que o problema desse encerramento, é que o autor caiu em um BURACO ENORME DE CLICHÊS que já vimos em várias obras; isso vai da relação entre Naruto e Sasuke, à Peter Park e Harry Osborn. Essa coisa de amigos que depois viram inimigos, com um dos lados trabalhando para o “mau” é tão comum nas histórias, que chega a ser cansativo vermos novamente em uma outra história. O autor, acabou desenvolvendo bem o mangá, mas a conclusão do primeiro capítulo foi muito preguiçosa e previsível (poderíamos imaginar que a história terminaria deste modo a partir do design de Carlos, que me lembra muito um certo personagem vampiro de Owari no Seraph). Além do mais, “Boro” despertar também o seu Demon’s Plan naquele momento, foi uma forçar a barra, não era necessário. Se o autor fizesse que Boro ficasse ali chorando, e depois voltasse para casa, e decidisse, mesmo sem poderes, resgatar o seu amigo, seria bem mais natural e convincente, mas não, o protagonista precisa despertar o seu poder naquele momento para assim vermos uma cena de luta “dramática”, com Boro dando um super punho. Por fim, o mangá tem somente mais outro problema; os seus quadros são muito inspirados em outras obras – conseguimos notar várias “referências” a Naruto, Boku no Hero Academia, Black Clover, e outras obras da própria Shounen Jump. Talvez esse seja o ponto que mais me incomodou na história, muitos quadros que pareciam com momentos marcantes de histórias já bem conhecidas.
Ô vida de gado
Escrito por Leonardo Nicolin,
A Shonen Jump decidiu nos entregar nas duas últimas edições do ano de 2016, duas novas séries: Demon’s Plan e Ole Golazo. Eu, como já é de tradição, analisarei essas duas séries e nada melhor que iniciarmos pela primeira lançada: Demon’s Plan de Okamoto Yoshimichi – Autor que está lançando a sua primeira série, e tem um grande desafio pela frente. Superar o período de vacas magras da revista e entregar um mangá que consegue vender bem o suficiente para merecer, sem questionamentos, a permanência na maior e mais famosa revista Shonen da atualidade.
O desafio encontrado pelo autor não é nem um pouco simples: não é que seja realmente muito difícil superar as vendas de séries como Kimetsu no Yaiba e Hinomaru Zumou, é um feito que pode ser alcançando se o autor lançar uma boa obra, mas o que será realmente difícil é conseguir este feito já na sua primeira obra. A grande maioria dos novatos, por isso que não tem nenhuma experiência prévia não conseguem agradar o público imediatamente. Vimos muitos autores talentosos, só conseguindo lançar um sucesso após um ou dois mangás, como é o caso de Tite Kubo com “Bleach”, de “Tabata Yuuki” com “Black Clover”, Kohei Hirokosh com “Boku no Hero Academia”, e muitos outros exemplos. É raríssimo encontrar um novato como Eichiiro Oda ou Masashi Kishimoto, que imediatamente conseguiram lançar um mangá de sucesso. Por isso, Okamoto Yoshimichi tem um grande desafio pela frente. Vamos ver, se ele conseguiu superar esta barreira e conseguiu lançar um primeiro capítulo consistente.
A história começa apresentando o “Demon’s Plan” que seria uma caixa milagrosa que, caso tu seja um dos escolhidos, realiza o seu desejo. Para poder tentar a sorte de ter um desejo realizado, tu deveria pagar uma “X” quantia ao dono dessa caixa. A história começa justamente com os dois protagonista vendo essa caixa “abençoando” uma pessoa; um homem de cadeiras de rodas, que pediu a possibilidade de voltar a andar. Como ele era um dos “escolhidos”, saiu uma mão da caixa, que curou as suas pernas e o fez voltar a andar. Os dois protagonista ao verem essa cena, decidiram começar a juntar dinheiro, para assim poderem um dia, tentar a sorte no “Demon’s Plan”. 10 anos se passaram, e mais nenhuma pessoa foi escolhida pelo Demon’s Plan – O que demonstra a raridade dos acontecimentos (ou que o anunciador deveria contratar mais atores, já que após 10 anos não tendo mais nenhum escolhido, a maioria das pessoas nem estariam tentando mais).
Agora, os dois protagonistas, Boro e Carlos, estão trabalhando como carregadores de caixa no porto da cidade, e tem um salário bem baixo – O autor quis deixar claro a situação da cidade nessa sequência de páginas, uma decisão correta, pois ajudou a também humanizar os personagens. Principalmente se levarmos em consideração que por mais que estão em um mundo “fantástico”, Boro e Carlos sofrem a consequência de uma realidade que é muito mundana; a marginalização dos mais pobres – os mais ricos vivem na parte alta da cidade, enquanto os mais pobres, que vivem na parte baixa, devem trabalhar todos os dias para conseguir sobreviver (situação muito comum em cidades antigas voltadas a pesca ou ao comercio marítimo, no qual os mais pobres viviam perto do porto, para assim realizarem os trabalhos manuais mais facilmente (o que incluí a pesca ou mesmo o transporto de mercadorias em portos maiores). Além disso essas regiões não eram muito agradáveis de se viver: fediam muito, havia o constante barulho das naves, muitos marinheiros bêbados, eram cheias de prostitutas (que estavam ali para saciar os marinheiros). por isso, os mais ricos não gostavam de viver perto do Porto. E para encerrar, o motivo da maioria dos ricos viverem também na parte mais alta dessas cidades (sejam marítimas ou montanhosos), também era estratégico: Os mais ricos deviam ficar na zona mais segura, em caso de guerra ou batalha, e as pessoas que vivem no porto ou mesmo em partes mais baixas, eram mais vulnerareis aos ataques, enquanto aqueles que viviam no alto, estavam bem mais seguros.
Por isso, é interessante o autor estar trazendo uma realidade mundana ao mangá, realidade ma qual ele faz questão de aprofundir ao mostrar o passado de Boro e Carlos – Esse flashback tem dois pontos positivos, que ajudam muito na construção desse primeiro capítulo: O primeiro ponto é justamente desenvolver melhor a relação entre os dois personagens, o que importante levando em consideração que será o aspecto principal do mangá (percebemos isso por todo o drama de amizade rompida que teremos nas próximas páginas). O segundo ponto é continuar o desenvolvimento do mundo, que começou apresentado o trabalho e a situação financeira dos protagonista. A marginalização dos jovens é aprofundido novamente, desta vez focando no abandono as crianças, deixadas a deriva em uma sociedade cruel, aprendem a agir de maneira errônea, tendo que inclusive roubar para poder se lamentar – Carlos é justamente essa criança, e quando Boro se colocou avante para defendê-lo, Carlos se sentiu amado, finalmente, após tanto descaso e abandono, alguém conseguiu se importar com sua situação. Tenho que assumir, o começo dessa obra é muito dramático, mas ao mesmo tempo, muito interessante: são questões reais sendo desenvolvidas.
Em minha opinião, o problema do mangá começa quando o autor tenta aprofundir mais ainda esses pontos; a carga dramática, que já é bem alta, fica cada vez pesante, ao ponto de alguns momentos se sentir exaustivos. Depois de vermos esses casos de marginalização, o autor apresenta um outro caso de injustiça sobre os marginalizados. Um marinheiro (ou o delegado) decide acusar os personagens de roubo, para assim poder confiscar o dinheiro deles e ainda por cima usar-lo como “aviso de ordem”, no caso mostrar que quem se revoltar contra os ricos, será sentenciado a morte. Boro fica desesperado e tenta provar que os dois são inocentes, mas seus argumentos não surgem nenhum efeito. Percebendo que era simplesmente um plano maléfico do delegado, Carlos decide agir, dá uma garrafada na cabeça de Boro, e.ameaçando de morte os policais, decide fazer um acordo com eles; a sua vida, por Boro poder tentar a sorte no Demon’s Plan. O marinheiro (ou delegado) sabendo da falcatrua que era o Demon’s Plan, decide concordar com o acordo proposto por Carlos, que deste modo vai para a prisão, confessa o crime que não cometeu e assim é sentenciado a morte. Enquanto isso, Boro está desmaiado no chão, por causa da garrafada na cabeça que Carlos lhe deu.
O autor, tentando dessa vez ser bem pragmático, começou a exagerar nas explicações; quis mostrar mais uma vez a marginalização dos pobres, deste vez, com o delegado marinheiro policial revelando todo o seu plano para o pobre Carlos – Como já explicado no parágrafo anterior, o delegado não sabia quem era o verdadeiro ladrão, mas precisar matar alguém para mostrar que a justiça ainda existia e que os pobres que se revoltassem contra os ricos da cidade, seriam enforcados em praça pública. Já não bastando ter condenado a morte o pobre do Carlinhos, o delegado ainda por cima chama o dono do Demon’s Plan para dar uma possibilidade de Carlos tentar a sorte – O nosso protagonista pede para rever Boro, mas nesse momento descobre que na verdade, o Demon’s Plan era somente uma farsa criada para pegar o dinheiros dos inocentes. Carlos ao perceber que tanto o seu acordo (de Boro tentar o Demon’s Plan em troca da sua vida) tanto todo o seu esforço de anos ter sido inútil, começa a entrar em uma crise de nervosos, gritando desesperadamente.
Boro, após não sei quantas horas, é acordado pelos seus amigos, que dão a notícia sobre a sentença de morte do seu amigo, Carlos – Ao saber disso, ele corre até a prisão para poder liberar o seu amigo, e enquanto corre desesperadamente vai lembrando o dia em que o salvou de ser espancado nas ruas, por ter roubado um pouco de comida para se alimentar. Boro se lembra que naquele dia também estava perdido e desolado, sem encontrar um motivo para continuar vivendo, e ao ver Carlos em uma situação parecida com ele, criou uma empatia instantânea, que o fez se jogar avante aos adultos, bloqueando a paulada que Carlos receberia. Percebemos nesse momento que a visão de Carlos, de que Boro é seu salvador é totalmente errada – A verdade é que ambos são o salvadores do outro, pois eles juntos encontram uma razão para continuar vivendo, as forças para lutar dia após dia, nesse mundo no qual os mais pobres são esquecidos, abandonados, maltratados e marginalizados. Podemos dizer que o mangá entrega uma mensagem belíssima sobre amizade. O problema é que talvez o autor tenha exagerado na dramaticidade, e eu não digo somente no roteiro, mas também no desenho; os personagens ficam com aquela cara de choro por muito tempo. O autor deveria saber o momento certo de dar uma grande dramaticidade aos personagens. E vamos ser sinceros, aquela sequência de quadros com os dois protagonista criança estendendo a mão, enquanto uma luz angelical paira sobre eles, é muito, mas muito brega.
De qualquer modo, no meu sincero e humilde ponto de vista, a história mesmo com alguns defeitos caminhava bem: era dramático? Sim, mas isso é questão de gostos, o autor em nenhum momento cometeu algum erro no roteiro – as minhas primeiras impressões foi que eu não gostei tanto da cena no presídio -, mas não posso negar que ele a apresentou de maneira correta, errando somente no exagero artísticos, no caso, colocar muitos quadros em qual os personagens estavam chorando ou gritando, dando assim menos impacto quando Boro, grita nos momentos finais. De resto, em termo de roteiro, o autor apresentou situações que serviam perfeitamente para desenvolver os personagens, e não caiu em clichês óbvios do gênero. Logicamente, todo o desenvolvimento não foi muito original. O delegado que acusa um inocente, pois não acha o culpado, já vimos em várias obras, mas não é TÃO comum em um Shounen, ao ponto de chamarmos “clichês óbvios do gênero”. Por isso, no meu ponto de vista, o autor vinha apresentando um trabalho coeso até esse momento, mesmo que não agrade o meus gostos. É importante saber diferenciar gostos pessoas com elementos realmente ruins – Red Sprite apresentada erros de narração absurdos, isso não acontece com Demon’s Plan. O mangá para mim, apresentava ótimos críticas, boas situações, só que com uma dramaticidade que me incomodava.
Dizendo claro a minha visão do mangá até esse ponto, para mim, Demon’s Plan a partir da página 38, dá um GIGANTESCO tropeço – Vemos que a crise emotiva de Carlos, faz despertar o seu Demon’s Plan (assim descobrimos que o Demon’s Plan desperta dentro das pessoas, e que se os personagens soubesse ler, o que é bem difícil que saibam, já que vivem nas estradas, descobririam pesquisando em qualquer biblioteca). Carlos, assim exterioriza o seu ódio pelos ricos e trapaceiros, matando praticamente todo mundo que estava naquela delegacia. Boro entende nesse momento que o Demon’s Plan seleciona poucas pessoas, e faz com que essas pessoas, que tem um grande ódio contra o mundo, se transforme em um demônio. Transforma os homens em demônios. Carlos, dominado pela sua força demoníaca e cheio de ódio, faz um discurso é praticamente IGUAL ao de Sasuke, sobre matar todo mundo, pois o mundo é muito corrupto e etc. Boro discorda do seu amigo, e decide lutar contra ele, despertando assim o seu próprio Demon’s Plan, que é praticamente uma luva super poderosa, contudo, o autor não decide seguir um ideia determinista (na qual, quem nasce pobre é destinado a ser uma criminal e odiar o mundo até quando morre), mas sim demonstra que mesmo sendo dominado pela sua força demoníaca, Boro não perde sua esperança pela humanidade, decidindo assim continuar lutando por ela.
Demon’s Plan não é um mangá ruim, na minha opinião, simplesmente entregou uma conclusão de primeiro capítulo muito clichê e sem grandes criatividades. O seu conceito, também não desperta nenhuma originalidade, mesmo que o mundo e as questões morais que o autor, Okamoto Yoshimichi, quer desenvolver sejam MUITO, mas MUITO interessantes. Um mangá não precisa ser totalmente original, mas também não é tão agradável ler uma obra que apresenta um conceito que já vimos em vários outros mangás, ter uma constante sensação de dejá vu (seja no roteiro quanto na arte), não é uma sensação que procuro ao ler uma obra. Porém, Demon’s Plan é bem escrito, e mesmo dando aquela escorregada nas últimas dez páginas, devo assumir que o autor foi coese nas suas primeiras 37 páginas, o que mostrar que o seu potencial é grande. Se Okamoto Yoshimichi conseguir transpor as primeiras 37 páginas aos próximos capítulos, acredito que podemos ter uma série dramática (que agradará quem gosta de uma obra muito sentimental e dramática) e ao mesmo tempo divertida (pois o protagonista parece ser alguém alegre, apesar de tudo), que vai conseguir agradar o público japonês – O mangá realmente é bem escrito nessas primeiras páginas, como já fiz questão de declarar várias vezes – mas caso os próximos capítulos sejam mais parecidos com as dez páginas finais, por isso um drama misturado com uma amontoado de clichês e cenas copiadas, acredito que Demon’s Plan encontrará um novo demônio; o diabo do cancelamento.