Sabemos que os japoneses não largam o mangá após o primeiro capítulo, isso é uma lenda que foi distribuída por pessoas que queriam “justificar” alguns mangás terem posições baixas na TOC’s (me incluo nesse grupo) após o primeiro capítulo, mas naquela época não entendiamos que as TOCs não era o resultado direto das votações. Para mim, o autor deveria redistribuir esse capítulo em três – O primeiro acabaria justamente com o sacríficio do professor, no segundo teríamos um pouco do treino do protagonista, como Boku no Hero Academia fez. E o terceiro capítulo teríamos finalmente a sua vingança contra o vilão – Logicamente o mesmo teria que ocupar as páginas com mais informações úteis a histórias, quem sabe desenvolver mais o personagem que treinou o protagonista, ou mesmo desenvolver o próprio protagonista, que sinceramente, não teve uma verdadeira personalidade, só pareceu um personagem genérico de um Shounen. O vilão também poderia ser mais bem desenvolvido nesse período, já que sua personalidade também foi genérica. Sejamos sinceros, já está mais do que ultrapassado esses vilões que ficam se surpreendendo com o poder da sua própria cria e EXPLICAM DETALHADAMENTE as ações do protagonista (para assim, o público entender o que está acontecendo). Parecia que eu estava lendo um desenho animado infantil dos anos 90.
Geni e o Zepelim.
Red Sprite é o terceiro e último mangá da leva de “agosto”, e mesmo não tendo um grande “hype” por trás, chegou prometendo surpreender os leitores da revista. O autor, Tomohiro Yagi, parece não ter se intimidado pelo fracasso de “Iron Knight”, a sua obra anterior que teve somente 3 volumes lançados, e decidiu manter a sua temática séria e seu traço “sujo”. Será que esse novo mangá conseguirá surpreender os japoneses e se tornar mais um novo sucesso? Bem, como sempre, eu não posso responder essa pergunta com certeza, mas posso analisar o primeiro capítulo do mangá e tentar chegar a alguma conclusão. Então, vamos ler “Red Sprite”, que aliás, foi muito bem traduzido pela equipe da mangasproject, e recomendo vocês darem uma lida na versão em português deles.
A obra começa em orfanato, no qual o protagonista, Geni Tatsu Framp, vive. Para quem está acompanhando a leva da Shonen Jump, é impossível não se lembrar de “Yakusoku Neverlend”, que foi lançado três semanas antes e também é inicialmente ambientado em um orfanato, e por mais que as obras tenham sido produzidas em momentos diferentes, tiveram alguns outros pontos em comum: Outro que me chamou atenção foi justamente que as crianças que protagonizam a história, são usadas para escopos de energia – Enquanto em “Neverland”, as crianças são servidas como carne para os ricos (por isso, energia), em “Red Sprite” usam literalmente as crianças para produzir energia elétrica. Logicamente tem outros pequenos detalhes que as duas obras podem ter de parecido, o que não é nenhum problema, pois como eu já disse, foram produzidas simultaneamente (aliás, a ideia de Red Sprite lembra MUITO a de Matrix, o autor deve ter se inspirado mais no filme ou de livros que seguem a mesma base que realmente em uma ideia de outra pessoa).
E provavelmente o autor deve ter realizado muitas pesquisas e ter consultado bastante o próprio editor para realizar esse mangá, pois, sejamos sinceros, o one shot foi praticamente ignorado. “Red Sprite” tinha sido lançado inicialmente na Jump NEXT, e contava uma história totalmente diferente do que vimos nesse primeiro capítulo. Primeiramente, o nome da série encontrou um novo sentido: Agora é relacionado ao dirigível que o protagonista controla. E depois todo o universo da série foi reimaginado: no One Shot o protagonista não começa a história com super poderes, ele na verdade, juntamente com seu amigo, sofrem experimentos para se tornarem uma arma de guerra, não existe essa “energia” que move a humanidade, e também o próprio proposito do protagonista era diferente (mesmo que de qualquer modo, ele queria liberar o seu povo da escravidão). Resumidamente, a série de “Red Sprite” é um produto totalmente novo, que sinceramente. não tinha sido testado anteriormente. Por isso, quando uma obra tem muitas modificações entre o one shot e a serialização, normalmente tem um grande dedo dos editores, que devem ter conselhado o autor a modificar vários pontos.
Eu devo assumir que em grande parte, o autor melhorou a série: A primeira parte localizada no orfanato, como eu disse anteriormente, é bem interessante, pois serve justamente para apresentar as crianças “super-poderosas” da série, e principalmente serve para desenvolver o amor em que o professor e tutor, sente por suas crianças. Além disso, essa primeira parte consegue se maneira eficiente apresentar o universo da série, explicando bem em que período estamos (mesmo sendo uma série de fantasia, fica bem claro que o período em que “Red Sprite” esta ambientado é baseado na época da segunda revolução industrial) e também consegue mostrar ao público quanto essas crianças amam a figura do “zepelim” – Logicamente alguns quadros, no meu ponto de vista, ficaram extremamente ridículas, como por exemplo, aparecer um zepelim gigante, quando o professor termina de explicar o conceito do mesmo – Mas são pequenas liberdades artisticas que por mais que possam incomodar o leitor, de nenhum modo chegam a prejudicar o andamento da história, muito pelo contrário, podem inclusive ajudar, mesmo sendo um pouco irrealista e forçados.
Então, a primeira parte foi muito boa: O autor consegue apresentar muito bem o ambiente em que o protagonista vive (feliz, educativo e familiar), consegue apresentar o mundo em que a história se ambienta e ao mesmo tempo consegue desenvolver o professor, que será muito importante na segunda parte da história. Segunda parte que se inicia com o ataque do vilão ao orfanato: Repentinamente, no meio da lição sobre os zepelins (ou navio voador, caso tu prefira chamar assim), o orfanato é ataque por um grupo governativo que recuperar as suas crianças (descobrimos páginas após, que na verdade, a energia citada no começo da história é retirada dos seres humanos). Nesse momento a história, sai da primeira marcha à sexta marcha, e começa a caminhar em uma velocidade absurda, mais rápido que o devido, para mim. O autor conta a verdade sobre a energia, explica o que querem fazer com as crianças, e depois mostra o sacrifício do professor (que até consegue trazer uma carga emocional mesmo que toda essa segunda parte teve um desenvolvimento apressado).
Logo após, se já não bastasse, o autor também entrega na terceira parte um time-skip, mostra a evolução do protagonista, o seu novo objetivo (resgatar as crianças do orfanato e liberar todos os escravos), e também realiza sua vingança contra o vilão que capturou os seus irmãos de orfanato. Para mim, o problema de Red Sprite é muito simples: Por mais que o mangá entregue uma história interessante, e um belo universo, o primeiro capítulo tem um ritmo extremamente apressado. Conhecemos o universo, o protagonista, algumas crianças do orfanato, apresenta o conceito de energia e zepelim, apresenta o professor, apresenta “Mono” que será um dos irmãos do orfanato mais importante, o orfanato é atacado, apresenta o vilão (que é péssimo inclusive), tem o “plot twist” da energia vir dos humanos, o professor se sacrifica, tem um time-skip de 6 anos, o protagonista invade a base do vilão (com direito a um discurso muito tosco e clichê), mostra um pouco da sua habilidade, mata o vilão, divulga a localização dos “irmãos”, o herói discursa para os escravos, e por fim escapa em um zepelim vermelho (por causa do poder do protagonista) dando assim sentido ao nome do mangá. Resumidamente, é MUITA informação para um primeiro capítulo. Para mim, de nenhum modo, uma história deve ter tantas informações assim.
Red Sprite peca por dois principais pontos: O excesso de informações no primeiro capítulo (tipico de autores que estão desesperados para mostrar serviço imediatamente), e por a sua raso desenvolvimento do protagonista e vilão, que pareceram genéricos – O maior motivo desse defeito é justamente os diálogos pobres e mal desenvolvidos entregues pelo autor, Tomohiro Yagi. Contudo, a série tem vários pontos positivos que COM CERTEZA a ajudarão a manter os seus leitores: O universo é muito interessante, o conceito da série, mesmo nem tanto original, também é interessante, e principalmente a arte do autor é muito boa e tem uma essência própria, importante para mangás que tentam passar um estilo mais autoral. É necessário vermos como será os próximos capítulos para sabermos se “Red Sprite” realmente terá um bom futuro na revista, mas inicialmente, a obra não me passou uma boa primeira impressão, mesmo que o seu conceito me tenha despertado interesse. E por fim, eu sei que é uma obra de fantasia, mas eu gostaria de saber, mas como uma nave voadora como aquelas consegue voar?