O problema que mesmo assim, não podemos dizer que esta estratégia de Sousei no Onmyouji é realmente inovadora, vários outros mangás que já adotaram esse “estilo B-Shounen” em um universo cheio de fantasmas, inclusive o seu colega de revista, Ao no Exorcist (Blue Exorcist), que por mais que tenha uma história totalmente diferente, mantém certos aspectos iguais à Sousei no Onmyouji: Obra sobre exorcistas que mistura ação com comédia, e ainda por cima adiciona uma pitada de “ecchi” para agradar o público com os hormônios a flor da pele. Deste modo, claramente Sousei no Onmyouji quando foi criado, estava preste a mergulhar em um ambiente que o mangá deveria realmente fazer um milagre para conseguir ser original.
De qualquer modo, mesmo não tendo elementos originais ou inovadores no seu primeiro capítulo, a Pierrot não tinha grandes problemas em adaptar este capítulo as telinhas, por um simples motivo; mesmo sem alguma inovação, a série apresentou um início que agradou grande parte dos leitores – Principalmente o protagonista que por mais seguisse o padrão “B-Shounen” de ser, por isso aquele garoto atrapalhado, engraçado e ao mesmo tempo corajoso (Mesmo que a coragem do protagonista de Sousei é algo que vai se desenvolvendo ao longo do primeiro episódio), conseguiu agradar o público que acompanha tanto o mangá quanto o anime. Sim, este é um personagem genérico, mas que mesmo assim, se o autor saber adicionar todas as suas características genéricas nos momentos justos, por isso entregar cenas de cômicas no “timing” correto, e cenas de ação no “timing” correto, o personagem não se tornará insuportável, muito pelo contrário, tu criará uma simpatia.
Contudo, o que faz Sousei no Onmyouji realmente brilhar é justamente a mecânica fluída entre Rokuro e Benio – Foi justamente por isso que a Pierrot decidiu dar um destaque bem maior a protagonista feminina da história: Enquanto no mangá, o autor desenvolver o primeiro capítulo com uma sequência lógica: Rokuro encontra uma garota que lhe faz querer ser exorcista novamente. O estúdio Pierrot, desenvolve o primeiro episódio com a lógica: Rokuro e Benio, se encontram por acaso, e Benio despertar em Rokuro a vontade de ser um exorcista novamente, fazendo-o superar este trauma. O resultado pode ser o mesmo, contudo o modo em que a Pierrot decidiu desenvolver a história, no meu ponto de vista, tornou todo o primeiro episódio bem mais interessante que no mangá, deste modo, considero a estratégia adotada pelo estúdio acertada.
Mesmo assim, essa decisão trouxe a história certos pontos negativos; no mangá por termos acompanharmos por mais “tempo” (algumas páginas) o protagonista, tendo direito a um pequeno flashback da sua infância (cena ausente no anime), conseguimos criar uma empatia muito maior pela sua causa, enquanto na série, por não termos tanto tempo de tela com o personagem, essa empatia praticamente desaparece; nos simpatizamos pelo herói, mas não criamos realmente uma empatia. O estúdio Pierrot com esta estratégia, praticamente jogou para baixo do tapete todo o trauma de Rokuro – O público não consegue, por questão de incompetência do roteiro sentir tristeza pelo trauma do protagonista. E consequentemente, quando o protagonista decide ajudar Benio, e após dois anos escapando dos seus medos, decide retornar a lutar contra os espíritos, o público não sente nenhum impacto, (Sim, aquela cena teoricamente deveria ser impactante). A cena, que no mangá é bem mais emocionante, no anime simplesmente passa em branco – O sentimento provocado ao espectador é nulo.
A verdade é que conseguimos criar um laço bem mais forte com “Benio”, que aparece em grande parte das cenas com uma atitude corajosa e heroica – Isso acontece, pois no anime os produtores decidiram entregar mais cenas de ação à personagem: Enquanto no mangá, Benio aparece pela primeira vez caindo dos céus, vemos no anime o motivo em qual ela cai dos céus; deste modo, esta cena de ação extra, em que a vemos lutando de maneira corajosa e valente, faz com que nós, espectadores, criemos uma maior simpatia pela personagem. O problema é que não é realmente útil para o desenvolvimento do primeiro episódio criarmos um laço forte com a personagem feminina, por um simples motivo: Os momentos mais marcantes e emocionantes desta introdução deveriam vir de Rokuro. Gostei do estúdio ter dado um destaque maior para a personagem, para mim deixou o episódio mais dinâmica e divertido, mas o “desaparecimento” de Rokuro no primeiro episódio foi uma das consequências negativas desta ação.
Por fim, devo assumir que realmente gostei do “design” de ambiente da série (Eu não amei, ou achei espetacular, mas gostei). Os monstros conseguiram parecer bem mais sérios e assustadores – Parecem realmente espíritos atormentados, verdadeiros maganos (Kegares) – E os cenários, por mais que sejam bem baratos e simples, conseguem convencer os espectadores, principalmente o submundo. Talvez, se o anime tivesse um budget maior (e também tivesse uma equipe de melhor qualidade), poderíamos também ter boas animações de luta, e por fim, um braço de Rokuro bem mais convincente, que por mais que tenha sido de uma qualidade boa, sabemos que na mão de outros estúdios, o resultado poderia ter sido muito superior.
Quem estava pessimista em relação a adaptação do estúdio da Pierrot, provavelmente não ficou muito decepcionado: O estúdio entregou um trabalho realmente coeso e com uma qualidade ao menos mediana. E mesmo suas mudanças no roteiro, os resultados acabaram trazendo alguns pontos positivos que conseguiram se equilibrar perfeitamente com os pontos negativos que essas mudanças também trouxeram. É engraçado perceber que por mais que o produto entregue pelo estúdio Pierrot seja relativamente diferente daquele produto que nos foi apresentado em 2013 na Jump SQ, as minhas impressões não mudaram de modo algum: O primeiro episódio (capítulo) de Sousei no Onmyouji é interessante, consegue apresentar os personagens de modo coerente, dar uma pequena pitada do que será o universo da série, mas para quem está procurando algo inovador, com certeza sairá decepcionado.