Kimetsu no Yaiba é um dos novos mangás lançados na maior revista de mangás do mundo, a Weekly Shonen Jump – A série estreia indo contra a maré, já que a revista não se encontra muito aberta para novas séries, obrigando os novatos serem um grande sucesso para assim conseguir sobreviver. Será que o autor novato, Kotouge Koyoharu conseguirá entregar essa série de sucesso que fará a sua obra se fixar de uma vez por todas na Jump? Bem, isso só saberemos daqui a algumas semanas, contudo eu já posso entregar para vocês as minhas primeiras impressões sobre a série.
A história começa com a “apresentação” do protagonista, aliás as três primeiras páginas são destinadas para que o público conheça muito bem o protagonista: Primeiramente nos apresentam como, após o falecimento do seu pai, a família ficou nas suas costas, ao ponto de mesmo nos dias mais frios, ele trabalhava vendendo carvão, para assim poder dar de comer para todos os membros da família. Logo após, também nos apresentou uma habilidade especial do personagem; A sua capacidade sobrenatural de conseguir sentir cheiro. Por fim, encerra o desenvolvimento inicial do protagonista mostrando como ele é querido pelos membros da vila, ao ponto do ancião deixa-lo dormir em sua casa, para protege-lo desse demônio.
Tanjiro é Marvin – Um garoto que é obrigado a trabalhar para sustentar sua família, mesmo não tendo idade para isso – A sua realidade já era triste, o seu mundo não era fácil, mas a situação claramente podia piorar. Após retornar da casa do ancião, Tanjiro encontra quase toda a sua família morta, assassinada por um demônio que teoricamente vaga pela floresta: A cena é realmente chocante e para os padrões dos últimos lançados da Jump podemos considerar até mesmo um pouco pesada (O autor fez questão de deixar mais leve possível, mas o seu traço sério, misturado com o impacto de uma criança estar vendo toda a sua família mergulhada no sangue, faz com que a cena continue pesada mesmo assim).
Contudo, nem todos os membros da sua família foram mortos, a sua irmã, estava ainda viva, assim, desesperado, Tanjiro decidiu levar-la até a vila, para ver se algum médico pudesse curar-la. No meio da estrada, a sua irmã acorda e tenta atacar-lo. É neste momento que o protagonista descobre que ela havia se tornado um demônio – Por um rápido momento, Tanjiro até se questiona se a irmã sempre foi um demônio, mas logo chega a conclusão que isto seria impossível, já que além dela estar com um cheiro diferente, ele sentiu claramente um cheiro novo dentro da casa, provavelmente do demônio que matou toda a sua família. Cito este pequeno dialogo, pois é importante no desenvolvimento da habilidade do personagem. Provavelmente Tanjiro reconhecerá o assassino da sua família justamente pelo seu cheiro.
Por enquanto, Kimetsu no Yaiba apresentou um roteiro coeso, bem mais “poético” que as demais obras da revista e com uma tonalidade também bem mais série. É interessante perceber, mesmo estando em uma revista voltado para um público jovem (entre 16 a 24 anos), que tende a não ter tanto conhecimento histórico e não se importar com suas raízes, Kotouge Koyoharu tentou trazer uma série que faz constante referência ao Japão feudal, seja na própria ambientação quanto no estilo de escrita, e também utiliza vários aspectos da mitologia japonesa para desenvolver a história (A possessão por espíritos malignos e seus caçadores) – Várias outras obras “brincaram” com o tema, logicamente, mas Kimetsu no Yaiba faz isto sem tentar portar a história para a atualidade ou adicionando elementos de comédia, para assim deixar o mangá mais palpável para o público jovem – É como o autor estivesse acreditando no potencial dos seus leitores, apostando que eles possam gostar de obras mais sérias e que dialogam com as suas raízes.
Voltando para a história, a irmã ataca Tanjiro e tenta mata-lo, contudo chega para salvar-lo o “caçador de demônios”, que faz um longo dialogo com o protagonista. O caçador quer matar a irmã, contudo Tanjiro implora de joelhos para que o caçador não a mate, revoltando-o, já em sua opinião, nenhum homem deve se ajoelhar implorando, deixando a escolha nas mãos dos outros, muito pelo contrário, os homens devem lutar pelos seus objetivos, no caso, daquela cena em específico, Tanjiro deveria tentar salvar a irmã do caçador com suas próprias mãos. Sinceramente, o discurso é extremamente clichê, sem graça e não faz sentido algum – Desde quando você pede para um garoto camponês, que claramente não deve ter nenhuma experiência em combatimento, lute como um retardado para resgatar sua irmã? Cada um deve lutar com as armas que tem, no caso de um camponês, só lhe resta mesmo as palavras. De qualquer modo, o autor adicionou essa cena para demonstrar que o nosso protagonista, por mais que não saiba lutar, é muito inteligente e deste modo consegue atacar o caçador com uma estratégia surpreendente.
Assumo que quando o caçador refletiu sobre a situação do protagonista, de certo modo o incomodo que toda a cena estava me dando, diminuiu consideravelmente, contudo, infelizmente retornou a aumentar fulminantemente, quando o autor quis demonstrar que o protagonista, por mais que não saiba lutar e não tenha a habilidade do caçador, é muito inteligente, e consegue “bolar” um ataque surpresa que quase fere o adversário. Esta sequência serviu para dar mais emoção ao capítulo, apresentar a capacidade de raciocínio rápido do protagonista (que deve ser desenvolvida no futuro) e ao mesmo tempo, mostrar que o protagonista é um verdadeiro lutador, que utiliza todas as suas armas para alcançar o seu objetivo, que no caso, era resgatar a sua irmã das mãos do caçador, contudo acredito que isto foi exposto de uma maneira pouco natural, como ele estivesse querendo mostrar de qualquer modo no primeiro capítulo que o protagonista é realmente inteligente.
Porém, o que faz o caçador de demônio mudar de ideia, é que após nocautear Tanjiro no chão, a irmã, mesmo ainda em forma demoníaca, ao invés de “comer” o seu querido irmão, como todos os demônios fazem (Já que teoricamente os familiares dão mais energia), decide defender-lo. Esta cena inusitada, faz com que o caçador decida poupar a vida da irmã e diz para o protagonista ir procurar um certo “Udokodaki “Sakonji”, que poderá ajudar-lo.
Kimetsu no Yaiba entrega um primeiro capítulo focado no protagonista (e consegue desenvolver-lo muito bem), apresenta um pouco da atmosfera da série, mas quase nada sobre o seu universo ou sobre qual rumo a história irá tomar no seu primeiro capítulo – Isto pode contar como um fator negativo no momento dos votos? Sim, mas Black Clover adotou uma estratégia parecida, no qual Tabata Yuuki não apresentou quase nenhum elemento do seu universo no primeiro capítulo – De qualquer modo, ponto forte da série foi de longe o seu traço, que lembrou obras mais antigas e acabou me agradando (e pelo jeito agradando muitos japoneses). Fiquei incomodado pelo design do caçador, achei infantil demais e por ser uma personalidade bem mais série, não combinou com toda a situação. Enquanto Tanjiro realmente parecia uma criança e se comportava como tal, o caçador parecia um adulto que por motivos hormonais, não conseguiu desenvolver bem o seu corpo, entretanto, em geral, a arte de Kotouge Koyoharu me agradou bastante.
Não me atrevo a dizer que a série irá dar certo ou irá fracassar, o produto apresentado é realmente muito diferente do que vemos na Shonen Jump nos dias atuais, o que pode significa um grande fracasso ou um novo grande sucesso. Ansatsu Kyoushitsu quando estreou também pareceu um produto que não combinava tão bem com a revista e acabou se revelando um grandíssimo sucesso; O mesmo vale para Death Note. Eu sinceramente, mesmo não gostando de alguns pontos (Já citados na análise), gostei bastante da atmosfera, da personalidade do protagonista e principalmente do traço do autor. Agora é necessário que o autor entregue uma história interessante e que consiga de maneira eficiente combinar com a atmosfera da série, pois não adianta entregar uma atmosfera pesada e seria, e a história acabar sendo extremamente fútil e esquecível. Por fim, quero agradecer a Conards Scans por haver traduzido o primeiro capítulo da série, fizeram um ótimo trabalho e espero que continuem a traduzir Kimetsu no Yaiba.