Eu já havia lido Peace Maker em inglês, porém lembro muito das minhas sensações ao ler o primeiro capítulo desta espetacular obra. Nesta “primeiras impressões” eu irei tenta resgatar toda minha visão daquela longínqua primeira leitura e tentarei, analisando somente o primeiro capítulo, trazer para vocês as minhas primeiras impressões sobre essa série que para mim, é um dos melhores mangás já lançados em uma das revistas mais ignoradas pelo público ocidental, mas que de mesmo modo, faço questão de sempre cobrir: A Ultra Jump.
O autor começa a história em uma igreja cristã, demostrando que a história se passará em um universo com grandes influências ocidentais, e não orientais, como a grande maioria dos mangás. Um grupo de homens vestidos de pedro invade uma vila, e logo após a sua igreja, matando vários moradores daquele local. O problema é que em baixo do balcão da igreja teve uma criança que estava observando toda a cena, se tornando a única sobrevivente. O autor começa a história de maneira clichê, porém muito bem efetiva nos mangás de seinen. Entregar uma prévia do vilão, da sua crueldade ou do seu incrível poder, e logo após começar a história do presente, neste caso, onde o protagonista está vivendo sua vida normalmente ou realizando algum objetivo que no momento ele julga importante. Outra técnica usada é entregar um pedaço do passado do protagonista, caso este passado seja traumatizante e logo após ir ao presente.
No presente (da história), logo entendemos que a série se passará realmente em um ambiente ocidental, sem misturas do oriente, já que o autor nos faz questão de mostrar uma velha batalha de faroeste americano: Dois pistoleiros duelando para ver quem vencerá. O ganhador ficará com um bolão de dinheiro, o perdedor conhecerá deus no paraíso. Logo entendemos por esta cena que o comércio da pequena cidade gira em torno desses duelos e que o público glorificá os vencedores. Aos poucos, Minagawa Rouji vai apresentando o universo de Peace Maker e ao mesmo tempo fazendo uma critica a este “mundo”, usando como técnica os comentários do protagonista ou mesmo a crueldade das ações (Mostrar uma criança chorando a morte de uma mulher, é um modo indireto de passar ao público quanto o universo da obra é violento e cruel).
Após mostrar a crueldade do confronto, Minagawa decide desenvolver um pouco mais o duelista, mostrando o seu lado humano, e que mesmo participando de confrontos sangrentos e retirando a vida das pessoas por dinheiro, a sua consciência não está limpa. O autor quer deixar claro que o vencedor pode estar fazendo uma ação terrível, porém tem um bom coração. Fazer-lo adotar a criança órfã que viu todo o massacre da vila, foi uma das estratégias do autor para demonstrar o lado bom do duelista e fazermos criar mais simpatia. Isso é reafirmado quando ele oferece para comer ao protagonista no lugar de poder dar uma olhada em sua arma: O protagonista responde que não poderá entregar-lo as duas pistolas, pois: “as suas mãos estão manchadas demais de sangue”, o que faz o duelista abaixar a cabeça, e com uma expressão triste refletir sobre as vidas que já retirou praticando esses duelos. Em toda essa cena também é interessante notar a garota órfã também fez uma expressão triste ao ouvir a frase, não por ter matado alguém diretamente, mas sim por a frase “manchada demais de sangue”, provavelmente lhe lembrou da carnificina na vila em que ela estava, que de certo modo foi causada por sua presença lá, aliás, esta garota é um personagem com uma estética muito interessante, o autor a fez com olhos grandes, límpidos e brilhantes. Os olhos grandes e os pontos brancos trazem a ideia ao público de pureza, mas ao mesmo tempo as listras cinzadas servem para dar uma sensação de profundidade, já que a garota passou por uma experiência traumática.
O autor imediatamente muda a cena para um homem sinistro que está chegando na cidade, o seu design é bem básico dos vilões ocidentais: Cabelo curto e claro, corpo magro, olhos grandes, vestimenta militarizada e cicatrizes que lhe dão uma ideia bem vilanesca, lembrando generais alemães ou russos (Por causa dos filmes americanos, generais desta duas nações nos trazem uma sensação ruim, já que os dois povos lideraram exércitos que foram contra a ideologia americana, o exercito nazista e o exercito comunista). Rapidamente o autor explicar toda a situação, o homem, que é um dos membros da equipe de carrascos da família Crimson, veio a cidade a procura da garota sobrevivente ao massacre, pois na verdade ela nunca foi uma cidadã daquela vila, mas era sim a filha do padrão dos carrascos, e suas missões eram passar cidade a cidade em busca da garota – A garota, se julga culpada pelo acontecimento na vila, já que os homens fizeram tudo isso para achar-la, e é justamente por isso que ela fez uma expressão de culpa quando o protagonista disse: “Mãos manchadas de sangue” – Porém, sejamos claros, a pobre garota não tem nenhuma culpa, por mais que a chacina foi causada por sua fuga de casa, em nenhum momento isto a justifica: Não havia necessidade de matar ninguém para encontrar-la, o grupo fez isso só por razões sádicas. O duelista, ao ver o carraço tentar levar embora a garota, o lhe desafiou para um combate, que a maioria dos leitores já sabe como irá terminar.
O duelista acaba sendo morto pelo carrasco, que estava usando um colete a prova de bala no combate (Minagawa usou a técnica de fazer com que o vilão pareça que venceu de maneira suja, deixando assim o público ainda mais irritado com o personagem. Acredito que no caso deste capítulo não funcionou, mas valeu a tentativa). Após a vitória, o carrasco decide levar a garota, chamada de Nicola, embora, porém a mesma hesita partir, mostrando que tem muito medo de voltar para casa, o que faz o carrasco ameaçar matar toda a cidade, caso ela não o acompanhe, o que é ridículo se pensarmos logicamente e só mostra os desejos sádicos do carrasco, já que a garota é filha de um dos maiores donos de terra da região, logicamente a cidade o deixaria levar-la, mas para o carrasco tudo era motivo para fazer uma chacina. Após assistir todo o desenvolvimento do confronto, o protagonista finalmente decidiu entrar em ação. O motivo não era claramente para salvar a garota ou vingar a morte do duelista, que o protagonista deixou claro que não concordava com suas ações, e sim para livrar mais um “demônio” da face da terra. É importante dizer que o autor usou uma técnica bem simples no desenvolvimento da história. Deixou os poderes do personagem principal escondido por várias páginas, fingindo que ele era somente um vagabundo, para depois provar que na verdade o protagonista é um grande guerreiro, ou nesse caso, atirador. Clichê? Com certeza, porém que acaba funcionando muito bem, principalmente porque Minagawa Rouji, roteirista e desenhista da história, sabe desenvolver bem a tensão de um duelo entre cowboys. Ficamos realmente ansioso para ver o herói brilhar.
O protagonista desafia o carrasco para mais um duelo, o que faz parecer para o público ao redor uma grande piada, já que o protagonista, ainda sem nome revelado, parece mais um “vagabundo sem teto” – O trunfo do autor neste duelo, não era o ódio que criou sobre o vilão, já que ao menos no meu caso, por mais que ele fosse cruel, não foi bem desenvolvido o bastante ao ponto de eu conseguir criar antipatia, mas o trunfo foi justamente a arma. A grande maioria dos leitores devem ter ficado curioso em saber como funcionava a arma e se o herói sabia mesmo manusear-la. Não deu em uma outra, em um golpe rápido e bem explicado (Explicação necessária, já que todos os leitores não entenderiam a cena por si só), vimos o herói da história destruir o coração do adversário, que caiu no chão morto. É interessante notar que nessa explicação, o protagonista se aproveitou do antigo duelo para vencer o seu adversário, demonstrando que o personagem é bem atento e inteligente, com certeza podemos esperar mais ações sábias por parte do mesmo. Porém o autor foi mais longe, não só aproveitou o “hype” dado a pistola e da habilidade do protagonista, para criar um filo com o passado do herói, que se revelou o filho de um grande pistoleiro, Peace Emerson – E por fim revela o seu próprio nome: Hope Emerson.
O mangá se encerra com uma grande revelação, Hope Emerson revela que a sua arma não pode ser usada para derramar sangue humano, já que ela é feita com a alma do seu pai, o que nos leva a entender que o inimigo não era humano. Quando ele está partindo, encontra a garota, Nicola, que diz que ele é destinado a derrotar todos os demônios, o que confirma o que já suspeitávamos, o carrasco era um demônio (É dito no momento do combate, mas não fica claro se Hope usou o termo demônio como uma metáfora do comportamento cruel do carrasco ou se ele era um demônio de verdade). Esta última página comprova que a história caminhará por um ambiente sobrenatural e que Nicola não está sendo procurada simplesmente porque é filha de um membro da família Crimson, provavelmente ela sabe muito mais.
Peace Maker entregou um capítulo interessante, e por mais que o autor não apresentou um conteúdo realmente original, já que podemos ver uma história parecida em qualquer filme de faroeste, o fato de não encontrarmos na atualidade nenhuma obra japonesa que cobre de maneira tão eficiente o faroeste americano, faz com que o primeiro capítulo de Peace Maker houvesse uma “aura” única, como estivéssemos lendo uma obra com uma temática nunca vista. Também é importante realçar que Minagawa Rouji desenvolveu muito bem o “plot” inicial, fez uma dura crítica a violência pura e por diversão, mostrando como os duelos de vida e morte era uma barbárie, e também conseguiu apresentar cada personagem de forma eficiente, talvez só o vilão que não foi muito bem desenvolvido, porém, o duelista que acabou sendo morto, o protagonista e a garota, todos eles conseguiram brilhar de algum modo na história. O protagonista mesmo, por mais que veio brilhar realmente nas páginas finais, por toda a história serviu como a “voz da razão”, apresentando conceitos humanistas que iam contra a ação de matar uma pessoa, mesmo por “justiça”.
A verdade é que ler o primeiro capítulo de Peace Maker nos dá uma sensação que o autor sabia muito bem o que estava fazendo e soube dar um significado importante para cada expressão, frase ou ação realizada pelos personagens que compuseram a história, um grande início para uma história que só tende a ficar ainda mais épica.