O mal da combustão espontânea
En En no Shouboutai (Kari) é a nova série do famoso autor Atsushi Ohkubo, criador do tão amado “Soul Eater”. Lançado na Shonen Magazine nesta quarta-feira, a BLADE Scans fez questão de se mobilizar por inteira para trazer a tradução em português. Por isso antes de ler esta análise recomendo que vocês deem uma lida no capítulo inicial que foi traduzido e editado com uma excelência de se tirar o chapéu: En En no Shouboutai
Esta nova obra de Atsushi Ohkubo se passa em um futuro de data desconhecida, onde o maior problema que a assola a humanidade é justamente a “combustão espontânea” – Para quem não sabe, este fenômeno é quando o corpo humano começa a queimar “dentro para fora”, ao ponto de transformar-lo em cinzas. Porém a ciência nunca comprovou que este fenômeno de fato existe – Foram encontrados corpos que teoricamente foram carbonizado pela combustão humana, contudo em nenhum cientista conseguiu reproduzir o feito ou mesmo comprovar que esses corpos foram vitimas desse estranho acontecimento.
Se baseando justamente na “mitologia” por trás da combustão espontânea, Atsushi Ohkubo decidiu criar um universo onde esse fenomêno, por motivos ainda não explicados, se tornou recorrentes. Ao ponto de serem obrigados a criarem bombeiros especiais para apagar as pessoas que “do nada” começam a pegar fogo – È com esse universo, onde todo mundo está correndo risco de simplesmente “se carbonizar” que En En no Shouboutai se ambienta. Contudo, será que o autor conseguiu apresentar de forma convincentes essas idéias no seu capítulo inicial? Vamos para a análise:
O capítulo começa com uma combustão espontânea acontecendo em um dos metros da cidade – Enquanto isso, o protagonista vai correndo desesperadamente para não perder o seu primeiro dia de bombeiro (Não é revelado inicialmente que é primeiro dia de bombeiro, mas levando em conta as páginas coloridas do mangá, já dá para imaginar que é isso). Logo nas primeiras páginas percebemos uma característica que provavelmente será recorrente na série e usada para gerar humor: O sorriso tarado do protagonista. Toda vez que o nosso herói passa por uma situação constrangedora ou estar ansioso, ele dá um sorriso que parece de um tarado, fazendo assim que a maioria interprete erroneamente os seus sentimentos. Como En En no Shouboutai é um mangá shounen, é mais do que válido o protagonista ter um fundo cômico, o público infanto-juvenil gosta bastante desses heróis.
Assim que chega a estação de metro, o personagem principal se depara com um incêndio em um dos vagões do trem. Todos os cidadãos que estavam no vagão começam a escapar desesperadamente, até quando sai por último, a vítima do fenômeno – Devo assumir que achei bem interessante perceber que a pessoa continua vive, se tornando assim um monstro de fogo, parecendo que veio do inferno – Logicamente, Ohkubo nesse momento começa a adicionar um pouco de fantasia a sua história, contudo não considero isso um ponto negativo, muito pelo contrário, para mim se torna um ponto positivo: É sempre bom ver a fantasia e a ficção-cientifica unida. Ao ver o pobre cidadão sendo dominado pela combustão, o protagonista ativa o seu “modo heroico” (Essencial para qualquer protagonista de B-Shounen que se preze) e decide que vai poupar o cidadão do sofrimento de ser aquela criatura.
Entretanto, quando o nosso “herói” estava preste agir, chega no local os bombeiros (Que aliás, foram extremamente velozes para chegar. O alarme havia soado no máximo a 1 minuto atrás, e eles já estavam no local). Um dos membros do corpo de bombeiros, imediatamente percebe que o protagonista tem um rosto familiar, mas como não tem certeza de quem ele é, pede para se afastar. Logo após, começa uma sequência de ação enorme, onde os bombeiros em um combo bem interessante, vão neutralizando a combustão espontânea. É importante perceber que nesse universo, um dos membros essenciais para a operação é justamente a “freira”. Isso de certo modo reforça a ideia que essa combustão não está acontecendo por motivos científicos, e sim por alguma influência sobrenatural. Pode ser a presença de um demônio, de alguma força oculta, não se sabe – Porém com certeza o que é, será revelado no futuro e será de extrema importância para o desenvolvimento da história.
Após conseguirem livrar o homem daquela existência (Matando-o), acontece uma pequena explosão e um dos detritos voa na direção da freira – É nesse momento que o protagonista começa a agir – Usando sua habilidade especial, o nosso herói pula e carrega a freira para longe do local onde o detrito iria cair, salvando-a. É claro que a cena foi um pouco forçada, o autor precisava obrigatoriamente dar um “gostinho” do que o protagonista da história podia fazer, assim criou essa cena “a mais” de ação, para podermos dar um “bisbilhotada” em sua habilidade. Em seguida o herói revela que é o novo designado para a oitava brigada de bombeiros, e também finalmente diz aos leitores o seu nome: Shinra Kusakabe.
Por fim, o autor decide entrar na parte final do “primeiro capítulo”, onde após mostrar um pouco como os bombeiros agem, decide desenvolver o protagonista, os membros do corpo de bombeiros e o universo que circundará a série. Conhecemos um pouco mais sobre a personalidade do protagonista e seu passado: Descobrimos sobre o seu sorriso, que foi considerado um demônio quando era pequeno e também que sonha em ser um herói, de certo modo para livrar essa imagem de demônio que o circunda. Conhecemos cada membro do esquadrão e também descobrimos um pouco mais sobre a combustão humana, como ponto principal, sabemos que ainda não se sabe a causa deste fenômeno, porém, enquanto o cientistas não encontram uma solução, a função dos bombeiros é apagar quanto mais pessoas que estão pegando fogo.
Também descobrimos porque o protagonista tem a habilidade de controlar o fogo, já que alguns dos nascidos na terceira geração já vem com essa combustão ativa nos seus corpos, sendo assim capazes de controlar o fenômeno. Logicamente fica claro que em algum momento da série, Shinra Kusakabe será dominado pelo fogo, assim os seus colegas terão que tentar fazer-lo voltar ao normal… Por mais que esse acontecimento seja previsível e bem clichê em séries onde o protagonista tem um poder extremamente forte dentro de si, eu continuo ansioso para ver como será a cena em que veremos Shinra tendo que se controlar para não ser dominado por essas chamas. Logicamente é sempre preferível séries que conseguem fugir de vários clichês, porém quando o clichê é bem empregado, pode se tornar um ponto positivo – O importante é o autor, no momento em que o emprega, não dar a sensação ao leitor de “deja vu”, por isso fazendo que a cena se tornar previsível demais. O leitor pode saber o começo e o fim, porém é responsabilidade do autor surpreender no meio. O clichê mal empregado é quando o leitor já sabe o começo, o meio e o fim, fazendo toda a sequência de cenas se tornarem extremamente previsíveis. Encerrando o capítulo, os corpos de bombeiros são chamados, e assim Shinra Kusakabe terá que começar uma nova missão, a sua primeiríssima missão como bombeiro.
Comentando um pouco sobre a arte e o seu universo: A obra apresenta uma ótima arte. Inicialmente achei que a sua arte estava inferior a de Soul Eater, porém com a versão mais clara lançada pela BLADE Scans percebi que o mangá continua tão bem desenhado quanto foi a obra anterior do autor, não houve uma melhora e nem piorou, a sua arte está no mesmo nível. O seu universo, que lembra bastante um mundo cyber-punk também é muito interessante e ao meu ver é o ponto forte da história, com certeza essa união entre ciência, religião e fantasia irão fazer esse mundo se tornar cada vez mais interessante.
En En no Shouboutai apresenta um capítulo inicial, intitulado de “0”, bastante coerente. Tudo, tanto o protagonista, os seus colegas e o universo são apresentados de modo superficial, deixando ainda muitos elementos em abertos que deixam uma curiosidade aos leitores – É importante que Ohkubo saiba desenvolver de forma eficiente essas lacunas em aberto para a série passar de ser uma promessa para de fato uma realização. En En no Shouboutai é daquelas séries que nos deixam bastante curioso para ler os capítulos seguintes, principalmente porque mostra um grupo de heróis simpáticos e um mundo bem misterioso. Agora, se a série dará certo, vai depender muito mais do desenvolvimento do autor do que da ideia em si. Pelo menos Soul Eater foi muito bem desenvolvido, deixando assim um grande otimismo para nós leitores.