Deste modo, Best Blue aparece na revista com uma opção viável para a revista fortalecer o gênero de esporte na revista, trazendo uma temática que é bem pouco desenvolvida no mundo dos mangás, a natação competitiva – Por mais que possa parecer difícil se firmar na revista, tendo como concorrentes mangás como Haikyuu!!, a situação de Best Blue está bastante favorável. Os editores, inteligentemente, estrearem no verão japonês – Uma temporada de calor extremo, que pode estimular muitas pessoas a quererem praticar natação. Além disso, Best Blue estreou sem ter nenhum inimigo na leva, o que faz com que a obra não precisa competir com outros novatos para ganhar voto, uma vantagem que foi muito bem aproveitada por mangás como Isobe Isobee Monogatari e Hinomaru Zumou.
Por fim, o que ajuda ainda mais a série é o fato de ter um autor já conhecido pelos leitores mais antigos da revista, Masahiro publicou o fracasso Shinmai Fukei Kiruko-San no final de 2012, na mesma leva em que estreou Shokugeki no Souma e Hungry Joker – A obra por mais que não tenha dado certo, fez com que várias pessoas se tornassem admiradoras do trabalho do Hirakata Masahiro, por isso, ter já uma pequena fã-base por trás, ajuda muito Best Blue a poder se estabelecer na Weekly Shonen Jump – Mesmo que essa fã-base pode ser um pouco perdida com a brusca mudança de estilo do autor, que migrou da comédia (Kiruko-San) diretamente para um mangá de esporte bem mais sério, voltado para a competitividade. Provavelmente, muitos leitores que gostaram de Kiruko-San devem abandonar o autor nessa nova aventura, mas se ele conseguir manter alguns dos antigos leitores e ao mesmo tempo atrair novos, já será uma grandíssima vitória.
Para conseguir atrair esse novo público, Best Blue deve ser um mangá emocionante e que consiga trazer do melhor modo possível a essência da natação – Algumas técnicas devem ser usados para que isso seja alcançado, uma delas é aproveitar o verão e dar ao público uma sensação refrescante ao ler o mangá, e é justamente isso que Masahiro faz em suas páginas coloridas. O autor aposta em colores vivas, em tonalidades de azul e verde que lembram a água, despertando na mente dos leitores sensações de refresco. Para potencializar o efeito, Masahiro desenha vários pingos d’água que “escorrem” pela página, como que o movimento dos personagens na “água refrescante” estivesse transcendendo a obra e chegando ao público. E por fim, para mostrar mais ainda quanto a natação é relaxante, o autor coloca na lateral da página colorida dupla, o protagonista suado e com o rosto um pouco queimado, por isso, sendo “atingido” pelo verão escaldante, assim mostrando um contra-ponto. Para muitos, pode parecer uma besteira reparar nesses simples detalhes, mas cada estratégia utilizada para conquistar o público, é bem-vinda – Vemos revistas como a Jump Square, utilizarem capas tão refrescantes quanto para atraírem compradores no Verão, é assim que o mercado funciona, é necessário atingir em cheio o público alvo.
Após as ótimas páginas coloridas, o mangá finalmente começa o seu desenvolvimento. O autor, sem perder tempo, começa a desenvolver o protagonista, Aono Takumi – O personagem entra naquele grande clichê do protagonista concentrado que está pronto para realizar o seu sonho, mas que ao mesmo tempo é um pouco atrapalhado e faz várias caretas. Vimos personagens nesse estilo em Black Clover, com Asta ou mesmo, comparando a outra mangá de esporte da Weekly Shonen Jump, temos Hinata, que se parece com Aono Takumi em outro aspecto. Tanto Hinata quanto Aono sonham em ser grandes esportistas, porém, por não ter apoio do colégio, devem praticar sozinhos o esporte. Assim, eles mostram garra, porém, não conseguem ter uma grande técnica, justamente por não terem um treinador ou uma equipe para ajuda-los. Mas isso significa que Best Blue é uma cópia de Haikyuu? De nenhum modo, o autor só está apostando em bases clichês para fazer com o que público já tenha uma simpatia prévia pelos personagens. Enquanto alguns autores preferem desenvolver os personagens um modo mais criativo, outros, preferem apresentar e desenvolver o personagem de um modo mais “clichê”, que facilita o público ter mais empatia pelo personagem.
Mesmo que Aono Takumi e Hinata sejam bem parecidos, Best Blue tem um capítulo bem diferente do de Haikyuu!! – Aliás, Best Blue deu uma introdução diferente de qualquer outro mangá presente atualmente na revista. Hinomaru Zumou apresentou o Sumô mostrando o preconceito que os japoneses tem pelo esporte e como o protagonista está disposto a lutar contra qualquer inimigo para ter o direito de praticar em sua escola o seu esporte favorito. Em Haikyuu!!, temos Hinata (O protagonista) indo em uma competição, tentando, mesmo não estando pronto, realizar o seu sonho em ser campeão de vôlei. Sesuji wo Pin! foi o mais diferente de todos, já que foi aquele que deixou de maneira mais natural a paixão do protagonista pelo esporte (No caso, dança), já que mostra ele vendo uma apresentação de dança e se apaixonando pela modalidade. Best Blue também dá uma introdução bem diferente, comparado aos demais mangás da revista, já que prefere dar uma contra-ponto entre Aono e o salva-vidas, Kagura Souta… Aono ao saber que o novo salva-vidas do clube da sua cidade é um nadador profissional, fica o enchendo o saco para que ele possa treina-lo.
Porém, mesmo entrando uma introdução diferente dos demais mangás de esporte presentes na Weekly Shonen Jump, Best Blue não é criativo em seu desenvolvimento. Primeiramente o autor exagera no discurso de que a “persistência” é tudo. Foram cerca de 40 páginas, onde o autor quis provar que o protagonista é uma pessoa extremamente persistente – É necessário, em um mangá de esporte, mostrar que o personagem principal está pronto para enfrentar montanhas para se tornar o melhor, mas não é necessário insistir nesse argumento, quando ele já está muito claro ao público. Voltando a Haikyuu!!, o autor mostra sim a persistência de Hinata no seu primeiro capítulo, mas faz questão também de desenvolver o seu inimigo, mostrar como toda sua equipe gosta do personagem e vários outros aspectos do vôlei… Best Blue simplesmente foca em mostrar que Aono é uma pessoa persistente, que quer se tornar um grande nadador, mas dá um péssimo desenvolvimento dos demais personagens da história e não apresenta simplesmente nada, eu digo, nada, da natação competitiva.
Kagura Souta, o salva-vidas que é um nadador profissional (Não deu para entender direito porque ele estava desempregado, mas tudo bem, isso deve ser explicado no segundo capítulo), foi muito mal desenvolvido. O autor tentou mostrar que de algum modo ele estava triste pelo fracasso e que ele queria esconder de Aono que era o lendário nadador da ilha – O autor ficou enrolando tanto nesse mistério, que de “mistério”, não havia nada. Estava tudo mais do que na cara, todo mundo sabia que kagura Souta era o nadador lendário e que ao perceber que Aono é de fato uma pessoa persistente e que ama a natação acima de tudo, iria revelar sua identidade e decidiria ajudar o pobre garoto a se tornar um grande nadador. E a outra personagem, a loira com peitos avantajados, está ali somente para deixar toda a situação menos “fujoshi”, dar aos leitores alguma referência feminina que eles pudessem ficar gritando: “Kawai”, “Que linda” ou “Meus deus, que peitões”. A utilidade dela é simplesmente zero (E mesmo assim soou para mim a personagem mais carismática de todo o primeiro capítulo).
Acredito que a escolha de Hirakata Masahiro em focar no fato de Aono ser um garoto persistente que não consegue nadar muito bem pelo fato de não ter técnica, porque o seu One Shot, lançado na NEXT 02.2014 (Que fiz questão de comentar aqui no Analyse It no ano passado), teve como uma das grandes críticas o fato do protagonista ser extremamente cheio de sí e muito forte, lembrando de algum modo o protagonista de Tokyo Wonder Boys que também tinha essas características. Para não cometer o mesmo erro de TWB, o autor preferiu mostrar para o público que na verdade, o nosso “herói” Aono é um garoto que sonha em ser um grande nadador, mas por viver em uma ilha onde a natação é só para pesca, não tem ninguém para ensina-lo a nadar. Uma escolha sábia, que de fato deixou o primeiro capítulo bem melhor que o One Shot, mas que mesmo não fez do primeiro capítulo de fato algo surpreendente, como aconteceu com Hinomaru Zumou.
Não é que Best Blue é um mangá ruim, só acho que o autor exagerou nesse primeiro capítulo – Ele deveria encontrar um outro modo de tentar apresentar para nós leitores o protagonista e não ficar insistindo em um argumento batido por cerca de 40 páginas – Os personagens podiam ser mais bem desenvolvidos caso Masahiro preferisse seguir por um outro caminho ou mesmo poderia apresentar muito melhor a regras do esporte, que por mais que pareça bem simples, tem várias regras e técnicas que devem ser seguidas. Para mim, Best Blue pode ter um incrível futuro e quando começar a apresentar os demais personagens que irão compor a equipe, deve ficar bem mais interessante, as competições de natações também parece que vão ser fantástica, já que o autor tem uma arte muito, mas muito boa, mas essa introdução da série não foi nada mais, nada menos do que mediana, em alguns pontos fez com que a leitura se tornasse inclusive um pouco massiva, por exemplo, o fato de Kagura ficar com aquele mistério gigantesco, foi bem irritante. Eu já li primeiros capítulos bem melhores que esses, e acredito que Masahiro tinha espaço para entregar uma introdução muito mais emocionante para Best Blue, uma pena que não conseguiu e só entregou um trabalho na média.