Com muito atraso (E peço desculpas por isso), finalmente começo a fazer as minhas primeiras impressões sobre os mangás desta nova leva. Essa semana será uma semana cheia de análises tendo uma por dia praticamente, somente na sexta-feira que o Blog não terá nenhuma postagem – Começamos com Sesuji wo Pin!, mangá de um autor muito prestigiado no mundo underground de comics japoneses, Yokota Takuma – Conhecido principal pelos seus webcomics.
Antes de tudo recomendo eu agradeço a Breaker Scans pela tradução de Sesuji wo Pin!, nós do Analyse It iriamos traduzir o primeiro capítulo do mangá, inclusive eu já havia enviado a tradução ao editor, mas a Breaker Scans nos antecedeu e não simplesmente traduziu o primeiro capítulo (Lembrando que nós só iamos traduzir o primeiro para vocês conhecerem a série), como o pegaram o projeto, fazendo assim um grandíssimo favor a todos nós que gostamos de ler mangás. Ao mesmo tempo que agradeço a Breaker Scans por entregar uma tradução de altíssima qualidade e com uma ótima edição.
O mangá começa com a chegada do protagonista, Tsuchiya Masahira que acabou de chegar no nível superior japonês, referente ao ensino médio aqui no Brasil. Como é de costume, os novos alunos deveriam escolher o clube que iriam participar, para ajuda-los nessa escolha, o colégio fez uma tarde só para a apresentação do clubes – Provavelmente tivemos Kuroko mostrando suas habilidades no basquete, Hinata tremendo no meio do palco na hora da apresentação de vôlei, o clube de sumô onde todo mundo ignorou a apresentação e por fim deve ter tido até uma apresentação do clube de música que provavelmente foi transferido para uma outra área do prédio.
No meio das várias apresentação, o protagonista estava se importando mesmo somente com uma: A apresentação do clube desportivo de dança – Acho que vocês já devem ter reparado em um ponto estranho no nome do clube, sim é um clube desportivo e competitivo, por isso a série não trata de uma clube de dança de teatro, por exemplo um ballet que no final do semestre apresentam em um fabuloso teatro uma interpretação artística em forma de dança, tema já discutido em vários filmes e também em mangás – O autor preferiu ir em um caminho menos comum ainda, preferiu se aventurar no mundo da dança competitiva e esportiva.
O maior problema para a sobrevivência dos mangás voltados a um desenvolvimento mais subjetivo e menos competitivo é que o público da Jump é muito infantilizado mentalmente, por isso sentem a necessidade de ter uma competição para guiar a história, não gostam tanto assim de obras mais conceituais, onde o desenvolvimento é focado em conflitos internos… Eles querem ver mesmo é conflitos externos, não uma pessoa tentando se encontrar na dança, muito pelo contrário, querem ver duas pessoas certas no que fazem competindo entre sí. Sabendo dessa preferência dos leitores da revista, Yokota Takuma já deixa claro nesse primeiro capítulo que entregará um mangá de dança competitiva, mas mesmo assim preservando a arte que a dança reserva.
Porém, sabemos que ao mesmo tempo Takuma sempre foi conhecido pelos seus mangás extremamente depressivos e subjetivos, onde ele desenvolveu de forma genial o “ser” dos personagens que estavam presente na sua história. Então, Takuma estaria a perder essa sua qualidade que o fez se tornar tão prestigiado no mundo underground? Acho que isso logo respondido quando o autor já nas primeiras páginas foca totalmente em desenvolver as inseguranças do protagonista. Enquanto o personagem principal Tsuchiya via os clubes se apresentando, o autor de forma rápida e eficiente nós apresentou as inseguranças do herói que irá protagonizar essa história.
Todo o desenvolvimento do protagonista é muito clichê, ter um protagonista que não consegue se relacionar com as garotas por causa da sua timidez é uma estratégia muito comum adotada por vários autores, o que mesmo assim não deixa de ser uma caracteristica interessante ao autor. Provavelmente Takuma decidiu dar a história um protagonista timído, pois além de poder dialogar melhor com vários leitores da Weekly Shonen Jump ao mesmo tempo serve como perfeito contraponto ao próprio esporte em que ele irá praticar. Na dança é necessário um grande contato com sua parceira, assim o protagonista para se tornar um grande dançarino e poder brilhar nos palcos, terá que obrigatoriamente perder a sua timidez… Praticamente fazendo um protagonista com uma personalidade mais fechada, o autor matou dois coelhos com uma cajadada só. Se aproximou do público leitor e ao mesmo tempo deu um caminho interessante para a sua história ser seguida.
Por fim para acabar a cena de desenvolvimento do protagonista, o autor antes de apresentar de fato a dança ao leitor, decidiu fazer um interessante contraponto – No banheiro, Tsuchiya o garoto tímido que sonha em ser um bom dançarino se encontrar com um dançarino experiente e com uma personalidade forte, Yamaki é totalmente o contrário que Tsuchiya é. Takuma faz esse contraponto não só para apresentar um futuro personagem que será importante para a história, vai muito além, o autor com essa cena dá ao protagonista alguém em que ele deve se espelhar… Tsuchiya é desajeitado, tímido, baixo e com uma auto-estima jogada no chão. Já o veterano Yamaki é elegante, confiante, grande em altura e com uma alta auto-estima. O oposto de Tsuchiya, mas quem um dia ele quer se tornar.
Após desenvolver muito bem o protagonista, apresentando inclusive já nas primeiras páginas um perfeito contraponto ao personagem, o autor finalmente nos apresenta a dança esportiva – Em uma sequência de páginas interessantíssimas, o autor mostra que consegue fazer o “impossível”, fazer com que o leitor mesmo não tendo som, mesmo não podendo ver perfeitamente os movimentos, consiga sentir a magia da dança. Porém, Takuma não faz isso porque sua arte consegue entregar uma movimentação fantástica, a verdade é que por mais que Sesuji wo Pin! seja muito bem desenhado, o autor ainda tem muito a evoluir quando o assunto é dar dinamismo no movimento da sua arte, a sua técnica ainda tem muito a melhorar.
Por saber muito bem sua limitação na arte, Takuma nos entrega uma apresentação “picotada”, com várias cenas belíssimas, mas em nenhum momento mostrando um verdadeira progressão na dança, é como estivessemos vendo vários “highlights” de uma dança e não de fato uma apresentação inteira. Mas essa não é a única estratégia usada, o principal ponto que faz com que nós leitores tenhamos emoção ao ler Sesuji wo Pin! é o fato do autor ter colocado uma música conhecida popularmente como “soundtrack”, ver o público reagindo emocionado a “Let It Go” de Frozen, faz com que nós automaticamente cantemos juntos a música e assim mesmo não tendo nenhum artifício sonoro no mangá, nós leitores criamos em nossas mentes a trilha sonora. Deste modo, Takuma conseguiu quebrar uma outra barreira, mesmo com sua arte não sendo tão boa para a temática da obra, conseguiu dar ao leitor a sensação que os dançarinos estavam dançando.
Porém a apresentação não poderia ser tão simples, para dar um pouco de emoção, o narrador diz que é fácil uma dançarina profissional dançar tão bem, então Yamaki, o perfeito oposto do protagonista, ofendido com as acusações do apresentador do teatro, vai até a platéia, pega uma bela garota e dança com ela, fazendo que a garota consiga de maneira surreal “dançar”. É interessante notar que o protagonista Tsuchiya mal consegue tocar em uma garota, de tão grande que é seu tramo pelo sexo feminino. Enquanto o seu oposto Yamaki facilmente consegue encantar uma garota, fazendo inclusive ela seguir os seus passos, novamente sem deixar isso muito claro, o autor faz um paralelo sobre a personalidade de Tsuchiya e Yamaki. E por fim, Tsuchiya apaixonado pela apresentação que vê, pensa: “ISSO É DANÇA”.
Takuma assim encerra a primeira parte do primeiro capítulo e abre a segunda parte que é um pouco mais curta, porém não menos importante. Após dar um primeiro capítulo focado mais no desenvolvimento do protagonista, com uma pequena dose de comédia, Takuma entrega uma segunda parte totalmente voltada a comédia, onde ali ele apresenta mais alguns outros personagens… Com destaque ao “afro” que espanta todos os demais alunos que queriam participar do clube de dança (Animados com a incrível apresentação). Essa cena tem mais como um objetivo mostrar que o protagonista mesmo sendo um fracote, quer de fato se tornar um dançarino e principalmente para unir o protagonista ao seu par, uma garota que irá acompanha-lo pelo restante da história.
Por mais que eu tenha gostado do que li em Sesuji wo Pin! e tenha notado como o autor soube dirigir o primeiro capítulo de maneira eficiente e inteligente, mostrando que de fato é um autor experiente e com muita estrada, Sesuji wo Pin! me deu duas sensações que podem ser tanto positiva quanto negativa. A primeira é que a história deu somente um passo curto, o autor apresentou sobre a dança, mas não nos apresentou nada sobre o esporte, o que para muitos pode ser um ponto negativo… Está claro que Sesuji wo Pin! irá dar lentos passos no seu desenvolvimento, o que não é um problema, já que temos mangás como Haikyuu!!, Zumou e Boku no Hero Academia que também tiveram um início com passo lento. Não seja enganados pelo que o pessoal diz sobre o TOC, os editores antes de classificar cada obra analisa a recepção de um conjunto de capítulos, como qualquer uma outra empresa capitalista faria. Então não chega a ser um grande problema Sesuji wo Pin! ter um primeiro capítulo com pouco conteúdo, o seu objetivo que era apresentar a beleza da dança foi alcançado.
Por fim o que mais me incomodou em Sesuji wo Pin! foi a minha grande expectativa sobre o autor, por mais que eu tenha gostado do desenvolvimento do protagonista, sejamos sinceros, o autor adequou a cagar emocional da série ao público mais “light” da Weekly Shonen Jump – O medo das garotas sentido pelo protagonista podia ser desenvolvido muito mais a fundo, porém, não foi isso que aconteceu, para evitar que a série ficasse muito pesado aos leitores, Takuma preferiu simplesmente dar um desenvolvimento raso ao personagem… Sesuji wo Pin! vai de contramão a tudo que Yokota Takuma apresentou anteriormente como roteirista e assim parece que teremos um mangá muito mais voltado a comédia do que de fato voltado ao “viver”.
Sesuji wo Pin! foi uma grata surpresa, apresentou um primeiro capítulo coerente e com personagens bastante carismáticos – O mangá para mim demonstrou não ser uma obra fantástica, digna de aplausos em pé, porém o autor colocou em prática os seus anos de experiência, adicionando de maneira sútil técnicas de desenvolvimento utilizadas em obras até como Black Clover e Boku no Hero Academia (O fato de Yamaki servir como um contraponto para Tsuchiya, do mesmo modo que All Might é um contraponto a Deku em Boku no Hero Academia). Eu digo e repetido, Sesuji wo Pin! não mostrou um primeiro capítulo fantástico, mas, conseguiu entregar aos leitores um primeiro capítulo coerente e boa qualidade. O autor, Yokota Takuma, parece estar dando um passo de cada vez no desenvolvimento de Sesuji wo Pin!