Devily-Man foi o terceiro e último mangá novato a ser lançado na leva de maio de 2015 – O mangá vêem para disputar diretamente contra Sesuji wo Pin! e Lady Justice, mas com uma leve vantagem, Devily-man foi o vencedor da Golden Future de 2014, assim já sendo conhecido e muito esperado por vários japoneses. O problema é que sabemos muito bem como o “hype” é um grande inimigo de vários mangás, fazendo que o público espere muito mais do que o autor de fato pode dar.
Porém, conhecemos vários mangás que conseguiram quebrar essa barreira e se tornar um grande sucesso – Para um autor conseguir fazer um mangá de sucesso mesmo tendo um “hype” gigantesco por trás é bem simples, deve lançar uma obra de alta qualidade e não simplesmente um mangá mediano. Vemos com Gakkyuu Houtei que o público tende a demorar mais para largar séries que tem nome de autor famoso por trás, deste modo, mesmo com o “hype” uma série premiada como Devily-Man estréia com uma situação muito mais confortáveis que obras como Lady Justice, além de terem um apoio editorial muito maior.
Diferente dos japoneses, comecei a ler Devily-Man sem ter nenhum “hype”, a obra não foi minha favorita da revista e depois de vários mangás de investigação dando errado, eu sinceramente não estava muito animado para os outros, mesmo assumindo que o potencial da obra era fantástico – Assim que começo a leitura, vejo que o autor manteve vários detalhes da sua arte, principalmente na arte colorida, que é muito mais “pintada a mão” que de fato digitalizada, um ponto positivo para alguns, um ponto negativo para outros, para mim um ponto neutro.
Kentaro assim imediatamente, após mostrar as páginas coloridas de abertura, foca na situação do protagonista, o demônio. O autor quer deixar claro quem é esse demônio, em que ele trabalha e principalmente como o seu emprego está em risco, já que o seu padrão o está ameaçando de demissão. A missão de Madogiwa deste modo é conseguir 10 bilhões de yens até o próximo dia de coleta, que não é digo quando será – Assim sabemos que o protagonista está passando por grandes apuros e precisa fazer de qualquer modo vários novos contratos… Só que tem um pequeno problema: Ele é incompetente no trabalho que faz, como o autor faz questão de mostrar já nas páginas iniciais do mangá.
A personalidade de Madogiwa é bem interessante, o autor teoricamente deu um design bem assustador à ele, mas em compensação utilizando várias técnicas consegue dar a sensação ao leitor que o protagonista é somente um pastelão. Que técnicas ele utiliza? É bem simples, a constante expressão facial de cansaço, o corpo que anda de modo “corcunda” e além da sua personalidade dócil e atrapalhada. Madogiwa tem tudo para ser um personagem assustador, aterrorizante, mas se baseando um pouco em Monster S.A, deu a essa criatura que deveria ser assustadora, características comportamentais que o fazem hilário. É uma escolha inteligente, fazer esse contra-ponto divertido entre a aparência e a personalidade.
Kentaro não utiliza essa técnica somente com Madogiwa, o autor utiliza a mesma estratégia com o segundo protagonista, Aeru Taiga… Um menino aparentemente inocente, que se veste de maneira infantilizada, porém que tem uma personalidade perversa que não condiz de nenhum modo com o seu rosto angelical. É engraçado ver que enquanto Aeru Taiga tem uma aparência angelical e uma personalidade demoníaca, Madogiwa tem uma aparência demoníaca e uma personalidade angelica. E não é por nada que os dois, como veremos ao longo do primeiro capítulo, vão formar uma dupla tão fantástica.
De qualquer modo, Aeru Taiga estava observando o demônio e ao ver que ele estava desesperado para conseguir um contrato, decide fazer um contrato com Madogiwa que pensa em rejeitar, mas Aeru foi mais rápido e assinou o contrato antes que Madogiwa mudasse de ideia. Assim Aeru ganhou alguns um poder bem interessante, a capacidade de ver os pecados das pessoas, e quanto mais próximo é esse pecado da cabeça de uma pessoa, mais em culpa ela se sente por aquilo – Consequentemente, Aeru utiliza essa habilidade para chantagear as pessoas e conseguir algumas pequenas ou grandes vantagens. Logo, ao percebemos como Aeru é maléfico, vamos entendemos que o personagem tem algo de diferente, algum segredo por trás.
Após conseguir 20 milhões de Yens, Madogiwa decide ir para casa, no caminho de casa encontra um dos homens que mais cedo ele tentou fazer um contrato – Este homem pede um empréstimo de 10 milhões de yens ao demônio, alegando que é para salvar a vida da sua mulher e que logo após que fazer o pagamento da cirurgia da sua mulher, assinaria o contrato – Madogiwa aceita e entrega uma quantia de 10 milhões ao homem, que no dia do encontro para assinar o contrato, desaparece. Aí aparece Aeru que decide ajudar o seu amigo, mas com uma condição, caso recupere o dinheiro, Madogiwa deverá se tornar o seu escravo.
Nesse momento irei fazer uma pequena análise do que vimos até agora em Devily-Man. Contando a história assim de maneira simples e curta, o mangá teoricamente parece fantástico. Aliás, o conceito por trás de Devily-man é fantástico, porém o mangá dá vários tropeços. Não somente no sentido de roteiro, mas em vários aspectos diferentes, o que fazem o mangá para os mais atentos se tornar uma obra muito mais fraca e também mais desinteressante comparado aos seus outros dois companheiros de leva.
Gostaria de começar pela a arte, vemos uma gigantesca incapacidade do autor em desenhar quadros complexos, em todo o primeiro capítulo não temos nenhuma página de fato que paremos para olhar quanto é bonita ou quanto é bem desenhada – O fato do autor também não saber trabalhar muito bem com os contraste prejudica a obra, principalmente os cenários que dão a sensação de serem extremamente brancos, somado ao fato de terem uma ausência de detalhes (Ausência de detalhes em cenário pode ser minimizado com um bom uso do contraste entre branco e preto na obra), fazem com que a obra parece ainda mais pobre esteticamente. Pelo menos o design de personagens ainda é bem interessante, eu não digo que é original, claramente Fukuda Kentaro se baseou em vários demônios apresentados em filmes e desenhos dos anos 80 e 90, porém mesmo não sendo originais, por não vermos mais demônios com design como esses, faz com que os personagens de Devily-Man se tornem bem mais interessantes.
Outro ponto que prejudica demais Devily-Man é o seu ritmo corrido, a obra tenta que ao mesmo tempo colocar um mistério relacionado a personalidade de Aeru tenta também fazer com que a história corra rapidamente, o que é uma escolha extremamente arriscada – É ousado na Weekly Shonen Jump tenta fazer uma narrativa diferente do comum, onde você apresenta o protagonista, mas prefere esconder a sua real personalidade no máximo possível, porém, ao mesmo tempo você não pode usar essa estratégia, que já é arriscada por si só, com um ritmo veloz na história. Isso porque quando você esconde várias informações sobre um personagem, a chance do público não se simpatizar por ele é gigantesca, por isso você deve fazer com que o público crie uma empatia pela personalidade ou fiquem curiosos sobre quem é de fato esse personagem, ao adicionar um ritmo extremamente veloz a obra, o autor não se dá o tempo de criar um mistério de fato em relação ao protagonista.
O que acontece? É simples, o leitor vai achar interessante o fato de Aeru ser um personagem misterioso, vai naqueles poucos minutos que leu se perguntam quem é esse “personagem”. Mas logo assim que acabar a leitura, alguns minutos depois já não irá se importar mais sobre quem é de fato Aeru, a curiosidade só vai durar os poucos minutos de leitura deste capítulo. Isso acontece porque o mistério não foi bem desenvolvido, tem uma base INTERESSANTE, mas de nenhum modo muito bem desenvolvida. Se você é um leitor da Jump que lê por semana cerca de 10 ou 12 obras da revista (Raramente um leitor lê TODAS as obras da Weekly Shonen Jump), caso você leia Devily-man como o primeiro mangá, quando terminar de ler os demais dez mangás que você sempre lê, não irá mais se lembrar do mistério que de Devily-man, fazendo assim que tu não vote na obra.
Por fim, o último ponto que prejudica ainda mais o mangá é a previsibilidade – Quando você vê que aquele homem vem pedir o dinheiro para salvar a sua esposa, imediatamente você entende que é uma mentira, já que o demônio só consegue ver pessoas maliciosas – Assim automaticamente você sabe o que acontecerá na história, Aeru chegará para salvar Madogiwa, fará um plano para recuperar o dinheiro e no final do capítulo conseguirá recuperar. Tudo na história se torna extremamente previsível, algo que poderia ser evitado, caso o autor fizesse duas pequenas mudanças no roteiro: Primeiramente fazer um design muito mais infantil ao vilão (Assim, reafirmando a sua teoria que as aparências enganam) e a segunda mudança é, quando Madogiwa vê Aeru, ele começa a suspeitar que seu sensor de “pessoas má” esteja quebrado, pois é impossível uma criança ser malévola. Deste modo, ele acredita também que o vilão esteja no lado bom e seja somente um erro de sensor.
Continuando com a história do primeiro capítulo, o que acontece é justamente o que era esperado, Aeru chega para salvar Madogiwa, faz um plano mirabolante e consegue o dinheiro de volta – O interessante é que este plano de Aeru foi bastante criativo e surpreendente, fazendo assim que mesmo previsível, toda a cena em que eles “enganam” o vilão se torne bastante interessante. Principalmente quando Aeru se mostra destruído pelo demônio, fazendo o cara simplesmente cair no chão chorando. Para encerrar, Madogiwa fica assustado com a maldade de Aeru e toda sua inteligência, e pergunta se ele é humano – Assim terminando o primeiro capítulo.
Devily-Man é um mangá que tem um grandíssimo potencial, uma ideia criativa, mas que cometeu vários erros na sua narrativa, além da arte do autor em muitos momentos parecer bastante preguiçosa. O que também prejudica o mangá é sua comparação com o One Shot: O caso do One Shot é sobre uma artista famosa que usando o poder de um outro demônio, que é de roubar toda a beleza de uma garota, deixando-a como escrava em casa (Vestida de coelhinha), algo bem bizarro, que consegue explorar muito bem o universo dos demônios, e usando o seu poder, Aeru consegue liberar essa pobre garota e ao mesmo tempo lucrar de toda essa situação, já que até mesmo no One Shot ele era uma pessoa maligna. Já na série temos um caso muito mais fraco, que não faz jus ao produto apresentado na Golden Future Cup – E acredite, a desculpa de ter sido maneirado por causa de censura, não é verdadeira, UBS é por exemplo muito mais pesado que o próprio one shot de Devily-Man.
No final das contas, eu não consigo ver o primeiro capítulo de Devily-Man dando certo na revista, justamente pelo fato de entregar um produto mais fraco que o One Shot (Assim desiludindo as pessoas que votaram na série) e por ter vários problemas de roteiro causado pelos fato do mangá decidir apostar em uma narrativa diferente, mas com ritmo muito mais veloz que essa narrativa deve ter – Mas mesmo assim tendo esses problemas, Devily-Man tem uma idéia FANTÁSTICA e um mundo que pode ser muito bem explorado, caso o autor saiba fazer semana após semana, casos no nível do One Shot e não no nível deste primeiro capítulo, que devo assumir, é mediano.