Quando Hungry Joker foi cancelado, por mais que o mangá teve um rendimento bem ruim e foi muito criticado, sabíamos que o autor ia voltar para revista, cedo ou tarde. De fato, após um pouco mais de dois anos da estréia de seu mangá anterior, Tabata Yuuki (Que é homem), retornou a Shonen Jump com seu mais novo projeto, Black Clover.
É natural a grande maioria ter ficado com um pé atrás em relação ao mangá, o autor nos decepcionou bastante em Hungry Joker ao demonstrar que naquela época ainda não sabia desenvolver um roteiro e um universo, ainda por cima o one shot de Black Clover, lançado na Jump Next no começo de 2014, não foi muito convincente, sendo considerado bem clichê e previsível pelos leitores japoneses. Porém, mesmo com um pé atrás, muitos acreditavam que Tabata Yuuki podia nos surpreender, na verdade após o fracasso de Hungry Joker, Black Clover é a oportunidade do autor se redimir perante ao público.
O primeiro contato que tivemos com a obra foi justamente com suas três primeiras páginas, totalmente coloridas – Páginas muito bem desenhadas, inclusive, demonstrando que a arte do autor evoluiu bastante neste dois anos – Porém, com um fator negativo, é quase impossível não se lembrar de Naruto ao ver esta página colorida. Este “plot” da humanidade esta sendo devastada pelos demônios, até quando chegou um grande guerreiro que salvou o mundo, se tornando um guerreiro lendário (Ao ponto de ganhar uma estátua na sua vila), é bem, mas bem clichê… Ainda por cima a arte da primeira página lembrou bastante a arte inicial de Naruto, e sua estátua, acho que lembrou para a grande maioria as estatuas dos Hokages.
Logicamente, isto nos faz dar outro “passo para trás”, já que vemos elementos clichês brilhando dentro da obra, é verdade que é necessário os Shounens haverem certos clichês, mas eles devem ser tão bem adicionados a obra que não chegam a parecer clichês, o autor deve saber enganar o público, nessas duas primeiras páginas isso, infelizmente, não aconteceu. Porém, são as páginas inicias, não podemos julgar toda a obra por três páginas coloridas.
Logo após tivemos uma leve apresentação a vila, onde vive e governa o Mago Imperador, dá para perceber que a cidade é totalmente grata pelo que ele fez… Obrigação da cidade né? O cara simplesmente salvou a humanidade da extinção que o demônio Tenshinhan queria fazer. Por mais clichê que seja o universo, ao meu ver estava faltando um mangá mais “medieval” dentro da Shonen Jump, por isso para mim o “mundo” de Black Clover soou muito interessante, além de me despertar a curiosidade em saber mais sobre esta invasão demoníaca.
Depois de uma rápida apresentação do “mago imperador”, finalmente conhecemos o protagonista, que é aquele personagem todo atrapalhão, underdog e inútil… Teoricamente seria um personagem que nós, leitores, nos simpatizaríamos por ser bem engraçado e ao mesmo tempo, ser “subestimado” por quase todo mundo, como é o caso de Deku em Boku no Hero Academia. De fato, o personagem principal, Asta (ou Asuta), agradou muito várias pessoas, mas em minha opinião ele foi muito “histérico”, do mesmo modo que não gostei de Deku no início de Hero, por ser histérico demais, Asta não me agradou.
O protagonista tem até suas motivações, porém o fato dele estar quase sempre “gritando”, fazendo aquelas caretas que provavelmente serviam para dar um tom de “humor” a história, fizeram que eu pegasse uma antipatia pelo personagem. Logo após apareceu o “antagonista”, Yuno, que é um antigo amigo de infância do nosso herói, vou ser sincero, pelo fato de não estar indo com a cara do nosso querido protagonista, me simpatizei muito mais com o “Yuno”, sua reação: “Este cara é um retardado” ou “Tenho vergonha de estar perto dessa peste”, representa perfeitamente a minha reação ao ler as falas e ver as expressões Asta.
Por enquanto o mangá caminha de um modo bem clichê, eu não me sentia animado em ler a obra e também não estava rindo das cenas de comédias, então a leitura estava bem banal e chata. A primeira cena que de fato me rir, foi justamente quando Asta não conquistou o seu livro, foi hilária e um pouco inesperada. Ficou claro que o autor esta focando em desenvolver os dois personagens, apresentado logicamente um pouco do universo, mas principalmente querendo desenvolver a relação entre Asta e Yuno – Ao meu ver, a relação é tão clichê que não me soou interessante, não dava vontade de saber mais sobre eles, mas com calma esperei o capítulo finalmente engrenar.
A apresentação do vilão, começou a me dar mais esperança em que o capítulo finalmente iria engrenar. Inclusive, o design do vilão melhorou muito em relação ao “one-shot”, o autor soube dar um ar mais “louco” ao personagem, ao vê-lo, uma sensação de angústia ou mesmo de desprezo já nasce em nossa alma… E é isso que muitos vilões devem ser, devem dar uma “repulsa” como a primeira impressão, e de fato, a situação melhorou.
Toda a batalha que envolveu o vilão vs Asta vs Yuno foi novamente, extremamente clichê e previsível, porém a arte de Tabata Yuuki conseguiu dar uma profundidade muito maior a toda a cena. A arte do mangá já é bem suja, mas nesta sequência de páginas, o autor aumentou ainda mais a sujeira, para assim dar uma dramaticidade muito maior ao confronto. Outra técnica utilizada pelo autor foi justamente o foco nos olhares e na boca dos personagens, uma técnica importantíssima para o desenvolvimento de cenas “marcantes” e frenética. Os olhos são importantes para passar o sentimento dos personagens e a boca, em alguns casos para passar sentimento (Como no caso do sorriso de Asta no flashback ou os risos irônicos do vilão), mas também para dar uma ideia de que os personagens estão sem fôlego, dando o melhor deles (Como o foco na boca de Asta na página 39).
Isto demonstra que talvez Tabata Yuuki não saiba desenvolver muito bem roteiros, não apresentado histórias criativas e únicas, mas quando o assunto é a “arte” e as técnicas utilizadas para transmitir emoção. O autor é um ótimo artista e vem entregando neste primeiro capítulo de Black Clover uma chuva de belas páginas, logicamente os leitores japoneses se importam muito mais com o roteiro, mas um mangá bem desenhado sempre chama bastante atenção, o visual é muito importante para qualquer história.
A conclusão da batalha é previsível, quando começou a sequência de “flashbacks”, deu para imaginar que Asta liberaria uma habilidade oculta, não existe uma razão lógica, novamente temos outro mangá que caí na mesmice do “escolhido”, não é como Luffy em One Piece que todas as suas habilidades foram previamente aprendidas, por isso o manuseador de habilidade sabe de fato controla-la, simplesmente Asta invoca uma espada do livro, já que é o “escolhido” e sabe manusear a espada já no primeiro momento. São clichês que incomodam muita gente, inclusive eu que prefiro mangás que saibam adicionar estes clichês de maneira escondida, sem prejudicar a leitura. O jeito que Tabata Yuuki adiciona é esteticamente FANTÁSTICA, a espada utilizada pelo protagonista é belíssima, mas toda a cena não deixa me incomodar por ser clichê, um autor deve saber adicionar o clichê sem que o leitor se incomode com o elemento.
A cena final fecha um ciclo, Yuno passa a respeitar muito mais o seu amigo ao vê-lo que finalmente conseguiu liberar a habilidade interior. Eu sinceramente não consegui me importar com o drama dos dois personagens, enquanto em Hinomaru Zumou eu queria ver Hinomaru quebrar a cara do vilão no primeiro capítulo, por causa da relação entre Hinomaru e o outro praticamente de Sumô, em Black Clover eu simplesmente não me importava. Não é que o mangá é ruim, muito pelo contrário, é um bom mangá, mas esta tão impregnado dos clichês que pode até te agradar, mas fica difícil te “animar”, pois tu sabe o que acontecerá na página seguinte, tu não consegue se importar com os dois personagens, pois o relacionamento me pareceu uma grande reciclagem de outros mangás e também a personalidade do protagonista não conseguiu me agradar.
Mas também assumo que a arte de Black Clover é fantástica e o seu universo parece muito interessante, se o autor souber desenvolver pode ir longe, de fato quando terminei a leitura, não me emocionei com a história, mas fiquei curioso em saber mais sobre o mundo. Chego a conclusão que tivemos um capítulo TOTALMENTE focado no desenvolvimento dos personagens, o autor focou em tentar fazer que os leitores se importassem com Asta (Asuta) ou Yuno, pouquíssimas cenas de fato desenvolvem o universo gigantesco que tem ao redor da obra, ao meu ver, uma decisão certa por parte do autor, é importante fazer que o público conheça os personagens principais, mas é necessário fazer isso com qualidade, o autor não conseguiu me emocionar, me fazer importar com os personagens, teve o efeito contrário, não suportei a personalidade do Asta.
É interessante, porque todo o primeiro capítulo foi bem clichê, tirando algumas pequenas cenas, meio que dava para imaginar o veria na página seguinte. Mas mesmo assim, pelo fato do autor focar tanto no desenvolvimento da relação entre Asta e Yuno, não dá para imaginar o que virá no segundo capítulo… Não sabemos quase nada sobre o universo de Black Clover, assim não dá para imaginar qual será o próximo passe na jornada de Asta e Yuno, será que eles irão para uma escola de magia? Farão uma viagem druida? Devem fazer um teste para comprovar sua força mágica… Não sabemos. Talvez este seja o ponto mais forte do primeiro capítulo, deixar o leitor curioso em conhecer mais do universo da obra.
Acredito que a obra tem um grande potencial, eu sinceramente, mesmo não gostando tanto do primeiro capítulo, votaria em Black Clover para saber como será o desenvolvimento do mundo, me deu uma curiosidade em saber mais, ver se o autor irá conseguir saber manusear os clichês, transformando-os em pontos positivos, parece que mesmo não me simpatizando tanto pelo mangá, o seu universo e sua arte me estimulam a querer saber mais… Tabata Yuuki é muito talentoso, mas ainda tem muito a evoluir como autor. Espero que desta vez o mangá dê certo, estarei torcendo pelo futuro de Black Clover.
Terceiro Olho 01: Não é meio estranho o “Mago Imperador” que salvou o MUNDO estar governando em uma vila que deve ter no máximo umas 100 mil pessoas vivendo? Para uma cidade tão importante parece tão “insignificante”.
Terceiro Olho 02: Pessoal, é confirmado que o autor é um HOMEM, não ouça quem diz que é uma mulher – De acordo com o autor de Psyren, que já trabalhou com Tabata Yuuki (Yuuki foi assistente de Iwashiro), ao se referir ao autor de forma masculina, usando o “ELE”, confirma que o criador de Hungry Joker e Black Clover é homem, e não mulher.
Terceiro Olho 03: O mangá foi lançado em PT-BR pela ScansProject e Blade Scans, fizeram um bom trabalho, e caso vocês ainda não tenham lido o mangá, vale a pena dar uma lida, é sempre bom também desenvolver uma opinião própria.