É hora do “Ronpa”
Escrito por Enoki Nobuaki e ilustrado por Takeshi Obata, Gakkyuu Houtei é a terceira e última estréia desta nova leva da Weekly Shonen Jump. O mangá foi disputado por muitas scans, mas a primeira a traze-lo em português e com uma altíssima qualidade foi a Kyodai Scans, a mesma que já traduziu Takujou no Ageha, caso vocês queiram ler o primeiro capítulo antes de ler a minha análise, clique aqui.
Gakkyuu Houtei desde quando foi anunciado teve um “hype” enorme, mas não por causa da tematica do mangá, que também é muito interessante, mas pelo seu desenhista, Takeshi Obata – Responsável pela arte de Hikaru no Go, Death Note, Bakuman, All You Need is Kill, entre outras séries, fazendo que vários leitores ficassem extremamente ansiosos pelo seu novo projeto. Porém, por trás de uma arte tão experiente temos um roteirista novato que nunca lançou nenhuma série na sua vida, o que fez que muitos ficassem com um pé atrás em relação a série.
Como eu já disse, a temática de Gakkyuu Houtei também é muito interessante, há um bom tempo a Shonen Jump está sem um mangá de investigação, e ele veio para cobrir este buraco na revista. Será que Gakkyuu Houtei conseguiu ser um bom mangá de Investigação? Será que o mistério colocado neste primeiro capítulo foi de fato interessante? Então, vamos ver!
A dupla de autores já começa o mangá nos apresentando como se formou o universo do mangá, isso poderia resultar em uma página colorida jogada fora, mas pela grande capacidade artística de Obata, uma explicação técnica da ambientação do mangá, que normalmente são bem chatas, ficou bem emocionante – Já nas três páginas coloridas conseguimos perceber que por mais que o traço seja bem infantilizado, o mangá poderá sim assumir um aspecto mais sério, tratando de questões como suicídio.
Com a ambientação da obra explicada já nas primeiras páginas, imediatamente Enoki Nobuaki, o roteirista, decide partir para a apresentação dos dois personagens que irão protagonizar o primeiro julgamento,o advogado Abaku Inagumi e a promotora Pine Hanzuki. Inagumi é o personagem principal da história e tem uma personalidade bem “explosiva” e persuasiva, quando alguém vai contra as suas ideias ou visão dos fatos, ele “ataca” esta pessoa, tentando convence-la que está correto, sua oratória é tão boa que normalmente consegue convencer a pessoa. Contudo o seu jeito de agir cria muitos inimigos
Em contraposição temos a promtora Pine Hanzuki que servirá como a “acusa” do caso (Como são todos os promotores), ela utiliza a estratégia inversa de Inagumi, apostando no seu charme para convencer as pessoas, tentar criar quantos mais aliados e tentar criar uma boa imagem antes do julgamento é essencial para que ela consiga vencer, significa, enquanto Inagumi com essa sua mania de “Ronpa” todo mundo cria inimigos, Hanzuki prefere criar aliados que podem ser de extrema importância para o futuro do mangá.
A apresentação desses dois personagens comprovou isso, enquanto Hanzuki fez uma pose extremamente fofa, demonstrando o motivo de estar vestida como uma lolita, Inagumi partiu para cima da professora, usando o “Ronpa” para convence-la que é melhor os alunos poderem levar video-games para o colégio, o que era claramente proibido. Foram duas apresentações bem legais, mas principalmente a de Inagumi que já conseguiu nos convencer como advogado nas primeiras páginas.
Após nos apresentar o advogado e a promotora, somos apresentados ao réu: Tento Nanahoshi, um garoto frágil, visualmente “inocente” que é acusado de ter matado o peixe da turma. O personagem foi desenhado desta forma propositalmente, para que quando o leitor visse o personagem já sentisse que ele era inocente, aquela velha estratégia de passar a fraqueza do personagem imediatamente pela sua aparência. É difícil olhar para Nanahoshi, de olhos tão grandes e tão pequeno, e pensar que ele foi capaz de ter “estraçalhado” um peixe, muito difícil. Após nos apresentar o personagem, Enoki Nobuaki (Roteirista) faz questão de explicar mais detalhadamente como funciona o julgamento, que é muito parecido com um julgamento normal, com poucas mudanças, e por fim, finalmente, nos diz como aconteceu o crime.
Foram usadas 19 páginas para a introdução do mundo, personagens e por fim do sistema de julgamento, dizendo inclusive sua possível punição. De fato, Enoki Nobuaki foi muito cuidadoso no desenvolvimento da história, tentando apresentar bem as características do mundo e dos personagens que irão compor o julgamento, o melhor disso tudo é que mesmo sendo cuidadoso, o ritmo do mangá não ficou pesado, muito pelo contrário, com o grande auxilio da arte de Takeshi Obata, essas 19 páginas introdutórias passaram levemente.
Logo após as 19 páginas introdutórias, Enoki Nobuaki utiliza mais 7 páginas para desenvolver o caso da semana: “O assassinato do Suzuki e o caso de desmembramento”. Acredito que todos pensaram no momento que leram o título do caso que teve um homicídio na sala de aula, comandado pelo Koro-Sensei, mas foi somente o assassinato de um peixe, que logicamente metade da amava muito, mas não deixava de ser somente um peixe. Logo após explicar o caso, o roteirista decide desenvolver mais ainda o réu, Tento Nanahoshi, apresentando seus amigos, um deles que futuramente irá depor e nos fazendo ver o medo que Nanahoshi tem de ser considerado culpado pelo crime do assassinato do peixe.
Faltando um dia para o julgamento, Inagumi e Nanahoshi tem uma conversa séria, onde o advogado comenta sobre a reação involuntária da joaninha, esta foi minha cena preferida neste primeiro capítulo. Este ponto do mangá é essencial, não somente para que percebamos a ligação emocional entre os dois personagens e também não pelo fato de revelar um pouco do passado do protagonista, mas porque com certeza Inagumi usará da reação involuntária de defesa para conseguir incriminar o verdadeiro culpado – É inteligentíssima essa cena, escrita por Enoki Nobuaki, por causa da sua tripla função, desenvolver relação, revelar detalhes do passado e por fim explicar a teoria que provavelmente será usada no futuro. A arte de Obata nesta cena não deixou a desejar, ele conseguiu transmitir através da sua arte a atmosfera necessária.
Antes de ir ao julgamento, o roteirista retoma Hanzuki, a promotora, mostrando que ela está preocupada com o julgamento, já que tem suspeitas que Inagumi seja um dos “três gênios” que conseguiram pegar o diploma estando em um colégio normal, novamente o autor desenvolve um pouco do passado de Inagumi sem deixar isso muito claro, e apresenta dois personagens que poderão ser de extrema importância no futuro da série. Chegando ao julgamento, temos o movimento da acusa com o depoimento da professora e do melhor amigo de Nanahoshi que com certeza serão de extrema importância para a resolução do mistério. Foi uma cena divertida, mas sabemos que todo aquele show que Hanzuki faz não irá a lugar nenhum, pois o protagonista irá ganhar o caso de uma forma, que espero que seja surpreendente. E por fim, Inagumi se prepara para expor a sua defesa, mas isso só saberemos no capítulo 02.
O ponto mais interessante do mangá em si não é o caso, é como é desenvolvida toda a ambientação do mangá, parece estranho haver toda essa comoção porque alguém matou um peixe, para nós, jovens e adultos, é extremamente besta fazer todo esse “julgamento” por um motivo tão bobo que poderia ser resolvido de outras maneiras, entretanto o desenvolvimento da obra não é na visão de adulto, é toda na visão de uma criança. Os advogados, promotores, réus, júris e até o juízes são todos crianças, por isso algo para nós é bobo, para eles é um crime imperdoável. Isso não justifica o fato de que para o leitor continue desinteressante, mas dentro do seu universo, há senso as crianças fazerem toda essa comoção pela morte do colega.
Um grande ponto positivo é a arte, Obata deu um espetáculo a parte, o ilustrador conseguiu adaptar seu desenho para um modo mais infantil, mas ao mesmo tempo conseguiu passar a atmosfera assustadora e bizarra do mangá, a prova desta perfeita junção de universo adulto com universo infantil feito no desenho de Obata é o juiz bebê – Além de vários outros detalhes, como por exemplo o fato do peixe ter sido desenhado de forma mais realista possível e também a cena do assassinato na sala de aula.
O caso é extremamente desinteressante e não consegue te impactar, você não fica pensando: “Oh Meu deus, mataram o pobrezinho do peixe”, porém o bom desenvolvimento de personagens e roteiros, fizeram me importar com tudo que estava acontecendo. A dupla tentou através do roteiro e do desenho passar a inocência de Nanahoshi, assim fazendo que o leitor torça para que ele consiga se salvar, por isso mesmo com o caso da semana sendo relativamente bobo, o fato de você se importar com o réu, faz que o caso também se torne importante. O bom protagonista tembém ajuda, e o dialogo que ele tem com o leitor no final do capítulo é fantástico, fica claro que Enoki Nobuaki teve uma clara influência em Detective Conan no momento em que escreveu este mangá.
E o último fator positivo que irei citar é o fato deles souberem desenvolver bem o caso, ao ponto do leitor ficar deduzindo quem pode ter sido o verdadeiro assassinato, por exemplo podemos achar por um momento que é o melhor amigo, já que suas ações são bem suspeitas, mas também tem espaço para ser a professora, que matou o peixe para acabar de uma vez por toda a discórdia na sala de aula, é muito interessante como a dupla de autores conseguiu nos fazer imaginar e tentar descobrir quem de fato é o assassino. Só saberemos no capítulo 02 e a testemunha surpresa (Que provavelmente é o próprio Nanahoshi) será essencial para isso.
Porém, por mais que o mangá tenha tido um capítulo com todas essas qualidades, não posso considera-lo ótimo, somente bom, isso porque o autor em nenhum momento consegue te chocar ou surpreender de fato, o primeiro capítulo é um claro desenvolvimento para o que virá no segundo capítulo, um má resolução de caso, pode jogar fora todo o trabalho feito no primeiro capítulo, então será que vale a pena votar em uma série que apresentou um produto incompleto? Isso mesmo, Gakkyuu Houtei por mais legal que seja, por mais interessante que seja, não apresentou um produto completo, vimos a capacidade do autor em apresentar e desenvolver o caso, contudo, não vimos sua capacidade em RESOLVER esses mistérios postos, que é o mais importante em qualquer série. Para piorar a situação do mangá, ele não apresenta nenhum momento que de fato te surpreenda, o capítulo teve um roteiro lento, no entanto bem encaixado desenvolvimento, por mais que a arte de Obata te faça dizer “Uou, que cena belíssima” em vários momentos, o roteiro em si, os acontecimentos do capítulo são todos bem mornos, sem nada demais.
Assim, caso alguém decida votar em Gakkyuu Houtei deve ser por causa do fato dele ser interessante, mas não por ser um mangá que te apresentou completamente ao que veio, foi um capítulo incompleto, quantas vezes já vimos em mangás, em filmes, livros ou em séries de TVs casos e mistérios que são bem interessantes, mas no final das contas são estragados por causa de uma resolução péssima? Muitas, mas muitas vezes.
Minhas primeiras impressões em relação a Gakkyuu Houtei: School Investigation são claras, é um bom primeiro capítulo, a arte de Takeshi Obata está incrível, o roteiro de Enoki Nobuaki está muito bem desenvolvido, mesmo que seja morno demais, sem nenhum momento que surpreenda o leitor, os personagens são interessantes o bastante para sustentar um caso extremamente bobo, acredito que para vários leitores o caso foi desinteressante o bastante que nem os personagens conseguiram “carregar-lo”, e por fim tivemos um capítulo incompleto. No final das contas é um bom primeiro capítulo, vejo um ótimo futuro para série se conseguir sobreviver, mas cometeu alguns erros que podem custar alguns votos ou até muitos.
Caso ainda não tenha lido o capítulo, vá ler imediatamente na Kyodai Scans, vale a pena!