7th Garden foi lançado na Jump Square com um grande “hype” por trás, sendo anunciado dois meses antes da sua saída, os japoneses estavam muito ansiosos pelo mangá, principalmente porque o autor, Mitsu Izumi, foi o criador do mangá Ano Hana, lançado na Jump Square em 2012 e muito aclamado por vários leitores. Mesmo assim, não tive grande expectativas para o mangá, esperava uma boa obra, mas nada que pudesse me deixar com a boca aberta. Ao meu ver, isto é um fator muito positivo, pois assim você evita se decepcionar, como acontece com várias pessoas que esperam demais de uma obra. Por isso, sem grandes expectativas, me dei de cara com uma bela página colorida de abertura.
É interessante ver que o autor apostou em uma atmosfera angelical para apresentar um dos personagens que se tornaria o motivo do caos, usando flores de cores vivas e “puras” (Rosa, Azul e Branco) e aliado a uma iluminação natural/solar, que normalmente lembra muito os anjos bons. O personagem principal, Awyn imediatamente se encanta pela mulher presa entre as flores e provavelmente, também o leitor fica encantando.
Logo após esta bela apresentação de dois personagens, o jardineiro Awyn e o demônio – Temos uma sequência bem confusa. Somos “transferidos” imediatamente à um flashback, onde uma garota percebe que algo caiu dos céus, explicando como a mulher das flores ou melhor, o demônio das flores chegou até o local… Em seguida voltamos à “atualidade”, a qual apresenta como Awyn caiu dentro daquele buraco. Logo após somos apresentados à patroa de Awyn, que se chama Mary, a garota que ele quer proteger de todos os modos. Nesta cena entendemos que o demônio das flores já esta livre, e aí sim, temos um OUTRO flashback mostrando como foi a continuação primeiro encontro de Awyn e o demônio das flores, a continuação cronológica da página colorida.
Se, para você, este paragrafo soou extremamente confuso, acredite, é porque as cenas foram bem confusas – O leitor se perde na cronologia das páginas, não conseguindo entender a ordem dos fatos de nenhum modo, felizmente, depois dessa confusão mental que o autor, Mitsu Izumi, nos dá, ele decide seguir uma linha mais linear, nas páginas seguintes. De qualquer modo, conseguimos entender um pouco como funciona o universo de 7th Garden e um pouco da ideologia de Awyn nestas sequências de páginas confusas.
7th Garden entra naquele grupo de mangás clichês ambientados em um universo original (ainda que baseado na idade média europeia), algo que soa muito interessante ao público japonês, uma vez que todo o contexto, seja religioso ou até mesmo físico (Castelos, casas, roupas) não fazem parte de seu universo, da história deles, por isso os asiáticos em geral gostam tanto de visitar esta Europa histórica, pois é um mundo que é totalmente fora de suas realidades. Para nós brasileiro, o contexto físico é fora da nossa realidade, mas a cultura ocidental e a religiosidade católica esta enraizadas em nossas vivências, em nossos costumes, somos frutos diretos da Europa, mas os japoneses não são.
Assim, o universo de 7th Garden é baseado totalmente neste mundo, que já foi dissecado por vários outros mangás, mas que continua muito interessante para os japinhas. Logo percebemos que a religião esta dominando todas as vilas (feudos) e quem mantém a ordem destas vilas, são cavaleiros que trabalham em ordem do papa. Awyn, personagem principal, é uma pessoa que podemos chamar de “Ateu”, não acredita na existência nem dos demônios e nem na de deus, percebemos isto no primeiro dialogo entre ele e o demônio das flores. O personagem é deste modo, por ter um passado triste, viu o seu pai ser injustamente julgado, a sua mãe se suicidar (?), o que fez que ele perdesse a fé na igreja e em deus.
As últimas palavras da mãe, provavelmente muito religiosa, foram: “Awyn, o demônio sempre está à sua volta…” – A ambientação da história somada ao passado de Awyn, é uma grande critica social a igreja católica da idade média e pós renascimento, que cobrava impostos altíssimo ao povo fazendo muitos passarem fome (Vide Awyn e sua mãe), julgava e matava várias pessoas inocentes dizendo que estavam possuídas pelo demônio (Vide o seu pai) e pior, alienava as pessoas com uma politica do medo e do terror. Atualmente a igreja esta muito diferente, mas antigamente era muito parecido como é mostrado em 7th Garden.
Além disto, somos apresentados a nova família de Awyn, que na verdade é uma família de aristocratas onde ele trabalha como jardineiro e tem uma ótima relação com a sua patroa, que confia nele de forma gigantesca… Awyn prometeu a ela que irá protege-la de tudo… Acabei de dizer a vocês as primeiras 40 páginas do mangá, que sinceramente tem vários pontos interessante, mas tem uma narrativa muito, mas muito chata. O autor tinha vários aspectos interessantes do seu universo para aproveitar: O demônio que Awyn libertou a dias atrás o “provocando”, o passado de Awyn, como funciona a vila ou até os cavaleiros que protegem as vilas, mas não, ele foca na relação estúpida de Awyn e sua patroa, relação digna daqueles “shoujos” bem chatos (Nada contra quem gosta de Shoujo, eu gosto de vários, mas tem uns que são bem chatos), o autor nos encheu de páginas sobre estes dois, com um alto apelo fujoshi, para demonstrar como Awyn era fiel a ela, simplesmente insuportável.
Felizmente, o autor após nos dar uma sequência bem chata de páginas, nos entrega uma eletrizante – Os cavaleiros do papa decidem invadir a vila, matando todos os cidadãos, queimando todas as casa, assim expurgando o mal eminente que esta a nascer (Provavelmente estavam em busca do demônio que Awyn liberou). O modo que o autor retratou os cavaleiros, bem potentes e com uma armadura que passava terror, foi bem interessante, conseguiu vilanizar-los de forma interessante, o uso de cavalos que pareciam vindos do inferno, também ajudou a aumentar a sensação de “maldade” dentro dos cavaleiros. Como imaginado, um dos cavaleiros parte na direção da patroa, mas Awyn aparece e a defende, com o seu próprio corpo.
Logo após, ele grita para a patroa sair correndo (Ela hesita, mas depois corre) e ele continua lutando contra o cavaleiro do mal. Vemos que de algum modo, Awyn é muito experiente com a espada e sabe lutar como ninguém, o motivo de ele saber lutar tão bem, não é importante, o cara é o protagonista, podemos fingir que treinou na selva matando Javalis e por isso ficou tão potente. Por causa de toda a atmosfera de destruição e caos criada pelos cavaleiros, faz que a luta consiga ficar bem emocionante, somente com aspectos visuais e simples ação de matar inocentes, Mitsu Izumi faz que nos odiemos os cavaleiros. Mas aparece outro que ataca a patroa, que se chama Mary, mas continuarei falando “patroa”. Awyn ao ver ela caia no chão, ferida, liga o modo berserk nível 01 e com cotoco de lâmina consegue matar o cavaleiro que feriu a Mary – Ele se joga no chão e fica gritando para a sua amada patroa não morrer, é neste momento que aparece o demônio das flores, que ele libertou… Ela faz um acordo, se Awyn jurar servir-la, ela lhe dará a força para salvar a patroa e toda a cidade, desespero para que sua amada não morra, Awyn aceita o pacto com o demônio. Assim, o nosso querido protagonista abre o segundo portão do protagonismo inferno e ativa o modo Berserk nível 02, desta vez ele invoca uma espada muito bem desenhada.
Awyn demonstra saber dominar muito bem a arma e sai matando todos os cavaleiros, assim salvando a cidade. Por mais que a luta tenha sido um show de protagonismo, devo dizer que o autor conseguiu passar todas essas incoerências de forma fantástica, eu consegui mesmo assim me animar com Awyn matando todos os cavaleiros ou matando um cavaleiro experiente com uma super armadura usando somente um cotoco de espada. Isto porque, o Mitsu Izumi criou em pouquíssima páginas uma atmosfera apocalíptica, espetacular, de tirar o chapéu.
Por fim, o demônio das flores revela o seu nome, ela se chama Lurdes Wurdes, e explica que a vila em que Awyn vive é um território abandonado por deus (Comprovando a existência de deus no universo de 7h Garden universo), a caixa em que ele abriu no começo do capítulo, na verdade abriu a entrada ao jardim dos demônios, liberou o demônio que deveria ficar para sempre selado. E existem 6 anjos governando o mundo, o objetivo deste demônio é juntamente com Awyn, é ir até os céus (Acredito que isto era uma metafóra) para matar estes anjos e assim por fim governar o mundo.
Agora, por causa que Awyn fez pacto com a Wurdes, ele terá que proteger este jardim e ao mesmo tempo lutar com o demônio das flores, para fazer que o mundo “volte” para as suas mãos, as mãos de Wurdes, que continuarei chamando de demônios das flores. O que acontecerá nos próximos capítulos ainda é uma incógnita, mas acredito que o autor utilizará o segundo capítulo para explicar melhor sobre estes 6 anjos e a relação entre o demônio Wurdes e o mundo em que Awyn vive – Também ele terá que explicar porque ela continua a dizer que quer o mundo “de volta”, levando a crer que de algum modo aquele mundo já foi dela.
7th Garden tem uma premissa interessante, o autor já demonstrou que tem capacidade de nos dar batalhas espetaculares com várias cenas belíssimas. A critica social e as referencias a religião cristã estão muito bem colocadas na mitologia da série. A sua arte varia de várias cenas bem medianas para cenas fantástica, que me fazem tirar o chapéu, mas mesmo assim, o primeiro capítulo peca em não mostrar tanta originalidade, a verdade é que todos os elementos postos já foram vistos em outras séries, não existe exatamente NADA de novo na sua história, é uma junção e reaproveitamento de vários outros mangás.
Para conseguir se destacar neste universo, 7th Garden necessitará demonstrar que tem algo de novo, de único, em comparação a todos estes outros mangás sobre anjos e demônios na idade média. O mercado esta super lotado destas séries, seja no mundo dos animes quanto no mundo dos mangás, é preciso apresentar algo de novo. No final das contas gostei bastante do primeiro capítulo, mas esperarei que nos próximos capítulos o autor nos dê algo a mais, algo que de fato diferencie 7th Garden de todas as outras séries sobre o mesmo tema.