Todos os anos, a Weekly Shonen Jump lança em sua revista principal entre dez e quatorze novas séries, das quais entre 70% e 100% acabam sendo canceladas antes de completarem três anos de vida. De fato, a realidade dos novos mangás na Weekly Shonen Jump está longe de ser simples.
Contudo, tanto entre os cancelados quanto entre os sucessos, é possível encontrar obras de alta qualidade e outras de qualidade bem duvidosa. Chegou o momento de ranquear todos os mangás lançados na Weekly Shonen Jump (Excluindo mangás da Jump +, que será uma matéria a parte), para discutir quais foram os melhores lançamentos de 2025 na maior revista de mangás do mundo.
13. Gonron Egg
Um dos últimos mangás lançados em 2025 foi Gonron Egg, do autor novato Shuhei Tonizaki. O battle shounen conta a história de um mundo em que a sociedade humana ruiu e os poucos sobreviventes vivem como escravos de terríveis criaturas chamadas Drakarchs. Nesse cenário trágico, o jovem cativo Gonron encontra Oma, um misterioso ovo de Drakarch destinado a um futuro igualmente cruel, encontro que muda para sempre a sua vida.
A premissa de Gonron Egg tinha tudo para resultar em algo interessante, com elementos de pós-apocalipse, ação e mistério. Contudo, a série sofre com uma estrutura narrativa extremamente previsível e sem graça, além de um protagonista sem nenhum carisma. O pior problema, porém, é a ausência de sinergia entre o desenhista principal (no caso, Shuhei Tonizaki) e os assistentes que realizam o cenário. Os personagens parecem figurinhas coladas na página, tão destacados do cenário que ficam, o que acaba se tornando um erro simplesmente inaceitável para o nível de uma revista como a Weekly Shonen Jump.
12. Ekiden Bros
Em junho, tivemos uma leva única na Weekly Shonen Jump, em que os editores lançaram três mangás de esporte na esperança de que ao menos um vingasse e a “maldição” dos mangás esportivos finalmente fosse quebrada. Spoiler: nenhum vingou. Ekiden Bros é um desses títulos e conta a história de Nobunaga, um garoto que cresceu em um dormitório repleto de corredores de longa distância que treinam para a tradicional maratona japonesa Ekiden. Embora sonhe em se tornar atleta como eles, Nobunaga enfrenta uma dificuldade enorme em dar o primeiro passo. No entanto, quando acaba sendo arrastado para uma corrida na escola, ele chama a atenção do clube de corrida.
Transformar um esporte tradicional em sucesso comercial é algo que a Weekly Shonen Jump já fez no passado com Hikaru no Go. Contudo, Ekiden Bros falhou completamente em sua missão. Com um protagonista “banana” que incomodou leitores japoneses até mesmo por causa de sua “boca aberta”, o mangá teve grande dificuldade em agradar o público. Personagens secundários fracos e a dificuldade do autor nos primeiros capítulos (melhora depois, mas já era tarde) em transformar a maratona em um esporte dinâmico, veloz e divertido acabaram transformando Ekiden Bros em um dos maiores fracassos do ano.
11. Embers
A Weekly Shonen Jump rapidamente pensou em uma jogada ousada: e se pegasse um dos assistentes mais talentosos de Blue Lock e o colocasse para lançar um mangá de futebol na revista? A ideia parecia genial, já que significaria “roubar o ouro” da rival. Pena que muitos planos que funcionam no papel acabam falhando na execução por pequenos detalhes. Embers, que deveria ser o “novo grande mangá de futebol” da Shonen Jump, não fracassou pela arte ou pela quadrinização, que eram dinâmicas e realmente emocionantes, mas sim por causa de seu roteiro.
Não é incomum vermos duplas de autores que não têm boa sinergia, com a arte muito superior ao texto (ou o contrário). Neste caso, o roteiro era claramente problemático. No primeiro capítulo, a maioria dos leitores se importou mais com o professor, o famoso “calvo”, que depois desaparecia no segundo capítulo, do que com o protagonista, com quem o público não conseguiu criar empatia. Para piorar, os personagens secundários do time também não despertavam interesse. Um mangá de esporte em que os personagens não cativam o leitor é praticamente um candidato certo ao cancelamento precoce.
10. Nice Prison
Muita gente odiou Nice Prison e colocaria a série na última colocação, mas, sendo sincero, mesmo com todos os defeitos, Nice Prison não é o pior mangá da Weekly Shonen Jump em 2025. O mangá de comédia acompanha uma prisão em que há apenas prisioneiros loucos e estranhos, todos de alta periculosidade.
A polêmica em torno de Nice Prison está principalmente em sua arte simples e em seu humor voltado completamente para o nonsense. Esse tipo de humor, porém, é bem típico de mangás shonen, com obras como Boku to Roboco, Isobe Isobee no Monogatari, Pyu! to Jaguar e Sexy Commando Gaiden sendo verdadeiros mestres nesse estilo. Mangás assim tendem a não ter boa aceitação do público ocidental, mas isso, por si só, não torna a obra ruim. O que de fato deixa Nice Prison fraco é o fato de haver poucas piadas realmente engraçadas, o que torna a leitura mais cansativa do que divertida. Não é o pior mangá do mundo, mas está longe de ser bom.
9. Star of Beethoven
Star of Beethoven conta a história de Ichiro Yaso, um prodígio do piano que abandonou o mundo da música clássica após um traumático incidente em uma competição. Jurando jamais tocar novamente, ele se afasta de tudo o que amava, até que um mentor enigmático, que afirma ser o próprio Beethoven, surge em seu caminho. Com uma premissa extremamente única, o mangá parecia ter tudo para se tornar um novo sucesso.
Entretanto, um mangá não vive apenas de premissa. Star of Beethoven não soube desenvolver bem a própria proposta, não conseguiu transmitir a beleza da música clássica em suas páginas e ainda transformou Beethoven em um personagem muito caricato. O autor até tenta dar nuances a ele, mas a caracterização acaba ficando apenas na superfície. A inconstância na arte também incomodou bastante os leitores, ajudando a empurrar a série para um cancelamento precoce.
8. Otr of the Flame
Após o cancelamento de Red Hood, muitos leitores estavam na expectativa de ver Yuki Kawaguchi retornar. Quando ele voltou com Otr of the Flame, o público logo se dividiu: alguns acharam o mangá bom, outros o consideraram inferior a Red Hood. Mas, afinal, do que se trata Otr of the Flame? O mangá conta a história de um mundo aprisionado em um inverno eterno após o avanço implacável do Reino do Gelo. Otr, um jovem gentil que sonha em ser um grande guerreiro como o pai, recebe uma missão bem diferente: manter as chamas vivas como cozinheiro da fortaleza. Porém, quando a fortaleza é tomada pelo exército demoníaco do Reino do Gelo, tanto o povo quanto a chama que os protege correm o risco de serem extintos.
O arco de treinamento dos primeiros capítulos, a quadrinização com excesso de informação e o design dos personagens foram alguns dos elementos mais criticados, e com razão. Contudo, todos esses pontos foram melhorando ao longo da série, com o passar dos capítulos. Atualmente, Otr of the Flame é uma série de qualidade mediana, com pontos positivos e negativos, mas que não consegue realmente brilhar. Para muitos leitores, Otr é simplesmente mediano.
7. Kaedegami
Kaedegami estreou em um momento peculiar. Entre as quatro estreias da temporada, apenas Kaedegami não era um mangá de esporte. Ser o único battle shounen poderia ser um grande trunfo para gerar hype. No entanto, o fato de a temática girar em torno de demônios fez muita gente, inclusive no Japão, pensar “mais um mangá de exorcismo?”. Assim, restaram como principais diferenciais a dinâmica do protagonista, a arte bem detalhada e a ambientação na China.
Com uma arte muito bonita e uma dupla de protagonistas envolvente, Kaedegami tinha qualidades que poderiam levar a série ao sucesso. Contudo, o fraco desenvolvimento da ambientação chinesa, somado às cenas de ação que eram consideradas “complicadas de se ler”, fez com que Kaedegami fosse cancelado com apenas dois volumes. Quem diria que entregar cenas de ação ruins seria tão fatal para um battle shounen.
6. Harukaze Mound
Quando Phantom Seer foi cancelado, a internet simplesmente “quebrou”. O mangá era amado no Ocidente e bem divisivo no Japão, o que resultou em uma diferença clara de percepção sobre a obra. De qualquer modo, assim que Harukaze Mound, um mangá de baseball da mesma dupla, estreou, a opinião desses dois polos finalmente chegou a uma conclusão em comum: o mangá, mesmo muito bem desenhado, não tem “alma”.
O grande problema de Harukaze Mound é que ele tenta seguir tanto o “manual de como realizar mangás de esporte” que acaba esquecendo um elemento fundamental em um mercado em que o gênero já está saturado, que é a peculiaridade. Não existe nada de realmente único na obra que a diferencie de outras dezenas de mangás de baseball surgidos ao longo de mais de sessenta anos de indústria. Harukaze Mound não é ruim, muito pelo contrário, é um bom mangá, mas não oferece motivos fortes para convencer o leitor a comprar seus volumes.
5. Ping Pong Peril
Encerrando a jornada pela fatídica leva dos “mangás de esporte”, chegamos a um título que, sinceramente, eu considerei bom, mesmo tendo sido cancelado por motivos bem claros (que não permitem que a série alcance o pódio deste ano). Ping Pong Peril é um mangá que une esporte, ação e muito dinheiro sujo. A obra conta a história de um garoto que se vê obrigado a entrar em um esquema de batalhas mortais de pingue-pongue para pagar uma dívida de milhões de dólares.
Com partidas insanas, uma proposta completamente louca e personagens carismáticos, Ping Pong Peril tinha tudo para dar certo. Contudo, a arte, que para muitos não era muito chamativa, somada ao fato de pertencer a um gênero que não emplaca nas três principais revistas shonen desde 2018, fez com que muitos leitores simplesmente não dessem uma chance ao mangá. Ping Pong Peril não fracassou por ser considerado ruim. Quem leu, gostou. O problema foi ser visto como desinteressante, o que resultou em poucos leitores. Por causa do cancelamento, a série não pôde se desenvolver o suficiente e acabou se tornando “apenas mais um” mangá cancelado com uma conclusão apressada.
4. The Mage Next Door
Quando The Mage Next Door estreou, o hype estava no ponto mais baixo possível. O público tinha acabado de ler o fraco Gonron Egg e todos os mangás que estrearam em 2025 até então haviam fracassado (A recepção de Someone Hertz ainda era uma incognita). Assim, quando o primeiro capítulo da série saiu, a reação foi imediata: “finalmente um mangá bom!” Após meses de frustração, surgiu um pingo de esperança.
The Mage Next Door conta a história de Toya Osoegawa, um mago do Reino Mágico onde todos treinam arduamente para dominar suas artes, menos ele. Toya só deseja usar magia para levar uma vida tranquila e confortável, longe de esforços desnecessários. No entanto, por ordem direta da Divina Maga, o menos motivado de todo o Reino Mágico é enviado ao Reino Humano. Agora, ele precisa usar seus feitiços excêntricos para proteger humanos e expulsar magos malignos de volta ao seu mundo.
Com cenas de ação emocionantes, uma comédia genuinamente engraçada e uma dupla de protagonistas que combina muito bem com o tom da obra, The Mage Next Door se destaca. Contudo, a série ainda não é perfeita. Começa a sofrer com uma repetição preocupante de piadas e com arcos que não engajam tanto quanto deveriam. Para sobreviver na Weekly Shonen Jump, o mangá precisa entregar mais. Caso contrário, corre o risco de se tornar mais uma daquelas obras que começam bem, mas, logo depois do quinto capítulo, perdem o fôlego.
3. Hero Girl and Demon Calls It Quits
Logo após a estreia de The Mage Next Door, chegou um mangá que já carregava um bom hype. No início do ano, seu one shot havia tido ótima recepção, e a Weekly Shonen Jump correu para transformar a comédia Hero Girl and Demon Calls It Quits em uma serialização. Assim, a série se tornou a última obra da Weekly Shonen Jump a ser lançada em 2025 e, por incrível que pareça, uma das melhores.
Para quem ainda não leu, Hero Girl and Demon Lord Call It Quits conta a história do fim inesperado de uma guerra milenar entre o bem absoluto e o grande mal. O desfecho é tão surpreendente que leva a heroína e o lorde demônio a se tornarem colegas de quarto. Agora, em vez de batalhas épicas, os dois encaram a vida cotidiana lado a lado, dando início a uma comédia slice of life repleta de situações absurdas e com uma convivência das mais improváveis.
Com uma dinâmica espetacular entre a dupla de protagonistas, Hero Girl and Demon Lord Call It Quits trabalha principalmente a interação divertida entre os dois personagens e, por enquanto, ainda traz apenas um pequeno toque de romance, que pode se tornar algo importante para a história no futuro. O autor sabe usar muito bem as características principais desses personagens e explora de maneira divertida a ideia da heroína indo para a escola enquanto o demônio se torna um “senhor de casa”. É um ótimo mangá para quem gosta de comédias leves e descontraídas.
2. Jujutsu Kaisen: Modulo
Escrito por Gege Akutami, autor de Jujutsu Kaisen, e desenhado por Yuji Iwasaki, Jujutsu Kaisen: Modulo é uma continuação ambientada 68 anos após a conclusão da série original, seguindo os netos de personagens relevantes para a trama.
O mangá chegou a despertar um medo considerável de que estivéssemos prestes a presenciar mais um “caça-níquel”. Contudo, Gege Akutami está conseguindo desenvolver a história com bastante coerência, criando mistério e, ao mesmo tempo, dando sentido à trama. A arte de Yuji Iwasaki, que muitos estranharam por ser diferente da de Gege Akutami, acabou caindo como uma luva e está conseguindo transmitir bem tanto a ação quanto a emoção do roteiro escrito pelo autor original.
Sem sombra de dúvidas, valeu a pena a criação de Jujutsu Kaisen: Modulo.
Vencedor: Someone Hertz
Após meses de tortura e desespero, com nenhuma das novas séries realmente dando certo, surgiu no mês de setembro uma grata surpresa: Someone Hertz. Talvez Yu Saito, novo editor-chefe da Weekly Shonen Jump, ainda esteja com dificuldades para entender o que funciona na revista. Contudo, é inegável que ele tem um bom tato para escolher comédias românticas com potencial, já que conseguiu lançar tanto Someone Hertz quanto Himaten.
Someone Hertz conta a história de Mimei, um garoto que divide com a enigmática e divertida Kurage a paixão por um programa de rádio de comédia que vai ao ar todas as madrugadas de segunda-feira. Para a surpresa de Mimei, Kurage é famosa por enviar comentários hilários que vivem sendo lidos no programa, e ele quer ser tão engraçado quanto ela. Entre rivalidade, amizade e algo a mais, Someone Hertz surge como a mais nova comédia romântica da Weekly Shonen Jump.
E que comédia romântica deliciosa de ler. Com piadas engraçadas, dois protagonistas extremamente fofos e simples e uma trama que não pesa em momento algum, Someone Hertz entrega exatamente tudo o que um leitor fã de romcom procura. Inclusive, é o tipo de mangá que tem grande capacidade de agradar também quem normalmente não lê comédias românticas, graças a uma sinceridade emocional que é simplesmente espetacular. Someone Hertz não é apenas a melhor estreia de 2025, é também uma das melhores dos últimos três anos.













