Sense Life alcança 20 mil cópias impressas e se consolida como fenômeno do mangá nacional.
A MPEG anunciou que o mangá brasileiro Sense Life alcançou 20 mil cópias impressas no Brasil com apenas um volume lançado, que já caminha para a quarta tiragem em três meses, por isso a grande maioria dessas 20 mil cópias foram já vendidas.
A notícia não apenas gerou forte reação do público, como também representa uma perspectiva positiva para o mercado brasileiro, já que os números atingidos por Sense Life colocariam a série no 10% mais lucrativos mangás do mercado japonês atualmente.
Sense Life é um mangá de ação e comédia que acompanha a história de Noah, um garoto pacato em busca de um sentido para sua vida. Seu cotidiano muda radicalmente após conhecer Kaleb, um usuário de drogas com uma grande recompensa por sua cabeça. A combinação de humor, personagens marcantes e um traço característico transformou a obra em um sucesso nacional.
Nesta reportagem, vamos detalhar a reação do público brasileiro diante do anúncio das 20 mil cópias vendidas, analisar o significado dessa conquista e refletir sobre o impacto que esse feito pode representar para o mercado nacional.
Reação do público e da mídia
Durante a MPEG Festa, a editora revelou diversas novidades, com destaque justamente para Sense Life, atualmente a maior obra nacional. Entre os anúncios, o de “20 mil cópias em circulação” levou inúmeros leitores a celebrarem a conquista. Autores nacionais também reagiram com entusiasmo aos números obtidos.
Contudo, apesar da relevância para o mercado como um todo, a notícia passou despercebida por grande parte da imprensa, das mídias especializadas e também de leitores casuais de mangás.
Essa ausência de repercussão levou Hataoh, autor de Betiger – outro mangá brasileiro em ascensão na internet – a comentar em suas redes sociais sobre a importância desse feito:
A publicação ultrapassou 72 mil visualizações, com 128 compartilhamentos e 1 mil curtidas. Os comentários foram variados: alguns celebraram a conquista, outros criticaram a falta de investimento no mercado nacional e parte do público questionou a relevância dos 20 mil exemplares, considerando o número “baixo”. A realidade, no entanto, é que os resultados são bastante expressivos.
Números em nível japonês
Acostumado a sucessos estrondosos, o público brasileiro muitas vezes enxerga como “natural” vendas de 100 mil, 500 mil ou até 1 milhão de cópias – quando, na verdade, esses casos são exceções no Japão.
A própria Weekly Shonen Jump lançou quatro novos sucessos em 2024, e apenas um deles ultrapassou as 20 mil cópias: Ichi The Witch, com 72 mil em um mês. As demais séries (Shinobigoto, Himaten e Exorcist no Kiyoshi-Kun) venderam menos do que Sense Life, mas mesmo assim estão recebendo continua divulgação na maior revista de mangás do mundo. Muitos mangás cancelados da revista, não chegam nem perto dessa quantidade, vendendo entre 2 a 7 mil cópias por volume.
Como o Analyse It costuma destacar em suas análises, para a Shonen Jump esses números podem ser considerados “medianos”, mas em qualquer outra editora seriam suficientes para garantir a sobrevivência de uma série. O exemplo de Gachiakuta, lançado pela Shonen Magazine (Kodansha), reforça isso: o mangá vendeu cerca de 27 mil cópias em seu primeiro volume e foi imediatamente considerado um sucesso, ainda que não tenha se tornado um “hit imenso”.
Em revista como a Ultra Jump, no qual é publicado JoJo, a grande maioria dos mangás em lançamento não imprimem em um volume nem mesmo 10 mil cópias, e mesmo não sendo considerados sucessos, conseguem ter um espaço seguro no mercado. O público, acostumado a acompanhar obras como Jujutsu Kaisen e One Piece, costuma superestimar os parâmetros de sucesso. Na prática, vender acima de 20 mil cópias já coloca um mangá entre os 10% mais vendidos do Japão.
No Brasil, os números de Sense Life superam diversas obras licenciadas e, dentro da MPEG, já fazem do título o segundo primeiro volume mais vendido da editora, atrás apenas de Gatch Bell. Ainda é longe dos resultados alcançados por IPs bem estabelecidas e com anime, mas um passo de cada vez.
Os resultados de Sense Life são significativos até mesmo para os padrões japoneses. É provável que seu desempenho fosse bem recebido até pela própria Weekly Shonen Jump. Por isso, o feito de Glitch Tellend, autor da obra, merece reconhecimento.
Futuro de Sense Life e do mercado brasileiro
O mercado brasileiro de mangás ainda está distante da dimensão do japonês e precisará de anos de amadurecimento para alcançar patamares mais sólidos. Entretanto, o sucesso de Sense Life é um marco promissor. Cada vez mais, obras nacionais conquistam espaço e apoio. A própria MPEG vem apostando fortemente em autores locais, colocando-os no centro de sua estratégia editorial.
Um exemplo é Betiger, que, após ótima recepção nas redes sociais, já teve volume impresso anunciado.
A NewPOP, com títulos como Rei de Lata e Pirates, conseguiu atrair o público casual mesmo com um catálogo enxuto. A veterana Editora Armon alcançou recorde pessoal de arrecadação para a produção do primeiro volume Ginga, mangá de capoeira. E a nova iniciativa, Shonen West, chamou atenção pela divulgação de seu “método editorial japonês”.
Com a ampla divulgação da MPEG, é provável que o segundo volume de Sense Life, previsto para dezembro de 2025, supere os resultados do primeiro. A expectativa é que, em 2026, a série ultrapasse a marca de 50 mil cópias em circulação. O mercado está crescendo.
O desafio, porém, continua sendo enorme. O mercado nacional ainda enfrenta resistência de parte dos leitores em relação a obras brasileiras, além da crise global da leitura – em meio à disputa pela atenção do público com vídeos curtos e plataformas de streaming, que oferecem uma “dopamina instantânea” difícil de competir. A alta nos custos de produção, somada às dimensões continentais do Brasil e ao cenário econômico, também impulsiona a pirataria e a leitura gratuita, dificultando o lucro das editoras.
Apesar dos obstáculos, há espaço para crescimento. O público de anime e mangá no Brasil segue em expansão. O desafio é direcionar esse interesse para produções nacionais e garantir a acessibilidade dos preços – uma tarefa nada simples, mas que Sense Life já mostra ser possível. Obras como Sense Life beneficiam um inteiro mercado e servem como porta de entrada para muitos leitores.


