A Golden Future Cup é uma competição anual da Weekly Shonen Jump destinada a colocar em destaque os futuros talentos da revista. Publicada desde 2004, a iniciativa apresenta one-shots criados por mangakás iniciantes, que competem pelo voto dos leitores para ganhar uma vaga na revista. Isso mesmo, vencedor tem a chance de desenvolver uma série completa, lançando sua carreira profissional. Diversos autores de sucessos da Jump começaram nessa competição, como os autores de Yozakura-San, Ruri Dragon, Beelzebub, Black Clover, Nura e muitos outros mangás. É uma vitrine crucial para futuros criadores deixarem sua marca no mercado.
Enquanto a revista não divulga o vencedor, decidimos trazer para vocês uma análise diferente, no qual teremos dois comentários dos nossos escritores para cada One-Shot, assim você sabe qual é a opinião dos escritores do Analyse It – somente uma série, a vencedora da votação interna nossa terá a opinião de três escritores -. No nosso Patreon você pode encontrar a versão completa com TODOS os comentários. Sem mais delongas, vamos lá:
Rasotsu Yokai Gari
Nicolin (Criador do Analyse It e Escritor da Shonen Jump, Jump SQ e outras revistas): Eu sempre digo que um dos pontos que eleva uma história é sua ambientação, e de fato é isso que não me leva a dar zero para Rasotsu Yokai Gari, e sim uma simples nota 1. Eu não sou totalmente contrário a série de exorcismo, mas sim, sou contrário quando não apresentam nada que vá adicionar nesse subgênero saturado no mercado atual. Rasotsu Yokai Gari não só utiliza todos os clichês possíveis, mas também os utiliza do modo mais sem graça possível.
Assim, a ausência de intensidade leva a lermos quase 50 páginas de puro vazio, no qual vemos o personagem principal (que varia entre o herói irônico e o herói tradicional, algo também muito comum nos dias de hoje) realizando várias ações engraçadas e mirabolantes ao longo do capítulo. Concluindo, a arte também não ajuda Rasotsu Yokai Gari a se destacar, já que, mesmo bem desenhada, não tem uma identidade própria… Aliás, se não fosse pela ambientação no período Meiji, eu diria que a história como um todo não tem identidade alguma.
DNSS (Escritor da Shonen Sunday & Monthly Afternoon): De início, um destaque negativo por conta de sua arte, que possui um aspecto bem insípido. Remete bastante a um mangá qualquer lançamento número 900 do manga+, uma aparência meio ‘’digital demais’’, com um design funcional mas de pouquíssima personalidade. O protagonista é bem 8 ou 80, típico anti herói cinza; desbocjado, duvidoso e egoísta, mas lá no fundo possui um bom coração. A apresentação dos poderes é excelente, super interessante o lance de se mover por meio das sombras, carpas e tubarões no meio dela, tudo bem criativo e bem aplicado. Anima bastante ver um poder tão distinto assim entregue pro herói, demonstra que o autor possui criatividade para atribuir conflitos/poderes que não giram em torno do simples ‘’cara que soca forte x o cara que tem poder de fogo x o cara que tem poder de água’’.
Dentro do objetivo de um one-shot, que é apresentar um protótipo de uma série que você almeja desenvolver, esse daqui apresentou elementos o suficiente para alimentar o meu interesse, gostaria de conhecer mais dos seus personagens e do seu mundo. Acabei não mencionando, mas só de ser um mangá de época – era meiji – já dá mais um pouquinho de individualidade que te puxa pro universo do mangá. É polir mais seu estilo e ousar mais na composição de páginas, junto com a administração da criatividade dos poderes e na exploração do caráter duvidoso do protagonista que você consegue tirar algo legal daqui.
Nota: 1.75 / 5
Signal All Red
DNSS: Excelente narrativa e construção de diálogos. O casal principal tem uma química excelente e bem aplicada, interações sempre naturais e bem divertidas. O humor funcionou bem, o conflito principal foi crível e bem executado, o universo escolar, o ambiente com poderes e o estabelecimento de castas sociais abre pano para uma serialização bem empolgante. É impossível não lembrar de Medaka Box lendo isso aqui.
A arte, apesar de ter personalidade – no sentido de ser mais única do que Rasotsu Yokai, por exemplo -, não é lá das melhores. Derrete em alguns momentos e aparece mais feinha do que deveria, fora dos momentos de comédia, onde isso seria mais ‘’aceitável’’. Esse tipo de romance já posto não parece muito a cara de Shonen Jump, não sei se é algo que o editorial se interessa, ou se o público da revista se interessa, vejo um encaixe melhor no ambiente da Shonen Magazine. É um trabalho certamente promissor, uma perspectiva de serialização criativa e bem apaixonada.
Lucca (Escritor da Shonen Magazine): É o mais profissional e bem composto. Tem uma idéia clara do que quer fazer com um conceito diferente — focando nessa questão de uma eleição para explorar as ideologias e backgrounds diferentes dos protagonistas.
Sabe usar alegorias bem, com a presença do Sol e da Lua por todo oneshot, dinâmica entre personagens é um foco central e funciona pelos diálogos que soam naturais e o traço em si tem o nível mais profissional dos concorrentes com uma página colorida impressionante. O roteiro também gera uma sensação de excitação para saber o que vem depois, com uma boa ponta usando a questão da inevitabilidade (ou não) de um futuro.
FelRib (Escritor da Young Jump): O melhor de todos na minha opinião, o simbolismo que os personagens tem com o sol e a lua é realizado da forma correta. A Luna inclusive ao usar seu poder ilumina seus pensamentos com formas que lembram um sol. Acredito que a arte precisa ser melhorada, porém as expressões faciais é uma área que o mangá brilha bastante. O plot é básico, academia de poderes, os nobres contra os plebeus, um personagem principal para cada lado, eles se odeiam, mas vão ficar juntos, é isso. Daria certo na Jump? Sinceramente não sei, adoraria ver ele sendo serializado, mas não sei o quão longe ele iria. Para mim é o melhor da GFC sem dúvidas em questão de história contida em um capítulo singular.
Algo que eu destaco que possivelmente é a melhor página é Taiyo conversando com sua mãe, e conseguimos ver a lua no céu da noite, por entre as barras que prendem ele dentro da escola. Significando que Taiyo está livre conversando com sua mãe, e Luna seria realmente quem está presa por não ter um relacionamento melhor com seus pais. É algo tão pequeno, que é fácil de não notar.
Nota: 3.88 / 5
OSAMU
Nicolin: Me surpreendi que nenhum dos escritores notou a óbvia referência a Astro Boy em toda a história (criado por Osamu Tezuka). Eu sinceramente gostei muito do One-Shot e acabei rindo bastante: tanto a arte quanto a quadrinização cartunesca me passaram a ideia de estar vendo uma paródia de Astro Boy, e, de algum modo, isso elevou a série para a minha preferida nesse Golden Future Cup.
Não consigo dar quatro, e nem tenho certeza de que seria uma boa ideia a serialização, já que também vejo certas influências de One Punch-Man, que acabam me deixando irritado – a quantidade de comédia do “Protagonista Overpower” que surgiu depois da popularização de One Punch-Man é decepcionante, e tenho a sensação de que esse mangá teria grandes chances de ser cancelado caso fosse serializado. Mas, por causa do seu bom timing de comédia e sua referência narrativa e visual a Astro Boy, conquistou meu voto.
Lucca: É um misto de coisas que penso “isso pode ser legal” e “outro desses de protagonista overpower não!!”. Quando ele se aproxima de Ultraman, dá pra ver algo que pode ter identidade própria, nesse mix de fantasia-quase-infantil e a invasão alien bem cartunesca. O receio é que a obra já pareceu repetitiva em como tratar dessas batalhas só no oneshot e a comédia é mais do mesmo, com as piadas sendo só reações aos poderes exagerados do protagonista.
Em construção de mundo, achei estranho e não bem configurado também, mas é algo que uma serialização pode arrumar. Por fim, o ponto mais forte pra mim é esse estilo de arte que emula um “desenho de caderno”, como se o mangá tivesse sido rabiscado durante uma aula.
Nota: 2.75 / 5
Invisible Blood
Nicolin: Em termos de arte, temos o artista mais profissional entre todos, com uma quadrinização bem montada e um traço detalhado, com até mesmo bons usos de background em várias páginas. Mas eu já esperava isso, conhecendo justamente o passado do artista. A questão é que, além da arte de alta qualidade, esse One-Shot acaba sendo destruído por causa justamente do protagonista cientista.
Seguindo aquela personalidade de cientista louco, o personagem simplesmente destrói qualquer dinâmica interessante da série (como a investigação) e, pior, prejudica o bom desenvolvimento da garota. O autor também, na segunda parte, acaba desistindo de algumas escolhas de design interessantes para apresentar inimigos que parecem vir de qualquer mangá genérico. Assim, Invisible Blood, que começa tão bem, termina com a sensação de que seria uma obra que você cansaria de ler após três capítulos por causa do protagonista obsceno.
Lucca: Não tem nada de muito único, mas é bem executado na proposta bem arroz com feijão que propõe. É mais um desses de caçar demônios/yokai/fantasmas, etc, mas os personagens são esteticamente atraentes, tanto masculino quanto feminino, e a arte é bem definida.
A história tem uma linha clara do que seguir, mais casos sobrenaturais com lutas e essa dicotomia entre tentar entender os fantasmas e enfrentar aqueles sem salvação. Funciona, mas é formulaico.
Eu não entendi bem qual a proposta pro futuro, o que vem depois disso? Supondo o sucesso do one-shot, qual será a serialização? Como vai funcionar? A história é tão contida que se encerra e eu me tenho satisfeito, mas satisfeito no sentido de completude, não no sentido de satisfação adquirido por meio da leitura, que não chegou a acontecer em momento algum.
Nota: 2.38 / 5
Fukkatsu Shin Hanzaki
DNSS: Uma grande salada de fruta. Diversos quadros confusos que me deixaram perdidinho, mas que ainda conseguiram transmitir boas emoções. Dei boas risadas em algumas páginas e me surpreendi diversas vezes ao longo da leitura, um verdadeiro turbilhão de ideias sendo jogado na nossa cara. O mascote apesar de ser bem pentelho é também intrigante, o protagonista é bastante cético e não se faz de pobre coitado, toda uma dinâmica perfeita para um clima de aventura imprevisível.
O desenho não me chamou atenção, a narrativa vai para diferentes direções, mas senti o tempo todo um direcionamento bem claro, vindo de um autor com bastante condições de criar um projeto ousado e criativo. É arranjar um bom editor para aparar as arestas e forçar o mangaká a se manter numa linha reta que eu vou querer ler mais dessa história.
FelRib: Não é Magu-chan, não vai me fazer rir e nem me emocionar. Porém, eu adorei o contraste do HONORÁVEL HANZAKI com uma pistola. Ou com um skate, também ri bastante dele pesquisando sobre contratos com humanos no Google. Outro que consigo comparar é com Gleipnir, lembra da waifu entrando no cara que virou roupa de mascote? É, basicamente isso, só que aqui é um cara e o DEUS HANZAKI.
Eu colocaria na Jump só para ter mais comédia, possivelmente eu ia achar alguns capítulos engraçados, e outros horríveis, mas faz parte. Destaco a lineart dos personagens que é mais grossa do que os outros oneshots da competição, a arte no geral foi ok, nada absurdo, mas em nenhum momento achei feia.
Nota: 2.50 / 5
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