*Essa matéria foi publicada no dia 27 de Junho no nosso Patreon, e sua publicação no site serve para mostrar os conteúdos que oferecemos para os assinantes do Patreon!
É normal mangás terem queda em vendas após a adaptação em anime e também com a diminuição do mercado de mangás, que já expliquei em vídeos passados. Contudo, tem uma obra que está tendo uma queda em vendas muito acelerada: Chainsaw-Man. O mangá, quando estreou o anime, estava vendendo 633 mil cópias em 10 semanas, mas agora está vendendo 283 mil cópias, uma redução de 55,2% dos seus compradores. Isso mesmo, Chainsaw-Man perdeu metade do seu público em menos de dois anos. Venha entender os VÁRIOS fatores que estão causando essa dramática redução!
O Sucesso de Chainsaw-Man
Antes de tudo, vamos analisar seus números antes da serialização: Chainsaw-Man começou vendendo 61 mil cópias em 8 semanas. Atualmente, tivemos Kagurabachi alcançando resultados similares, e deixei claro como essa quantidade é muito boa para uma série recém-lançada. O mangá, assim, continuou evoluindo volume após volume de modo gradual, conseguindo alcançar 246 mil cópias no volume 8, um aumento de 303% em seu público e vendas em um ano e meio. Assim, em agosto de 2020, com o volume 8, o mangá já estava vendendo mais que o dobro do que hoje vendem Sakamoto Days ou Ao no Hako, mesmo sem anime.
Chainsaw-Man naquela época conseguiu se aproveitar bastante da explosão de popularidade que os mangás estavam tendo por causa do sucesso de Kimetsu no Yaiba e depois, sucessivamente, por causa da pandemia. Contudo, acabou sendo o volume 9 que transformou Chainsaw-Man em um sucesso estrondoso.
A obra saiu de 246 mil cópias para 417 mil cópias em apenas 1 volume, um aumento de 69% em suas vendas. Para muitos, esse aumento pode soar estranho, mas para quem seguia Chainsaw-Man na época, era possível notar dois fatores. O primeiro foi uma melhoria na visão geral sobre a obra: Chainsaw-Man deixou de ser um mangá edgy com um protagonista exageradamente tarado para se tornar uma obra que, na visão de muitos, entregava um roteiro crítico e surpreendente.
A sua violência não era mais vista pelo público geral como um mecanismo pobre de chamar atenção, mas como uma subversão do gênero Battle-Shounen. Muitos, erroneamente ou corretamente, não vem ao caso, começaram a chamar Chainsaw-Man de “Dark Shonen” e revolucionário. A obra ganhou aprovação dos leitores da Weekly Shonen Jump.
O segundo motivo foi o seu PV oficial lançado em novembro, juntamente com o volume. O PV, que atualmente tem 22 milhões de visualizações, alcançou um número gigantesco de japoneses, se tornando viral no YouTube. Para vocês terem uma ideia, o primeiro trailer de Chainsaw-Man no canal do Mappa Studios tem menos visualizações que esse PV.
Assim, Chainsaw-Man conseguiu alcançar vendas dignas de mangás com um anime, mesmo não tendo nenhuma adaptação. Esse boost continuou ao longo da sua serialização na Weekly Shonen Jump, alcançando assim 539 mil cópias no volume 11, que concluiu a Parte 1 e foi o último antes da sua transferência.
O “Fracasso” do Anime
A pedido do próprio autor, a obra acabou sendo transferida da Weekly Shonen Jump para a Jump+, plataforma online da Shueisha. Quando Chainsaw-Man terminou em dezembro de 2020, a sua popularidade ainda estava em aumento. Entre o “período de descanso” do autor entre a Parte 1 e Parte 2, Chainsaw-Man continuou tendo um grande boost em vendas, sendo assim uma das principais obras do mercado.
Os editores, sabendo disso, decidiram combinar o período de estreia da segunda parte com a estreia do anime que seria produzido pela Mappa, e isso resultou em um último boost para a obra, que alcançou em seu volume 12 a marca de 633 mil cópias, o ápice em vendas da obra.
Contudo, era esperado que os volumes seguintes continuassem a aumentar: normalmente, um mangá alcança seu ápice em vendas após o lançamento da sua primeira temporada em anime – Chainsaw-Man alcançou no começo do anime. O motivo pelo qual o anime de Chainsaw-Man não deu certo foram três: a decepção com o ritmo da segunda parte afastou os leitores que gostaram da primeira, mas também acredito que, mesmo a adaptação tendo uma boa qualidade, não conseguiu transmitir a essência por completo da obra.
O terceiro motivo é que, de certo modo, Chainsaw-Man já tinha alcançado seu público máximo por causa do PV. A obra, com o volume 12, já estava vendendo mais que Boku no Hero Academia, sendo assim um dos cinco mangás mais populares no mercado na sua época. Todos os jovens japoneses já conheciam Chainsaw-Man. Algo parecido aconteceu com Assassination Classroom (Ansatsu Kyoushitsu), que teve um começo tão explosivo, com mais de 1 milhão de cópias vendidas, que todo mundo já conhecia a obra antes mesmo do anime estrear.
O anime, assim, não tinha como objetivo apresentar Chainsaw-Man a novos leitores, como aconteceu com Kimetsu no Yaiba ou Jujutsu Kaisen, e sim convencer aqueles que já conheciam a obra que valia a pena comprar os novos volumes, para assim ver se Chainsaw-Man conseguia superar a marca de 1 milhão de cópias por volume. É inegável que isso não foi realizado.
O anime passa longe de ser um fracasso real, por isso usei aspas, mas também não conseguiu expandir tanto o público no Japão como deveria, se tornando mais importante em expandir a marca de Chainsaw-Man no mercado internacional. Algo que acabou sendo muito importante para as vendas do volume ao redor do globo – a Shueisha assim agradeceu. Então não vamos tratar o anime como algo horrível, mas ele acabou performando menos que o esperado mesmo. Era bem provável que esperavam que Chainsaw-man com sua adaptação em anime alcançasse números próximos aos de Jujutsu Kaisen, por isso acima de 1 milhão de cópias.
O Declínio das Vendas
O problema é que, com a Parte 2 sendo tão mal recepcionada e com o anime não conseguindo convencer novos leitores a comprarem Chainsaw-Man, suas vendas começaram a cair. Inicialmente, era uma queda leve, mas assim que a insatisfação com a Parte 2 foi aumentando, as vendas foram despencando. A maior crítica acabou sendo relacionada justamente ao ritmo e ao conteúdo, para uma parte dos leitores considerado vazio e sem graça. Os últimos capítulos foram mais chocantes, mas mesmo assim, levando em conta os capítulos precedentes, é recorrente comentários do público geral (casual) que essa segunda parte está chata.
Não estar mais na Weekly Shonen Jump, e sim por conta própria na Jump+, também diminuiu o interesse de muitas pessoas que liam Chainsaw-Man junto a obras como Jujutsu Kaisen, Boku no Hero Academia e One Piece. Vimos que obras da J+ podem sim vender tão bem quanto aquelas da Weekly Shonen Jump, como é o caso de Spy x Family e Kaiju no.8, mas a Weekly Shonen Jump continua sendo uma local melhor. O resultado acabou sendo essa queda “ladeira abaixo” que vimos a partir do volume 13, no qual a obra foi perdendo leitores muito rapidamente. Desde o seu retorno e transferência, Chainsaw-Man perdeu 55% dos seus leitores, e pode perder ainda mais.
Como eu já disse várias vezes durante todos esses anos, é normal uma série alcançar seu pico de popularidade após a primeira temporada, e assim depois ter uma queda em vendas, mas um anime de sucesso normalmente ajuda a diminuir o ritmo dessa queda em vendas – em alguns casos até mesmo reverter quando é lançado novas temporadas -. Chainsaw-man teve um anime que ajudou tão pouco nas vendas que o seu pico acabou sendo muito próximo do que o mangá já tinha alcançado. Para piorar, a insatisfação levou a série a ter uma queda em vendas muito maior do que o aceitável até mesmo para um mangá que já teve adaptação.
Atualmente, a obra vende menos do que vendia antes do seu PV “milagroso” lançado há menos de quatro anos, assim perdendo todo o impacto que o PV teve positivamente para a obra. E a chance de reverter isso agora depende mais de dois elementos: uma história que volte a agradar os leitores, e também que o filme da Mappa consiga convencer os espectadores do anime a comprarem os volumes. Sozinho eu não acredito que podem recuperar o público, mas juntos, podem salvar Chainsaw-man dessa queda em vendas.
Chainsaw-Man, no Japão, se tornou vítima da sua transferência, das suas decisões narrativas e também do seu anime, que teve um bom resultado, mas não o suficiente para render a obra um novo Jujutsu Kaisen.
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