Após quase um ano de vida, Ichinose-ke no Taizai vai dizer adeus a revista na edição #49 de 2023 da Weekly Shonen Jump. É um adeus esperado para aqueles que seguiam a TOC, já que o cancelamento era mais do previsível levando em conta a sua grande queda em vendas e também suas posições terríveis na TOC. E mesmo que muito provavelmente o mangaká Taizan 5 consiga entregar um encerramento redondo para a série, por causa da estrutura narrativa da série, é inegável que a decisão de terminar Ichinose-ke no Taizai veio dos editores, e não do próprio autor. O mangá não recebeu nem mesmo a tradicional página colorida entregue para todas as séries que se encerram naturalmente desde 1996.
Nessa matéria eu irei começar comentando o início da série (SEM SPOILERS) para depois explicar o que levou Ichinose-ke no Taizai a ser CEIFADO da revista.
- Escrito por Leonardo Nicolin, criador do Analyse It.
TAKOPI E ICHINOSE-KE NO TAIZAI
A carreira do Taizan 5 não começou na Weekly Shonen Jump, mas sim na Shonen Jump +, plataforma online no qual é lançado vários mangás famosos, como Spy x Family, Kaiju no.8, Dandadan e muitos outros. Após o lançamento de vários One-Shots, em 2021, Taizan lançou a sua primeira série nessa plataforma, chamada de Takopii no Genzai, mangá dramático com apenas dois volumes. Essa pequena série conquistou vários leitores e se tornou um dos volumes mais vendidos de 2022.
Após o encerramento natural de Takopii no Genzai, em março de 2022, Taizan começou a trabalhar na sua série sucessiva, que dessa vez seria lançada na revista Weekly Shonen Jump. Em novembro de 2022, o autor(a) lançou na edição #50 da Weekly Shonen Jump o seu segundo mangá: “Ichinose-ke no Taizai”, conhecido no ocidente como “The Ichinose Family’s Deadly Sins”. O mangá estreou com um “hype” modesto, recebendo boas visualizações na Jump + japonesa, superiores a Ichigouki!, porém, com inferiores aos outros companheiros da sua leva, como Cipher Academy, do criador do sucesso Medaka Box e Fabricant 100, do vencedor da Golden Future Cup de 2021.
Mas qual é a história de Ichinose-ke no Taizai? É bem simples, uma família sofre um acidente e acordam TODOS com amnesia. Agora juntos terão que retornar a normalidade, voltar a viver juntos, mesmo não lembrando nada da vida passada deles e nem um do outro. É um conceito interessante, que chamou atenção de vários japoneses por ser uma ideia criativa e nunca vista na Weekly Shonen Jump.
ARCO DO BULLYING
Os primeiros dois capítulos de Ichinose-ke no Taizai tiveram uma boa recepção, além de vários comentários nos principais sites japoneses. A série, deste modo, começou a sua jornada agradando o público japonês comprador da Shonen Jump e também agradando os leitores externos que já conheciam o autor através de Takopi, um dos maiores sucessos da Jump Plus. Contudo, essa boa recepção imediatamente se tornou negativa entre terceiro e quinto capítulo. O modo que Taizan 5 retratou o “Bullying” nesses capítulos não agradou parte dos leitores, que considerou toda a narrativa insensível e irrealista.
São só três capítulos, contudo, o público mais “hardcore”, que lê a revista religiosamente, simplesmente destroçou Ichinose-ke no Taizai nesses três capítulos. Utilizando como quesito a Jump Matome, a recepção que antes era positiva, despencou a 10% a 20% do público gostando da série. Era possível ver pessoas sentindo raiva do modo que o autor retratou o bullying, um assunto muito complexo e sério no Japão (e também em grande parte do mundo). Contudo, Taizan 5 conseguiu reverter imediatamente essa terrível recepção no sexto capítulo, começo de um novo arco, discutindo de modo mais responsável a temática sucessiva. O autor não soube navegar pelo primeiro assunto polêmico, mas muito bem naquele seguinte.
Mesmo sendo somente três capítulos essa curta má recepção era um sinal de que talvez Taizan 5 não estivesse no controle completo sobre a popularidade da série e que certas das suas decisões narrativas podiam levar grande parte do público a odiar o mangá. Uma série dividir o público, gerando discussão, não é obrigatoriamente ruim, pois como eu já disse, gerar discussão ajuda na popularização de um mangá. Mas quando temos uma grande maioria dos leitores odiando um mangá, a situação é diferente.
Porém como eu disse, o autor conseguiu se recuperar nos capítulos seguintes, mantendo essa boa recepção até o lançamento do primeiro volume. O primeiro volume assim vendeu 57 mil cópias em um mês, sendo uma das melhores estreias de um novo mangá da Weekly Shonen Jump desde Ruri Dragon. As boas vendas, com a recuperação da boa recepção interna, levou os editores a apostar em Ichinose-ke no Taizai, que recebeu várias páginas coloridas para assim promover os seus capítulos.
ROTEIRO CAÓTICO
Contudo, o autor após o lançamento do primeiro volume começou a encher a história de “PLOT TWIST” (reviravoltas), que inicialmente foram bem recepcionados. Os primeiros dois Plot-Twists agradaram bastante os leitores, já que foram realmente uma grande surpresa na narrativa da série, contudo, o autor começou a colocar reviravoltas no roteiro a cada um ou dois capítulos, e o público começou a se sentir perdido na leitura, que antes era bem simples de seguir, mesmo tratando de temáticas complexas para o público shonen. Muitos leitores começaram a considerar Ichinose-ke no Taizai caótico demais.
O público que estava lendo a publicação para ver todo o desenvolvimento familiar e a discussão até mesmo polêmica de várias questões sociais que afligem o Japão, se sentiu decepcionado com o rumo que a história estava tomando. As críticas foram duras em relação aos vários “Plot Twists” adicionados a história, e diferente do “arco do bullying” no qual o público japonês ainda estava disposto a perdoar a série, dessa vez as críticas foram bem mais duras. A série começou a ser odiada nos fóruns, sendo um dos mangás mais criticados que vi em toda minha vida. E essa crítica era tão extensa, que começou a também influenciar nas redes sociais, que normalmente são lugares para leitores menos “hardcores”.
Não era incomum ler comentários que zombavam da quantidade de reviravoltas dentro da série, que citavam as possíveis incoerência nas ações dos personagens ou até mesmo criticavam duramente as decisões narrativas de Taizan 5, chamando o mangá de sem sentido e forçado. Existia uma parcela de público, tanto na 2ch quanto na Jump Matome, dois maiores sites para se comentar a Weekly Shonen Jump que esperava um novo capítulo somente para jogar mais pedras em Ichinose-ke no Taizai. Para esses leitores era divertido odiar o mangá.
A cada “Plot Twist”, o público se decepcionava mais com o mangá, a cada “Plot Twist” a história se afastava daquilo que os leitores gostavam, a cada “Plot Twist” a popularidade de Ichinose-ke no Taizai diminuia mais, a cada “Plot Twist” as chances de cancelamento aumentavam. Os editores vendo a péssima recepção que Ichinose-ke no Taizai estava recebendo por causa do rumo que o roteiro estava tomando, pararam de divulgar o mangá. Ichinose-ke no Taizai começou assim a frequentar cada vez mais posições mais baixas na TOC e suas vendas despencaram.
QUEDA EM VENDAS
Mas o que realmente decretou por completo o cancelamento de Ichinose-ke no Taizai foi sem sombras de dúvidas, a sua perda de público interno e externo, que resultou na diminuição de votantes na Weekly Shonen Jump (já que os leitores da revista votam em suas séries favoritas) e uma diminuição no número de compradores dos volumes.
O primeiro volume vendeu 57 mil cópias. No segundo vimos uma queda de 28% em suas vendas, vendendo assim 41 mil cópias. O terceiro o trending de queda continuou, mesmo com uma menor intensidade, tendo uma diminuição de quase 5% em suas vendas, vendendo 39 mil cópias. Mas o quarto, e último volume lançado até então, voltou a ter uma queda enorme em vendas de quase 36%, vendendo assim 25 mil cópias. Entre o primeiro volume e o quarto volume a série perdeu 56% dos seus compradores, mais da metade dos leitores.
A diminuição rápida em suas vendas demonstrava duas coisas: A primeira é que o público que não lê a Weekly Shonen Jump semanalmente, por isso compra diretamente os volumes, não estava também gostando do rumo do mangá. E aqueles que compravam os volumes para assim “colecionarem”, já que liam os capítulos na Weekly Shonen Jump, também começaram a abandonar a série rapidamente. É inegável que o público não gostou das decisões de roteiro por parte do autor e isso refletiu diretamente tanto nos votos que recebia na Weekly Shonen Jump quanto em suas vendas.
Essa queda em vendas, somada a recepção horrível que a história estava tendo, levou a uma decisão clara dos editores: Era o momento de cancelar Ichinose-ke no Taizai. Mas por sorte o autor tinha construído uma estrutura narrativa que permitia a Ichinose-ke no Taizai de entregar um encerramento satisfatória, no máximo da capacidade de entregar algo satisfatório para aqueles que ainda gostavam do mangá. Ichinose-ke no Taizai acabou assim sua jornada na Weekly Shonen Jump, como um dos mangás mais odiados pela 2ch e os maiores fóruns japoneses, mas que mesmo assim conquistou o coração de algumas pessoas ao redor do mundo.