Ligação.
Quando menos esperávamos, os editores da Weekly Shonen Jump decidiram anunciar duas novas séries; The Last Saiyuki, do autor de Mutou Black e Kamio Yui wa Kami wo Yui, do autor de Nurarihyon no Mago. Esta semana iremos analisar o apenas lançado “The Last Saiyuki”, também conhecido como Saigou Saiyuki. Para quem não sabe, nas minhas primeiras impressões exponho minha opinião sobre o PRIMEIRO capítulo de uma nova série, destilando a introdução da série, citando seus pontos positivos e negativos. Além disso, também comento as chances da série dar certo na revista, levando em consideração principalmente três elementos: A qualidade do primeiro capítulo (peso maior), o caminho que a série pode seguir (peso menor) e obviamente, quanto amigável a revista está para séries novas atualmente (peso médio). Por isso, sem mais delongas, vamos ler The Last Saiyuki.
Para quem não sabe, The Last Saiyuki é a nova série de Daijirou Nonoue, autor que estreou na revista em 2016, com uma série de samurai, que tinha uma arte espetacular. Porém, mesmo que a arte tenha agradado muitas pessoas, o roteiro da série era realmente bem pobre. O seu traço, que beirava o Fujoshi, também acabou afastando alguns leitores masculinos. Mutou Black acabou se tornar mais um cancelamento precoce da revista (Nada que chegou aos pés do genial Tokyo Wonder Boys, obviamente). Mais de dois anos depois, os editores decidiram dar uma segunda chance para um autor que demonstrava muito potencial: Daijirou Nononue recebeu a oportunidade de lançar o seu segundo mangá, que é este que irei analisar nesta matéria. Será que Daijirou finalmente vai lançar um sucesso ou teremos mais um fracasso vindo? Vamos analisar;
O mangá, como é de tradição da Weekly Shounen Jump, começa com três páginas coloridas; a primeira tem como objetivo despertar uma curiosidade aos leitores, por isso Daijirou Nononue decidiu dar uma informação misteriosa do futuro da série, que façam os leitores teorizarem ao longo de toda a série. O mistério no caso seria como a “irmã do protagonista” se transformou naquela pessoa que vímos no vídeo. Ao mesmo tempo, o autor também dá uma informação chocante: essa mesma personagem através da sua voz pode aniquilar o mundo. Outros elementos importantes são apresentados nessa mesma página colorida; como por exemplo, o monstro gigantesco que se encontra no fundo da cidade. Por exemplo com essa imagem tivemos a confirmação que a série terá elementos sobrenaturais, como monstros e criaturas gigantescas. O autor planeja, de algum modo, transformar The Last Saiyuki em uma narrativa épica, de grandíssimas proporções. Tivemos três mangás da Shounen Jump, lançados nos últimos anos, que utilizaram a estratégia de dar um Fastfward no primeiro capítulo da série; Noah Notes, Kagamigami e por fim BORUTO.
Você está pensando, caso já tenha lido todo o primeiro capítulo; “O autor praticamentou entregou grande parte das revelações do primeiro capítulo já nas primeiras páginas?” – Sim, mas irei discutir esse elemento quando chegar o momento.
Após essas importantíssimas páginas coloridas, o autor começa o desenvolvimento da história, e principalmente do protagonista. Imediatamente na quinta página conhecemos Ryunosuke, sua grande amizade com sua mãe o seu amor pelo “Baseball”. O primeiro capítulo se baseia principalmente em um pilar: a empatia que sentiremos pelo protagonista, e logo após pela sua irmã. Para isto, é necessário que o autor entregue rapidamente algumas informações que serão essenciais no desenvolvimento desse sentimento empático; o “Flashback” de Ryunosuke com sua mãe serve justamente para criar esse ligação entre Ryunosuke e o leitor. Ligação que, caso seja bem desenvolvida, crescerá no leitor ao longo das páginas. Caso não seja bem desenvolvida, deixará a história chata e irritante. É um grande risco que o autor tomou, mas um risco necessário levando em conta que todo o mangá se baseia na relação entre o protagonista e sua irmã.
Assim, não podendo perder tempo (já que as páginas são limitadas), e já tendo apresentando um pouco o personagem principal, na oitava página Daijirou Nononue apresenta tanto o pai do protagonista quanto Koharu Mori, a criança citada na primeira página colorida, que virará a sua nova “irmã”. Descobrimos que o nosso “herói” será obrigado a tomar conta dessa menina que não pode caminhar e ver, esta “missão” resultará na impossibilidade dele de poder frequentar a escola, e respectivamente frequentar o seu tão sonhado “clube de Baseball” – como é deixado claro na décima primeira página -, assim o seu sonho acabou sendo “arruínado”. Inicialmente o meu pensamento acabou sendo bem simples: “CHAMA O CONSELHO DO TELAR. COMO PODEM DEIXAR UMA CRIANÇA CUIDAR DE OUTRA”, porém quando lembrei da primeira página, logo percebi que o pai, de algum modo, deve estar tentando salvar o mundo com essa decisão de cuidar de Koharu.
Entramos, deste modo, no segundo ato do mangá, no qual Ryunosuke é obrigado a cuidar de Koharu – O seu comportamento acaba sendo muito agressivo, destilando várias palavras de ódio à Koharu Mori – Entretanto, por causa das informações apresentadas anteriormente, não passamos a odiar Ryunosuke por estar maltratando uma menina indefesa e handicap. Entendemos a sua situação, pois o personagem é uma CRIANÇA que está tendo seu sonho destruído. É interessante notar, nesses momentos, que muito provavelmente o autor também acabou criando em nós um minimo de empatia pela Koharu Mori (por causa da sua condição de handicap). Por termos empatia pelos dois personagens, acabamos sentindo pena da Koharu Mori pelo que ela está ouvindo, mas entendemos o motivo pelo Ryonosuke está falando, mesmo não concordando com suas palavras. O autor justamente queria dar ao leitor esse equilibrio, no qual você entende o lado dos dois da moeda. Deste modo, se baseando que você vai achar injusto o que acontece com Ryonosuke, Daijirou Nononnue continua o desenvolvimento; mostrando outras situações que o nosso “herói” sacrifica sua liberdade para poder cuidar de Koharu Mori.
Entretando, toda essa sequência pode sofrer de dois problemas, que para mim deve ter interferido na popularidade do primeiro capítulo da série; o primeiro problema é óbvio. Por causa da rapidez no qual o autor decidiu introduzir o protagonista, alguns leitores podem não ter criado alguma empatia pelo personagens, e deste modo acharam toda essa situação um dramalhão sem fim. O segundo problema, para mim ainda mais grave, é o excesso de drama em todas essas páginas, a série não tem nenhum alívio cômico. A situação de Koharu Mori não deve agradar o público que lê a revista à procura de uma leitura mais leve: Kimetsu no Yaiba, Chainsaw-man, Yakusoku no Neverland, Act-Age, Jujutsu Kaisen são exemplos de mangás que utilizam no seu roteiro situações dramáticas, que não devem agradar obrigatoriamente o público mais jovem, PORÉM, todos esses mangás adicionam situações de humor continuamente, para deixar a série um pouco mais leve. O alívio cômico é importantíssimo para manter a série popular entre vários públicos diferentes. The Last Saiyuki, trata de uma tematica muito complicada, cuidar de uma criança ou adulto que tem uma deficiência não é simples; são momentos de felicidade misturado com momentos de tristeza. Ver a Koharu Mori naquela situação, te dá uma sensação de “mal-estar”, e muitas pessoas querem uma sensação inversa quando lê um mangá shounen, querem se sentir bem. Para mim, esses dois elementos podem acabar afastando vários leitores.
O autor, logo após, continua desenvolvendo a história; Ryunosuke tem uma pequena recaída, e acaba indo para a escola jogar “Baseball”, abandonando sua irmã sozinha em casa. Como punição do seu ato de irresponsabilidade, seu pai decide fazer uma coisa que me fez gritar: “GENTE, CHAMEM ATÉ MESMO A UNICEF. A CRIANÇA VAI MORRER”. O nosso herói é preso em um quarto escuro, para aprender como é a sensação de ser cego e imóvel, como aconteceu com Koharu Mori. O que me interessou deste momento, é que depois de trinta páginas, a série apresentou um dos elementos sobrenaturais que vinha prometendo desde a segunda página. Dentro do quarto escuro Ryunosuke começa a imaginar um monstro assustador, que está preste a matá-lo, porém Koharu Mori, se arrastando e usando a cabeça (já que não consegue mover os braços e as pernas), consegue abrir a porta e salvar a vida de Ryunosuke. Talvez esta tenha sido a melhor, e mais importante cena do primeiro capítulo, pois é nesse momento que o protagonista começa a entender a sua irmãzinh,
Eu acredito que o autor tenha desenvolvido muito bem essa cena – pois além de mostrar um ato humano e heroico por parte de Koharu Mori, que até aquele momento era imóvel, e tinhamos criado simpatia pela personagem mais pela sua situação de dificuldade, que pela sua personalidade, Daijirou Nonoune também conseguiu criar um motivo válido pelo qual o protagonista irá aceitar a situação que se encontra, que é ter que desistir dos seus sonhos e da escola para cuidar da sua irmã. Eu sinceramente não gostei do mangá, como um todo, porém acredito que esta cena tenha sido muito bem apresentada. Eu tenho que criticar somente o design do monstro, que mesmo sendo bem desenhado, na minha opinião, não foi criativo. O autor é conhecido pelos seus dotes artísticos, e por enquanto não mostrou ao que veio. Se tivesse desenhado um monstro mais assustador ou diferente (que despertasse curiosidade no leitor), mais especificamente, que não fosse só uma massa de carne com olhos, talvez a cena se tornaria ainda mais memorável.
Aliás, sobre esse monstro, inicialmente parecia ser fruto da imaginação paranoica do protagonista, e eu tinha gostado disto, mas nas páginas seguintes, enquanto Koharu e Ryunosuke tentam dormir em seus quartos, o monstro retornou ataca-los, e com um Ex-Machina, aparece o pai que salva os dois da morte. Após esta cena, o pai explica que Koharu na verdade é uma criatura divina e que sua voz consegue transformar o medo das pessoas em realidade. Por isso, o autor responde o mistério que tinha aberto no começo do capítulo; ainda não sabemos como Koharu poderá destruir o mundo com sua voz, porém já podemos imaginar o seu potencial, teorizar como sua voz poderá ser utilizada. Para encerrar o mangá, o pai revela que devem evitar que o poder de Koharu seja utilizado pelo mal. O único modo para garantir que isto aconteça, é ensinando-a o amor. Koharu terá que aprender a amar, no caso, amar o protagonista da história.
O clímax do primeiro capítulo, na minha opinião, acabou sendo de péssima qualidade. Talvez uma grande cena de perseguição, logo após que Koharu abrisse os portão, poderia dar um clima um pouco mais emocionante as últimas páginas da série, que acabaram sendo extremamente blandas e sem graças. Para mim, o design do monstro, mesmo sendo bem desenhado, poderia ter sido mais assustador – algo mais próximo a Jujutsu Kaisen -. A história já está seguindo uma tematica que não é divertida, praticamente sem nenhuma cena de comédia, por isso, o autor poderia mergulhar totalmente na seriedade que queria tratar, e colocar mais elementos de terror, que na minha opinião não iriam prejudicar nem um pouco a dinâmica entre os dois personagens, muito pelo contrário, ver Ryunosuke tentando defender sua irmã de um monstro MUITO aterrorizante, daria ainda mais credibilidade ao personagem. Sentiriamos ainda mais a sua mudança, a sua coragem.
The Last Saiyuki é um mangá com uma temática interessante, que aposta na empatia dos leitores pelos protagonista para que a história funcione. Pessoalmente não me interessou realmente nenhum dos dois personagens, por isso o “core” da série acabou não funcionando comigo. Sem nenhuma cena de humor e com uma história emocional, o mangá irá agradar mais um público que gosta de séries dramáticas, e menos o público que gosta de séries mais leve. O clímax do primeiro capítulo acabou sendo, infelizmente, o ponto mais fraco da série, enquanto o ponto mais forte foi justamente a cena do quarto escuro. Daijirou Nononue retorna a revista apresentando uma história que pode até soar interessante, mas na verdade, não apresenta nada de novo. Porém, entrega um trabalho, competente, que pode emocionar algumas pessoas e entediar outras. Irá dar certo?
Começando pelo peso MENOR, que o caminho que a série pode seguir, em minha opinião; o mangá seguirá uma estrada B-Shounen, e terá vários momentos dramáticos no qual Ryunosuke vai declarar seu “amor” por Koharu. O humor da série deve aumentar nos próximos capítulos, mas mesmo assim, continuará esse clima de telenovela dramática, por isso, eu não vejo a série se tornando um dos pilares da revista. O peso médio, que é quanto “New Series Friendly” está a revista; em minha opinião, bem pouco, principalmente com a estréia da nova série de Masashi Kishimoto. Os editores não estão dando tanto destaque as novas séries, e até mesmo Chainsaw-man que vendeu bem, não está conseguindo deslanchar. Por isso, a Shounen Jump não está muito amigável. O terceiro e último ponto, o peso MAIOR, que é a qualidade da série; eu não acredito que seja o suficiente para conseguir sobreviver na revista. A série não apresenta um verdadeiro diferencial, é aquele mangá café-com-leite que acaba sendo esquecido rapidamente. Porém, eu espero que estar errado (Gosto do autor e sinceramente não vejo motivo pelo qual torcer para uma série ser cancelada). Tomara que The Last Saiyuki se torne um sucesso.
Nota: 5.5