O ano está terminando e, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, a Weekly Shonen Jump decidiu estrear mais uma nova leva, desta vez com três mangás inéditos. O primeiro título dessa seleção acabou sendo um Battle Shounen do autor novato Shuhei Tanizaki, intitulado “Gonron Egg”. Contudo, a série, que prometia unir ficção científica, alienígenas e fantasia, não conseguiu chamar a atenção dos japoneses.
Após várias levas de mangás que não agradaram o público doméstico, as expectativas em relação aos novos títulos da Shonen Jump estavam realmente muito baixas (naturalmente), e muitos leitores passaram a questionar se a revista ainda teria capacidade de entregar, de forma consistente, novos “bons mangás”. O editorial perdeu a confiança dos seus leitores.
Sem qualquer hype, os três estreantes desta leva enfrentam uma missão mais complicada: agradar os leitores fiéis que leem absolutamente tudo o que a Jump publica e, por meio do boca a boca, convencer o restante do público a dar uma chance às novas obras. Mas a pergunta principal é inevitável: será que “Gonron Egg”, em seus cinco primeiros capítulos, teve o necessário para superar essa barreira inicial e ativar um boca a boca positivo entre os japoneses?
Em uma frase curta: NÃO.
ENXURRADAS DE CRÍTICA
Já no primeiríssimo capítulo, momento em que os japoneses tendem a ser menos severos, Gonron Egg recebeu uma enxurrada de críticas. A história genérica e a arte, considerada por muitos como “estranha” e “mal acabada”, foram os principais alvos. Alguns leitores da 5ch, o maior fórum de discussão do Japão (com mais de 80 milhões de visitas mensais), até tentaram amenizar o tom, mas na Animanch, no Twitter e na Jump Matome as reações foram bem mais duras.
Curiosamente, a discussão começou até um pouco mais positiva, com alguns usuários tentando destacar pontos favoráveis da nova série da Weekly Shonen Jump, especialmente a proximidade visual com Suzuki Nakaba e o fato de o capítulo inaugural ser mais contido:
“O capítulo 1 foi bem seguro, nada arriscado, mas gostei de como a explicação de fundo foi rápida. Tipo quando o escravo velho solta uma fala que explica sutilmente que os dragões divinos que se rebelaram não são um grupo único sob o comando do vilão final, foi um toque legal.”
Mas a trégua durou pouco, com a guerra explodindo já nos comentários seguintes, sem tempo para o elogio ganhar um mínimo de respiro. Logo começaram a surgir observações negativas, várias delas deixando claro que a introdução do mangá não agradou nem um pouco:
“Pois é… é feio. O ritmo do roteiro também é ruim e a sensação de ser um ‘template’ é forte. Não dá nem pra dizer ‘vamos esperar até o capítulo 2 ou 3 pra avaliar’… Que venha uma reformulação já no capítulo 2!!”
“Acho que é a primeira vez que vejo uma série nova com tão pouca originalidade assim.”
“Mangás assim, se fossem na Sunday ou na Magazine, até deixariam continuar sem cancelar tão rápido. Mas na Jump, se não for bem nas votações = cancelamento…”
A crítica ao roteiro e à premissa se consolidou rapidamente: leitores apontaram excesso de clichês, falta de originalidade e uma estrutura narrativa fraca, que parecia seguir fórmulas já desgastadas do gênero Battle Shounen.
Muitas vezes, quando uma série é criticada por falta de originalidade (como no caso de Black Clover ou Nue no Onmyouji, no seu início), personagens marcantes e carismáticos acabam sendo o ponto de virada: o público gosta tanto da dinâmica que esquece os elementos já vistos, a sensação de déjà-vu. Porém, no caso de Gonron Egg, vi poucos comentários sobre o protagonista, o que leva a crer que ele não chamou atenção o suficiente.
A crítica à narrativa logo migrou para a arte e para o visual da série, que também não agradaram desde o primeiro capítulo — algo bastante preocupante, pois o autor normalmente tem um longo tempo para preparar o início da sua obra.
“Agora que começou a serialização, deve ser difícil, mas eu queria ler uma boa fantasia mais tradicional. A arte tem uns desenhos caprichados (inimigos, equipamentos), mas também tem muitos quadros com linhas de efeito ou expressões meio jogadas. Queria que ajustassem isso: gosto do traço, então podiam simplificar um pouco e focar mais na história. Não vou criar expectativas demais, mas vou ler o próximo. Vou é dormir.”
“Tem muita cara que parece copia e cola, não é? Provavelmente não é literalmente copy-paste, mas o autor desenhar a mesma expressão várias vezes e não achar estranho é meio intenso.”
“Existe uma grande divergência entre os cenários, inimigos e a arte dos personagens na série, ao ponto de me incomodar profundamente.”
“No mesmo trecho tem TRÊS cenas do cara gemendo ‘kuh…!’ Por que repetir a mesma cena, mesmo enquadramento, mesma fala? É uma nova tipologia de comédia?”
O público resumiu as críticas à arte como um conjunto de inconsistências: personagens com expressões repetidas, variações bruscas de qualidade entre fundos e figuras, excesso de linhas grossas e quadros confusos. Muitos leitores também sentiram que a quadrinização não ajudava na compreensão da narrativa, reforçando a sensação de amadorismo e de um mangá nada digno da maior revista Shonen do mundo.
E é por isso que a crítica ao mangá também começou a respingar no editorial, no qual o público demonstra cada vez menos confiança e respeito. A gestão Saito, que havia sido recebida com grandes esperanças, começa a sofrer com a insatisfação do público japonês.
“O fato de as novas séries não serem boas também deve ser culpa da queda na qualidade editorial…”
Avançando para os capítulos dois e três, as críticas se intensificaram, principalmente no quesito arte — no capítulo três o público passou simplesmente a “atirar pedra” no traço do autor. Existiram defensores, mas até eles reconheciam que havia algo de errado nas páginas do mangá. Linhas grossas? Excesso de detalhe nos cenários? Personagens mal acabados? Surgiram várias teorias.
Mas, se ao menos o roteiro tivesse evoluído, seria algo — porém, as críticas também foram numerosas e se tornaram um dos principais temas de discussão tanto na 5ch quanto nos comentários da Jump Matome. O público comparou a obra com outros mangás, como Hokuto no Ken, sempre com a ideia de que se tratava de uma repetição barata.
“Ele até desenha bem, mas as linhas são grossas demais.”
“O capítulo 2 é literalmente Hokuto no Ken. Tudo vai depender de conseguir escapar do template lá pelo capítulo 4 ou 5. Do jeito que tá, corre risco de ser dropado já no capítulo 3.”
“Trazer uma história que não tem ligação direta com a trama principal logo no capítulo 2 é o clássico sinal de mangá prestes a ser cancelado. E outra: ele fala em ‘restaurar a paz’, mas sair matando qualquer um que não concorda com ele é exatamente o mesmo que o Lorde Abrolom fazia, dizendo ‘se ficar do meu lado, deixo você viver’.”
“Não dá pra fazer nada sobre os fundos, provavelmente digitais ou feitos pelo assistente, que deixam os personagens totalmente deslocados porque o nível de desenho não acompanha…?”
“Se fosse na era analógica, seria até difícil fazer linhas tão grossas assim, então provavelmente ficaria tudo com linha normal… É um ‘sintoma’ moderno do digital.”
“Eles estão ficando amigos? Por exemplo: dava pra colocar uma cena deles lavando a casca do ovo no rio, ou fazendo um cesto com cipós pra carregar o ovo. Tem mil maneiras de mostrar consideração um pelo outro, mas até agora ele fica só segurando o ovo na mão o tempo todo.”
A recepção aos capítulos 2 e 3 consolidou a percepção negativa: problemas de ritmo, narrativa parada, falta de desenvolvimento entre os personagens, uso excessivo de explicações tutoriais, diálogos expositivos, ausência de conexão com a trama principal e referências tão óbvias que geraram comparações diretas com outras obras. Para muitos leitores, Gonron Egg já parecia um mangá sem identidade.
A partir do capítulo 4, a maioria dos leitores já havia abandonado a série; restaram apenas aqueles que, de alguma forma, estavam “tolerando” a leitura. Esse pequeno grupo até chegou a comentar uma leve melhora, algo que poderia aumentar as chances de sobrevivência, mas nada que realmente sustentasse um prognóstico otimista. Quando uma série estreia com dois capítulos tão mal recebidos, a recuperação se torna muito complicada, principalmente quando o protagonista não é venerado, como aconteceu com Nue no Onmyouji.
A própria Weekly Shonen Jump já afirmou abertamente: “é possível decidir que uma série será cancelada após três capítulos”. É quase o caso de Kaedegami, por exemplo, cujo cancelamento foi decidido entre o terceiro e o quinto capítulo — sabemos disso porque a autora revelou que estava produzindo o sétimo capítulo quando recebeu a notificação de cancelamento.
Por isso, diante das críticas acumuladas, da rejeição imediata, da queda no engajamento e da ausência de um boca a boca positivo, o prognóstico para Gonron Egg é bastante claro: as chances de cancelamento são extremamente altas, com possibilidade de o autor já ter recebido ou estar prestes a receber uma notificação de encerramento. Talvez a melhora na recepção possa salvar a série, mas é difícil.
A maior probabilidade é que Gonron Egg seja cancelado no primeiro semestre de 2026.


