
Quando a experiente Editora Armon lançou o Catarse do volume único de Ginga, mangá do talentoso Paulo Marcello, estabeleceu como meta R$ 3.200. Contudo, o projeto rapidamente alcançou o objetivo e encerrou a campanha com mais do que o dobro do esperado: R$ 7.635 arrecadados.
O que pode parecer apenas mais uma vitória para a editora é, na verdade, um sinal de que o mercado brasileiro de mangás está cada vez mais aquecido — e que novas obras de sucesso podem surgir nos próximos meses e anos. É o momento de refletirmos sobre o significado dos números alcançados por Ginga.
Ginga
Escrito e desenhado por Paulo Marcello, Ginga é um mangá sobre capoeira que estreou inicialmente como um one-shot. Com a boa recepção do público, em setembro de 2023, a Editora Armon decidiu lançá-lo na revista Action Hiken, a mais antiga e duradoura publicação de mangás do cenário nacional. Durante sua breve, porém intensa serialização, a série publicou sete capítulos que obtiveram grande sucesso nas votações internas, o que levou a editora a apostar em uma campanha no Catarse.
Mas por que Ginga conquistou o público? Com uma história envolvente e personagens carismáticos, Paulo Marcello conseguiu mergulhar o leitor na realidade do impulsivo protagonista Madson Ferreira, que conhece um mestre de capoeira nas ruas de Salvador. O mangá incorpora às técnicas e aos visuais típicos dos mangás uma brasilidade única, criando um vínculo afetivo e identitário com seus leitores.
Esses elementos levaram a Editora Armon a esperar bons resultados na arrecadação de Ginga, mas o desempenho superou todas as expectativas, como explicou Fábio Gesse, criador e editor-chefe da editora:
“Quando apostamos em Ginga para ter versão impressa, esperávamos uma adesão alta do público por conta da brasilidade e da arte bem expressiva do Paulo Marcello, mas ainda assim fomos pegos de surpresa pelo volume de apoios, principalmente no começo da campanha. Batemos a meta muito rapidamente e já fomos para metas estendidas… Sem falar que Ginga entrou fácil no top 5 projetos da Armon, entre maior número de apoiadores, maior arrecadação e maior porcentagem de meta. Ficamos extremamente satisfeitos com o resultado e ansiosos para que os apoiadores vejam o resultado em mãos.”
Arrecadação recorde da Editora Armon
Criada em 2012, a Editora Armon completou recentemente 13 anos de existência. Nesse período, foram publicadas mais de 150 obras, incluindo 80 edições impressas e 25 projetos lançados no Catarse. A longevidade da editora se explica por dois fatores principais: o empenho quase religioso dos irmãos Gesse, fundadores da empresa, em mantê-la ativa mesmo diante dos altos e baixos do mercado brasileiro; e a dedicação e talento dos autores envolvidos, que demonstram um notável senso de união e compromisso com o projeto.
A revista mensal Action Hiken, com mais de 110 edições lançadas, continua existindo também graças à capacidade de Fábio Gesse de apoiar e motivar os inúmeros autores que passaram pela editora. Esse trabalho incessante é perceptível até mesmo para quem está fora do projeto: os leitores reconhecem, nas páginas da revista, o respeito e a admiração que o editor-chefe tem por seus artistas.
Assim, é necessário olhar para a Editora Armon como um caso exemplar de união, esforço e cuidado, um espaço onde um autor talentoso como Paulo Marcello pôde brilhar com sua obra Ginga. O marketing do Catarse, em particular, demonstra a habilidade da Armon em divulgar seus títulos e aproximá-los do público por meio de publicações contínuas, presença nas redes sociais e um eficiente boca a boca.
O próprio Fábio nos explicou a importância do marketing na campanha de Ginga:
“O trabalho da equipe de marketing foi essencial para esse sucesso e acredito que, com a ajuda deles, a gente possa continuar almejando altas arrecadações, levando o apoiador de um projeto para o próximo, mostrando um trabalho de excelência e carinho com o leitor.
Em um mercado em recente ebulição, é essencial mostrarmos essa proximidade e apresentar projetos com os quais o público se identifique — que apoie não apenas para ajudar o artista, mas por gostar da proposta e pela curiosidade de querer ler e ter aquilo na estante. Afinal, tem sido uma briga cada vez maior pela atenção do público, e precisamos apresentar diferenciais para conquistá-lo e, assim, continuar contando nossa história, que acaba de completar 13 anos.”
Essa proposta é justamente um dos pontos centrais no sucesso de muitos mangás brasileiros, Sense Life, Lampião, Betiger e, dentro da própria Armon, Ginga. Todos compartilham um mesmo traço: o engajamento orgânico e acima da média do mercado nacional.
Mercado em Ebulição
Embora ainda distante dos níveis de popularidade das obras japonesas, europeias ou americanas, como o próprio Gesse destacou, o mercado está em “ebulição”. O sucesso do Catarse de Ginga, que se tornou uma das maiores arrecadações da Editora Armon, é resultado da combinação entre uma obra interssante, uma estratégia de divulgação eficiente e um momento de crescimento sem precedentes para os mangás brasileiros. Cada vez mais, leitores que antes ignoravam produções nacionais passam a se interessar por elas.
Ginga é, portanto, pode ser um bom presságio – o indício de um novo ciclo de valorização do mercado nacional. Uma caminhada que, se não for conduzida com cuidado e apoio aos artistas, pode se perder pelo caminho. É preciso incentivar os talentos emergentes e destacá-los ao máximo, além de adotar as corretas estratégias de marketing, para que todas as editoras nacionais possam continuar bater seus próprios recordes.
O mercado brasileiro está florescendo em um período complicado, no qual as editoras japonesas estão tentando penetrar nos territórios ocidentais com lançamentos simultâneos de suas obras. Deste modo, é um período no qual a concorrência irá aumentar, o que pode acabar prejudicando essa natural expansão do mercado nacional.
Os números gerais ainda podem parecer modestos, mas estão em crescimento. E isso não é apenas um bom sinal, é um vento de esperança.