Querido diário, será que estou enlouquecendo? Recordo-me de um tempo em que as TOCs eram um verdadeiro carnaval de emoções – esperávamos, quase com devoção, para descobrir qual mangá conquistaria a primeira colocação, quais cairiam no abismo do cancelamento e quais brilhariam como futuros sucessos. Mas hoje… ah, hoje tudo parece um eterno déjà vu. Será que, por um erro cósmico, imprimiram a mesma TOC e estão apenas repostando-a semana após semana?
Não, querido diário, devo estar delirando. Não é possível. Não posso crer que Madan no Ichi esteja novamente na primeira colocação. Meus números não mentem: nas últimas oito edições válidas, a série esteve na primeira colocação sete vezes. Refaço os cálculos, mas o resultado insiste em rir do meu rosto desesperado. Nem os mais insanos poderiam imaginar uma série acampando tão confortavelmente no topo como Ichi, que já deve ter até montado uma barraca e feito amizade com as gaivotas no céu.
Até mesmo mangás como Kagurabachi, Witch Watch, Akane Banashi, Sakamoto Days e Ao no Hako parecem incapazes de tocar o topo da TOC, como se as núvens estivessem trancadas num cofre celestial. Mas será essa estabilidade uma decisão editorial correta? Em minha visão, não. A revista deveria valorizar também os outros títulos, para que o leitor sentisse o prazer de folhear páginas diversas e vibrantes, e não apenas o eco de uma única nota tocada até o cansaço. Por mais grandioso que Madan no Ichi seja, não é o bastante para monopolizar eternamente o topo.
E se fosse apenas isso… mas não, o tédio é contagioso. Vivemos uma era em que mangás dignos de anime não recebem sequer um anúncio. O contrato de Kagurabachi e Nue no Onmyouji deve ter se perdido em alguma gaveta esquecida do Nakano, junto com a esperança. Antigamente, o anúncio de anime era presente de dois anos; hoje, se vier aos três, é milagre.
Mas estamos precisando de milagres mais intensos.

Enquanto isso, para terrorizar a minha mente ainda mais, os mortos levantam de suas tumbas. Choujun! Chojo-Senpai, um mangá cancelado com apenas oito volumes, renasce das cinzas após três dias para receber um anime antes de Kagurabachi, que já é matéria do New York Times, decoração do Burger King, e um dos títulos mais vendidos do mercado. A realidade é tão insana, tão absurda, que parece mais um delírio coletivo da Weekly Shonen Jump.
Tivemos também nesta edição a volta de Shun Numa com seu One-Shot “Ura no Report”. Eu mesmo já defendi que o cancelamento de Choujun! Chojo-Senpai não fora um erro completo. Sozinha a decisão não é mesmo um erro. Mas, olhando o cenário atual – sem novos animes, sem vendas empolgantes, talvez fosse melhor tê-lo mantido na ativa até o anime estrear. Cancelar antes ou depois já não faria diferença, já que os substitutos e os mangás atuais não estão melhor. Seu sacrifício, afinal, não salvou ninguém.
Estou cansado, Saito. Minha mente delira, e minha lucidez se esfarela entre as páginas.

Vejo mortos, muitos mortos. Nunca vi tantos mortos em uma só edição. É a leva inteira de 2025. Eles me encaram das últimas colocações da TOC – cinco mangás lançados em 2025, cinco epitáfios em japonês. Quando, pergunto eu, vão finalmente enterrá-los? Tomoshibi no Otr ganhará páginas extras, talvez para apressar o fim na próxima leva (provavelmente entre as edições #48 e #50), ou, quem sabe, como uma manobra desesperada da editora tentando renascer um corpo que já esfriou.
Acredito mais na primeira hipótese, especialmente porque a prévia traz o vilão principal, sinal de que o autor já prepara o funeral. Ainda assim, nada mais me surpreende: nesta realidade insana, um mangá que vende menos de 5 mil cópias pode muito bem sobreviver.
Socorro… Socorro.

Kaedegami parece caminhar para o encerramento, embora tudo seja incerteza. As únicas certezas de cancelamento – se é que podemos ter alguma – são Ping Pong, que apesar da boa recepção é nichado demais, e Ekiden Bros, que teve uma estreia terrível.
Hakuzake Mound deve sobreviver, mas só vai superar o ano de 2026 se as vendas melhorarem (atualmente as pré-vendas são horríveis)… ou talvez não. Quem sabe o caos editorial se intensifique a ponto de as leis da lógica ruírem ainda mais, e o mangá acabe ganhando um anime vendendo míseras 3 mil cópias? Não dúvido de mais nada.
A Weekly Shonen Jump vive um tédio abissal, um poço criativo onde até as ideias parecem apodrecer. Tudo o que peço, querido diário, é que uma gota de bom senso caia sobre as cabeças da equipe editorial – apenas UMA GOTA – e que a próxima leva, entre dois e quatro novos mangás, traga enfim o frescor que possa restaurar minha sanidade, para assim eu voltar a comentar a TOC com lógica e alegria.
(Ou ao menos, maldito Saito, volte a variar as posições na TOC para eu ter o que comentar semana após semana.)