
Não é raro que um mangá publicado na Weekly Shonen Jump conquiste rapidamente o público ocidental: Kagurabachi, Green Green Greens, Stealth Symphony, Ao no Hako, Ultra Battle Satellite, Red Hood, Ayashimon, Hungry Joker são alguns exemplos ao longo dos anos. Contudo, a grande maioria dessas obras acabou sendo cancelada, revelando que a visão ocidental muitas vezes não se alinha à japonesa.
Someone Hertz é mais um título que entra na lista das obras bem recebidas no Ocidente. Mas será que também está agradando os japoneses? Ou será apenas mais um cancelado? Chegou o momento de avaliarmos a recepção do primeiro e do segundo capítulo da mais nova comédia romântica da Weekly Shonen Jump.
ONE-SHOT OU SÉRIE?
O primeiro capítulo teve, em geral, uma recepção relativamente positiva, embora com críticas aos personagens e ao humor, dependendo do leitor. Mesmo entre aqueles que apreciaram a obra, surgiu uma dúvida ao concluir a leitura: isso não deveria ser um one-shot?
“A heroína é fofa e tal, mas o que vão fazer a partir do segundo capítulo?”
“É uma nova série com uma vibe de one-shot incrivelmente bem acabado, mas será que tem conteúdo suficiente pra continuar?”
Essa questão praticamente dominou a discussão tanto no 5ch quanto no Jump Matome, fazendo com que a atenção dos leitores se voltasse mais para o que viria no segundo capítulo do que para o que o primeiro havia entregue.
Entre aqueles que se aprofundaram no conteúdo inicial, as opiniões foram, em geral, positivas, com destaque para a protagonista. Ao mesmo tempo, houve críticas ao humor: alguns não entenderam as piadas, outros acharam a dupla de comediantes do podcast entediante.
“Este não é um one-shot, né? Como será que vão expandir isso daqui pra frente? Mais do que a premissa, o que me incomodou foi o papo da dupla de comediantes ser entediante demais. Eles ganharam o M-1, e é esse o nível das piadas?”
Como grande parte dos leitores ficou em dúvida sobre o rumo da obra, o ideal é observar a recepção do segundo capítulo, para verificar se o desenvolvimento da trama está agradando ou não o público japonês.
O SEGUNDO CAPÍTULO
No segundo capítulo, os leitores deixaram de lado a incerteza sobre a direção da história e passaram a discutir os defeitos e qualidades da obra – o que, na prática, apenas reforçou os pontos já “submersos” no primeiro. O público japonês segue gostando da protagonista, mas a comédia não vem agradando: as piadas são, no geral, consideradas fracas.
Os comentários positivos se concentram principalmente na heroína, que conquistou boa parte dos leitores. O romance entre os protagonistas é um elemento que quase todos desejam acompanhar, mesmo aqueles incomodados com os aspectos negativos da série.
“Só me resta curtir o clima romântico entre os dois, ignorando a falta de graça das piadas.”
Já as críticas recaem sobre a incapacidade do autor de transmitir corretamente o senso de humor dos programas de rádio humorísticos, entregando piadas que muitos classificaram como “ruins”. A discussão do segundo capítulo acabou marcada por esse tom, o que preocupa em uma série que deveria soar “leve”.
“Eu escuto programas de rádio de comediantes à noite, tipo JUNK ou All Night Nippon, e os ‘hagaki shokunin’ que têm suas mensagens lidas no ar geralmente mandam piadas sobre acontecimentos atuais, coisas meio picantes ou zoando levemente os apresentadores e outros famosos (claro, com respeito ao programa e aos comediantes).
Pelo menos, piadas tão sem graça quanto as do mangá NUNCA seriam lidas.”
“A heroína estilo Gachapin é realmente muito fofa.
Mas as piadas e os diálogos de comédia do mangá não são engraçados.”
“Se continuarem enfiando essas piadinhas toda hora, só de ler já vou ficar com azia.”
“As piadas são todas sem graça…”
“As piadas enviadas no primeiro capítulo serem ‘meta’ e não engraçadas até que dá pra aceitar. Mas soltar piadas sem graça no dia a dia é imperdoável.
Será que o amigo não está ‘ignorando’ as piadas, mas sim só cansado delas?”
Os defensores do humor argumentam que o público não tem o “nível” necessário para compreender a ironia das piadas, muitas vezes voltadas a temas da atualidade. Essa defesa, entretanto, não convence, e os críticos foram bem mais numerosos no segundo capítulo.
Enquanto isso, no X (antigo Twitter), o clima é mais positivo, com muitos elogios a Someone Hertz. Isso não chega a surpreender: japoneses costumam ser mais “cruéis” em fóruns anônimos, como 5ch e Jump Matome, onde não há identificação dos perfis.
“O protagonista é incrível por conseguir rebater todas as piadas meio sem graça da heroína. Por outro lado, os leitores que não conseguem ‘rebater’ bem a piada do buffet, claro que vão achar tudo sem graça. Comédia exige um certo senso de humor e conhecimento de quem recebe!”
O FUTURO
Seria ingênuo afirmar que a recepção de Someone Hertz no Jump Matome, Animanch e 5ch foi positiva – não foi. As visualizações (mais de 150 mil na Jump Plus), no entanto, são razoáveis e atraem o público necessário para a sobrevivência da série. O desafio será manter esse público fiel no terceiro e quarto capítulos.
Não acredito que as chances de Someone Hertz tenham se esgotado; pelo contrário, o público gosta da dinâmica entre os protagonistas o suficiente para ignorar, por ora, as piadas sem graça. Porém, essa tolerância não deve durar muito: se a série insistir nesse caminho, é provável que comece a perder leitores já no quinto ou sexto capítulo.
A questão é: que rumo o autor escolherá para superar esse problema? A primeira possibilidade é reduzir o uso das piadas e concentrar-se mais nos protagonistas, na dinâmica romântica entre os dois. A segunda é incorporar referências mais divertidas, inspiradas nos programas de rádio, elevando o nível humorístico ao gosto do público. A terceira e última é manter o curso atual, apostando que os leitores eventualmente compreenderão o estilo de humor.
Independentemente da escolha, uma coisa é certa: a situação de Someone Hertz é delicada, e apenas as próximas semanas dirão se a obra tem o necessário para sobreviver na revista de mangás mais competitiva do mundo.