Venha ver uma matéria que comenta sobre mangás de torneio e suas falhas, e qual deles eu acredito que seja o melhor em manter sua consistência.
- Escrito por FelRib
Bom dia, tarde e noite, sei que é um tema bem inusitado para aparecer completamente do nada no site, porém eu sempre fui de focar em certos gêneros, ler eles e partir para o próximo. Já tive meses que só li coisas da Shonen Champion, ou só li obras com personagens com alguma deficiência, por um mês li apenas obras de Vilanesas (eu sei que está gramaticalmente errado, mas sempre chamarei assim) e também já tive minha época de mangás de torneio.
Para os que não sabem, um mangá de torneio é aquela obra com diversas lutas acontecendo em sequencia durante um número de rodadas até chegar em uma final. Uma boa obra para entender o que estou falando é Dragonball, porém ele não é uma obra de torneio, a mesma coisa com Yu Yu Hakusho. Boas obras com arcos de torneio, mas não são mangás de torneio. Dito tudo isso, quero trazer uma análise das falhas do gênero e utilizarei vários mangás para chegar no ponto que quero, agora vamos a análise!
Melhor personagem de ToD, um dos Três Porquinhos
Irei começar com uma obra que não faz muito tempo que conheci, foi na semana que escrevo essa matéria, Otogi Bukkorosseum, também chamado de Tales of Destruction. E ToD é a pior das obras que mencionarei aqui, mas é ótimo para entender as falhas. Logo no final da primeira luta me deparei com um comentário: “Você está me dizendo que este pirralho irritado matou o cara que destruiu Deus? Minha suspensão de descrença não vai tão longe assim” e ele resume bem.
Uma pequena descrição sobre o que é ToD, um estranho mascarado que se chama Grimm revive 8 personagens de contos de fadas e coloca eles em um torneio até a morte. O sobrevivente poderá reviver qualquer pessoa que eles queiram. A obra é escura, cheia de sangue, monstros e gente que quer se matar. A única qualidade que eu enxergo são certos designs, como o Pinóquio ser um robô e a Branca de Neve usar uma máscara de gás e veneno em seus golpes.
Capa do volume 2 de ToD ilustrando a Chapeuzinho Vermelho canibal
Diferente de TODOS os outros que menciono aqui, ToD faz um erro brutal que é a primeira luta: mal feita em arte, quadrinização, personagens e história. Para uma obra de torneio funcionar ela precisa começar bem, você pode até capengar mais além em suas lutas, porém a primeira PRECISA ser ótima. Este é o requisito mínimo para um mangá deste tema, diante de outros problemas, acredito que este foi um dos maiores. Outras obras ao mínimo mantém uma luta introdutória simples para poder explicar coisas fora da ação.
Entre outros erros, eu diria que o mangá foi cancelado no capítulo 10, mesmo que a obra tenha 54 capítulos. Sim, no capítulo 10 a obra confirmou o seu cancelamento, no final do capítulo anterior temos o início da segunda luta do mangá, que é entre a Chapeuzinho Vermelho, que se fundiu com o lobo e agora vive com este monstro parasitando seu corpo, contra a Bela (de a Bela e a Fera) que é uma freira que transforma-se em um monstro gigante que lembra um certo chefe de Bloodborne. O problema é que a luta começa e acaba no mesmo capítulo, e não, a Bela não vence.
Na esquerda: dona da fazenda de veneno e mãe solteira Branca de Neve. Direita: ciborgue computador vivo Pino Kiyo
Para exemplificar uma obra que começa bem, vamos ver Tenkaichi. A obra da revista Young Magazine Mensal ficou popular rapidamente pela sua arte detalhada e seus primeiros capítulos enérgicos. A série tem com 11 volumes 750 mil cópias e um anime confirmado em produção, e é sobre figuras famosas do Japão lutando até a morte devido ao desejo do Imperador demoníaco Oda Nobunaga. Não vou chegar aqui e questionar o charme ou o impacto que a obra tem, ela realmente tem lutas magnificas e muito bem desenhadas, além de personagens interessantes e bem trabalhados.
E sua primeira luta é um ótimo ponto de partida para qualquer fã, que é Miyamoto Musashi o garoto prodígio que ninguém conhece, contra o imponente herói de guerra Honda Tadakatsu. Ao dar o enfoque necessário para os dois, é difícil de adivinhar quem consegue vencer no final e todos quadros mostrando Nobunaga em seu trono rindo maleficamente demonstra o quão ruim a situação em que os personagens vivem é.
Primeira luta de Tenkaichi
Porém, os autores da série deram uma entrevista em que detalham o fato de todos personagens do torneio de Tenkaichi serem protagonistas, e é ai que vem o erro, pois isso é uma mentira. Vem aqui o segundo erro de obras do tema, foco na luta! Tenkaichi TEM lutas boas, porém nem todas. No momento que escrevo, já foram 7 lutas e estamos na oitava, e sendo muito rigoroso, diria que três delas falham, duas por serem fáceis de prever o final e uma justamente pelo final ter sido rejeitado pelos autores.
Sem entrar em muitos detalhes, mas no momento em que uma luta começa e você já recebeu vários capítulos para um personagem e o outro não recebeu nada, ao sair da ação com o personagem com o maior tempo de tela vencendo, os fãs sentem-se roubados. Vendo comentários na internet vejo que não estou sozinho, a terceira luta é vista como a pior da série por ser tão óbvia e rápida que não há tempo para conhecer direito um dos participantes.
Segunda luta de Tenkaichi
Tenkaichi peca sim neste sentido, é uma obra boa com algumas falhas que ao analisar criticamente o mangá é difícil de ignorar. E eu preciso reclamar, por qual motivo tem o Musashi Miyamoto na obra? É quase certo que ele vai ganhar! Está todo mundo babando ovo do cara, chega a ser irritante de ver. Comparando com o que os outros participantes tiveram, realmente não são todos protagonistas. Colocar um foco em todos personagens é difícil e não acredito nem que Shuumatsu no Valkyrie conseguiu fazer.
Como entrei no assunto de Shuumatsu, vulgo Record of Rangarok (RoR), vamos para ele. Até o final da quarta luta, que é Jack o Estripador contra Héracles eu não tenho nada a reclamar, porém depois disso, são poucas coisas que eu posso elogiar na série. Lutas corridas, uso constante de diálogo da audiência que ao meu ver só cai em qualidade, muitas lutas sendo resolvidas com pouca criatividade. Eu esperei anos para ver Simo Hayha e bem, não valeu a pena a espera.
Terceira luta de RoR
Tentando corrigir um dos erros de RoR é criado Majo Tensei. O mangá das 32 mulheres malvadas da humanidade lutando entre si surgiu do fato de RoR não ter uma única personagem feminina em seus participantes, pois a Afrodite foi rejeitada como lutadora. Acredito que a Fuuma em Tenkaichi tenha sido criada justamente para ir contra essa crítica. Mas Majo Tensei por mais que eu goste, também falha nas suas lutas. A da Mary Read é simplesmente triste de ver.
Para colocar a minha última crítica ao gênero, trago Rekkyou Sensen, sobre um representante de cada país lutando para salvar sua nação. E este é um erro fácil, é o quão previsível as coisas são. Por favor, a primeira luta é justamente do representante do Japão… Voltando para RoR (parece piada, mas é que a obra faz bem, tem que elogiar) lá a protagonista é a valquíria Brunilda, alguém que não irá lutar, pelo menos não antes da final. Criar um protagonista em um mangá de torneio me parece o mesmo que entregar o final. Bom, não realmente, e agora vamos para a parte divertida.
Primeira luta de Rekkyou Sensen
Recapitulando, início fraco, a falta de igualdade em todas lutas, e protagonistas que entregam como a história vai ser. Agora vamos a um mangá que ignora tudo isso que eu critiquei e comete todos esses erros, porém ele funciona. Lynn vive feliz em seu vilarejo pacato, ela só não consegue ir bem no amor. Sua vida muda quando bandidos atacam e saqueiam a vila, tentando se defender a garota pega uma espada, porém diferente da arma real, essa muda o sexo físico da pessoa que você atacou. Bem-vindo a Rosen Garten Saga.
Agora é o momento que eu aviso que o mangá que irei falar bem possui temas sensíveis para alguns, começando com o fantasma que mora na espada de Lynn, o herói Siegfried. O maior problema de Sieg é que ele pega qualquer mulher e leva pra cama, independentemente do consentimento delas. Claro que isso é errado e a obra sabe disso, fazendo com que ele não só morra devido a suas escolhas, mas constantemente sofra nas mãos de todo mundo. Mas ele vira um fantasma e continua na história como um personagem principal, e isso é algo que certos leitores nunca vão aceitar.
Lynn e Siegried de Rosen Garten Saga
Lynn acaba tendo um bom momento com os bandidos e ao voltar para sua vila, vê que uma ordem de cavaleiras salvou o lugar, é aí que ela conhece Brunilda, o objetivo do mangá inteiro. Pois veja bem, Lynn se apaixonou e quis se juntar a ordem, o pedido foi recusado, porém ela recebe o convite de ir ao jardim das rosas, onde irá acontecer um grande torneio e o vencedor pode ganhar qualquer tesouro de Siegfried. Agora com as motivações em dia, uma querendo conquistar uma dama e o outro querendo que seu tesouro não seja entregue para qualquer um, Lynn e Sieg vão a luta.
A obra é lotada de piadas sexuais, homens pelados que lutam com suas genitálias, mudança de sexo e gente se pegando, tudo isso com uma arte detalhada e uma história com mistérios intrigantes. Uma grande qualidade de Rosen Garten é a criatividade nos personagens, e até posso comparar com o ToD que falei anteriormente. Grande parte dos personagens da obra são de mitologias ou fábulas com modernidades, o Aladin por exemplo tem uma inteligência artificial que é o gênio que está lá para dar suporte, Merlin é o produtor do grupo musical que o Rei Arthur e seus cavaleiros fazem parte.
Brunilda de Rosen Garten
São vários outros personagens como Mulan, Beowulf, Átila o huno, Kriemhild, Alibaba, entre vários outros. Agora sobre a parte do torneio em si, todos participantes precisam primeiramente passar por três qualificatórias, e pequenos spoilers, as duas primeiras fases terminam com todos desqualificados, então a terceira é a única que acaba valendo. As três provas são completamente absurdas e desprovidas de quase qualquer seriedade.
O que a obra propõe o tempo inteiro é algo descontraído, existe sim certas coisas que são tratadas propriamente, mas estes momentos de comédia descarada é o que cria um ambiente farto de qualidade. Embora seja uma obra totalmente descarada, existem muitas cenas de ação e elas são lotadas de paneis bem desenhados e organizados. Ao meu ver nenhuma das lutas foi de fato rushada, todas elas tiveram o seu devido desenvolvimento necessário, explicando os dois lados e mostrando bem o embate entre os poderes dos participantes.

E sobre minha crítica de um protagonista entregar o final, bom, o objetivo da Lynn nunca foi vencer o torneio, sempre foi levar a valquíria para sua cama. É possível ela perder e vencer ao mesmo tempo, e também com a quantidade de mistérios reinando sobre os personagens, como as visões estranhas do Átila e o envolvimento sombrio do rei Gunther, é fácil ignorar a história de Lynn e querer saber sobre os outros personagens.
No momento estamos com 89 capítulos lançados, totalizando 13 volumes (o 14 está programado para outubro de 2025) e possivelmente estamos na reta final do torneio com certos mistérios sendo revelados aos poucos. Mas como é uma obra mensal, ainda temos talvez um ano pela frente. Sobre uma questão de animação, no passado eu até poderia falar que não vai vir, mas como conheci Nukitashi recentemente, acho que tomando algumas liberdades criativas Rosen Garten Saga pode vir a ser adaptado.

Este foi um grande texto sobre um tema que é até bem popular aqui no Brasil, Rekkyou Sensen por exemplo foi traduzido primeiro para o português e só depois vieram as traduções em espanhol e inglês. O discord de fãs da Comic Zenon, que é a revista de RoR, Majo Taisen e Rekkyou, é lotada de fãs BR, então pode ser que esteja em nosso sangue seguir essas obras e consumir elas.
Caso você tenha gostado desta matéria, pode mandar um comentário, ou também se quiser bater um papo maior, sinta-se a vontade para entrar no servidor do Discord do Analyse It, o link vai ficar aqui embaixo. Também deixo o convite de verem as análises das revistas de mangá, temos toda semana a Weekly Shonen Jump e a Weekly Shonen Magazine, eu cuido apenas mensalmente da Jump SQ. Até uma próxima matéria!
