
Com a possibilidade de não termos o anúncio de Kagurabachi próxima semana, com Someone Hertz tendo uma recepção problemática, com todas as séries lançadas do ano indo mal, e com um mercado de mangás estagnado em novos sucessos, é o momento de nos perguntarmos: Será 2025 o pior ano da revista nesse século?
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O ano ainda não terminou; contudo, faltam menos de dez edições para que o ano editorial da Weekly Shonen Jump chegue à sua conclusão, e os sinais, por enquanto, não estão positivos. Deixando a TOC de lado (já que é uma repetição da TOC da semana passada), comentarei desta vez o que pode levar 2025 a ser o pior ano do século da revista e como, nessas últimas dez edições, os editores podem evitar que isso aconteça.
Quando se fala de anos fracos deste século, normalmente se tendem a citar 2003, 2010 e 2020. No entanto, 2003 acabou sendo um ano de poucos sucessos não por fraqueza da revista, mas sim por causa da grande fase de êxito que ela vivia, o que deixava pouco espaço para novas obras. Por isso, na verdade, era um ano em que a revista estava “voando”, com várias séries vendendo muito bem. Tínhamos Naruto, Hunter x Hunter, Yu-Gi-Oh, One Piece, Prince of Tennis e muitas outras obras ultrapassando 1 milhão de cópias, o que levou os editores a serem obrigados a cancelar Shaman King, por exemplo. Foi um ano “parado”, pois só teve a adaptação de Bobobo-bo e a estreia de Buso Renkin (de relevante), mas não foi um ano ruim.
O ano de 2010, por sua vez, foi um período no qual obras como One Piece chegaram ao seu auge. Contudo, a revista sofria com a dificuldade de se renovar. A ausência de sucessos não veio por causa de uma revista lotada de bons mangás, mas sim de uma dificuldade editorial em entender o que o público queria das novas séries. Os sucessos ainda estavam em uma situação sólida, mas a dificuldade em encontrar novas obras preocupava. O resultado acabou sendo a mudança do editor-chefe em 2011, o que levou a revista a alcançar bons resultados. Em termos de animes, tivemos somente Bakuman.
Já 2020 sofreu justamente pelo grande número de mangás bons saindo da revista — foram, ao todo, sete: Kimetsu no Yaiba, Haikyuu!!, Chainsaw-man, Boku-tachi wa Benkyou ga Dekinai, Yuragi-Sou no Yuuna-san, Yakusoku no Neverland e Act-Age. Por isso, foi um ano trágico, que, porém, passa longe de ser completamente negativo: a pandemia, junto com o sucesso de Kimetsu no Yaiba, aumentou as vendas de quase todas as séries da revista; Jujutsu Kaisen também se tornou um grande sucesso, e vários novos hits foram encontrados (Mashle, Undead Unluck, Boku to Roboco, Burn The Witch e Sakamoto Days).
Deste modo, esses três anos tiveram problemas, mas acredito que somente 2003 pode ser considerado realmente péssimo — ainda que 2020 seja uma das principais causas da crise atual da revista. Já o ano de 2025 pode ser apontado como o pior do século por causa das seguintes características:
1 – Os animes que estrearam (Sakamoto Days e Witch Watch) alcançaram bons resultados, mas mesmo assim não levantaram a moral dos leitores.
2 – Só tivemos o anúncio de um único anime de uma obra ainda em publicação (Akane Banashi), mesmo com séries como Kagurabachi e Nue no Onmyouji precisando de um anime para manter o hype.
3 – As novas séries não estão conseguindo engajar, criando assim uma sensação enorme de estagnação.
4 – Nenhum mangá está crescendo em vendas (um problema que ocorre praticamente em todo o mercado).
O primeiro ponto, referente aos animes que estrearam: nesse sentido, o ano é claramente superior a 2003 (que teve somente Bobobo-bo) e 2010 (que teve apenas Bakuman), mas os animes de 2025 não chegaram a ter um grande impacto no mercado. Sakamoto Days, mesmo sendo uma série sólida e com boas vendas — a ponto de ter um live-action anunciado —, está longe de ser uma obra que esteja revitalizando a imagem da revista.
Já Witch Watch alcançou resultados normais. Mangás estão tendo cada vez menos aumento de vendas com a adaptação em anime, seja em cópias digitais ou físicas. Por isso, os resultados foram “OK”, mas inferiores aos de Sakamoto Days. Deste modo, podemos concluir que a Weekly Shonen Jump não lançou um anime capaz de movimentar o mercado como Jujutsu Kaisen fez — provavelmente apenas Madan no Ichi e Kagurabachi têm atualmente esse potencial.
E é aqui que entramos no segundo ponto: com os animes desta temporada não revitalizando a revista, a esperança recai sobre os novos sucessos. Madan no Ichi, Kagurabachi e, em terceiro plano, Nue no Onmyouji são três mangás com bom potencial comercial. Contudo, até agora a Weekly Shonen Jump anunciou apenas Akane Banashi. A política de esperar a obra completar mais de três anos ou estar prestes a encerrar para anunciar o anime está diminuindo o engajamento sobre as séries e, consequentemente, sobre a revista.
Algumas poucas pessoas acham exagero pedir o anúncio de Nue no Onmyouji ou Kagurabachi no aniversário de dois anos — essas mesmas pessoas depois reclamam que a revista está “chata”. Isso acaba sendo contraditório, pois, como uma revista semanal, a Weekly Shonen Jump precisa de uma grande rotatividade de novidades, seja em animes, seja em novas obras, para manter o engajamento. Ao abandonar essa alta rotatividade (que é tradicional da revista), o que vemos é uma publicação perdendo sua força de engajamento.
Isso também influencia o terceiro ponto: as novas séries não conseguem engajar. Com as obras lançadas em 2023 e 2024 não ganhando anime (somente Kill Ao, que na revista está em baixa), as novas séries encontram um cenário morto, no qual o público não tem mais vontade de se envolver com a Weekly Shonen Jump (vide as baixas visualizações dos novos lançamentos). Todos os lançamentos de 2025 acabaram fracassando, e Someone Hertz pode estar caminhando para o mesmo destino.
O lançamento de Jujutsu Kaisen Modulo serve justamente para aumentar o engajamento — uma estratégia inteligente —, mas, junto com Modulo, deveria ter vindo uma boa leva de novas obras, o que parece não ter sido possível (ausência de boas propostas? Falta de organização? Falta de visão?). E todo esse clima “morto” também não está ajudando a aumentar as vendas de nenhum mangá da revista: todos estão caindo no físico, e a grande maioria tem apresentado um aumento pífio nas cópias em circulação.
Como talvez ainda não possam anunciar Kagurabachi (já que deve estrear somente em outubro de 2026 ou abril de 2027), é necessário terminar o ano com uma leva muito promissora. Essa última leva, que deve ter entre três e cinco novas séries — sendo mais provável três ou quatro —, será essencial para trazer um “frescor” e salvar o ano de 2025 de se tornar o pior do século para a revista. É a única solução possível para resgatar um ano que acabou sendo horrível.