
Enquanto Jujutsu Kaisen retorna, chocando toda a internet, a revista entrega uma das TOCs mais desesperadoras que já vi em minha carreira.
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Novamente, eu poderia comentar posição por posição, mas a realidade é que, nesta semana, as últimas sete colocações transmitem uma mensagem clara: desespero e depressão. Por isso, em vez de analisar todos os mangás, irei discutir o retorno de Jujutsu Kaisen e os seis novatos lançados recentemente.
Mojuro, sendo a continuação de Jujutsu Kaisen, não me surpreendeu, já que algumas pessoas já especulavam a respeito, por conta do símbolo de Módulo (Mojuro vem de Modulo) se assemelhar ao kanji de três em japonês (三). Contudo, serei sincero: esperava que essa referência a Jujutsu Kaisen fosse mais sutil, e não uma continuação direta, acompanhando os netos de um personagem relevante;
Mojuro, como já noticiado aqui no Analyse It, terá duração de três volumes, o que corresponde a cerca de seis a sete meses – considerando as férias de Natal e Ano Novo. É uma quantidade razoável para os editores lançarem duas levas, aproveitando a presença de Jujutsu Kaisen para tentar encontrar ao menos um novo sucesso.
A TOC desta semana comprova como a situação da revista tornou-se simplesmente insustentável: anos de descaso e desorganização no departamento editorial levaram a uma line-up incapaz de agradar o público. Dos sete últimos colocados, seis são novas séries. Literalmente todas as estreias de 2025 ocupam a segunda metade da revista. A melhor delas é Harukaze Mound, que claramente enfrenta dificuldades para engajar.
Tomoshibi no Otr, que também teve recepção ruim e vendas físicas preocupantes (cerca de 3 mil cópias), receberá página colorida numa tentativa de transformá-lo em sucesso. O mangá até registrou aumento nas vendas digitais nos últimos dias, mas nada que justificasse esse tipo de promoção. Tradicionalmente, resultados como os de Otr levariam ao cancelamento imediato, mas, na ausência de obras promissoras, os editores estão tendo que vender bronze como se fosse ouro.
Não é impossível que Otr cresça em vendas e se torne um sucesso, tudo pode acontecer. No entanto, a revista aposta contra a estatística — as chances de Otr prosperar são baixas — simplesmente porque não há outra opção viável.
Nos últimos três anos, a Weekly Shonen Jump encontrou apenas três sucessos concretos: Nue no Onmyouji, Kagurabachi e Ichi the Witch, sendo que o primeiro já apresenta queda preocupante em vendas. Nesse mesmo período, surgiram apenas três sucessos modestos: Shinobigoto, Himaten e Exorcist no Kyoshi-Kun. Para os números atuais do mercado, esses resultados são aceitáveis, mas insuficientes para tirar a revista da crise.
O maior problema não é a existência de Shinobigoto, Himaten ou Kyoshi-Kun, mas sim a escassez de séries realmente promissoras por ano. Em uma situação estável, essa média deveria ser de duas estreias relevantes anuais. Em um cenário de crise, o ideal seria três por ano (como ocorreu em 1996-1999 e 2012-2014). Atualmente, a média é de apenas uma, um resultado insustentável para superar a crise.
A consequência dessa escassez é uma revista em que um terço da line-up corre risco de cancelamento por baixa popularidade. Esse número pode crescer, caso não surjam novos sucessos. Entre três e quatro séries veteranas devem terminar nos próximos 12 meses, e é improvável que surjam substitutas à altura.
A tão aguardada leva de cinco ou seis novos títulos, dependendo do fim de The Elusive Samurai (Nigen Jouzu no Wakagimi), seria a solução ideal para esse cenário alarmante. Contudo, se a situação editorial realmente se deteriorou por causa da gestão anterior, o atual editor-chefe não teria condições de lançar seis obras de uma vez — a menos que estivesse preparando isso há meses. É uma situação caótica que talvez exija maior investimento na contratação de autores e editores veteranos de outras revistas.
É certo que a próxima leva precisa ter pelo menos quatro estreias para limpar parte das obras recentes que fracassaram. O ideal é que apenas uma delas sobreviva — a mais bem recebida. Harukaze Mound parece a que está em melhor situação, seguida por Tomoshibi Otr e Kaedegami. Ping Pong tem boa recepção, mas baixa adesão de leitores. Ekiden Bros é uma tragédia completa.
Não seria surpresa se a melhora de posição de Tomoshibi Otr fosse consequência da chegada maciça de almofadas, retirando-o das últimas colocações nas votações.
Contudo, quem estrearia no lugar desses títulos, caso quatro fossem cancelados? O ideal seria lançar uma leva de quatro mangás, incluindo um autor veterano logo no início (o autor de Jigokuraku está prestes a encerrar sua série) e outro fechando a leva. Entre eles, seriam colocados novatos. A vantagem de intercalar veteranos e novatos é “motivar” os leitores a acompanharem também os trabalhos dos estreantes.
A vaga deixada por Hunter x Hunter segue em aberto desde o fim da série. Portanto, seu retorno poderia ocorrer antes ou logo após essa leva, sem ocupar espaço adicional.
Outra solução seria uma leva de engajamento com baixo custo. O primeiro título seria justamente o retorno de Hunter x Hunter, para chamar a atenção para a revista. Em seguida, poderiam ser lançados os três vencedores da Gold Future Cup que ainda não estrearam: Koi no Yōbi no Sezaki-san, Canvas Terra e Signal All Red. Essa leva de três poderia atrair curiosidade, caso não houvesse veteranos disponíveis, sendo promovida como um “Ultimate Showdown” entre os vencedores da Gold Future Cup para decidir quem será o próximo grande hit.
Nenhuma dessas soluções funcionará se os editores não tiverem boas séries em mãos. E esse é o maior problema da Weekly Shonen Jump atualmente: falta qualidade. Saito tem um enorme desafio diante de si, e não sabemos se terá capacidade de resolvê-lo. A teoria ele conhece, mas precisa colocá-la em prática.
E sabe o que é mais desesperador? A Weekly Shonen Jump é uma das revistas e plataformas que achou mais sucessos nos últimos três anos (mais que até a Jump Plus). A crise é geral, o que estimula cada vez mais leitores abandonarem os mangás e procurarem outras mídias.