
E, encerrando a série da “recepção das novas séries”, chegou o momento de comentarmos a recepção do mangá mais detestado desta leva: Ekiden Bros. A obra, publicada na Weekly Shonen Jump pelo estreante Daiki Nono, chamou a atenção por sua temática peculiar: um mangá esportivo sobre ekiden, uma modalidade de atletismo criada e difundida no Japão.
A Weekly Shonen Jump, que possui um histórico de popularizar esportes outrora esquecidos (Hikaru no Go) ou jamais populares no Japão (Slam Dunk), decidiu investir novamente em um esporte nacional improvável, na tentativa de quebrar a chamada “maldição dos mangás esportivos”. Afinal, já se passaram mais de dez anos desde o último êxito genuíno do gênero. Evidentemente, tratar-se de um esporte pouco popular deixou muitos céticos quanto às chances de sucesso da obra.
“Nunca vi um mangá com o tema de ekiden (corrida de revezamento) na Jump, embora talvez tenha existido no passado. Eu gosto de assistir ao Hakone Ekiden e ao Ekiden da Taça do Imperador, mas, para ser sincero, considero um esporte meio sem graça. Se não houver algo marcante no design dos personagens ou na forma de representá-lo, dificilmente fará sucesso.”
Mas será que os três primeiros capítulos de Ekiden Bros conseguiram conquistar o público japonês, rompendo assim com a maldição que paira sobre os mangás esportivos?
Sendo direto: não. De longe, Ekiden Bros é o mangá mais criticado desta nova leva de quatro obras, com a imensa maioria dos leitores japoneses demonstrando desapreço tanto pelos personagens quanto pela arte do autor. O primeiro capítulo chegou a ter seus defensores, e o 2ch serviu de palco para comentários mais “equilibrados”: alguns apreciaram a representação do esporte e o conteúdo inicial.
“Já pela capa o cheiro de cancelamento é forte, mas percebi que não é que o desenho seja ruim, e sim que o visual do protagonista está mesmo decadente. Lendo o conteúdo, achei que o traço possui um estilo peculiar, mas é surpreendentemente fácil de acompanhar, e os outros personagens não causam desconforto visual. Só o protagonista tem o rosto, as expressões e até os gestos completamente repulsivos.”
Junto às críticas reiteradas ao protagonista, os comentários do primeiro capítulo oscilavam entre elogios e reprovações, evidenciando um público genuinamente dividido. Enquanto alguns censuravam os diálogos (considerando-os tão ruins que beiravam o cômico), outros apontavam que a leitura era fluida, mesmo com tantos diálogos. Todavia, nós, veteranos em acompanhar recepções, sabemos bem que o público costuma ser menos rigoroso no primeiro capítulo.
A partir do segundo, porém, o volume de críticas superou de modo notável o de elogios – e, no terceiro, quase todos os comentários tornaram-se severas reprovações à série, ampliando ainda mais a repulsa que muitos leitores sentiram pelo protagonista.
“Quando vi o protagonista pelado, acabei soltando um “ECA!!!!!!!” bem alto sem querer. Aliás, por que ele está se despindo no meio da rua!? É algum tipo de exibicionista!?”
“As cenas mostrando o corpo do protagonista são excessivamente forçadas. A situação do furto foi muito mal elaborada. Que história é essa de espirrar lama? Não é sequer um local onde haveria lama para espirrar! E mesmo que tivesse sujado, quem começa a tirar a roupa ali, na hora, do nada?”
“Toda vez que o protagonista mostra a boca é assustador!”
Não é raro que, ao longo da história, alguns mangás contem com protagonistas detestados pelo público; mas, por já haver envolvimento com outros personagens, isso acaba não conduzindo ao cancelamento. Entretanto, falhar em construir um protagonista com personalidade e aparência cativantes é praticamente uma sentença de morte. Apenas uma trama realmente envolvente poderia compensar tamanha deficiência.
Não é o caso de Ekiden Bros, cuja narrativa foi duramente criticada também pelos usuários do Jump Matome e do 5ch (os dois maiores fóruns de discussão sobre mangás, que juntos somam milhões de visitantes), que a taxaram de “apressada” e “sem sentido”.
“Personagens sem o menor senso ético.
Um protagonista que, por algum motivo, é elogiado.
E uma trama repleta de furos e elementos questionáveis.É literalmente um sucessor de Hakutaku.”
A piada com Hakutaku, mangá cancelado após uma recepção desastrosa entre os japoneses, revela o quão mal Ekiden Bros está em termos de popularidade. A recepção mista do primeiro capítulo simplesmente se dissipou com o segundo e o terceiro da série.
Vejo salvação para Ekiden Bros? Para ser honesto, não vejo, pois é raro que uma acolhida tão negativa nos três primeiros capítulos se reverta – no primeiro? Pode até ocorrer, como testemunhamos com Nue no Onmyouji. Mas um mangá tão rejeitado nos três capítulos iniciais tornar-se um sucesso? Jamais presenciei algo assim na Shonen Jump contemporânea. Todavia, quem sabe, Ekiden Bros não consiga um verdadeiro milagre com um quarto ou quinto capítulo de altíssimo nível.
Improvável, mas milagres acontecem.