Quando a Weekly Shonen Jump anunciou sua nova leva com quatro mangás, todos foram pegos de surpresa pela dupla de Phantom Seer retornando com seu one-shot de baseball. Até mesmo no Japão, muitos começaram a questionar se essa teria sido uma decisão acertada pela dupla e pela equipe editorial. Bem, após dois capítulos, é o momento de descobrirmos o que os japoneses estão achando de Harukaze Mound.
Já adianto: o primeiro capítulo de Harukaze Mound teve uma recepção positiva, mas permeada por uma certa negatividade devido à maldição dos “mangás de esporte”. Caso você não saiba, o último mangá do gênero na Weekly Shonen Jump a conseguir vender acima de 100 mil cópias por volume foi Haikyuu!!, que estreou em 2012. Desde então, tivemos até Hinomaru Zumou, que ganhou anime, mas vendeu mal, além de mangás que incorporam elementos esportivos, como Akane Banashi — que aborda competição artística — e Ao no Hako (Blue Box), que mistura romance com pitadas de esporte. Contudo, um mangá totalmente focado em esporte não consegue ultrapassar a marca de 100 mil cópias.
Em outras revistas, também observamos uma crise significativa: Blue Lock, lançado em 2018, é o último mangá de esporte que obteve sucesso nas três principais revistas Shonen — Shonen Magazine, Shonen Jump e Shonen Sunday — evidenciando uma profunda e problemática crise no gênero. Muitos leitores interpretam (e brincam) que essa crise é, na verdade, uma “maldição”, e assim, todos os mangás esportivos estariam destinados ao fracasso.
Harukaze Mound teve uma estreia promissora, com comentários positivos, mas é inegável que muitos leitores não têm grandes esperanças de que dará certo, pois nenhum mangá do gênero tem sucesso, como podemos ver pelo comentário no 5ch (maior fórum japonês, com mais de 50 milhões de visitas mensais) abaixo:
“A arte é bem boa, e como não teve firulas ou premissas muito forçadas, foi fácil de ler — isso é um ponto positivo. Mas obras esportivas mais puras geralmente não duram muito na Jump, então provavelmente não vai longe.”
No geral, entretanto, a recepção foi repleta de elogios, com os leitores japoneses destacando a narrativa simples, a arte de qualidade e os personagens carismáticos. Muitos confessam que não tinham grandes expectativas — justamente por causa da “maldição dos mangás de esporte” —, mas essas baixas expectativas foram superadas pelo ótimo primeiro capítulo.
“A arte é boa, a história é fácil de entender, a caracterização dos personagens está bem feita… foi um primeiro capítulo praticamente exemplar, curti de verdade. Me lembrou My Hero Academia. Acho que esse tem chance.”
“O mangá tem dois protagonistas bem definidos e carismáticos… são cheios de personalidade. A quadrinização é bem simples, diferente de Embers, o que torna a leitura ainda mais rápida e sem momentos ruins. A história não apresenta nada de novo, me lembra Kowloon’s Ball Parade, mas com arte e protagonistas melhores.”
“A arte, a premissa e o desenvolvimento estão muito bons. Faz tempo que um mangá de esporte não vinha com tanto potencial assim, acho que esse pode dar certo.”
Talvez a maior crítica recebida tenha sido justamente a comparação com Kowloon’s Ball Parade, mangá de baseball cancelado pela Weekly Shonen Jump. Assim como Kowloon, Harukaze Mound aposta em dois protagonistas reunindo membros para a equipe, porém com ritmo mais acelerado. Essa estratégia, usada em séries de sucesso como Eyeshield 21, acabou sendo mal recebida, a ponto de o fórum Jump Matome criar um tópico com mais de 300 comentários para discutir o tema, intitulado: “[Notícia triste] Novo mangá de beisebol da Jump… claro que caiu no clichê de recrutar membros pro time.”
“Dá para perceber que querem seguir a linha do Eyeshield 21, mas lá funcionava porque era futebol americano — um esporte pouco conhecido pela maioria dos leitores, então fazia sentido usar o recrutamento para explicar as posições. Agora, beisebol todo mundo já sabe como funciona… será que precisa mesmo perder tempo com esse recrutamento passo a passo?”
O tópico teve opiniões diversificadas, com vários defendendo a escolha de recrutar membros, enquanto outros criticavam, como no comentário acima. É importante lembrar que o beisebol é o esporte mais popular no Japão, amplamente conhecido e praticado por muitos jovens. Por isso, no segundo capítulo o autor decidiu acelerar o encontro dos personagens, agradando a maioria, mas preocupando alguns.
“Não é que está até interessante? Agora já são cinco no time. Mas um arremessador submarino canhoto… para rebatedor destro, a bola sai totalmente visível, deve ser fácil de acertar.”
“Avançar rápido na história pode até ser bom, mas sinto que, por causa disso, a teimosia e o fogo do protagonista ficaram meio apagados. Será que a treinadora mulher não vai mais aparecer? Nesse capítulo mesmo, quase não teve personagem feminina.”
Concluindo, o segundo capítulo também recebeu críticas, impedindo uma recepção espetacular e livre de controvérsias. Formou-se uma discussão negativa em torno da série: alguns leitores masculinos tiveram a sensação de que os personagens foram desenhados para agradar garotas — algo comum nos mangás de esporte atualmente — e isso incomodou alguns. Contudo, acredito que a maioria do público casual já esteja acostumada com essas características do mangá esportivo moderno.
Em resumo, Harukaze Mound teve uma recepção positiva, mas algumas pessoas demonstram preocupação com o design dos personagens voltado ao público feminino e a escolha de incluir o recrutamento dos membros da equipe — elemento que virou tópico de debate. Na minha visão, o maior desafio de Harukaze Mound não é convencer o público de que é um bom mangá — pois Green Green Greens conseguiu isso — mas, sim, persuadir os leitores a votar nele e comprar o volume, quebrando a maldição dos mangás de esporte.
Mesmo gostando, os japoneses ainda não estão totalmente seguros de que a maldição será quebrada.
