Quando a Weekly Shonen Jump anunciou a sua nova leva com quatro mangás, a grande maioria ficou bem curiosa pelo único mangá que não é de esporte entre os quatro: Kaedegami. O segundo mangá da leva prometia trazer um Battle-Shounen que uniria a ambientação na China com exorcismo — algo não completamente original, mas que poderia voltar a trazer um novo sucesso para a revista.
O ano de 2025, de fato, está por enquanto bastante fraco, com nenhum dos mangás lançados — Embers, B no Sensei, Nice Prison e Otr — tendo uma grande recepção. Até mesmo Harukaze Mound (que você poderá ler a recepção amanhã), mesmo sendo bem recepcionado, não deixa muitos leitores esperançosos de um sucesso. Será que Kaedegami finalmente será a primeira série a ter uma recepção realmente espetacular?
Bem, já vou dizendo que não será. Utilizando como base os centenas de milhares de usuários que frequentam a 2ch, Jump Matome e Twitter, podemos concluir que Kaedegami teve uma recepção mais tendente ao negativo, com alguns elementos semelhantes aos vistos em obras como Nue no Onmyouji e Dororo. Começando pelas críticas, os leitores da Jump Matome e da 2ch, por exemplo, comentaram constantemente a expressão “Deja vu”, referindo-se ao fato de que a série é uma montagem de elementos já vistos anteriormente. O comentário da 5ch representa bem a sensação de muitos leitores:
“Eu quero apoiar a nova série, mas infelizmente não foi interessante, parece uma união de coisas que já vi antes (Deja vu)
・O protagonista é um sujeito esquisito que vive na floresta ⇨ Lembra o Ichi de Maou no Ichi, que ainda está em publicação
・Título em katakana com 5 letras começando com ‘Ka’ ⇨ Lembra Kagurabachi, que também ainda está em publicação
・A trama em que um protagonista fraco recebe poderes de uma entidade sobrenatural ⇨ Lembra Nue, que também ainda está em publicaçãoPor que fazer uma história com elementos já usados por outras séries? Parece aquele caso de construir uma nova loja de conveniência ao lado de uma já popular, e as duas acabam disputando os mesmos clientes.”
Até mesmo a ambientação na China, que deveria ser o elemento único da série, acabou sendo um dos elementos que decepcionou os leitores: o autor utiliza poucos quadros de ambientação do local, e esses poucos quadros, mesmo transmitindo elementos da arquitetura chinesa rural, acabam sendo fracos ao ponto de não criarem uma verdadeira imersão naquela realidade. Um dos leitores até comentou que a própria escolha da comida poderia ser mudada para transmitir mais a identidade chinesa:
“Talvez por se passar numa área rural, não senti elementos chineses. Mesmo sendo algo clichê, talvez um chūkaman (pão chinês recheado) transmitisse mais a ‘essência chinesa’ do que o kakuni (ensopado de porco).”
Se irmos para o Animanch, que tem bem menos visitantes (diferente dos milhares da 2ch e Jump Matome), mas normalmente tem um público que serve muito bem como prévia, também vemos uma decepção generalizada com o começo da série. A sensação de estar vendo algo clichê estragou a experiência de muitos, e até mesmo os comentários mais positivos traziam uma carga negativa que praticamente fez com que quase todo mundo comentasse ao menos uma crítica ao mangá. Um dos comentários com mais curtidas representa bem isso:
“Como primeiro capítulo, foi interessante.
Mas dá pra ver que é aquele tipo de história que pode desandar completamente já no segundo ou terceiro capítulo. E outra coisa: mesmo sendo só um inimigo descartável pra derrotar logo no primeiro capítulo, o design e as falas dele me pareceram meio fracos. Isso me incomodou um pouco.”
Os elementos mais elogiados — o erotismo — também são um ponto de críticas para alguns: várias pessoas esperavam mais da personalidade da protagonista, outros gostaram bastante — é um quesito que dividiu os japoneses — mas o erotismo dividiu mais ainda. Para alguns, ter uma personagem com peitos enormes acabou sendo espetacular — na Jump Matome mesmo o segundo comentário realizado é simplesmente “Peitos Grandes” — mas, para outros, isso acabou não sendo o suficiente.
Alguns leitores comentaram, tanto no Twitter, 5ch, Jump Matome e Animanch, por isso em todas as discussões, que o autor deveria seguir mais o caminho de Nue no Onmyouji, com somente alguns poucos pedindo para não seguir essa estrada. Eles acreditam que, se a série der certo, ela deve ter um ecchi maior, uma dinâmica mais sensual entre o protagonista e a garota e, por fim, alguns (não todos, e nem a maioria) querem ver mulheres lutando.
“Coloca um monte de personagens femininas e faz elas disputarem o mesmo público que Nue.”
Alguns pontos, porém, foram unanimidade entre os leitores, e eu acredito que essa seja a principal esperança para a série: é inegável que o autor entregou um primeiro capítulo sóbrio, bem construído e com uma leitura muito fácil — ninguém reclamou da arte ou da quadrinização e, assim, estão dispostos a dar mais chances para a série. Muitos não sabem, mas um mangá ser de “fácil leitura” é essencial para que os japoneses gostem da obra: uma quadrinização ruim, uma linha narrativa não clara e excesso de textos são os fatores que mais facilmente levam uma série ao cancelamento.
“É bom que a linha da história seja fácil de entender.
A gente teve tantas séries recentemente que nem isso conseguiam fazer direito.
Parece ter mais chances de sobreviver do que Otel.”
Por isso, a série no geral teve uma recepção negativa, mas teve alguns pontos importante (boa quadrinização e linha narrativa clara) que podem vir a se tornar importante para uma virada de chave. Kaedegami, que apostou em seu primeiro capítulo em desenvolver bem o protagonista, esqueceu que, mesmo essa sendo uma das principais chaves para o sucesso, não é a única. Uma série Battle-Shounen precisa ter uma cena de ação espetacular (o que o primeiro capítulo sacrificou), uma ambientação interessante e uma temática curiosa. O mangá não entregou nada disso, e acabou soando muito vazio para vários leitores.
Significa que Kaedegami será um fracasso completo? Na verdade, não, pois até mesmo Nue no Onmyouji teve uma recepção ruim (sendo mais salvo por um personagem secundário que se tornou um meme). Um autor novato, sem experiência, tem mais espaço para cometer erros. Contudo, a obra precisa urgentemente, no segundo capítulo, entregar um conteúdo melhor — quem sabe com cenas de ação mais empolgantes e apostando bem mais na personalidade dos dois protagonistas — para que assim possa conquistar os leitores japoneses.
