
Embers, o mais novo mangá de esporte da Weekly Shonen Jump, estreou chutando a porta e chamando a atenção das pessoas. Mas será que essa atenção será o suficiente para tornar a obra um Hit? Venha ver a recepção do público japonês nesta mais nova aposta da revista:
A última vez que a Weekly Shonen Jump lançou um mangá de futebol de sucesso foi em 1998, na mesma leva que estreou Hunter x Hunter. O mangá era Whistle! e durou um pouco mais de quatro anos, sendo descontinuado por baixas vendas e popularidade após um anime que não deu muito certo. Logo após, tivemos alguns mangás de esporte dando certo, sendo o último deles Haikyuu!!, lançado em 2012.
As revistas rivais também tiveram dificuldades nos últimos anos em encontrar um sucesso de esporte, sendo Blue Lock (lançado em 2017) da Weekly Shonen Magazine, o último mangá de esporte de sucesso das principais revistas. Assim, era natural que os japoneses estivessem com um pé atrás em relação a Embers. Contudo, o primeiro capítulo conseguiu aparecer nos Trending Topics do Twitter e teve a resposta do autor de Blue Lock.
O artista de Blue Lock, Yusuke Nomura, revelou que o desenhista de Embers era um dos seus assistentes e que “Embers” está vindo justamente para “esmagar Blue Lock” – o tweet, que claramente tinha um propósito de divulgação, por vir de um autor de uma revista rival da Shonen Jump, chamou bastante a atenção dos japoneses, estimulando mais pessoas a lerem Embers, e cogitarem se irá superar Blue Lock ou não (para a maioria não irá). Alguns até comentaram se Embers já não era o novo hit da revista.
Contudo, no geral, o que os japoneses acharam de Embers?
No Jump Matome japonês (maior site de discussão sobre a Shonen Jump) e no 5ch japonês (maior fórum de discussão de mangás), tivemos mais de 500 comentários sobre o mangá, uma quantidade modesta, mas que demonstra um particular interesse do público. Certamente, uma leva sem nenhum autor veterano abrindo, seguida de uma leva de um mangá, não ajudou a chamar a atenção para o mangá, mas mesmo assim é uma quantidade boa de comentários.
Um dos primeiros comentários é elogiando justamente a arte e a tentativa de apostar em um mangá de futebol:
“Parece que a arte está muito melhor do que eu vi no Trailer. Admiro a determinação de enfrentar o ‘Caminho de Shura’, também conhecido como Futebol na Jump, e vou torcer!” – comentário da 5ch.
Levando em conta a quantidade enorme de tentativas que deram errado, como Ole Golazo (cancelado com 12 capítulos) e Tokyo Wonder Boys (cancelado com 10 capítulos), vi admiração de alguns leitores pela dupla de autores estarem apostando em um gênero que claramente tem dificuldades em dar certo na revista. Outro elemento que chamou a atenção do público acabou sendo justamente a atenção dada ao “professor” do protagonista:
“Foi interessante. O fato de quem guia o protagonista para a competição não ser a heroína ou seu parceiro, mas sim um professor que logo se despede, e ainda por cima esse professor não ser jovem nem bonito, é algo novo. A única coisa ruim é que, por causa dos cílios inferiores brancos do rival, as páginas coloridas parecem que têm olhos esbugalhados, o que dá um pouco de nojo, mas fora isso, foi muito bom.” – comentário da 5ch.
A presença do professor, principalmente sua aparência, acabou sendo um objeto de elogio de muitos, pois escapa do padrão shonen, trazendo um diferencial ainda maior – aliás, comentaram até mesmo mais que a posição de zagueiro do protagonista. É sempre curioso notar quando elementos incomuns são bem recepcionados, pois indicam sempre uma estrada não explorada para uma série alcançar uma popularidade maior.
Contudo, ele não é uma unanimidade, pois o ritmo da série acabou sendo criticado por alguns: “É tão rushado que não consegui me conectar com ninguém”, disse um leitor japonês no Twitter. Daqueles que acharam muito rushado, certamente a pouca atenção que o protagonista recebeu acabou sendo a crítica principal (então, indiretamente criticaram também a maior presença do professor).
Indo ainda na estrada da crítica, algumas pessoas se surpreenderam com essa possível boa recepção, como nos comentários abaixo (de pessoas diferentes) que recolhi:
“Isso está sendo bem avaliado? Senti que o primeiro capítulo foi só uma coleção de clichês.”
“De qualquer forma, sinto que os personagens ficaram mais superficiais por causa da necessidade de incluir a aula do velho e a disputa com o cara bonito.”
“Eu me senti lendo um One-Shot.”
Deste modo, é claro que o ritmo do capítulo é um dos pontos mais criticados. É interessante perceber que a arte e a aparência do velho acabaram chamando atenção, contudo o baixo foco no protagonista se tornou objetivo de críticas de muitos. Vi outros japoneses comentarem no Jump Matome que o protagonista precisa carregar mais a história.
Outro ponto negativo tivemos comparações com Haikyuu!!, por causa da rivalidade que parece muito com a de Tobio e Hinata. Esses comentários foram constantes em todos os sites que controlei os comentários: Twitter, Animanch, 5ch e Jump Matome. Alguns acabaram vendo de modo mais negativo, outros com uma maior neutralidade.
Voltando e concluindo com os elogios, a maioria dos leitores gostaram da partida, elogiando bastante a arte mesmo do protagonista. Ele conseguiu impactar em várias páginas e a leitura acabou sendo considerada fluída: O bom uso de ganchos, a correta verticalização nas cenas emocionantes, os quadros dinâmicos nos momentos corretos levaram a grande maioria a gostar bastante da experiência de leitura, algo essencial para a sobrevivência de um mangá.
É inegável assim que o artista conseguiu entregar uma obra que agrada visualmente os leitores, contudo, precisa melhorar no quesito roteiro: Eu acredito que para sobreviver, o primeiro passo DEVE ser desenvolver mais o protagonista. Os japoneses gostam de heróis delinquentes, mas como eles mesmos escreveram, já viram isso em Slam Dunk, precisam conhecer ele mais para que a história se sustente – ele precisa se destacar e se tornar mais único:
“Uma história clichê não é um problema, mas, nesse caso, os personagens, especialmente o protagonista, precisam ser cativantes. Algo como a força física absurda e a burrice do Sakuragi, ou a mentalidade incrivelmente forte do Hinata em Haikyuu!!. Quero aquela sensação de que ‘esse cara não é um protagonista comum’, algo que o torne único.” – Disse um dos comentários do Jump Matome.
Embers teve um bom começo, com divulgação do autor de Blue Lock, entrando nos Trending Topics, comentários elogiando a quadrinização, e com o professor chamando atenção. Contudo, o pouco foco no protagonista e o ritmo acelerado do capítulo acabaram desagrando alguns, o que pode vir a se tornar um problema caso o autor não consiga desenvolver nem o protagonista e nem os personagens secundários corretamente.
Embers começou bem, mas precisa corrigir alguns desses erros já no segundo capítulo para assim sobreviver na revista mais concorrida do mercado japonês. Algumas pessoas por causa do Tweet de Blue Lock já colocaram a série como “Novo Hit”, mas a realidade é que precisa ainda de um pouco mais para se garantir na revista. Se conseguir corrigir os pontos criticados, pode sim ser um novo hit.
Lembrando que os comentários revelam o que o público que comenta na internet acha, o que pode diferir do público mais casual, que lê a revista, mas não comenta. Todos os comentários recolhidos foram dos leitores japoneses, e não ocidentais. Quando comentar três capítulos, trarei mais informações sobre a recepção de Embers. Fiquem de olho!