
Após 5 anos e 5 meses de publicação, Yozakura-san chegou à sua conclusão, com um total de 29 volumes e 258 capítulos bem estruturados e com um desfecho que agradou quase todos os seus leitores. Além disso, conta com um anime de duas temporadas (pelo menos), 2 light novels e 3 milhões de cópias em circulação.
Muitos acreditam que, para um mangá ter uma trajetória vitoriosa na Weekly Shonen Jump, é necessário vender mais de 50 milhões de cópias, tornando-se um dos maiores da história do mangá. Eu discordo. Em um mercado tão competitivo, onde tantos jovens aspirantes a mangakás não realizam seus sonhos, o que Hitsuji Gondaira alcançou com Yozakura-san é uma grande vitória. Neste artigo, irei contar a trajetória vitoriosa dessa obra.
Nascido em 29 de setembro de 1992, a vida do autor começou a mudar quando, aos 19 anos, venceu o 43º JUMP Treasure Newcomer Manga Awards, ingressando assim no departamento editorial da revista. Entre 2011 e 2015, ele lançou alguns one-shots, mas aquele que mais chamou a atenção do público foi “Mythical Creature Doctor”, que lhe rendeu a vitória na Golden Future Cup de 2015.

Essa competição, que permite ao autor lançar uma série na Weekly Shonen Jump, colocou Gondaira nos holofotes da revista, principalmente quando estreou com “Poro no Ryugakuki” em 2017. O mangá conta a história do demônio mais poderoso que “escapa” do mundo dos demônios para tentar ter uma vida pacífica no mundo humano, como um estudante normal do ensino médio.
A comédia estreou em uma das levas mais icônicas da revista, junto a outros cinco mangás (a maior leva da história). No entanto, Poro no Ryugakuki acabou perdendo destaque para títulos como Boku-tachi wa Benkyou ga Dekinai, Dr. STONE e Robot x Laserbeam, sendo cancelado após 17 capítulos — uma quantidade comum na época para séries com recepção fraca.
A Weekly Shonen Jump é uma revista cruel, onde você precisa desafiar todas as estatísticas para sobreviver, já que mais de 80% das séries são canceladas antes de completar dois anos de vida. Autores de obras como Yu Yu Hakusho, Slam Dunk, Bleach e Boku no Hero Academia também enfrentaram fracassos antes de alcançarem sucesso. Por isso, o cancelamento de Poro no Ryugakuki, embora fosse um golpe para Gondaira, não foi uma surpresa.
Entre 2017 e 2019, Gondaira começou a se preparar para sua segunda série, lançando, em 26 de agosto de 2019, o primeiro capítulo de Yozakura-san Chi no Daisakusen. Embora não tivesse uma recepção extraordinária nos primeiros capítulos, o autor enfrentou dificuldades para conquistar completamente o público da revista. As posições no TOC (índice da revista usado para avaliar a popularidade das séries) indicavam que, embora não estivesse à beira do cancelamento, a situação era preocupante. As vendas confirmaram isso: o primeiro volume vendeu apenas 12 mil cópias, uma quantidade considerada fraca para novas séries.

O grande problema de Yozakura-san era que, embora tivesse personagens simpáticos, sua comédia não agradava muito o público. Contudo, 2020 foi um ano decisivo para a série. O evento que chamo de “A Grande Extinção” levou ao encerramento de sete séries de sucesso na revista, abrindo espaço para que séries novas tivessem mais tempo para se estabilizar.
Os mangás que terminaram durante “A Grande Extinção” foram: Yakusoku no Neverland, Yuragi-sou no Yuuna-san, Kimetsu no Yaiba, Haikyuu!!, Act-Age, Chainsaw Man e Boku-tachi wa Benkyou ga Dekinai. Entre eles, o cancelamento inesperado de Act-Age, em agosto, devido ao crime cometido pelo roteirista (assédio de uma menor de idade na rua), ajudou ainda mais Yozakura-san, que, apesar do baixo rendimento comercial, ganhou tempo para se provar.
Outras séries com vendas baixas também se beneficiaram desse momento caótico na revista, como Phantom Seer, Haikaishin Magu-chan, Kokosei Kazoku, Shakunetsu no Nirai Kanai, Shinrin Ouja Moriking e Agravity Boys. Porém, entre essas, apenas uma conseguiu realmente se destacar: Yozakura-san Chi no Daisakusen.
A série foi ajustada ao longo do tempo, melhorando tanto nas cenas de ação (com foco progressivo ao longo da história) quanto na diversificação da comédia. Isso marcou o início de sua trajetória de sucesso. As votações e vendas melhoraram, e o mangá conseguiu se estabilizar na revista, superando gradualmente os concorrentes de 2019 e 2020. Embora não tenha tido um crescimento tão espetacular quanto Sakamoto Days (outra obra lançada em 2020), Yozakura-san estabilizou suas vendas acima de 30 mil cópias, o suficiente para escapar do cancelamento.
As vendas do mangá em nenhum momento foram espetaculares, mas a partir do quinto volume sempre vendeu o suficiente para estar acima da nota de corte da revista, algo que a grande maioria das séries não conseguem. Vocês não imaginam a dificuldade de conseguir alcançar isso: Quantos anos de One-Shots e de treinamento o Gondaira teve que passar para conseguir lançar um mangá que sobrevivesse na Weekly Shonen Jump.
Foi incrível ver uma série que estava à beira do cancelamento melhorar tanto em qualidade e conquistar uma narrativa sólida, tornando-se uma presença segura na Weekly Shonen Jump. Gondaira demonstrou ser um autor determinado e capaz de corrigir seus erros para entregar uma obra melhor. A arte do autor combinou muito com as cenas de ação, dando um tom quase mágico para elas, e assim, ajudando a série a vender acima das 30 mil cópias.
Nos anos seguintes, Yozakura-san teve altos e baixos, mas manteve sua presença até, em dezembro de 2022, o anúncio de sua adaptação em anime, produzido pela Silver Link. Inicialmente, muitos se decepcionaram com o estúdio, pois, embora Yozakura-san tenha sobrevivido na revista, suas vendas não chegavam perto das de outros mangás sem anime, como Mashle, Sakamoto Days, Ao no Hako e Nige Jouzu no Wakagimi.
A adaptação estreou em abril em um bom horário televisivo, que poderia assim atrair a atenção das crianças, um público que se especula ser muito presente em Yozakura-San (mesmo não sendo o público exclusivo da obra). Com um custo de produção baixo e uma equipe não tão renomada, a animação de Yozakura-San saiu com uma qualidade mediana para alguns, baixa para outros, mas que conseguiu, mesmo assim, dar um leve impulso para a obra, que voltou a vender mais de 40 mil cópias por volume — diferente do anime de Undead Unluck, que, mesmo com mais divulgação e uma maior qualidade, quase não aumentou as vendas da obra.

Por incrível que pareça, Yozakura-San conseguiu entregar um anime de sucesso. Não, não estou dizendo que o anime de Yozakura-San explodiu em popularidade; ele continuou muito contido, como a obra, contudo, acabou sendo um sucesso comercial, pois alcançou o objetivo das empresas que investiram, ao ponto de ganhar uma segunda temporada. Para o que se esperava da adaptação, ela conseguiu alcançar o seu objetivo, e é isso que vale.
Obras têm expectativas diferentes dependendo do seu investimento: o sucesso, assim, não é medido pelos números absolutos, mas sim por quanto se espera e quanto se investe em uma determinada adaptação ou obra. A existência da segunda temporada de Yozakura-San pode indicar, mas não confirmar, que os objetivos que tinham em relação à obra foram alcançados.
Voltando ao mangá, no mesmo período em que estreou o anime, o autor anunciou que a obra estaria entrando em seu último arco, e assim começamos a ver todas as pontas que ainda estavam em aberto se fecharem. Sem estender ou apressar demais a obra, Gondaira utilizou esse último ano para justamente concluir Yozakura-San como deveria, com grandes cenas de ação e uma ótima interação entre os personagens.
É inegável que o autor sabia o que os leitores queriam e entregou perfeitamente uma conclusão de qualidade, com direito até mesmo a um epílogo de três capítulos muito, mas muito fofo, consagrando assim a trajetória vitoriosa da obra.
E é aí que entramos no conceito principal deste texto: Yozakura-San teve realmente uma trajetória vitoriosa? Para mim, sim, pois conseguir ter um anime que ganhou várias temporadas, lançar 258 capítulos na maior revista de mangás do Japão, ter duas Light Novels e entregar um conteúdo que agradou seus leitores, após ter um começo no qual a série esteve realmente perto do cancelamento, é sim uma trajetória vitoriosa e de sucesso.
Gondaira, com Yozakura-San, certamente não vai estar na discussão dos maiores mangás que passaram na revista, mas isso não exclui os grandes feitos alcançados e como ele conseguiu passar 5 anos dentro do Departamento da Shonen Jump, um dos mais cruéis e concorridos do mundo dos mangás até hoje. Sorte, competência e esforço: tudo isso se uniu para que Yozakura-San saísse de um cancelamento certo para uma conclusão redonda e linda.
Eu sentirei saudades de Yozakura-San Chi no Daisakusen e espero ver o autor de volta muito em breve, após seus merecidos meses ou anos de descanso. Obrigado, Gondaira-Sensei.