Oshi no Ko terminou, e assim algumas pessoas vieram me perguntar como os japoneses reagiram a esse último capítulo. O encerramento da obra é certamente um grande evento, já que Oshi no Ko é um dos maiores sucessos desta década. Lançado na Young Jump, a obra se propôs a discutir a realidade do mundo artístico japonês, tanto das “Idols” quanto dos atores, v-tubers e outros influencers.
Encerramentos de obras tão grandes certamente chamam a atenção de muitas pessoas, e é muito comum que gerem várias discussões. Com Oshi no Ko não foi diferente, com comentários mais positivos justamente em lugares onde o público tende a ser menos sincero (aplicativos de leitura e material oficial), e comentários mais negativos onde a discussão é mais estimulada e aberta. Como retratado pelo nosso escritor FelRib, os comentários na Jump Tonari são mais positivos, com vários agradecimentos; contudo, fora do aplicativo, percebe-se uma carga negativa bem mais comum do que o normal.
Quando terminou Jujutsu Kaisen, o público, mesmo não gostando tanto dos últimos capítulos, na 2ch e na Jump Matome, parou para agradecer ao Gege Akutami pelo seu trabalho. Isso também aconteceu no encerramento de Boku no Hero Academia e de Shingeki no Kyojin. Por algum motivo, fora dos lugares de discussão OFICIAIS (que tradicionalmente têm a grande maioria dos comentários elogiando), não vi esse comportamento com Oshi no Ko, exceto por algumas poucas pessoas.
Os comentários no Twitter, 5ch, e Animanch são uma chuva de críticas negativas, que vão completamente contra o que vemos nos aplicativos. É importante dizer que realmente os aplicativos tendem a ser sempre mais positivos: os japoneses não gostam da ideia de criticar na cara do autor e preferem deixar nesses espaços palavras de apoio. É uma questão de cordialidade que eles levam muito a sério. Por isso, preferem destinar aos fóruns os comentários mais sinceros… E que comentários sinceros foram esses em relação a Oshi no Ko.
Na 2ch, comentaram: “Se você pegar apenas o último capítulo, parece uma história interessante. O problema é a falta de uma construção para chegar nesse momento”, e muitas pessoas concordaram, dizendo que o último capítulo teve até bons momentos, mas tudo pareceu muito mal desenvolvido para chegar ali.
Alguns leitores preferiram deixar mais clara sua insatisfação, como esse: “Um final seguro e resumido, como esperado. Se eles gastaram três capítulos com a morte de Aqua e usaram parte da história no drama do funeral da Kana, eu gostaria que tivessem usado múltiplos capítulos para a recuperação da Ruby e o desenvolvimento dos outros personagens.” A reclamação sobre o encerramento ter sido muito apressado, sem construção, e que deveria ter se concentrado mais na Ruby em vez da Akane ou Kana, realmente é a mais repetida entre aqueles que não gostaram.
O comentário com mais curtidas disparado (dobro de qualquer outro) em toda a discussão (que é bastante longa) acaba sendo justamente uma crítica à conclusão: “É melhor eu parar de criar expectativas com o Aka Akasaka… (lição aprendida)”, com outro leitor explicando mais a revolta e também recebendo uma grande quantidade de curtidas: “Se queria ter escrito sobre o relacionamento romântico com a Kana, deveria ter seguido até o final. Se escreveu sobre a Akane no cenário de vingança, deveria ter desenvolvido isso completamente. Se queria trazer a história da Ruby no final, deveria ter escrito mais sobre ela. Tudo ficou tão pela metade!”.
A discussão depois evoluiu para uma crítica aos mangás semanais da era atual (Era Reiwa), nos quais os autores criam mecanismos para as obras serem virais, mas não estruturam a narrativa para um bom desenvolvimento, resultando em conclusões consideradas ruins pela maioria. Essa discussão tem várias opiniões diferentes, com pessoas citando outras obras semanais que também tiveram finais ruins, como Jujutsu Kaisen.
A conversa continuou com críticas à capacidade do Aka de concluir bem suas histórias, incluindo menções a Kaguya-sama, como: “Eu pensei que talvez o problema (com a conclusão de Kaguya-sama) tivesse sido ele serializar Kaguya-sama e Oshi no Ko ao mesmo tempo… mas, no final, não tinha nada a ver mesmo.” Outro leitor trouxe uma visão parecida (que parece ser o consenso de muitos na discussão): “O Aka-sensei consegue criar obras interessantes. Só que a maneira como ele encerra as histórias é que sempre deixa a desejar…”
Voltando aos comentários mais curtidos, os que criticavam mais pesadamente eram os que chamavam mais atenção: “Eu entendi completamente quando o pessoal no fórum ironizou chamando de ‘romance de celular.’ É só apelo emocional, mas o conteúdo é vazio.”. No geral, a discussão acabou sendo muito negativa, e a maioria do público realmente odiou o encerramento como um todo.
Certamente quem odiava a Akane também reclamou do seu monólogo, como o primeiríssimo comentário da discussão na 2ch: “Eu realmente não acredito que Akane continuou falando até o final…” – no geral parece somente quem gostava da Kana acabou realmente satisfeito com desfecho do personagem. Quem gostava da Akane ou da Ruby acabaram se decepcionando bastante, por achar mal desenvolvido os seus personagens.
Alguns comentários criticando a decisão do autor de realizar um final triste também foram vistos. Algumas pessoas só queriam um final feliz; outras disseram que, se fosse para entregar um encerramento ruim, pelo menos que fosse simples e feliz, para ter aquela sensação de “foi ruim, mas terminou bem.” Um comentário resume bem esse pensamento: “Entre um final mal feito triste e um final mal feito alegre, que escolhesse o final mal feito alegre.” Por isso, o tom do encerramento também acabou sendo um dos focos da discussão, além do mau desenvolvimento da Ruby e das pontas soltas.
Para concluir, é inegável que Oshi no Ko é uma obra que marcou para sempre a Young Jump, mas essa é, para mim, uma das piores recepções que vi nos fóruns, já que normalmente os leitores costumam parar de criticar a obra no último capítulo (como já comentei sobre a recepção do último capítulo de Jujutsu Kaisen). Eu realmente não vi isso acontecer: os comentários de tristeza e agradecimentos restaram somente nos aplicativos oficiais, como explicado por nosso escritor FelRib, e, por incrível que pareça, não foram repetidos na discussão do último capítulo em fóruns de discussão “livre”.
Alguns dos comentários positivos que pude encontrar no Twitter, aplicativos e fóruns, acabaram sendo: “O monólogo de Akane, o momento de destaque da Kana, e o resumo da Ruby: um combo ambicioso para o desfecho de Oshi no Ko.” Ou, por exemplo: “Amei o destaque da Kana, que teve um encerramento maravilhoso e dramático condizente com ela, todo mundo deve ler Oshi no Ko!”.
Eu ainda acredito que a maioria do público casual gostou da série, e acredito que Oshi no Ko acabou sendo um sucesso de encerramento – várias pessoas que não liam a série decidiram simplesmente ler o último capítulo, aumentando as visualizações, curtidas e número de compradores da Young Jump, como nosso escritor já mostrou claro na análise da TOC da Young Jump –, mas aqueles que mais comentavam a série certamente saíram com uma sensação mais amarga.
Oshi no Ko mesmo assim vai ter entrado na história como um dos maiores sucesso da Young Jump.