É o momento de conhecermos mais uma nova revista, a Big Comic Original, a quinta maior revista do Japão e a MAIOR revista seinen. A Big Comic Original é uma revista riquíssima lançada quinzenalmente, e usarei suas duas primeiras edições para apresentá-la a vocês.
Escrito por Leonardo Nicolin.
TOC Semi-Weekly Big Comic Original 22 (2024)
1 – Hiromi Parte 1 (Página Coloridas; One-Shot de Oshimi Shuzo)
2 – Maru Sankaku Shikaku c32
3 – Tasogare Ryuuseigun c692
4 – Remu a Stray cat c20
5 – Sekai no Owari no Yōsai-ten c02
6 – Tsuribaka Nisshi c1084
7 – Shin’ya Shokudō c397
8 – Dekakeoya Mangaka Yagai Katsudō Oboechō c176
9 – Kango joshu no Nana-chan c692 e c693
10 – Nba! c8
Hibi Osu (One shot – Todo Colorido)
11 – Showa Tennou Monogatari c130
12 – Watashi no Shōko c35
13 – Miwa-san Narisumasu c89
Sakidō Tahiti (One-shot)
14 – Back Home Blues c23
Kāmemorī (One-shot)
15 – Tetsu Bon c344
*Agradeço a Hilbert Jun por me ajudar a traduzir e recolher a TOC da revista.
Nesta edição, explicarei a história da revista e metade dos mangás lançados. Como o foco é mais na “história da revista”, comentarei sobre os 6 mangás com mais capítulos (não exatamente os mais antigos) e aquele que recebeu a página colorida de abertura, que é a grande novidade da semana.
Na próxima edição (23), explicarei a situação atual da revista e a outra metade dos mangás serializados, comentando mais sobre os mangás com menos de 130 capítulos, que são mais “novos”. O motivo dessa divisão é para não escrever um texto muito grande e cansativo, já que seriam mais de 6 páginas de texto. Os mangás ausentes nessas duas primeiras edições, mas presentes nas próximas, serão apresentados individualmente no momento certo.
Como já dito, a Big Comic Original é a quinta maior revista do Japão, com 211 mil unidades em circulação quinzenalmente. Criada em 1972 como um spin-off da Big Comic, a revista se tornou independente em 1974 e logo conquistou o público japonês por causa das suas longas séries de altíssima qualidade. Com o passar dos anos, a revista se tornou a maior da linha “Big Comic” e atualmente vende mais que Big Comic, Big Comic Superior e Big Comic Spirits.
Desde o início, o objetivo da revista foi agradar principalmente homens acima de 30 anos que já começaram sua vida profissional; de fato, a revista aposta em obras mais sérias, com um tom considerado mais maduro. A Big Comic Original não se propõe a competir com a Young Jump, que tenta conquistar jovens adultos de 18 a 29 anos ainda atraídos por obras “mainstream”, mas sim a agradar o trabalhador que procura obras diferentes e consideradas mais “cultas”.
Em 1979, a revista passou a ter um elemento muito característico em todas as suas capas: um animalzinho. É comum a BCO ter como capa um gatinho ou cachorrinho desenhado pelo grande Makoto Muramatsu. O ilustrador, que já tem incríveis 77 anos, é conhecido por sua técnica de unir traços humanos a gatos e cachorros. Essa técnica, que se tornou característica da capa da Big Comic Original, é conhecida como “Muramatsuneko”.
Mas não foi só o Muramatsu que fez história na revista. Vários autores importantíssimos já passaram pela Big Comic Original, como Mitsuru Adachi (Jinbe), Nobuyuki Fukumoto (Saikyō Densetsu Kurosawa), George Akiyama (Haguregumo), Junji Ito (No Longer Human), mas certamente o que vocês mais conhecem é Naoki Urasawa, que lançou justamente nesta revista Pluto e Monster, duas obras que marcaram para sempre a demografia seinen.
O primeiro mangá desta TOC é de um autor conhecido pelo público, estou falando “Hiromi” de Oshimi Shuzo, criador de Aku no Hana, Chi no Wadashi e Happiness. Contudo, parece que o autor ficará por pouco tempo, já que é um one-shot dividido em duas partes. Mas sobre o que é esse one-shot?
Conta a história de um garoto que deixa um amigo levar a culpa por um erro que ele cometeu na sala e, assim, começa a se sentir culpado e paranoico, achando que o colega vai se vingar. Ainda não sabemos como essa história irá terminar, mas já dá para ver que este one-shot é o Shuzo em sua melhor forma: trabalhando com questões psicológicas. Vocês já podem ler em inglês na MangaDex.
Em terceiro lugar, tivemos Tesogare Ryuuseigun, o segundo mangá mais antigo da revista, lançado em 1995 e com 68 volumes. Acho que todo mundo que gosta de mangás históricos precisa conhecer essa obra, um dos maiores clássicos seinen: o mangá é uma história madura e emocionante sobre gerações mais velhas (adultos acima de 40-50 anos) que vivem paixões mesmo não estando mais no auge da juventude. A obra entrega personagens complexos que discutem amor, trabalho, sexo, cotidiano e as escolhas que fizeram durante a vida.
O mangá é um sucesso de crítica desde seu lançamento, vencendo em 2000 o prêmio de excelência no Japan Media Arts Festival, premiação organizada pelo governo japonês que celebra as principais obras artísticas do ano (não só mangás). A maior qualidade da obra vem da habilidade incrível do autor, Kenshi Hirokane, um dos maiores mangakás da história do seinen. Além do Japan Media Arts Festival, ele venceu o prêmio de Melhor Mangá do Ano no Shogakukan Manga Awards em 1985 com Human Crossing e em 1991 o Kodansha Manga Awards com Kacho Kosaku Shima. Além de obras aclamadas, ele lançou Hello Harinezumi, um sucesso comercial dos anos 80.
Na sexta colocação, tivemos o mangá mais antigo da revista, Tsuribaka Nisshi, com 113 volumes e 1084 capítulos. Lançado em 1973, Tsuribaka Nisshi é uma comédia que narra a história de Densuke Hamasaki, um assalariado apaixonado por pesca. A obra mistura momentos de comédia com o desenvolvimento dos personagens icônicos. Em 1983, ganhou o Shogakukan Manga Awards.
A obra é escrita e desenhada por uma dupla: Yamasaki no roteiro e Kitami na arte. Juuzou Yamasaki, o roteirista, é um dos mais renomados do Japão. Além do Shogakukan Manga Awards, ele venceu o Kodansha Manga Awards com Okashina Futari (desenhado por Kei Sadayasu) e já trabalhou com vários autores lendários. Certamente, a parceria mais famosa, além da com Kitami, foi com Mitsuru Adachi (autor de Touch), com quem lançou cinco obras. Yamasaki também trabalhou com Mitsuyoshi Sonoda (autor de Akaki Chi no Eleven) e Mitsuo Hashimoto, sendo um nome de peso na revista.
O terceiro mangá mais antigo, em sétimo lugar na TOC, é Shin’ya Shokudo (também conhecido como Midnight Diner), lançado em 2007, um dos maiores clássicos de culinária do Japão, licenciado em vários países (inclusive aqui na Itália). A obra, de capítulos curtos, conta a história de um cozinheiro que tem um restaurante em Shinjuku, em Tóquio. Quase todos os capítulos são ambientados em seu restaurante durante o jantar, onde conhecemos vários clientes que saboreiam a ótima comida e, às vezes, contam suas histórias.
A obra fez tanto sucesso que, em 2009, ganhou uma adaptação televisiva em live-action chamada “Midnight Diner”, que durou até 2019, com a NETFLIX lançando duas temporadas entre 2016 e 2019. O sucesso do mangá e da série inspirou uma versão coreana da série de TV, “Late Night Restaurant”, e uma chinesa, “Midnight Diner”. Em 2019, a obra ganhou um filme chinês dirigido por Tony Leung Ka-Fai, um dos maiores atores de Hong Kong, estreando como diretor. Então, nem preciso dizer que é um grande sucesso, não é?
Página de Dekakeoya Mangaka Yagai Katsudō Oboechō
Na oitava colocação, temos o mais jovem dos mangás que passaram pela barreira de corte: Dekakeoya Mangaka Yagai Katsudō Oboechō, uma comédia curta lançada em 2019. A obra mostra o dia a dia do autor, caminhando pelas ruas e passando por pequenas aventuras (já que tem poucas páginas por capítulo). Esse é um mangá complicado de achar qualquer coisa, pois não tem tradução quase em lugar nenhum, mas é escrito por um dos nomes mais importantes da revista: Sensha Yoshida.
Você pode estar pensando: “Quem é esse, pelo amor de Deus? Cada parágrafo você lança um nome e diz que é lendário.” Mas é que a Big Comic Original é a casa dos autores mais prestigiados. Sensha Yoshida é escritor de livros e mangás de comédia, um dos pais do humor absurdo nos mangás, que explodiu nos anos 90 e 2000. Ele ganhou notoriedade com a comédia absurda Utsurun Desu, vencedora do Bungeishunju Manga Awards, e foi coroado em 2015 com o Tezuka Awards, o prêmio de maior prestígio no mundo dos mangás.
Atualmente, Dakakeoya tem uma comédia menos absurda, mas que ainda agrada os leitores da Big Comic Original, que mesmo recebendo de 3 a 6 páginas do autor a cada duas semanas, amam o conteúdo entregue. Nada melhor do que seguir a vida cotidiana de um dos maiores mangakás de comédia, não é?
Na nona colocação, tivemos dois capítulos de Kango Joshu no Nana-chan, um slice of life curtinho que conta a história de uma enfermeira em um hospital de Hiroshima. É um mangá com 3 a 6 páginas por edição, lançado desde 2009 (mas, por ter poucos capítulos, tem 12 volumes). É presença garantida na revista, e diferente dos demais que citei, não é escrito por uma autora super premiada. Chisa Nomura lançou apenas essa obra em sua carreira. Contudo, por estar na Big Comic Original, já é considerada uma autora de classe alta.
Página de Showa Tennou Monogatari
Em décimo primeiro lugar, tivemos Showa Tennou Monogatari, um mangá histórico desejado pelo ex-editor-chefe da revista, Nakaguma Ichiro. Após assistir ao filme “The Queen” sobre a Rainha Elizabeth (do mesmo diretor da série “The Crown”), o editor percebeu a falta de mangás que retratam o dia a dia da família real japonesa, um tema tabu. Ele então começou um projeto para lançar uma obra sobre o tema.
Assim nasceu Showa Tennou Monogatari, que narra a história do Imperador Showa durante a Segunda Guerra Mundial. Originalmente escrita pelo respeitado jornalista e escritor Kazutoshi Hando (falecido em 2021), a obra agora é conduzida pelo desenhista Junichi Nojo e Issei Eifuku.
Showa Tennou Monogatari é um sucesso comercial para os padrões da revista, vendendo acima de 25 mil cópias por volume, e já foi indicada ao Kodansha Awards e ao Shogakukan Awards. Parece que o desejo do antigo editor-chefe resultou em uma série de alta qualidade, uma das mais respeitadas atualmente.
Encerramos com Tetsuo Bon, um mangá com 35 volumes lançado em 2010 que conta a história de Tetsuo Sendo, um jovem que se vê obrigado a administrar a companhia ferroviária da família após a morte de seu pai. É um slice of life que explora a vida de Tetsuo e seus desafios para cuidar da empresa, sendo um deleite para os amantes de trens. A dupla de autores não é muito conhecida, mas mesmo assim, lançaram uma obra de sucesso que está sendo publicada há 14 anos.
Esses são os mangás mais antigos da Big Comic Original, e com certeza alguns devem ter chamado a atenção de vocês. Sim, a maioria acabou sendo mais simples (e de comédia), pois são histórias com premissas mais leves que conseguem sobreviver por tantos anos. A maioria dos mangás mais complexos tende a ter histórias mais curtas, mas na próxima edição, que sai no dia 20 no Japão, vocês verão que a revista tem vários lançamentos de mistério, terror, drama e outras comédias!
Até a próxima edição, pessoal!
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