Para os críticos, uma obra ruim é sempre um banquete irresistível. É divertido ironizar e zombar dos erros banais e inaceitáveis que um autor como Kota Kawae comete em sua obra. Escrever a crítica do primeiro capítulo de Nue no Onmyouji foi para mim uma experiência quase libertadora, onde pude expressar sem restrições tudo o que me incomodou na obra, sem receio de ter minha opinião invalidada, visto que o consenso geral já era de desagrado em relação a Nue. Contudo, como disse Anton Ego em Ratatouille, há momentos em que um crítico arrisca algo significativo, como quando descobre e defende uma novidade.
Seria fácil para mim continuar a aderir ao “ódio” em torno da obra. Aproveitar a aversão que o público ainda mantém em relação a Nue e escrever uma crítica rotulando o mangá como o 11/9 da Weekly Shonen Jump. No entanto, isso seria contraditório com meu próprio pensamento, pois, na realidade, Nue no Onmyouji está começando a me agradar cada vez mais.
Não que Nue no Onmyouji tenha se transformado em uma obra espetacular ou mesmo inovadora, como sugere Anton Ego em relação ao restaurante no Remy. Muito pelo contrário, a obra é claro um exemplo de desenvolvimento clichê. Entretanto, consigo discernir uma evolução clara na narrativa, o que me permite apreciar genuinamente sua leitura, antes sofrida. A partir do segundo volume, Nue no Onmyouji se tornou um mangá decente.
O ponto de virada da série se deu no arco de Shiroha, uma nova personagem que inicialmente parecia apenas mais uma adição ao harém que a série estava se tornando. No entanto, o autor optou por focar o desenvolvimento da história em torno dela, criando um arco narrativo repleto de tropeços, mas que indicava uma boa intenção por parte de Kota Kawae. O passado triste de Shiroha, e a decisão de Gakuro em salvá-la ainda não era um bom exemplo de narrativa bem construída, mas era um bom exemplo da evolução que o autor está vivendo com o passar dos capítulos.
Este mesmo arco se revelou essencial para estabelecer as bases do mundo onde a obra se situa. Não se espera nada de revolucionário neste sentido; trata-se de um mundo simples de exorcismo e criaturas malignas, como já visto em outras obras. No entanto, isso proporciona uma direção clara para a série, principalmente no que diz respeito ao “power-scaling”, no qual entendemos os níveis de poder dos personagens, inclusive da Nue que é uma das criaturas mais potentes de Nue no Onmyouji.
Se o primeiro arco foi ruim e o segundo mediano, com altos e baixos, este terceiro arco, denominado “Arco de Hyo”, é consistentemente decente. Embora tenhamos novamente adições banais e clichês, como a chegada da irmã, nada disso me incomodou realmente, pois Kota Kowae conseguiu entregar o que Nue no Onmyouji precisava: um clima de terror adaptado para o público jovem e cenas de ação Battle-Shounen impactantes e bem desenhadas.
De fato, a arte de Nue no Onmyouji também melhorou significativamente. Abandonando os quadros repetitivos e os traços inconsistentes, Kota Kowae está entregando páginas muito mais bonitas, especialmente quando foca no terror, dando uma coloração bem característica aos monstros, que acabam se destacando de tudo nas páginas. É evidente que ele possui talento para desenhar criaturas assustadoras, e espero que os próximos capítulos continuem desenvolvendo esse aspecto, pois pode se tornar um diferencial para a série na revista.
Ainda tem muito o que melhorar: O autor precisa dar mais complexidade no traço dos seus personagens, melhorar a profundidade de muitas cenas, e entregar uma quadrinizarão menos banal, contudo, é clara a diferença entre o primeiro e quinto volume. Esta evolução na arte é fundamental para que Nue no Onmyouji se torne verdadeiramente um Battle-Shounen, como o autor almeja, deixando para trás o proto-ecchi que predominou nos primeiros dois volumes.
O protagonista Gakuro também cresceu em meu conceito durante este capítulo. Embora continue sendo apenas um personagem genérico de Battle-Shounen, ele não é mais irritante; pelo contrário, sua ótima comédia conquistou imediatamente o público japonês. Além disso, o autor conseguiu desenvolver uma interação diferente de Gakuro com cada personagem secundário da série, criando uma dinâmica mais fluida que vai além de Gakuro e Nue.
Assim, com um herói capaz de proporcionar boas cenas de comédia devido à sua personalidade pastelona, com personagens secundários interessantes e um arco que oferece cenas de terror e ação de qualidade, a obra segue uma trajetória feijão com arroz. Mesmo as cenas de ação, nas quais ele heroicamente (e previsivelmente) decide enfrentar o inimigo principal do arco, funcionam bem; o autor sabe temperar a própria feijoada.
Reitero, não é que Nue no Onmyouji se tornou uma obra espetacular; está longe disso. A realidade é que Nue no Onmyouji continua sendo um prato simples que não introduziu nada de novo no mundo dos mangás. No entanto, há uma grande diferença entre ler um mangá ruim e ler um mangá que satisfaz o básico de forma competente. Nue conseguiu evoluir para se tornar um mangá desta última categoria.
Eu sei que algumas pessoas relutam em apreciar Nue no Onmyouji devido a preconceitos causados pelos primeiros dois volumes. No entanto, às vezes, é mais gratificante queimar nossa língua em relação a uma obra do que passar a vida inteira odiando-a.
NOTA: 6.5
Sim, citei Anton Ego em uma crítica sobre Nue no Onmyouji. A insanidade dominou o ANalyse It.