
Com leve atraso de uma semana, trago para vocês minhas primeiras impressões do primeiro capítulo da mais nova série de esporte da Weekly Shonen Jump: Two on Ice, mangá sobre patinação no gelo. Lembrando que nessa análise trago a minha crítica somente do primeiro capítulo (ainda não li o segundo) e não da série como um todo
E devo dizer que mesmo não me apaixonando por “Two on Ice”, acredito que tenha sido uma estreia interessante, com espaço para crescer bastante se conseguir sobreviver. O primeiro elemento que mais chama atenção em “Two on Ice” é a sua arte, que utiliza de um desenho mais rabiscado, com um grande uso da cor branca para criar uma sensação mais lírica em todo primeiro capítulo – sensação que acaba combinando tanto com a idealização da patinação por parte do protagonista quanto com a atmosfera mais invernal que a obra se propõe a ter.
A sua arte rabiscada também ajuda a criar uma ideia de “movimentação artística” que lembra a mágica da patinação e funciona nas cenas de comédia. Contudo, ela tem seus contras: a ausência de traços definidos acaba passando uma impressão, aos leitores mais casuais, de obra inacabada, e por isso uma obra sem cura aos detalhes. A possibilidade do leitor também se sentir perdido nos quadros aumenta, já que a sua leitura também passa a ser mais exigente
Eu sempre digo que não podemos criticar um artista pelo seu traço – por exemplo “PPPPPP” não tem uma arte ruim na minha visão, é simplesmente o traço do autor. Eu considero ruim quando o autor não consegue criar uma coerência interna, variando de conceitos, arte e técnicas em um pequeno arco de páginas ou capítulos, como acontecia muito com Do Retry -, por isso não é correto considerar a arte de “Two on Ice” ruim por ser mais rabiscada, é simplesmente o estilo que o autor se propôs nessa obra. Pessoalmente tem várias páginas que não me agradaram por causa dessa escolha artística, mas é uma escolha que mesmo assim acredito que seja correta para a obra que o mesmo quer apresentar.
A sua temática também é interessante, gosto de mangás que vão para esportes mais artísticos – quem lembra do mangá de dança “Sesuji wo Pin! to?” – Normalmente obras do genérico tem muita dificuldade em sobreviver na revista, acabam sendo cancelados mesmo não tendo uma qualidade ruim. Sesuji wo Pin! to mesmo era uma obra muito boa, mas que por ter uma arte diferente e também uma temática menos “shonen” acabou não conquistando leitores suficiente para sobreviver por mais de dois anos. Já a patinação no gelo é normalmente muito relacionada ao público fujoshi por causa de “Yuri!!! on Ice”, anime que se tornou um dos maiores ícones fujoshi, por isso é raro ver mangás desse esporte em uma revista Shonen.
E acredito que o autor faça um bom trabalho em apresentar nesse primeiro capítulo tanto o esporte quanto as motivações do protagonista, Hayuma. Vemos como o amor platônico de Hayuma foi essencial para que ele se tornasse um patinador, e como esse mesmo amor platônico vai ser essencial no desenvolvimento da relação desses dois personagens que vão formar uma dupla dinâmica. Com Ao no Hako vimos que a união esporte e romance pode dar certo na Weekly Shonen Jump, por isso, Elck Itsumo decidiu seguir uma estrada levemente parecida.
Contudo, esse primeiro capítulo mesmo tendo uma temática interessante, bons personagens e uma arte única, sofre claramente com um problema de ritmo (pacing): Fazer com que o protagonista demore para entender quem é a garota, mesmo sendo útil para o roteiro, acabou deixando a história muito arrastada, entediante em alguns momentos. Os diálogos acabam soando mais repetitivos, com o protagonista continuamente se questionando sobre a identidade da garota. Se a arte utilizada eu considero uma escolha técnica, isso considero mais um problema de roteiro, um erro que prejudica o ritmo da história.
E um roteiro arrastado para uma série que segue uma temática que não vai ser de tão fácil digestão para o público não acostumado com obras de patinação artística no gelo, pode ser crucial para a sua não sobrevivência. Two on Ice precisa não somente entregar uma história boa, mas deve conseguir quebrar o gelo que muitos leitores masculinos tem com a sua temática, dominada pelo público fujoshi.
“Two on Ice” é sim uma aposta válida por parte da revista, e digo mais, na minha opinião a segunda melhor dessa leva, abaixo de Mama Yuyu e acima de Kagurabachi. A série precisa para sobreviver criar um roteiro menos arrastado, mais dinâmico, mas tirando isso, eu não mudaria mais nada. Vai depender mais do público se interessar ou não pela temática. Eu acho que o autor entregou um primeiro capítulo muito bom no que o mangá se propõem ser. É uma aposta válida, que se não conseguir convencer o público, tudo bem, acontece. Pelo menos o autor tentou entregar algo diferente.